terça-feira, 15 de setembro de 2020

Por falar em aldeia...

 

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

 

O Tejo tem grandes navios

E navega nele ainda,

Para aqueles que veem em tudo o que lá não está

A memória das naus.

 

O Tejo desce de Espanha

E o Tejo entra no mar em Portugal.

Toda a gente sabe isso.

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia

E para onde ele vai

E donde ele vem.

E por isso, porque pertence a menos gente,

É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

 

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.

Para além do Tejo há a América

E a fortuna daqueles que a encontram.

Ninguém nunca pensou no que há para além

Do rio da minha aldeia.

 

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada

Quem está ao pé dele está só ao pé dele".

 

Alberto Caeiro - Heterónimo de Fernando Pessoa 



Por acaso, na minha aldeia não há um rio, mas havia um riacho.

Nós, as crianças, brincávamos junto dele e, à noite, já em casa, gostávamos de ouvir as rãs.

Há bastante tempo, fui até lá e já não encontrei o riacho, mas ervas secas em seu lugar.

Quando puder, vou até lá outra vez. 

Ainda tenho uma leve esperança de ver que a natureza lhe devolveu a água.

Ou então dou voltas ao provérbio:

Água mole em ação dura a tudo leva secura.

 



4 comentários:

  1. Os poemas de Alberto Caeiro são (aparentemente) de uma grande simplicidade. Quanto à beleza, é enorme.
    Um dia também feliz
    M.

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  2. Já conhecia o poema e no final há também quase um outro poema mas triste

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  3. Sim, como triste é vermos a natureza ressequida e maltratada.
    Um beijinho
    M.

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