Em diferentes momentos,
encontramos histórias sobre a palavra Amor,
mesmo que esta não seja escrita nem pronunciada.
Nos seus nove anos felizes e suaves,
Catarina sorri e aparecem as covinhas nas maçãzinhas do rosto. Na festa de anos
da madrinha, Catarina mostra, como habitualmente, a sua doçura e alegria.
Dizem: é tão parecida com a mãe. É tal e qual. E logo o sorriso dela se abre e
as covinhas das maçãzinhas do rosto aparecem. Aconchega-se à mãe e sorriem as
duas.
Catarina estava à espera do dia da
festa de aniversário para rever amigos da madrinha e mostrar truques de magia.
Tinha aprendido vários num livro e num DVD que aquela lhe tinha oferecido.
Um dos truques era o de a outra pessoa escolher uma carta de um baralho e a
mágica adivinhar qual a carta tinha sido escolhida. Noutro, alguém segurava num
fio esticado, onde estava presa uma argola, com os dedos polegares e, depois de
vários laços, a mágica puxava o fio e, de repente, a argola saía.
Muito bem, Catarina, e Catarina sorria
nas covinhas das maçãzinhas do rosto.
Depois, fez o truque com o Rodrigo, um
menino também com nove anos e que tinha sido convidado para a festa de
aniversário. Estava com uma prima, muito amiga da aniversariante. O Rodrigo
esticou o fio com os polegares, deixou a Catarina fazer os laços habituais, mas
a menina-mágica, ao puxar o fio, a argola ficou presa e não se soltou, como era
previsto. Num segundo, Catarina ficou preocupada porque o truque não resultava,
mas não desistiu. Rodrigo, que é um menino muito responsável e atento, até
corou. Mas tudo isto durou apenas o tempo de o diabo esfregar um olho, porque
logo o truque resultou bem, embora, durante uns segundos, parecesse difícil.
No final do jantar, Catarina voltou a
pegar no fio mágico e ia repetindo os truques. Rodrigo observava. Não sei se
estava a fazer rimas, porque, antes do jantar, tinha participado de um jogo: encontrar
palavras que terminassem com o mesmo som. E, partindo de “pão”, vieram as
palavras coração, avaliação, oração, emoção, televisão...
Se calhar, para a palavra “magia”,
Rodrigo encontraria dia, tia, alegria, aletria, ria… e muitas mais de certeza
absoluta, posso eu dizer, eu que raramente tenho certezas absolutas.
Outra certeza tenho: a Catarina é
mágica e até já entrou, pelo menos, numa história escrita em livro, porque, para além da magia, da serena
alegria das covinhas das maçãzinhas do rosto, também traduz muito bem, por
palavras, coisas engraçadas que observa.
Quanto ao Rodrigo, tenho outra
certeza: é um menino que sabe rimar com escutar, pensar, falar, questionar,
observar…
E tudo simples com(o) um toque de
magia.