sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Hoje lembrei-me de Cesário Verde



  Subitamente - que visão de artista! -
  Se eu transformasse os simples vegetais,
 

 À luz do Sol, o intenso colorista; 
 Num ser humano que se mova e exista  
 Cheio de belas proporções carnais?!
 

(...) 

  E pitoresca e audaz, na sua chita, 

  O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,  
  Duma desgraça alegre que me incita,  
  Ela apregoa, magra, enfezadita,  
  As suas couves repolhudas, largas.
 
  E, como as grossas pernas dum gigante, 

  Sem tronco, mas atléticas, inteiras  
  Carregam sobre a pobre caminhante,  
  Sobre a verdura rústica, abundante,  
  Duas frugais abóboras carneiras.

Cesário Verde, "Num bairro moderno" (excertos)
in O livro de Cesário Verde
    Lisboa, Verão de 1877
 

1 comentário:

  1. Ai... não fossem as "abóboras carneiras" tudo menos frutos hortículas...
    É outra fruta...
    Transfigurações.
    ;)

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