sábado, 3 de outubro de 2020

A pintura e a fotografia

 

Ainda nem sequer se falava na atual pandemia, os pais foram com a menina à National Gallery, em Londres, onde aos domingos de manhã se conta(va) uma história, gratuitamente, numa  das belíssimas salas do museu, a partir de um quadro lá exposto.

Junto da obra de arte, escolhida para a sessão, havia uma carpete, que a contadora disse ser mágica, e que foi desenrolada pelas crianças para se sentaram, voltadas para ela e para o quadro.

Como quase todas as histórias, começou assim: Once upon a time... (Era uma vez...).

E as crianças iam imaginando o que a contadora de histórias ajudava a adivinhar com palavras, bem claras e bem pronunciadas, e objetos que tirava de um cesto, iguais aos da pintura: longos e coloridos mantos acetinados, uma grinalda, um escudo de defesa...

A menina de três anos estava na fila da frente. E, tal como os outros meninos e meninas, tocava os objetos. E experimentava-os. E sentia-os. E fixava a contadora de histórias. E seguia com atenção o enredo mágico também contado na tela colorida.

Ouvindo também a história, a mãe olhava a filha. Apetecia fotografar tanta atenção, mas não o fazia,  para seguir a recomendação de não fotografar as crianças presentes.

Já na rua, a menina continuava a contar a história para si própria, repetindo gestos que tinha presenciado.  

 E a  mãe fotografou este quadro, para si o mais belo.

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Uma crónica e uma pintora

 

Sempre que posso, gosto de ouvir a crónica diária de Francisco Sena Santos. 

Passa na Antena 1, às 8.40 da manhã. Aprendo sempre alguma coisa com o seu

 'Olhar sobre o mundo'.

Hoje falou de Artemisia Gentileschi, pintora barroca, nascida em Roma, no ano de 1593, e

 falecida em Nápoles, em 1656.

Era conhecida por 'la pintora' pelo sucesso da sua obra 

de grande originalidade.

Apesar disso, teve de ter alma e nervos de ferro para singrar e ser compreendida numa

 época e num  meio dominados por homens.

Procurei alguns dos seus quadros e partilho-os agora.

 

O cronista referiu também que os quadros desta pintora vão estar expostos na National Gallery de Londres, aberta também a visita virtual.

 



 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Quando não se tem cão...

 

 ... caça-se com gato. E é bem verdade. Ontem à noite, houve a apresentação do livro Mimos de setembro, da Editora Mimos e Livros, por google meet.

A apresentação dos volumes anteriores foi presencial, com os abraços e beijinhos a que todos estávamos habituados (julgo que esse hábito vai mudar bastante, mas o mais importante é que os afetos não diminuam).

Na sessão, houve o ligar e o desligar do microfone, o abanar de mãos como aplauso, a alegria de falar de um prazer de todos, que é a escrita, etc.

Todos falámos um pouco sobre o poema ou prosa poética que cada um tinha elaborado a partir do tema que era o mês de setembro.

Como acontece nas mais diversas áreas, todos os textos exprimem visões e vivências diversificadas, o que é muito interessante.

Muitos  dos presentes no encontro referiram a falta do encontro presencial.

Outros tantos, nos quais me incluí, falaram do bem que é haver esta alternativa, com vantagens até para quem mora longe e não poderia, naquele dia, deslocar-se ao Porto, onde habitualmente são/eram as apresentações.

De facto, a pandemia tem obrigado a muitas adaptações na nossa vida. Às vezes até nos admiramos de nós próprios!


quarta-feira, 30 de setembro de 2020

"Isto não vai acabar bem"

 

Esta foi uma das frases ditas por Trump a Biden no debate de ontem à noite, nos Estados Unidos.

Como é possível que o governante de um país tão poderoso chegue a este ponto de ameaça, medo, para manter o poder e não perder os gordos privilégios nem os prestados aos seus fiéis seguidores?

E que mal isto faz ao mundo! Os Trump(ezinhos) vão proliferando não só na política, mas nos mais variados setores.

A prática da mentira, da arrogância, do insulto, do desrespeito pelo outro, que é diferente de si próprio, é avassaladora.

Se as pessoas não rejeitarem estas práticas pelo seu voto, de facto,"isto não vai acabar bem".


terça-feira, 29 de setembro de 2020

"Mimos de setembro"

 

 Com a chancela Mimos e Livros, foi publicada a coletânea que reúne textos poéticos de 70 autores. A apresentação será na próxima 4ª f., através da plataforma Google Meet.



Foi este o meu contributo:


Setembro

 

Se me lembro, setembro,

eras  descanso de fim de verão,

silêncio fresco de maresia -

nem que fosse vivido num só dia

 

Se me lembro, setembro,

via-te pela janela ao levantar;

chegavas manso e carinhoso -

azulando o livre dia luminoso

 

Se me lembro, setembro,

de te sentir tranquilo e despojado,

aos rostos e árvores as máscaras tirando -

porém ao seu uso agora obrigando

 

 Não me lembro, setembro,

de um setembro tão virulento assim;

podes impor confinamentos, podes,

mas não afastes a memória

do setembro feliz que guardo em mim.

 

 

domingo, 27 de setembro de 2020

Ruídos

 

Ponho papeladas em ordem

porque há silêncio

abro a janela

entra luz e frescura

mas interrompo a arrumação

e pego num livro

e leio em silêncio

mais tarde

arrumo as papeladas

agora não

trazem-me muitos ruídos

basta-me ter de arrumar as papeladas

 

sábado, 26 de setembro de 2020

Colheita em manhã de outono


 

A lembrar uma sopinha quente



 

Uma sugestão de escrita sobre o Natal

 

LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME IX
Coletânea de poemas e contos 2020

A Lugar da Palavra Editora quer editar (mais) um livro memorável para este Natal. E gostaria de contar consigo! Participe!

REGULAMENTO

1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 27 de outubro de 2020.

2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para editora@lugardapalavra.pt

3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).

4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).

5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.

6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.

7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.

8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.

9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, em www.lugardapalavra.pt e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.

10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas, sendo certo que os autores beneficiarão de vantagens na sua aquisição diretamente à Lugar da Palavra Editora. Os autores selecionados obrigam-se a adquirir pelo menos um exemplar da obra.

11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.

12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo- lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.

  1. Será constituído um Conselho Editorial formado por três elementos: ANA MARIA BESSA, MARIA EUGÉNIA PONTE e MARIA ISABEL GONÇALVES.
  1. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.

    15. Os casos omissos serão resolvidos pela organização

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Diálogos improváveis que deixaram de o ser

1.

 - Filho, que tal a Faculdade?

- Muito fixe, mãe.

- Foram boas, então, as tuas primeiras impressões.

- Mesmo. Já nem me lembrava de estar numa sala de aula.

- E dos teus colegas, gostaste?

- Claro. Poder falar sem ser pelo zoom, a gente conhecer-se pessoalmente, conversar... nem   parecia verdade; foi mesmo fixe.


2.

- Bom dia, setora, desculpe o atraso.

- Bom dia, sente-se então no seu lugar.

- Até me admira não me dizer nada por ter perdido a camioneta.

- O que podia dizer? Só estou a conhecê-lo agora.

- Como assim?

- Vim hoje fazer esta substituição.

- Desculpe, setora, com a máscara, nem reparei que não era a nossa setora.


3.

- Mamã, quando não houver vírus, podemos ir a Portugal?

- Sim, filha, claro. E estamos com a família, brincas com os primos, vamos à praia...

- Gostava tanto de ir. Já não vamos lá há tanto tempo.

- Também tenho saudades de Portugal, filha.

- O vírus ainda vai ficar muito tempo, mamã?

- Não se sabe, filha, mas ele é muito chato e não quer ir embora.

- Mamã, posso começar a fazer a minha mala?

- Já, filha? Ainda nem marcamos a viagem!

- Assim, o vírus não entra porque vê que vamos sair!

 

No final do verão, já passado!

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Um (quase) poema que me chegou

 

O silêncio da casa

 

Deixo coisas por fazer

para que a casa continue assim

em silêncio

não sei se exala passado

ou sobretudo o agora

mas o momento é sereno

e não quero desperdiçar nada

do silêncio da casa de hoje

a cama está por fazer

a cozinha por arrumar

a roupa por passar a ferro

mas nada disso importa

não posso perturbar

o silêncio da casa

olho a tua fotografia

e não te digo nada

volto a olhar

volto a nada dizer

não é preciso

conheces o meu amor

pelo silêncio

- com arrumação,

pressinto que vás acrescentar.

 

15.09.2020

sábado, 19 de setembro de 2020

Master KG - Jerusalema

 

"... é sempre um bálsamo constatar que uma música conquistou o mundo pela diversidade de coreografias que inspira. Não sei se já ouviu falar da sul-africana “Jerusalema”, mas vale a pena ouvir",  in Expresso Curto de ontem, escrito por Jorge Araújo.

 Concordo que vale a pena ouvir. E ver, é claro.

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Despedidas de verão

 

 

A minha mãe chama a estas florinhas 'despedidas de verão'.  

Ela costuma conhecer bem a vida das flores.

Vou trazer para casa umas estaquinhas ou ganinhos, como sempre ouvi dizer, e plantar num canteiro.

Assim, terei um anúncio de outono natural e com a vantagem de ser bonito.

Como as flores já estão há uns dias na jarra, algumas estão murchas. 

Também acontece nas despedidas de verão.

 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Conversa com caracóis desconhecidos

 

 - Olá! 

- Já não vinha aqui à loja há uns tempos. O seu visual está diferente.

- Sim, há meses que não vou cabeleireiro e o cabelo cresceu bastante.

- Os caracóis são naturais?

- Sim, são. A minha mãe dizia-me que em pequena eu tinha caracóis, mas nem sabia que ainda os tinha.

- A sério?

- Desde os meus dez anos que usava o cabelo muito curto e nem dava pra ver.

- Tem piada.

- Quarenta anos sem saber que o meu cabelo tinha caracóis!

- É engraçado. Como na publicidade: há sempre uns caracóis desconhecidos que esperam por si!!!

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Os números a mais no telemóvel

 

Uma vez, ia eu no comboio e, muito perto de mim, alguém começou a apagar números de telemóvel, mas sem tirar o som. Não será necessário dizer como foi irritante a operação do procura-apaga.

Lembrei-me disto ontem, porque, enquanto esperava por uma chamada, comecei a apagar números que usei muitas vezes por necessidades da profissão, mas que há anos não preciso de utilizar.

Embora estivesse em casa, tinha o telemóvel sem som (sou muitas vezes criticada por não atender o telefone, embora depois ligue de volta. Acho péssimo, sobretudo em sítios públicos, ouvir-se o cantar poluente e estridente de telemóveis).

Ora, e retomando o que dizia há pouco, embora se apaguem alguns números, não se apagam momentos que ficaram registados na memória.

Nem os sons a eles associados.

 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Às vezes caem estas coisas nas notícias

 

Abro o Expresso curto de hoje, dia 15 de setembro, escrito por Paula Santos, diretora adjunta do jornal, e leio logo as primeiras palavras em destaque que são estas:

 

As aulas recomeçam. O futebol regressa e há 

polémicas que não saiem do debate. Chegou a fase  de

Contingência

 

Dra Paula Santos, onde diz saiem, deve dizer saem, que é a forma correta.

É que, num jornal de referência, sobressaem ainda mais estas coisas.



Por falar em aldeia...

 

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

 

O Tejo tem grandes navios

E navega nele ainda,

Para aqueles que veem em tudo o que lá não está

A memória das naus.

 

O Tejo desce de Espanha

E o Tejo entra no mar em Portugal.

Toda a gente sabe isso.

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia

E para onde ele vai

E donde ele vem.

E por isso, porque pertence a menos gente,

É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

 

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.

Para além do Tejo há a América

E a fortuna daqueles que a encontram.

Ninguém nunca pensou no que há para além

Do rio da minha aldeia.

 

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada

Quem está ao pé dele está só ao pé dele".

 

Alberto Caeiro - Heterónimo de Fernando Pessoa 



Por acaso, na minha aldeia não há um rio, mas havia um riacho.

Nós, as crianças, brincávamos junto dele e, à noite, já em casa, gostávamos de ouvir as rãs.

Há bastante tempo, fui até lá e já não encontrei o riacho, mas ervas secas em seu lugar.

Quando puder, vou até lá outra vez. 

Ainda tenho uma leve esperança de ver que a natureza lhe devolveu a água.

Ou então dou voltas ao provérbio:

Água mole em ação dura a tudo leva secura.