Nos antiquários de Chelsea os livros eram um desperdício,
dir-se-ia que apenas o fogo os poderia resgatar à morte.
As lombadas descosidas onde se lia mal
não te convinham, apetecia-te algum sítio que o calor
ainda rasasse. Mas eu estava mais interessado
na colecção de estampas arrancadas aos manuais
de antes da guerra: pássaros num nicho viçoso
de aguarela, a dissecação de um coelho com legendas
sobre os órgãos. Era uma espécie de espelho
onde eu me sentia extinto, via o princípio do mau tempo subindo
nas pernas das mesas, interpondo a sua ferrugem
entre nós os dois. Aquele lugar era um tédio
para ti, certamente o tempo poderia ser
melhor empregue – mas onde? A tua direcção era incerta
no vermelho mortiço entre os candeeiros.»
Rui Pires Cabral, 1997: Música Antológica & Onze Cidades. Lisboa: Presença, p. 45.
Acabo de ver, no mail, este poema, enviado pela IA,
no seu "postal de fim de semana".
O que conheço de Londres faz-me gostar desta cidade
(visitá-la será diferente de lá morar!)
Para além disso, vive lá uma das melhores partes de mim.
Por isso, logo tomei a liberdade de partilhar o texto.
Para mais é quase fim de tarde, sei que ontem choveu em Londres mas hoje esteve sol e, apesar do frio, imagino pessoas a passear "no vermelho mortiço dos candeeiro".
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