sábado, 16 de fevereiro de 2013

A escola secreta de Nasreen


 


Uma história verdadeira do Afeganistão

A minha neta Nasreen vive comigo em Herat, uma antiga cidade do Afeganistão, onde outrora floresceram as artes, a música e a educação. Mas depois chegaram os soldados e tudo mudou. As artes, a música e a educação desapareceram. Nuvens negras pairam agora sobre a cidade.
A pobre Nasreen fica em casa todo o dia, porque as raparigas estão proibidas de frequentar a escola. Os talibãs não querem que as raparigas estudem, como eu e a mãe de Nasreen fizemos quando éramos crianças.
Uma noite, vieram eles e levaram o meu filho, sem qualquer explicação. Esperámos dias e noites pelo seu regresso. Cansada de esperar, a mãe de Nasreen pôs-se, finalmente, a caminho, à procura dele, embora fosse proibido às mulheres e raparigas andar sozinhas pela rua.
Muitas luas passaram à minha janela enquanto eu e Nasreen esperávamos. Nasreen nunca falava nem sorria. Ficava sentada, à espera que o pai e a mãe aparecessem.
Eu sabia que tinha de fazer algo.
Ouvi rumores sobre uma escola secreta para raparigas que ficava por detrás de um portão verde, num caminho perto da nossa casa. E queria muito que Nasreen frequentasse essa escola. Queria que ela conhecesse o mundo, que estudasse, como eu tinha feito. Queria que ela falasse de novo. Assim, um dia, Nasreen e eu apressamo-nos a chegar ao portão verde. Felizmente, nenhum talibã
nos viu. Bati ao de leve. A professora abriu o portão e corremos para dentro. Atravessamos o recreio da escola – uma sala numa casa particular cheia de raparigas. Nasreen sentou-se ao fundo da sala. Quando a deixei rezei: “Por favor Alá, abre-lhe os olhos para o mundo.” Nasreen não falou com as outras raparigas. Também não falou com a professora. E em casa manteve-se em silêncio.
Eu receava que os talibãs descobrissem a escola. Mas as raparigas eram espertas. Entravam e saíam a diferentes horas para não levantar suspeitas. E quando os soldados se aproximavam do portão, alguns rapazes desviavam a sua atenção. Ouvi falar de um talibã que bateu ameaçadoramente no portão, exigindo que o abrissem. Mas tudo o que encontrou foi uma sala cheia de raparigas a lerem o Corão, o que era permitido. As raparigas tinham escondido os seus trabalhos, enganando assim o soldado.
Uma das raparigas, Mina, sentava-se junto de Nasreen todos os dias. Mas nunca falavam uma com a outra. Enquanto as raparigas aprendiam, Nasreen vivia fechada em si mesma. A minha preocupação agravava-se. Quando a escola fechou para as longas férias de inverno, Nasreen e eu sentávamo-nos junto ao fogão. Alguns familiares poupavam comida e lenha para nos dar.
Mais do que nunca, tínhamos saudades da mãe de Nasreen e do meu filho. Alguma vez viríamos a saber o que tinha acontecido?
No dia em que Nasreen regressou à escola, Mina sussurrou-lhe ao ouvido:
— Tive saudades tuas.
— E eu também — respondeu-lhe Nasreen.
Com aquelas palavras, as primeiras desde que a mãe fora à procura do pai, Nasreen abriu o seu coração a Mina. E sorriu pela primeira vez desde que o pai fora levado à força. Pouco a pouco, dia após dia, Nasreen finalmente aprendeu a ler, a escrever, a somar e subtrair. Todas as noites mostrava-me o que descobrira naquele dia. Abriam-se, para Nasreen, as janelas naquela sala de aula. Conheceu e estudou os artistas, os escritores, os sábios e os místicos que, muito tempo antes, tinham tornado Herat importante.
Nasreen já não se sente só. O conhecimento que vai acumulando estará sempre com ela, como um bom amigo. Agora ela pode ver o céu azul para lá das nuvens escuras.
Quanto a mim, tenho a consciência tranquila. Continuo à espera do meu filho e da sua mulher. Mas os soldados nunca poderão fechar as janelas que se abriram para a minha neta.
Insha’ Allah
.
Nota da Autora
O Fundo Internacional para as Crianças, uma organização sem fins lucrativos que se dedica a ajudar crianças de todo o mundo, contactou-me para escrever um livro baseado numa história verdadeira. Senti-me imediatamente atraída por uma organização no Afeganistão que fundou e apoiou escolas secretas para raparigas durante a ocupação Talibã, entre 1996 e 2001. O fundador destas escolas — que pediu anonimato — partilhou comigo a história de Nasreen e da sua avó. O nome de Nasreen foi alterado.
Antes de os Talibãs controlarem o Afeganistão:
70% dos professores eram mulheres;
40% dos médicos eram mulheres;
50% dos estudantes de Cabul eram do sexo feminino.
Depois da ocupação Talibã:
as raparigas estavam proibidas de frequentar a escola ou a universidade;
as mulheres estavam proibidas de trabalhar fora de casa;
as mulheres estavam proibidas de sair de casa sem um familiar do sexo masculino;
as mulheres eram obrigadas a usar a burca que cobria toda a cabeça e o corpo, deixando apenas uma pequena abertura para os olhos;
não era permitido cantar, dançar ou lançar papagaios. As artes e a cultura foram banidas na terra natal do famoso poeta Rumi. As esculturas colossais de Bamiyan Buddhas, esculpidas na montanha, foram destruídas.
Tinham começado anos e anos de isolamento e de terror. Mas também havia atos de coragem de cidadãos que desafiavam, de muitas formas, o regime Talibã, incluindo o apoio a escolas secretas de raparigas. A sua coragem nunca vacilou.

Jeannete Winter
Nasreen’s Secret School – A true story from Afghanistan
New York, Beach Lane Books, 2009
(Tradução e adaptação)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A pé, junto ao rio






Ainda Amor



Imagem retirada do blogue Carruagem 23.

De realçar as diferenças do poema, caso este seja lido do primeiro para o último verso ou deste para o início.

Une victoire en papier


Lorsque le soleil eut fait fondre la neige noire et granuleuse, que l’on vit flotter sur les eaux sales les déchets des habitations humaines accumulés au cours de l’hiver – des chiffons, des os, du verre cassé –, et que monta dans l’air tout un fouillis d’odeurs, dont la plus forte était celle, humide et délicieuse, de la terre printanière, Guénia Piraplettchikov sortit dans la cour. Son nom était si épouvantable à écrire que, depuis qu’il avait appris à lire, il le ressentait comme une humiliation.
En plus de ça, depuis sa naissance, il avait quelque chose qui clochait avec ses jambes, et il marchait de façon bizarre, en sautillant. Il avait tout le temps le nez bouché, et il respirait par la bouche. Du coup, il avait les lèvres sèches, et il devait les lécher souvent. Et… il n’avait pas de père. La moitié des enfants n’avaient pas de père. Mais, à la différence des autres, Guénia ne pouvait pas dire que le sien était mort à la guerre : il n’avait jamais eu de père du tout. Tout cela mis bout à bout faisait de lui un petit garçon très malheureux.
Donc, il était sorti dans la cour, à peine remis de toutes ses maladies de printemps et d’hiver, avec un foulard sous son bonnet de ski en laine, et une longue écharpe verte enroulée autour du cou. Au soleil, il faisait une chaleur incroyable, les fillettes avaient roulé leurs chaussettes autour de leurs chevilles en petites saucisses bien dures. La vieille même de l’appartement numéro sept, aidée par sa petite-fille, avait sorti une chaise sous sa fenêtre, et s’était assise au soleil, le visage renversé en arrière. L’air, la terre, tout était gonflé et rempli à ras bord, surtout les arbres nus, prêts à éclater d’une minute à l’autre en minuscules feuilles tout heureuses. Guénia était debout au milieu de la cour, un peu étourdi, et il écoutait le bourdonnement de l’air, tandis qu’un gros chat, posant avec précaution ses pattes sur la terre
mouillée, traversait la cour en biais.
La première motte de terre tomba exactement entre le chat et le petit garçon. Le chat se replia sur lui-même et fit un bond en arrière. Guénia sursauta : de lourdes gouttes de boue lui avaient éclaboussé le visage. La deuxième motte l’atteignit dans le dos, quant à la troisième, il ne l’attendit pas, et partit en sautillant en direction de la porte de sa maison, poursuivi par une petite chanson inventée qui volait comme un javelot sonore :
Guénia-le-boiteux,
est un p’tit morveux !
Il se retourna : Kolia Klioukvine fonçait vers lui, les fillettes poussaient des cris et, derrière eux, il y avait celui pour lequel ils se donnaient tant de mal : l’ennemi de tous ceux qui ne lui obéissaient pas au doigt et à l’oeil, le malin et intrépide Génia Aïtyr.
Guénia se précipita vers sa porte. Sa grand-mère était déjà en train de descendre l’escalier ; c’était une minuscule vieille dame coiffée d’un chapeau marron avec des fleurs éternellement vertes et bleues sur le coin de l’oreille. Ils devaient aller se promener ensemble dans le square Miousski. Un renard mort et râpé aux yeux d’ambre étincelants était posé à plat sur son épaule.
¨¨¨
Le soir, alors que Guénia dormait en ronflant derrière le paravent vert, sa mère et sa grand-mère restèrent longtemps à table à bavarder.
— Pourquoi ? Pourquoi est-ce qu’ils s’en prennent tout le temps à lui ? finit par demander la grand-mère dans un murmure plein d’amertume.
— Je pense qu’il faudrait les inviter pour l’anniversaire de Guénia, répondit la mère.
— Tu as perdu la tête ! fit la grand-mère, affolée. Ce ne sont pas des enfants, ce sont des bandits !
— Je ne vois pas d’autre solution, rétorqua la mère d’un air sombre. Il faut faire un gâteau, organiser un goûter, une fête d’enfants…
— Mais ce sont des petits bandits et des voleurs ! Ils vont piller toute la maison ! protesta la grand-mère.
— Tu as quelque chose à voler, toi ? demanda la mère.
La vieille dame ne répondit pas.
— Il me fait de la peine, ce petit...
¨¨¨
Deux semaines s’écoulèrent. Le printemps était arrivé, tranquille et tendre. La boue avait séché. Une herbe effilée avait envahi la cour jonchée de détritus, et comme la population, malgré tous ses efforts, n’arrivait pas à la salir, elle restait propre et verte.
Guénia allait à l’école depuis deux semaines. Sa mère et sa grand-mère échangeaient des regards. La grand-mère, qui était superstitieuse, crachait par-dessus son épaule pour conjurer le
sort : d’habitude, les intervalles entre les maladies ne duraient pas plus d’une semaine. C’était elle qui accompagnait son petit-fils à l’école. Après la classe, elle l’attendait dans le hall de l’école, lui entortillait son écharpe verte autour du cou, et le ramenait à la maison en le tenant par la main. La veille de son anniversaire, sa mère dit à Guénia qu’elle allait organiser pour lui une vraie fête.
— Tu peux inviter qui tu veux, des enfants de ta classe ou du voisinage, proposa-t-elle.
— Je ne veux inviter personne, maman. Ce n’est pas la peine…, supplia Guénia.
— Si ! Il le faut ! répondit-elle brièvement.
Le soir, sa mère sortit dans la cour et invita elle-même les enfants pour le lendemain. Elle invita tout le monde sans distinction, mais elle s’adressa personnellement à Aïtyr :
— Toi aussi, Génia, viens !
Il la considéra avec des yeux si froids et si adultes qu’elle perdit contenance.
— Pourquoi pas ? Je viendrai ! dit-il tranquillement.
Et la mère alla s’occuper du gâteau.
¨¨¨
Guénia examinait la pièce avec désespoir. Ce qui le gênait le plus, c’était le piano noir étincelant, il était sûr que personne n’en avait un pareil. La bibliothèque, les partitions sur l’étagère, ça encore, c’était pardonnable. Mais Beethoven, cet horrible masque de Beethoven ! Il y aurait certainement quelqu’un pour demander perfidement : « C’est ton grand-père ? Ou ton papa ? »
Il supplia sa grand-mère d’enlever le masque. Elle fut étonnée.
— Pourquoi est-ce qu’il te dérange, tout à coup ? C’est le professeur de ta maman qui le lui a offert...
Et elle se mit à raconter une histoire qu’il connaissait depuis longtemps : que sa maman était une pianiste très douce, s’il n’y avait pas eu la guerre, elle aurait terminé le conservatoire...
Vers quatre heures, une grande soupière trônait au milieu de la table dépliée, avec une salade russe de légumes coupés en petits morceaux. Il y avait aussi du pain grillé, du hareng, et une tourte au riz. Guénia était assis près du rebord de la fenêtre, dos à la table, et essayait d’oublier que, dans quelques instants, sa maison allait être envahie par des ennemis bruyants, joyeux et impitoyables… Il avait l’air complètement absorbé par son occupation préférée : il fabriquait un bateau à voiles en pliant une feuille de papier journal.
Guénia était un grand spécialiste de l’art du papier plié. Il passait des milliers de jours de son existence au lit. Les rhumes de l’automne, les angines de l’hiver, les refroidissements du printemps, il supportait tout cela patiemment en pliant des coins et en aplatissant les plis des feuilles de papier. Il avait toujours à côté de lui un livre bleu-gris avec une girafe imprimée sur la couverture. Ce livre s’intitulait L’Heure joyeuse, et avait été écrit par un sage, un enchanteur, le
meilleur des hommes, un certain M. Guerchenzon. C’était un très bon professeur, mais Guénia, lui, était un très bon élève : il était incroyablement doué pour ces jeux en papier, et il avait inventé des tas de choses auxquelles Guerchenzon n’avait jamais pensé…
¨¨¨
Guénia tripotait le voilier qu’il n’avait pas fini, et attendait l’arrivée des invités avec terreur. Ils se présentèrent à quatre heures exactement, tous ensemble. Des soeurs blondinettes, les plus jeunes de la bande, avaient apporté un gros bouquet de pissenlits jaunes. Les autres étaient venus sans cadeaux. La mère leur servit une boisson pétillante qu’elle avait faite elle-même avec des cerises brunes, et dit :
— On va boire à la santé de Guénia ! C’est son anniversaire aujourd’hui !
Ils prirent tous leur verre et trinquèrent. La maman approcha le tabouret tournant, s’assit au piano, et se mit à jouer la Marche turque. Les soeurs, fascinées, regardaient ses mains voltiger au-dessus du clavier. La plus jeune avait l’air effrayée, on avait l’impression qu’elle allait fondre en larmes. Aïtyr, imperturbable, mangeait de la salade avec un petit pâté, et la grand-mère s’affairait autour de chacun des enfants, exactement comme elle faisait d’habitude avec Guénia.
Et sa maman jouait maintenant des chansons de Schubert. C’était un spectacle hallucinant : une douzaine d’enfants mal habillés, mais propres et bien coiffés, mangeant un goûter dans un silence absolu, et une femme maigre faisant sortir d’un clavier des sons qui s’éparpillaient d’un pas léger.
Le héros de la fête, les mains moites, gardait les yeux fixés sur son assiette. La musique se termina, s’engouffra par la fenêtre ouverte, seules quelques notes graves s’attardèrent sous le plafond puis, après une dernière hésitation, s’envolèrent elles aussi derrière les autres.
— Guénia, dit soudain sa grand-mère d’une voix suave, si tu nous jouais quelque chose, toi aussi ?
La mère lança à la grand-mère un regard alarmé. Le coeur de Guénia faillit s’arrêter net : ils le détestaient à cause de son nom ridicule, de sa démarche sautillante, de sa grande écharpe, de sa grand-mère qui l’emmenait promener… Jouer du piano devant eux ! Sa mère le vit blêmir, elle devina et le sauva :
— Une autre fois. Il jouera une autre fois.
Valia Bobrov, une fillette délurée, dit d’un air incrédule et presque admiratif :
— Il sait jouer ?
¨¨¨
La mère apporta le gâteau. On servit le thé. Dans une coupelle ronde s’entassaient toutes les sucreries possibles et imaginables : de la guimauve, des caramels, des bonbons dans des papiers. Kolia se goinfrait sans vergogne et trouva même moyen d’en fourrer dans sa poche. Les soeurs suçaient de la guimauve et réfléchissaient à ce qu’elles allaient prendre ensuite. Valia
Bobrov aplatissait du papier d’argent sur son genou pointu. Aïtyr examinait la pièce avec le plus grand aplomb. Il regardait tout en ouvrant des yeux ronds et, finalement, il demanda en montrant le masque :
— Madame ! C’est qui, ça ? Pouchkine ?
La mère sourit et répondit avec beaucoup de gentillesse :
— C’est Beethoven. Un compositeur allemand. Il était sourd, mais il a quand même écrit une musique superbe.
— Un Allemand ? demanda Aïtyr, soudain vigilant.
Mais la mère s’empressa de laver Beethoven de tout soupçon :
— Il est mort il y a très longtemps. Plus de cent ans. Bien avant le fascisme.
La grand-mère ouvrait déjà la bouche pour raconter que ce masque avait été offert à sa fille Moussia par son professeur, mais la mère lui lança un regard sévère, et la grand-mère referma la bouche.
— Vous voulez que je vous joue du Beethoven ? demanda-t-elle.
— Bon, d’accord ! accepta Aïtyr, et la mère approcha de nouveau le tabouret, elle le fit tourner, puis joua la chanson préférée de Guénia, celle de la marmotte, qui lui faisait toujours de la peine.
¨¨¨
Ils restaient tous assis sans rien dire, ils ne montraient aucun signe d’impatience, et pourtant il n’y avait plus de bonbons. La terrible tension qui avait paralysé Guénia jusque-là se dissipa et, pour la première fois, il ressentit quelque chose qui ressemblait à de la fierté : c’était sa maman qui jouait du Beethoven, et personne ne riait, tout le monde écoutait et regardait ces mains vigoureuses qui couraient sur les touches… Sa mère finit de jouer.
— Bon, assez de musique ! Si on jouait à un jeu ? Qu’est-ce que vous aimez ?
— On pourrait jouer aux cartes ? dit candidement Kolia.
— Si on jouait aux gages ? proposa la mère.
Personne ne connaissait ce jeu. Aïtyr était près de la fenêtre, en train de tripoter le voilier inachevé. La mère expliqua comment jouer, mais personne n’avait de gage. Lilia, une petite fille avec des nattes compliquées, avait bien un peigne dans sa poche, mais elle ne voulait pas le donner. Si jamais elle le perdait ? Aïtyr posa le navire sur la table et déclara :
— Ça sera mon gage !
Guénia prit le voilier et, en deux ou trois mouvements, il le termina.
— Si tu fabriquais des gages pour les filles, Guénia ? proposa sa mère.
Elle posa sur la table un journal et deux feuilles de papier épais. Guénia prit une feuille, réfléchit un peu, et la plia dans le sens de la longueur…
Les crânes rasés des garçons et les têtes des petites filles aux nattes bien tirées se
penchèrent au-dessus de la table. Une barque... Un navire... Un voilier... Un verre... Une salière... Une corbeille à pain... Une chemise…
À peine avait-il terminé le dernier pli qu’une main qui attendait s’emparait aussitôt de sa création.
— Et pour moi ? Fais-en un pour moi aussi !
— T’exagères, tu en as déjà eu un ! C’est mon tour !
— Guénia, s’il te plaît, fais-moi un bonhomme !
Personne ne pensait plus aux gages. Guénia travaillait à toute allure, il pliait, aplatissait les pliures, recommençait à plier, cornait les coins… Un homme… Une chemise… Un chien…
¨¨¨
Ils tendaient les mains vers lui, il leur distribuait ses merveilles en papier, et tous souriaient, ils lui disaient merci. Sans même s’en rendre compte, il sortit son mouchoir de sa poche et se moucha, et personne n’y fit attention, pas même lui.
Une chose pareille, il n’avait connu cela que dans ses rêves. Il était heureux. Il n’éprouvait ni peur, ni hostilité, ni haine. Il était aussi bien qu’eux. Et en plus, ils admiraient son petit talent de rien du tout, auquel lui-même n’accordait aucune importance. C’était comme s’il voyait leurs visages pour la première fois : ils n’étaient pas méchants. Ils n’étaient pas méchants du tout...
Aïtyr tripotait une feuille de papier journal sur le rebord de la fenêtre. Il avait déplié le navire et essayait de le refaire, mais il n’y arrivait pas. Alors il s’approcha de Guénia, lui toucha l’épaule et, l’appelant par son nom pour la première fois de sa vie, il lui demanda :
— Dis, Guénia, regarde... Qu’est-ce que je dois faire après ?
La mère lavait la vaisselle, elle souriait, et des larmes tombaient dans l’eau savonneuse.
Le petit garçon, tout heureux, distribuait ses jouets en papier.
Ludmila Oulitskaïa
in Le miracle des choux et autres histoires russes
Paris, Gallimard Jeunesse, 2006
(Adaptation)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Recomeça...

Júlio Resende

Sísifo
Recomeça....
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E  vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga, Diário XIII

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Domingo de Carnaval


E se fosse cá?

A ministra da Educação da Alemanha apresentou a sua demissão e Merkel aceitou o pedido, apesar de, inicialmente, ter defendido a governante.

A ministra é acusada de plágio na sua tese de doutoramente, realizada há uns trinta anos. 

E se fosse cá? 

Acho que o mais provável era vir um ministro "tipo" Relvas, com expressão de virgem ofendida, dizer que era mais uma cabala política, que a consciência estava tranquila, e que ia ser realizado um inquérito para que nada ficasse por esclarecer. E muito boa noite, senhores jornalistas, que já tudo foi esclarecido.

Ora, o inquérito até se realizaria, pagando-se de forma choruda a meia dúzia de consultores. Porém, o tempo de realização seria muito longo e o resultado seria que tinha sido impossível chegar a uma conclusão e, por favor, senhores jornalistas, já foram dadas todas as respostas possíveis. Passem bem e muito boa noite.

Tudo com ar tranquilo, porque querer saber mais é fazer parte de uma cabala e a consciência está tranquila. 

E se fosse lá, os políticos falariam assim? Não, porque seriam demitidos. E ainda bem.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Tempo de camélias






"Extimidade"


Hoje vi uma comentadora de televisão a mostrar uma página de jornal que abordava o tema da exposição excessiva de intimidades nas redes sociais. 

Com sensatez, lembrou que o que é mostrado constituirá a memória futura de quem o faz. E que, por vezes, é tal a exposição pessoal que há quem diga que a palavra "intimidade" vai mudando para "extimidade".

À nossa volta, proliferam casos de bastante dependência das redes sociais, sobretudo facebook, o que revela que a necessidade de comunicar é de todos os tempos; as formas é que diferem.

As vozes são muitas vezes substituídas pelo som do teclado. Um "não" lido num ecrã de telemóvel ou computador pode ser logo apagado, mas se for escutado pelo diálogo fica mais tempo no ouvido. 

Não sei se estamos cada vez mais sós, se vivemos essencialmente o imediato, se buscamos a comodidade de relações mais fáceis, se queremos espreitar a vida dos outros sem ter de pedir licença...

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", mas que o "in" de intimidade não seja substituído por "ex". 

As Novas Tecnologias trouxeram incontáveis ganhos, mas as perdas também contam.


"O meu coração está a mil"

Hoje, logo pela manhã, fui comprar pão e o jornal. Entrou uma jovem na confeitaria e pediu : "meia de leite escura e um pão de água claro". De dentro do balcão, alguém diz: "vens com pressa!" (não sei se se disse "carago", como, nestes casos, costuma ser comum remate de frase).

A jovem, olhando para o pão e para a chávena, já em cima do balcão, acrescentou "o meu coração está a mil". E explicou as razões. Tinha entrado ao trabalho às sete da manhã e ainda não tinha parado nem um minuto. Só agora fazia uma pausa, mas tinha de ser rápida.

Os outros clientes iam entrando e saindo, enquanto a jovem  falava e tomava o pequeno-almoço.

Saí depois de comprar o pão. Daí a pouco, depois de ter sentido o frio agreste mas ensolarado da manhã, eu estava em casa a pôr o café na cafeteira, a abrir o frasco de doce e amiga compota de laranja e a sentir nos dedos o pão ainda morno.

Felizmente, hoje, sábado, sem ter "o coração a mil". Felizes contrastes?


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Máscaras na ESG