sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Noturnos - perfeitos

A noite estava fria. Entrou em casa e sentiu um brando calor que a fez tirar o casaco. Contrariamente ao habitual, hoje ia deitar-se mais tarde. O clube dela ia jogar e também queria ver o Governo Sombra. Até lá, aproveitaria para ler. Parecia ouvir: mãe, quem gosta de escrever tem de ler muito. 
A partir de hoje, iria disciplinar-se mais e encharcar-se menos do ruído da televisão. Seria até um bom propósito de ano novo. Não podia consentir que Contos Escolhidos de Guy de Maupassant ou Berta Isla de Javier Marías continuassem no monte dos livros à espera de serem lidos. E a releitura da Sibila de Agustina ou de O Ano da Morte de Ricardo Reis. Para quando?
Pôs a girar os Noturnos de Chopin, tocados por Maria João Pires e ia sentar-se no sofá. O ambiente era quase perfeito para a leitura. E mais ainda seria com um cálice de Porto ao lado, mas a garrafa, infelizmente, tinha-se esvaziado à mesa de vários serões natalícios em família.
Afinal, faltava alguma coisa. Reduziu a luz e releu algumas páginas de O Ano da Morte de Ricardo Reis, enquanto o dia ia morrendo nos suaves braços Noturnos. Esses, sim, perfeitos.



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