A criança ali estava, sentada na sua ilha.
Olhava para o mundo e pensava.
A criança viu as guerras.
E disse para consigo: é preciso pintar as fardas dos soldados.
É preciso, dos canos das espingardas,
fazer poleiros para os pássaros e flautas de pastor.
A criança viu a fome.
E disse para consigo: é preciso prender as nuvens com um laço
e fazê-las lançar chuva sobre os desertos.
É preciso abrir ribeiros de água e de leite.
A criança viu a miséria.
E disse para consigo: é preciso aprender a somar,
a subtrair, a multiplicar e depois a dividir.
É preciso aprender a partilhar o dinheiro, o pão, o ar e a terra.
A criança viu os poderosos a dar ordens, a clamar, a decretar.
E disse para consigo: é preciso abrir-lhes os olhos
ou então pô-los dali para fora.
A criança viu o oceano.
E disse para consigo: é preciso lavá-lo
e depois olhá-lo e… sonhar.
A criança viu as florestas.
E disse para consigo: é preciso aventurar-se e nelas escrever histórias,
deitar-se no chão coberto de musgo…a ouvi-las.
A criança viu as lágrimas.
E disse para consigo: é preciso aprender a abraçar-se,
a não ter medo dos beijos.
É preciso aprender a dizer “gosto de ti.”
A criança ergueu a cabeça.
Viu a lua com uma bandeira espetada na testa.
Que ultraje!
E disse para consigo: é preciso tirá-la de lá e pedir-lhe perdão.
Por fim, da sua ilha, a criança olhou para o mundo pela última vez.
E depois decidiu…
… NASCER.
Thierry Lenain ; Olivier Tallec
Il faudra
Paris, Éd. Sarbacane, 2004
(Tradução e adaptação)
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