quarta-feira, 13 de maio de 2015

Rosas pequeninas

Junto de uma bomba onde costumo meter gasolina, há uma casa com muitas rosas à volta. Como a bomba de gasolina é à moda antiga, o cliente fica sentado no carro, enquanto o funcionário põe o combustível. É nesse tempo que olho, mais demoradamente, para essa casa.
 Lembro-me dela como nos recordamos de todas as casas bonitas por onde passamos muitas vezes, mesmo sem nunca lá ter entrado.
E a memória que tenho dessa casa é com as pessoas que nela viviam, com cortinas de linho nas janelas lavadas e claras, com rosas pequeninas a florir em todas as primaveras, com a viva beleza do presente tão feliz que exibia eternidade.
Agora já não se veem pessoas na casa. As janelas têm tinta a esboroar-se e, como está tudo fechado, já não acenam as cortinas. Acho que eram bordadas.
Tudo parece ter desaparecido. Tal como o tempo.Tal como os olhares lisos da juventude.Tal como as vozes que agora já não sobem nem descem as escadas, cada vez mais graníticas.
E, contudo, as rosas pequeninas continuam a florir!


2 comentários:

  1. "Eram rosas pequeninas
    que pintalgavam a casa…
    Eram as vozes traquinas,
    que trepavam nas escadas,
    Era o grosseiro granito,
    que refulgia com o tempo…

    Era o linho nas vidraças,
    onde burilavam chilreios
    em todas as primaveras…
    (Felizes os que ainda os ouvem!)

    E o tempo sempre nascia
    nessa granítica harmonia
    a que se chamava A Casa!

    Agora, só há poeira
    nas janelas bem cerradas,
    no granito embrutecido,
    onde o tempo já não nasce!

    Apenas, teimosas, persistem,
    em recatada timidez,
    essas rosas cor-de-rosa
    que o tempo-mau não desfez!"

    Bem, Dolores, foi o que nasceu da tua belíssima e contemplativa descrição!
    Obrigada pelo momento!
    Um bom fim de semana!
    beijinho,
    IA (ou IAzinha)

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  2. Eu é que te agradeço. Melhor era impossível.

    Obrigada e um abraço.

    M.

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