sexta-feira, 8 de maio de 2015

O cão que mora na varanda

Sempre que lá passo, oiço o mesmo choro. Ou latidos. Ou gemidos. Não sei bem. O que sei é que o cão se faz ouvir em todo o prédio. Se a solidão traz ruído, aquele cão deve sentir-se muito só. Como a voz do animal vem sempre do mesmo sítio e nunca se vê o corpo nem a cabeça do bicho, percebe-se que à sua volta deve haver parede, mais parede, outra parede e ainda outra parede. Ou correntes, sei lá. Ainda que bonitas e coloridas.  Ou uma porta fechada junto à caixinha da areia cheirosa.
E como a varanda está exposta ao sol, às vezes, o bicho deve ter  calor e, outras, muito frio. Um frio fino de ter de ficar à espera dos donos um dia inteiro.
Dir-me-ão que é um animal, que não é uma pessoa, que deve ter água e comida, que tem um abrigo e muita gente não o tem...
Mas  porquê ter um animal em casa se ninguém está em casa durante todo o dia? 
Também acho bizarras situações como a de ir levar o cão todas as manhãs a casa de familiares como se de um bebé se tratasse. Nem oito nem oitenta, mas ter um animal preso todo o dia e a ganir de aflição e tristeza também me parece desumano., embora humano o bicho não seja.
À noite, o cão já não se faz ouvir. Não sei se é por ter companhia ou ... pela fraca força de tanto cansaço!


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