Impossível não me lembrar do que vivi há 49 anos no dia 25 de Abril. Saí de casa para um dia de aulas normal e percorri as ruas habituais, no Porto. Estranho era o silêncio de uma cidade que estava quase deserta. Perguntei a alguém o que se passava.
Está a haver uma revolução em
Lisboa, responderam-me com espanto semelhante ao meu.
O rádio, encostado ao ouvido, ia sendo escutado por outras pessoas que passavam, com ar atónito e incrédulo.
A ditadura - palavra quase nunca pronunciada até então - tinha caído, ouvi também dizer.
E,
ao fim da manhã, estávamos os dois de mão dada no meio de uma multidão
que ia enchendo as ruas, como se saísse de um buraco negro em
busca de uma luz que, afinal, existia, mas que a enorme maioria dos
portugueses desconhecia.
Ao longo do dia, foi-se sabendo que um grupo de pessoas de grande coragem tinha
dado vida à Liberdade, palavra que até então só era dita por alguns mais
ousados ou mais informados e que, por isso, dela eram privados, porque o poder instalado preferia a cândida e calada ignorância. Não era por acaso que 60% das mulheres eram analfabetas.
Nesse
dia, dia único, compreendi muita coisa que
durante anos me escapou. Tal como à maior parte das pessoas.
Hoje,
escolhi ficar em casa e aproveitar o sossego para arrumações que ficam por fazer no dia a dia.
Oiço, porém, alguns
discursos de comemoração dessa data fundamental na nossa História e alguns comentários ao que está a acontecer na
Assembleia da República.
Não vi nem ouvi os discursos quando Lula estava presente. Vi depois imagens dos cartazes que um grupo parlamentar exibiu em protesto pela sua presença.
Ufanos e excitados, esses deputados pareciam rapazolas num concurso de televisão onde queriam surpreender. Desse por onde desse, logo que desse pontos.
E em muitos discursos - a maior parte serenos, felizmente, embora veementes e críticos - lá apareceram as citações de poetas do costume: Sophia, Natália Correia, etc. E como de Ceos da TAP se tem falado muito e também hoje se falou, o Céu foi lembrado sendo S. Paulo citado, assim como o Papa Francisco.
Pela tarde, fiquei contente ao ver tanta gente nas ruas de várias cidades. Uns indignados, outros a exigir o que lhes é devido, outros a festejar. Todos usando bens que fazem progredir a Humanidade, como a Liberdade e o respeito.
Uma das perguntas do dia, nos media, era se a Democracia está em risco. E as respostas que ouvi diziam que sim, que a Democracia pode estar em risco, por erros cometidos e pelos extremismos emergentes que, inexplicavelmente, querem que o país regresse à escuridão fechada do passado.
Ao jantar, falamos do que foi acontecendo ao longo do dia e de como será bonito irmos em família à Festa na comemoração dos 50 anos do 25 de Abril.
Oxalá a esperança não esteja em risco.
Bom dia
ResponderEliminarOxalá amiga, oxalá !!
JR
Estou em crer que sim, ou melhor, quero crer que sim.
EliminarBom domingo!
Pois... Oxalá a esperança e a liberdade não estejam em risco. Não me agradou a Visita do Lula. Então, para o ano são os 50 anos, o que será que vai acontecer?
ResponderEliminarGostei muito do seu texto. verídico!
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Detalhes da brisa...
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Beijos, e um dia bom!
Obrigada, Cidália, sempre querida.
EliminarOxalá no próximo ano possamos partilhar as nossas emoções.
Um beijinho e bom domingo