11 de novembro
Querido diário,
Hoje, o que te vou contar vai ser diferente. Vou transcrever o conto de Natal que escrevi com o Gi. Quero só explicar-te isto: para participarmos no concurso “Vamos escrever um conto de Natal”, tínhamos que pôr, obrigatoriamente, duas personagens: um sem-abrigo e um ou uma adolescente e o espaço tinha de ser a cidade.
Um dia, vi uma notícia no jornal sobre um homem que tentou roubar chocolates no Lidl e teve bué de problemas por isso. Achei que este caso ficava altamente num conto de Natal. O Gi ainda disse: oh, vamos falar de grandes superfícies? Era melhor, então, falarmos do comércio tradicional! Tive de lhe explicar que se puséssemos a história numa mercearia não era a mesma coisa, porque é tudo mais pequeno e as pessoas veem-se melhor. Ele acabou por dizer: ‘ta bem, vamos lá. Depois eu disse-lhe que tínhamos de escrever está e não ‘ta. Ele acendeu-me os faróis e começámos a trabalhar, porque não me quis chatear e queria era escrever.
O resultado foi este (mas já sei que a setora vai sugerir algumas mudanças, dar outras sugestões… Depois conto-te).
Muitos beijinhos
Mariana
Quase noite de Natal
O dia tinha estado ameno, mas, com o cair da noite, as nuvens carregadas começaram a ameaçar tempestade. António, um sem-abrigo, afastou o cartão em que todas as noites dormia, assim como o cobertor escuro com que se cobria. Se procurasse um supermercado, sempre podia entrar e proteger-se da forte chuvada que não parecia demorar muito. Viu, então, ao fundo da rua, o anúncio bem luminoso. Assim fez. Quando entrou, sentiu o quentinho de um espaço abrigado, de gente lavadinha e com companhia para falar. O dia não lhe tinha corrido muito bem. Compraria um sumo de laranja, porque o desenho do pacote fazia-lhe lembrar as laranjeiras da aldeia onde tinha vivido a infância.
Ao aproximar-se da prateleira dos sumos, passou pelos chocolates e teve uma ideia, ou melhor, uma tentação: meter seis chocolates ao bolso para oferecer na noite de Natal a seis pessoas que olhassem para ele com carinho. De repente, vê um funcionário e um adolescente junto dele. Um rapaz tinha assistido à tentativa de roubo, chamou o funcionário que disse apenas ao sem-abrigo: tira os chocolates do bolso e volta a pô-los no lugar.
António limitou-se a obedecer à ordem, porque já era velho e não podia correr ou fugir. E o que mais lhe custou foi ser tratado por tu. Enquanto estava a pôr os chocolates na prateleira, olhou para o rapaz que o tinha acusado. Tinha ar de quem tinha tudo e não gostava de nada nem de ninguém.
O funcionário, com ar de falso Pai Natal, disse assim: não chamo a polícia só por causa do espírito natalício. António voltou para o seu sítio habitual, também sem o sumo que queria comprar. Felizmente, a chuva já não caía.
Umas horas depois, já deitado, reparou que a rua estava deserta. De repente, começou a ouvir alguém a correr. Levantou a cabeça para ver o que se passava. Era uma rapariga. Vendo o sem-abrigo, parou e perguntou-lhe se tinha visto um rapaz de cabelo claro, alto, magro, de blusão de couro… Mostrava muita aflição e disse que o irmão tinha fugido de casa porque estava farto de tudo e de todos, até dos pais que chegavam no dia seguinte para o Natal.
Pela descrição, o sem-abrigo reconheceu o jovem que o tinha denunciado no supermercado. Em poucas palavras, apontou-lhe o final da rua.
A jovem retomou a corrida em busca do irmão. Encontrou-o sentado num dos bancos do jardim. Os dois irmãos abraçaram-se e ela convenceu-o a voltar para casa e passar o Natal em família.
Na volta, passaram pelo local onde a rapariga tinha visto o sem-abrigo. Estava lá o cartão, o cobertor, o saco de plástico, mas António já lá não estava.