segunda-feira, 18 de setembro de 2017

domingo, 17 de setembro de 2017

Sophia e quem navega na sua inspiração

"Grão de Mar"


Lá no meu sertão plantei
Sementes de mar
Grãos de navegar
Partir
Só de imaginar, eu vi
Água de aguardar
Onda a me levar
E eu quase fui feliz
Mas nos longes onde andei
Nada de achar
Mar que semeei, perdi
A flor do sertão caiu
Pedra de plantar
Rosa que não há
Não dá
Não dói, nem diz
E o mar ficou lá no sertão
E o meu sertão em nenhum lugar
Como o amor que eu nunca encontrei
Mas existe em mim
Mas nos longes onde andei
Nada de achar
Mar que semeei, perdi
A flor do sertão caiu
Pedra de plantar
Rosa que não há
Não dá
Não dói, nem diz
E o mar ficou lá no sertão
E o meu sertão em nenhum lugar
Como o amor que eu nunca encontrei
Mas existe em mim

"Lágrima" em domingo (ainda) sem chuva

sábado, 16 de setembro de 2017

Oswaldo Montenegro - Metade

Metade ou inteiro?



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também

A leitura inteira de Pedro Lamares

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

"Quintas de leitura"


Ontem à noite, o anfiteatro da Biblioteca Almeida Garrett encheu-se para assistir às "Quintas de Leitura" sobre a obra de Sophia de Mello Breyner.
É muito bom ver como tantos eventos no Porto são participados e aplaudidos.
Este poema foi o primeiro a ser escutado, dito por Catarina Salinas. Muitos outros se seguiram, lidos por Cristiana Sabino, Mariana Magalhães Teresa Coutinho e Pedro Lamares. As palavras sabiam à verdade e limpidez de Sophia.
Para além da música, das canções, da leitura de um ensaio, de imagens, de silêncios, de convívio, de emoções...

Joana Machado - Do You Know?


Esta voz do jazz esteve também ontem na Biblioteca Almeida Garrett.

Sopa de Pedra - Estrigadeiras

Ontem, na Biblioteca  Almeida Garrett, as vozes bem articuladas deste grupo fizeram-se ouvir.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A mentira nem sempre tem perna curta

Goste-se ou não do estilo, toda a gente conhece o Tony Carreira.
Um dia, o cantor vinha a Gondomar e um aluno perguntou-me se eu ia ver o espetáculo. Disse-lhe que não e logo me perguntou se eu não gostava do cantor. Como a minha resposta foi de novo negativa, ele respondeu-me:
- Ó Setora, não acredito, todas as mulheres gostam dele!!!
E o Multiusos encheu-se, tal como as salas por onde passa.
E o que é certo é que o problema do plágio, que ontem foi levantado pelo Ministério Público, já é antigo e bastava consultar a internet para ver facilmente as poucas diferenças e as muitas semelhanças entre grandes êxitos com canções mais antigas de outros autores.
E, infelizmente, nesta área e noutras, há pessoas que enriquecem sorrindo às mentiras e maldizendo, como se fossem vítimas, as verdades que incomodam. E este vício adocicado de xicoesperto atinge muitas gerações.
Quando isto acontece, os outros serão vistos como uma massa de gente que ficou pela emoção e não atingiu a razão.
Oxalá a mentira tenha cada vez mais perna curta para que Portugal dê exemplos de um país civilizado. E não falta talento e criatividade.

HERVE VILARD / L'IDIOT

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Em busca da terra e dos céus


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Como nas séries com final feliz


Um dia, ela decidiu fazer nova toalha de renda para a mesa da sala. Habituara-se a ter a mesa coberta com uma toalha de renda desde que se casara, havia mais de  cinquenta anos. Olhava para as duas toalhas de renda que tinha feito e, mais do que o tempo e trabalho que tinham exigido para a sua execução, lembrava-se de todas as histórias que as tinham acompanhado. 
Costumava concluir aquilo a que se propunha e meteu mãos à obra.
Como se levantava todos os dias com o nascer da manhã, o trabalho iria avançar e haveria uma nova toalha para assistir a novas histórias e embelezar a sua sala. A menos que houvesse algum percalço porque a idade já ia avançada, mas não pensava muito nisso.
Como estava entusiasmada com o projeto da nova toalha, partilhou a alegria com as amigas. Uma delas, mais pronta para a palavra farpada, disse:  "Tantos metros de renda? Ainda morres antes do fim".
Lá foi tecendo, tecendo, tecendo... De vez em quando, punha a toalha na mesa para ver melhor o efeito e a renda que ainda faltava. Ficava contente porque aumentava e estava a ficar bonita. 
Concluiu-a sem custo nem stress. Nesse dia, como habitualmente, encontrou-se com as amigas e falou-lhes da conclusão da toalha. E que, felizmente, continuava bem viva. Todas compreenderam e começaram a rir. Tal como nas séries com final feliz.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Ana Moura & Patxi Andión "Para Além da Saudade"

Ontem sabia a outono




Ontem, ao fim da tarde, já parecia outono. Aqui onde vivo, é claro.
Apesar de a terra estar seca, as plantas precisarem de água, sentia-se um vento fresco e o céu ia-se pintando de névoas cor de fogo perto do sol que se recolhe cada vez mais cedo.
Gosto do tempo assim. De serena nostalgia. De alguma doçura que se vai guardando para o inverno.




domingo, 10 de setembro de 2017

Dulce Pontes & W. Bastos _ Velha chica

Também as palavras da professora

Vou começar por Era uma vez... mas foi (quase) tudo real.
Era uma vez duas meninas que andavam numa escola do primeiro ciclo, a que então se chamava escola primária.
As meninas da fila da frente eram as que iam continuar a estudar, atrás ficavam todas as outras. Outras e não outros porque as salas de aula não eram mistas.
Ora, as meninas da fila da frente requeriam mais atenção da professora e muitas delas já estavam habituadas a ter em casa e em qualquer sítio outras atenções, quase desconhecidas das meninas das filas de trás e quanto mais atrás fossem colocadas, mais habituação havia às desatenções.
As professoras seguiam as cartilhas pelas quais também se tinham formado, porque o tempo era de condenação de qualquer atitude crítica ou mudança.
Porém, uma professora que pegou na turma do 4º ano, ou 4ª classe como se dizia, começou a reparar numa menina das filas de trás, que gostava de estudar, que era boa aluna e que deveria continuar os estudos. E começou a dizer-lho e a repetir que tinha de o fazer.
A menina ficava entusiasmada e corria no regresso a casa para dizer à mãe o que a professora achava, mas a mãe tinha muito que fazer, muitas preocupações e quase nem a ouvia. E isto repetiu-se várias vezes até que a menina, com dez anos, concluída a escolaridade obrigatória que eram os quatro anos da escola primária, ficou em casa como a grande parte das meninas das redondezas.
Mas o gosto por saber mais e as palavras da professora não se esbatiam e, mais tarde, a menina foi estudar e concluiu um curso universitário com boas notas. Pelo caminho, teve de enfrentar obstáculos que as meninas da fila da frente não tinham tido porque a corrida começara a ser preparada muito mais cedo.
Um dia, passados muitos muitos anos, uma menina das filas de trás encontrou uma das meninas da fila da frente. E conversaram longamente, como nunca o tinham feito na escola primária.
E a menina, que estava sempre na fila da frente, contou que tinha deixado de estudar, por vontade própria, logo nos primeiros anos do liceu.

Boas notícias

Os jornais falam hoje, abundantemente, das colocações no Ensino Superior. E todos nos regozijamos, acho eu, com este acesso crescente a mais formação, o que será sinal, desejamos todos, de mais prosperidade, felicidade e inserção no mundo de hoje.
Claro que depois, no final de muitos cursos, muitos jovens sentem o desânimo de não terem trabalho ou, se o têm, é em áreas diferentes daquelas para as quais estudaram e mal remunerado. Estou a lembrar-me de uma rapariga que conseguiu as melhores notas do Ensino Secundário da escola que frequentou, foi considerada a melhor aluna do curso universitário que escolheu e que hoje vai ajudando, precariamente, num escritório onde faz serviço burocrático para o qual não estava vocacionada.
Ouvi há pouco uma diretora de Universidade referir a necessidade de diferentes instituições trabalharem em rede para que os estudantes tenham melhores condições para concluirem os seus cursos e também para encontrarem saídas profissionais.
Possam em breve os jornais dar essas boas notícias.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Mesmo irritante!

Ontem, fui a um Centro Comercial e utilizei o tapete rolante. A descer havia uma única pessoa para além de mim. O tapete ia deslizando, eu ia caminhando, mas essa pessoa, parada no meio do tapete e de mãos na cintura, ocupava todo o espaço, impedindo a passagem.
Continuei e, quando já estava muito perto dela, pedi licença para passar. Como a senhora não ouvira os meus passos, acho que se assustou um pouco e deu-me passagem.
Não sei se depois se encostou à direita, como deveria ser, porque não olhei para trás.
Logo a seguir, fui levantar dinheiro numa caixa multibanco.
Atrás de mim, uma pessoa estava tão próxima que eu quase ouvia o seu respirar. Se tossisse, eu apanharia, por certo, com o bafo no pescoço.  
Apetecia-me dizer que se afastasse um pouco, o que não tive nem teria coragem de fazer. 
São pequenas coisas, é certo, mas evitá-las só traria um pouco mais de conforto aos demais.
Mas há quem não pense nisso. Ou quem não saiba que deve pensar nisso.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Praia em (quase) outono



Comemoração do 150 aniversário do desembarque dos Liberais no Mindelo

Praia de Mindelo - Vila do Conde

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Pingos


Espinafres e bombas


Como já estamos em setembro, quando me levanto e abro a janela, olho a cor do céu e o chão para ver se choveu. Porque o ano vai de seca e a chuva é precisa como água para a boca. Hoje via-se que tinha chovido, embora pouco.
Para além de ser bom para o ambiente, poupa-me trabalho a regar o quintal. E os espinafres ficam mais viçosos e verdinhos.
Eu sei que há problemas maiores do que gostar de ver o quintal regado, como as bombas destruidoras que têm sido lançadas da Coreia do Norte e não só. Pelo poder narcísico de loucos, que se julgam deuses.
E pensar que eles acedem às bombas com a facilidade como eu colho espinafres no meu quintal!

sábado, 2 de setembro de 2017

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

HAMPSTEAD - um filme cool!


 Quando vi anunciar o filme HAMPSTEAD, logo fiquei com curiosidade de o ver, porque é uma zona de Londres onde já fui várias vezes e de que gosto muito. Pelo enorme parque, pelas mansões com jardins floridos, pelos pubs antigos e confortáveis, pelas lojas pequeninas, pelas ruas estreitas com vasos coloridos à janela...
Deliciei-me a rever no filme, de Joel Hopkins, alguns desses espaços.
A história, em si, pareceu-me demasiado cor-de-rosa: uma mulher viúva (Diane Keaton), vive num bom mas degradado apartamento em Hampstead. Os dias são passados com atividades de voluntariado e a tentar resolver problemas financeiros. 
Um dia, do sótão, avista um homem (Brendan Gleeson) que vive numa barraca, numa zona do parque (Hampstead Heath), quase escondida pelo arvoredo. 
Conhecem-se, ela fica fascinada pelo estilo de vida daquele homem que optou por viver sozinho no local há dezassete anos e apaixonam-se.
Mais não digo, porque também não gosto que me contem o final dos filmes.
Agradou-me a vida em contacto sereno com a verdade da natureza, a ternura revelada pelo casal, mas apetece dizer que, na vida quotidiana, tudo seria bem diferente, embora saiba que a uma obra de arte não se deve pedir que retrate apenas a realidade.
Seja como for, o filme motivou-me a voltar a Hampstead e a Hampstead Heath.

Maravilhas de proximidade


quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Há mar e mar: sentir e cantar

"Meu querido mês de agosto"

Estas imagens são de Castro S. Paio, uma praia e grandes rochedos, entre Vila Chã e Angeiras.
Convida a uma bela caminhada até lá. Já a fiz várias vezes. Este ano, com uma das minhas filhas, saboreei belas  maresias e pedrarias, sentada numa pequena esplanada que lá existe. 
No cimo do castro, existe uma pequena capela rodeada de um grande adro. Aproximando-me dela e olhando as ondas, lembro-me sempre das Cantigas de Amigo, versos amorosamente escritos no princípio da nacionalidade, sendo D. Dinis um dos seus cultores.
Hoje chega ao fim o mês de agosto, mas, felizmente, estas belezas continuam. Talvez agora com um pouco mais de silêncio, aberto ao azul.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

E finalmente caiu a chuva

Agosto está quase no fim - a avaliar por muita coisa, incluindo as nuvens e as contas para pagar.
O tempo e talvez um pouco mais de recolhimento pedem leitura. Tenho-me atirado a livros de Elena Ferrante. Ontem, terminei um (A amiga genial) e hoje comecei o segundo volume (História do novo nome). Estou encantada e apetecia-me ler, ler, ler...
Como as obras remetem para os anos sessenta, verifico que as histórias,  que se passam em Itália e sobretudo em Nápoles, não eram assim tão diferentes das que vivíamos em Portugal, como a violência doméstica, a pobreza de muitos e a riqueza de alguns, o desejo de libertação e a queda noutros aprisionamentos...
E é fascinante o gosto pela leitura de algumas personagens, a rebeldia, a inteligência, a vontade de estudar e de saber...
Tudo numa escrita tão fluente e coloquial que parece que se está a assistir ao desenrolar dos factos de forma direta e sem artifícios. Escrever assim é um dom e significa ter trabalhado muito a linguagem e a observação do mundo.
Se não tivesse outras prioridades, reabria o livro e fechava-o só ao fim da tarde.
Não posso. Não se pode ter tudo.
Mas felizmente veio a chuva.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Adieu, Janne Moreau (1928/2017)


O GEBO E A SOMBRA - Trailer

Jeanne Moreau - Amor pelo Cinema

Jeanne Moreau - Le Tourbillon

Jeanne Moreau - Amor pela Música

domingo, 30 de julho de 2017

Um (bom) domingo tem música

Porque hoje é domingo

 

Domingo Irei

 

Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros,
Contente da minha anonimidade.
Domingo serei feliz — eles, eles...
Domingo...
Hoje é quinta-feira da semana que não tem domingo...
Nenhum domingo. —
Nunca domingo. —
Mas sempre haverá alguém nas hortas no domingo que vem.
Assim passa a vida,
Sutil para quem sente,
Mais ou menos para quem pensa:
Haverá sempre alguém nas hortas ao domingo,
Não no nosso domingo,
Não no meu domingo,
Não no domingo...
Mas sempre haverá outros nas hortas e ao domingo!


Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa 


Domingo à tarde - Seurat
Bailarines - Fernando Botero
Baying - Paula Rego

sábado, 29 de julho de 2017

Um dia de Sol no Furadouro


Um palheiro no Furadouro




Este é considerado o último palheiro (casa de pescadores) do Furadouro.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Dead Combo - Sem assobiar para o lado

Jacques Brel - Tous les ports

Adieu, Barbara!

Como se tivesse tempo de lá ficar

Ou são coisas urgentes a tratar, ou são afazeres que não se podem adiar, ou são pequenos consertos que têm de ser feitos, ou é o apoio necessário aos familiares mais velhos... os dias passam a voar. E se voam. 
E quase que nem há tempo para desfrutar um pouco do tempo, do sol e também do vento que, nos últimos dias, tem soprado às vezes quente (nada bom para os incêndios que não param), outras vezes bem fresco com a interferência da proximidade do mar.
Pois, tenho um livro que não avança, um trabalho que não desenvolve, o meu blogue onde não tenho vindo e que também me faz falta e vários etecetras que os seres comuns como eu e que tenham a vida comum como a minha bem conhecem.
E a propósito do blogue, é fascinante registar que vai havendo tempo para visualizações em diferentes países do mundo, para além de Portugal. Maravilha das novas tecnologias. 
Não conheço os rostos, não conheço as idades, sei apenas que estas simples mensagens são lidas perto e bem longe. E, da minha parte, é motivo para muita e serena alegria. E deixem-me dizer obrigada porque todas estas pequenas coisas me fazem feliz.
Mas lá está o relógio a dizer-me que está na hora de telefonar porque a tarefa é urgente.
Antes, porém, vou abrir a janela como se tivesse tempo de lá ficar.








sexta-feira, 21 de julho de 2017

E ainda não víamos a Glorinha à janela

Salvador Dali
Quando eu era miúda, viam-se mais pessoas à janela do que agora, pelo menos na minha aldeia. Muitas dessas janelas estão agora sem ninguém e não raramente em ruínas.
Quando as olho, parece que ainda vejo essas pessoas. Talvez recolhessem, com os olhos, motivos que lhes alimentavam mais gostosamente os dias: quem passava e com quem passava; palavras que o ar deixava ouvir; o que os vizinhos faziam e como faziam... E tudo regalava a vista como quando procuramos o mar para nos lubrificar a alma.
Algumas dessas pessoas - sobretudo mulheres - apoiavam os braços no peitoril das janelas e ali ficavam muito tempo quando a lida da casa o permitia e era preciso um pouco mais de ficção nas suas vidas.
Também havia homens à janela, embora fossem mais raros. Lembro-me de um que passava uma boa parte das manhãs de sábado à janela. Ajeitava-se aos peitoris, tal como as mulheres, e ia virando o rosto para a esquerda e para a direita, consoante as imagens que queria observar.
Outra mulher havia que - dizia ela - tinha de saber o que se passava para contar ao marido que trabalhava em casa e raramente saía. A janela era uma espécie de jornal local.
Era o tempo de canal quase único de televisão. E ainda não víamos a Glorinha, a da telenovela Gabriela, também à janela à procura de ver fora ou o que não podia encontrar dentro.
 Agora, o tempo não dá para ser passado à janela e as televisões substituem-nas com muitas imagens tão coloridas como ruidosas para quem está em casa.
Quando passo, sobretudo a pé, e ainda vejo alguém à janela, saúdo com um sorriso, como se o tempo não tivesse fronteiras.

Pequenas-grandes janelas


Imagem da net
A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles

terça-feira, 18 de julho de 2017

Direito ao sol!


domingo, 16 de julho de 2017

David Hockney - 2000


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Flores de julho!


Romantico, ma non troppo!

Bye, London!

Estive uns dias em Londres. Dias quentes e com muito sol. Os ingleses aproveitam-no bem porque não abunda durante largos meses.
As noites amenas também enchem ruidosamente esplanadas, sobretudo em vésperas de fim de semana.
Da nossa janela, ao fim da tarde, começava a ver-se melhor a lua, para grande alegria da Clarinha que a procurava no céu e muito contente ficava quando a descobria.
Gosto de Londres e da preenchida pacatez dos arredores, do pulsar da vida comum cosmopolita no supermercado, no talho, na padaria, nas igrejas, no metro, na rua, no mercadinho de produtos hortícolas ao sábado de manhã, no infantário onde a minha neta brinca com meninos de diferentes nacionalidades, no pequeno museu com um grande jardim, nos parques...
Mas, por cá, há muitos afazeres também. E outras obrigações familiares.
Para já, bye London!
See you soon (I hope)!

Da janela, via-se a lua!