sexta-feira, 1 de agosto de 2014

DOMINGOS MIRA FLOR



4 – Interrogações

Domingos tinha tido uma noite agitada. A ausência tão longa do bichano tinha-o perturbado. Ter andado à procura dele como de agulha em palheiro ainda mais mexera com ele. Estaria a ficar louco ou senil? Estaria o gato na varanda sem ninguém se aperceber da sua presença? Ou seria um grande impostor e dissimulado?
De facto, Domingos concluía que quem vive momentos felizes é atingido de cegueira e de surdez pelo que se passa à sua volta, porque, no momento, muito do que se passa não é essencial para quem está a viver a história. Foi, talvez, o que aconteceu. Enquanto, na rua, o procurava, o gato estaria a espreitar da varanda. Bicho ingrato. Por que não saltara?
Com estes pensamentos, levantou-se cedo. Não conseguia dormir. Veio à varanda e viu que a luz da casa de Mira Flor continuava acesa. Não a teria apagado durante a noite? Ter-se-ia sentido mal? O melhor seria telefonar-lhe. Não queria ir lá para não invadir a sua privacidade de forma repentina.
Talvez por se confirmar a ideia de que nada acontece por acaso, quando Domingos se preparava para ligar a Flor, o telefone tocou. Era ela.

(Continua, desta vez, com algumas justificações para a luz acesa, em casa de Flor, mais tempo do que habitualmente).

2 comentários:

  1. Intrusas, ou talvez não, as imagens anteriores (do Mindelo) sugerem um subtítulo para esta história: "O entardecer da vida, à(s) varanda(s) do Porto Histórico".
    Bjs
    A.V.

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  2. Bonita a ligação que fazes. Obrigada!
    Um beijinho
    M.

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