Confesso que me sentia imensamente feliz quando ela me chamava carinhosamente pelo meu nome que é Saturnino. Sim, Saturnino. Nesses momentos, até o achava comum como António, João ou Luís, sentindo-me normal, como se tivesse também um nome normal, embora essa sensação de normalidade não fosse habitualmente duradoira.
Tenho amigos também com nomes esquisitos, como Bráulio, que até custa a pronunciar por parecer uma trava-línguas; como Adolfo que logo faz lembrar o que ficou na história por tanto mal que fez à humanidade; como Leocádio, a que associo um animal enfurecido a correr na selva, a Octacílio e muitos outros, sei lá eu.
Mas, quando ela me chamava Saturnino de forma carinhosa, até esquecia a tristeza que o meu nome me cravou na cara desde criança.
Um dia, na escola, a professora perguntou-me:
- Saturnino, por que estás tão sotur - no?
Quando reparou na semelhança de som, nem acabou a palavra. Como podia gerar risota, emendou logo e em vez de soturno, disse triste.
Outra vez, a minha turma tinha de dizer o nome de um planeta. O meu companheiro de carteira, que era muito gozão, disse quase a gritar:
- Eu deixo o saturno para o Saturnino. Foi gargalhada geral. A professora tentou conter-se e começou a assoar-se para disfarçar o riso.
De facto, chamar-me Saturnino foi, desde muito cedo, um empecilho à minha felicidade. Eu sentia-me inseguro com medo das reações das pessoas quando ouviam o meu nome.
Em pequeno, quase nunca ouvi a minha mãe chamar-me pelo nome, o que também me marcou. Ficava-se quase sempre por "filho, isto; filho, aquilo". Acho que se arrependeu de ter concordado com a escolha que queria marcar como não sendo sua.
Foi-me dado este nome porque, quando eu nasci, os meus pais tinham uns amigos que aceitaram ser meus padrinhos, mas com a condição de eu me chamar Saturnino. Diziam que gostavam muito do nome, que já não havia crianças que se chamavam assim, o que era uma pena, porque o nome era bonito e estava a cair no esquecimento. Os meus pais aceitaram, porque a minha mãe não queria parecer ingrata, uma vez que aquele que viria a ser o meu padrinho, e que também se chamava Saturnino, tinha arranjado trabalho para o meu pai.
Saturnino continuará a narrar a sua história.
Bela introdução...👏👏👏
ResponderEliminarObrigada, Gracinha. Oxalá o resto também corresponda.
EliminarUm beijinho e bom domingo
Gostei de ler
ResponderEliminar.
Feliz fim de semana.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Obrigada, Ricardo
EliminarUm domingo feliz para si e família.
Gostei deste inicio. Há gente assim. A minha mãe chamava-se Gravelina porque a madrinha dela só o seria se a minha avó lhe deixasse pôr esse nome. E coitada levou a vida toda a ouvir chamarem-lhe Gradelina, Grazelina e outros que tais pois poucas pessoas encarreiravam com o Gravelina.
ResponderEliminarAbraço saúde e bom domingo.
Gostei do texto!:)
ResponderEliminar-
Sinto a falta de beber as tuas mágoas...
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Beijos, bom fim de semana!
Obrigada, Cidália. Um beijinho e muito bom domingo.
ResponderEliminarBom dia
ResponderEliminarGostei do texto e principalmente da moral da história .
JR
Joaquim, olhe que ainda não acabou.
ResponderEliminarBom domingo.