terça-feira, 3 de novembro de 2015

Uma aventura no onze...



Resultado de imagem para Autocarros da Gondomarense - nº 11
              Este conto foi escrito, no ano transato, por uma aluna da ESG que participou do concurso "Uma história com números dentro".
Parabéns à autora e à professora que a motivou.

Não te esqueças, Lara, que este ano o tema é 
"Uma história com música dentro"!


     Na minha pequena cidade (como em muitas outras) os autocarros são identificados por um número. E é assim que as pessoas os nomeiam. “ Vou apanhar o treze; o duzentos nunca mais chega; por favor, pode dizer-me se o seiscentos e um já passou?”. 
     Mas o autocarro número onze é especial. É nele que eu faço as minhas viagens para a escola. É nele que eu ponho a conversa em dia com os meus amigos, especialmente com a Cláudia, que viaja sempre comigo. É nele que fico a par de tudo o que se passa à minha volta. É nele que me divirto, ouvindo e contando anedotas. É nele que, às vezes, também choro, quando sei de alguma notícia mais triste. Enfim, uma parte da minha vida é aqui passada.
       O onze parte todos os dias às 7:50 de Gens e chega ao Souto por volta das 8:25 da manhã. Este autocarro, que todos os dias é conduzido pelo Sr. Carlos, já faz parte do meu quotidiano e do das pessoas que viajam nele. As conversas são sempre as mesmas. Os senhores vão à frente na converseta com o senhor Carlos, sobre o Benfica; as senhoras costumam sentar-se a meio do autocarro e geralmente falam sobre a vida dos seus vizinhos; os jovens vêm sempre atrás a ouvir as suas músicas e falar sobre as novidades do Facebook. E, assim, todos os dias vai correndo a nossa viagem.
         Naquela manhã fria de Inverno, eu e a minha amiga Cláudia seguíamos, como habitualmente, no nosso autocarro. Junto ao Sr. Carlos, os homens discutiam o último jogo do Benfica: se tinha sido penálti ou não, se o árbitro devia ter mostrado o cartão vermelho, enfim, aquelas discussões depois de um jogo e que não levam a conclusão nenhuma; a meio do autocarro, as senhoras tagarelavam e punham toda a gente ao corrente das zangas das vizinhas, dos arrufos das comadres… Lá atrás, alheias a todas estas conversas, eu e a Cláudia  falávamos da escola, dos amigos, das novidades que circulavam nas redes socias…
         De repente sentimos que algo estava a perturbar o percurso habitual do onze. Pensámos que teria a ver com alguma discussão mais acesa. Primeiro, ouvimos um barulho muito estranho, depois o senhor Carlos, muito apressadamente, parou a viatura para ver o que se passava.
      Na cozinha, eu e a Cláudia, como conversávamos animadamente, só demos conta quando já o autocarro tinha parado mesmo. O senhor Carlos viu que o motor estava em chamas e já tinha pedido a toda a gente para sair, mas como nós estávamos tão distraídas, não ouvimos a ordem dada pelo motorista.
          Fumo e mais fumo! Era a única coisa que nós víamos, quando, já tarde, nos inteirámos da situação. Tentámos sair, mas o fumo era tanto que não conseguíamos ver nada para chegar à porta do onze. Já todos os passageiros estavam cá fora, e havia muita gente que se tinha juntado para ver o espetáculo. Eu e a Cláudia estávamos aflitas. Então, um amigo nosso, o Leo, veio ajudar-nos a sair. Mal saímos, uma chama enorme apropriou-se do nosso autocarro. Com tal aparato, fiquei paralisada e não consegui reagir. Entrei completamente em pânico e fui assistida pelos bombeiros.
        Entretanto, a Cláudia já tinha ligado para o meu pai. Ele apareceu pouco depois. Conseguiu acalmar-me e levou-nos a tomar o pequeno-almoço. Já mais calmas, da janela da pastelaria “ Doce Sabor”, víamos uma grande nuvem de fumo, muitos bombeiros e ambulâncias para assistir os passageiros.
       Depois de tudo mais sereno, o meu pai levou-nos à escola. Contámos à nossa turma e aos nossos professores a nossa aventura. Eles acharam engraçado. Claro! Depois de tudo ter passado, até eu achei divertido. Mas com este episódio aprendi que devemos ir atentos ao que se passa à nossa volta. Se não estivéssemos a brincar, não teríamos ficado lá dentro. Correu tudo bem, mas podia não ter sido assim.
        No dia seguinte, eu e a Cláudia apanhámos o onze à mesma hora de sempre. Fomos para a cozinha, como habitualmente. Junto ao Sr. Carlos, os homens discutiam o mesmo jogo do Benfica
(ainda não tinham chegado a nenhuma conclusão sobre o penálti); as mulheres falavam de uma vizinha que tinha deixado o marido; lá atrás eu e a Cláudia conversávamos sobre as novidades do Facebook… Mas a todos estes assuntos acrescentava-se, agora, mais um: a aventura no onze. 

Pseudónimo-LS96
Lara Soares, 11.12


sábado, 31 de outubro de 2015

Uma canção com um belo café dentro


Obrigada, D.R., pelo teu e-mail com este texto e com belíssimas imagens.
Gostava bem de conhecer (ter conhecido) este local, beber um chocolate quente, olhar a neve, ouvir boa música, ler um livro, estar em boa companhia... tudo bem melhor, de facto, do que falar de muitos/as políticos/as!!

"Esta é uma daquelas histórias que daria um bom romance ou um excelente filme.

Há mais de cinquenta anos, o lendário cantor francês Gilbert Bécaud visitou Moscovo. Quando voltou a Paris,  escreveu a canção Nathalie e dedicou-a à sua guia russa.

A canção diz qualquer coisa como "Caminhávamos à volta de Moscovo, visitando a Praça Vermelha, tu dizias-me que tinhas aprendido coisas sobre Lenine e a Revolução, mas eu só desejava que estivéssemos no café Pushkin, a olhar a neve lá fora, a beber chocolate quente e a falar sobre algo completamente diferente..."

A canção tornou-se incrivelmente popular em França e os turistas franceses, que iam a Moscovo, tentavam encontrar o famoso café Pushkin.

Mas nunca o conseguiram encontrar, uma vez que só existia como fantasia poética na canção de Bécaud.

Em 1999, esta fantasia poética tornou-se realidade quando um artista franco-russo, Andrei Dellos, e Andrei Mákhov abriram o café Pushkin numa mansão barroca histórica na rua Tverskoy.

E o mais fantástico desta história? Bécaud, o cantor que tudo inspirou, cantou Nathalie na inauguração do café-restaurante".

 

domingo, 25 de outubro de 2015

Crianças com livros


 
Ontem, a  Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, era um espaço feliz. Apesar de alguma chuva, o anfiteatro encheu-se de crianças, pais, educadores, amantes dos livros...
E alegrava ver crianças, aparentemente com hábitos de leitura,  a entrar no edifício com um livro na mão, à espera de um autógrafo e, talvez, de um olhar sorridente da autora, que conheceram através das histórias.
E o auditório manteve-se interessado ao longo de duas horas que não foram longas.
Luísa Ducla Soares, respondendo a questões, falou da sua vida e da sua obra. Trabalhou no Ministério da Educação (lendo muitas cartas com erros de ortografia e uma grande parte com pedidos, disse com humor); na Biblioteca Nacional, também muito inspiradora para a escrita dos seus livros.
Falou afetuosamente da família, dos colegas de escrita (teve, ao seu lado, o escritor António Torrado, durante uma boa parte da sessão); reconheceu o trabalho dos educadores e professores do primeiro ciclo, revelou boa disposição e um grande amor pelas várias dimensões da vida (talvez uma grande razão da sua alegria e jovialidade, direi eu)..
E referiu dois esteios fundamentais para a sua escrita, vindos da sua infância: a professora primária que reconheceu o valor dos seus textos, e o pai que lhe contava histórias, que lhe lia poesia, que partilhava com ela lengalengas, etc.
Em tempo de tantas cisões e crispações, presenciar um número tão grande de crianças, acompanhadas por adultos, a aderir ao mundo maravilhoso dos livros talvez ajude a acreditar num mundo melhor. Mesmo que ainda não maravilhoso.
A presença do grupo dos Gambozinos foi um feliz exemplo do imenso trabalho que muitas pessoas realizam à volta dos livros e da arte. 
Por isso, ontem, a Biblioteca Almeida Garrett não podia deixar de ser um espaço feliz.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Um texto que li e de que gostei



"Conta-me histórias
A atividade dos mais novos aumenta quando ouvem histórias de embalar, garante um estudo científico

Ler aos filhos desde cedo foi sempre um conselho dos pediatros. Há quem recomende a leitura desde os seis meses do bebé. Em setembro, a revista norte-americana "Pediatrics" publicou um estudo que registou imagens de ressonâncias magnéticas da atividade cerebral das crianças de 3 a 5 anos, enquanto ouviam histórias para a sua idade. Percebeu-se que havia diferenças na ativação cerebral entre crianças a quem liam de vez em quando e as que viviam em casas com muitos livros, em qua a leitura era habitual. A ativação era significativamente maior numa região do hemisfério esquerdo do cérebro, chamada córtex, de associação parietal temporal-occipital, que está relacionada com  a "integração multissensorial que integra som e estimulação visual", explica o autor principal do estudo, John S. Hutton, Investigador do Centro Médico Hospitalar Infantil de Cincinatti, EUA.
Crescer com livros, ler em voz alta para as crianças são atos que ajudam ao desenvolvimento da linguagem e ao sucesso escolar, está comprovado. Para o psicólogo clínico Eduardo Sá, este estudo científico não é "completamente surpreendente". " A grande novidade são as provas imagiológicas da forma como estimulamos o cérebro que se torna mais versátil e mais capaz de transformar mais imagens em palavras.". Por outro lado, destaca, "é importante que se perceba que a relação é o grande arquiteto do sistema nervoso, através do modo como estimula áreas cerebrais. E, em função duma estimulação coerente e constante, cria redes sinápticas estáveis que passam a ser o nosso software". Ou seja, o  "software" adquire-se e desenvolve-se e não é um "equipamento de base" da natureza humana, como, por vezes, tantos dos que têm uma visão estritamente biológica do desenvolvimento e da vida psíquica são levados a "insinuar". Para o psicólogo, "estes dados permitem-nos perceber que, por falta da estimulação indispensável, muitas crianças acumulam danos, que as limitam vida fora, sem que aqueles que lhes fazem mal sejam severamente punidos. Sejam eles pais negligentes ou tribunais e serviços da segurança social que permitem que crianças muito pequenas estejam institucionalizadas para além daquilo que a lei permite, sem que ninguém se preocupe pela falta de um estímulo personalizado, sereno e amigo do conhecimento", alerta. "O sistema nervoso funciona como um músculo que precisa de ser estimulado, sob o risco de, ao não suceder assim, atrofiar". Além do mais, porque o acesso à palavra nos permite vestir em palavras aquilo que sentimos, crianças que melhor verbalizam podem tornar-se mais felizes". Por fim, as histórias de embalar. "As histórias juntam imagens e palavras, ajudam a pensar. Crianças que mais precocemente acedem às histórias são mais aptas para a matemática, para a língua materna, para a representação e para a relação. Mais histórias significa crianças mais saudáveis e crianças mais inteligentes", termina,"

Katya Delimbeuf, in Expresso, 10 de outubro 2015