quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

blues da morte de amor

já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.
a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim.

Vasco Graça Moura


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Conversa ao pé da porta

- Viu ontem uma entrevista com uma enfermeira que apoia a greve?
- Sim, ela acha que os enfermeiros são mais importantes do que os médicos.
- Faz-me lembrar uma pergunta de antigamente.
- Sim? Qual?
- Gostas mais do teu pai ou da tua mãe???



terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Sérgio Godinho - Até Já, Até Já

Conversa ao pé da porta

- O meu amor por ela nunca morre.
- Que bonito. Pode sorrir à vida.
- Queria era que ela sorrisse para mim.
- Mas a vida até lhe sorri.
- Ela é que não.

Também concordo


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O Amor...


Este mar é em Mindelo

Tantas linhas no céu e no mar
Muitos passos procuram o mar
Rochedos: quebram as ondas mas não a maresia

Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas

Conversa ao pé da porta

- Estive em Londres este fim de semana.
- Estava mais frio do que aqui?
- Sim, vi ruas ainda com pedaços de neve e algum gelo.
- Ui! Pode ser escorregadio e perigoso.
- Sim, claro. Tal como o Brexit, ninguém sabe quem vai cair.



quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Minúsculas ou maiúsculas!

"my name is mitch welling. i'm a songwriter and sound artist based in southern california. in 2007 i began recording and releasing music under the project name flatsound. in 2008 i became severely agoraphobic and didn't leave my house for almost ten years. i'm doing better now, but i'm still working on myself."
 In Expresso Curto de hoje
 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Conversa ao pé da porta

- Custa a crer que não sejam muitos, mas é muito o mal que fazem ao mundo.
- São muito poderosos os que o governam.
- Em muitos casos desgovernam.
- E fogem a tudo que seja pagar o que devem.
- Pudera. Sabem que nós lhes pagamos as contas.
- E dizem sempre que têm a consciência tranquila.
- Como podem ter uma coisa que há tanto tempo perderam?



domingo, 27 de janeiro de 2019

Maria João Pires: melhor era impossível

https://www.publico.pt/2019/01/27/culturaipsilon/entrevista/maria-joao-pires-deixei-identificar-digressoes-salas-concertos-tradicionais-1859566


No Público de hoje, há uma entrevista a Maria João Pires, magistral pianista que corre(u) o mundo pela música e pelos seus benefícios.

Espero encontrar ainda o jornal em papel.

Quer voltar à sua Casa de Belgais, onde continuará os seus concertos e a desenvolver os seus projetos de educação pela música.

Uma das músicas que, em casa, oiço com frequência são 'Os Noturnos' de Chopin. Sublimes. Quem os compôs e quem os toca.

Frédéric Chopin - The Nocturnes [Maria João Pires]

O Porto ganha

Na tarde de ontem, realizou-se uma das muitas visitas ao Porto, desta vez orientada pelo Prof. Joel Cleto.
O numeroso grupo juntou-se à porta da Igreja de São José das Taipas (em frente ao jardim da Cordoaria) e foi descendo até à Igreja de Massarelos, passando pelo Passeio e Jardim das Virtudes (cujo nome vem da Fonte muito próxima), pelo lugar onde terá havido um cemitério de Judeus, pelo Palácio das Sereias, pelos vestígios da antiga Fábrica de Massarelos...
Com a ajuda de especialistas e de pessoas interessadas, o Porto ganha, de facto. E todos os que lá moram ou por lá passam em visita.
De 'azulejo a azulejo', o Porto vai recuperando.  E ganhando.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Conversa ao pé da porta

- Há tanto tempo que não vejo a tua prima. Ela está bem?
- Não. Não quer sair de casa nem abrir as janelas.
- Está doente?
- Não, mas julga que sim.
- Pois, isso é pior do que uma doença.
- Diz-lhe que perguntei por ela.
- Claro que sim. Pode ser que abra alguma janela.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Gente franca


Um filme português com uma família: os pais, duas filhas, um genro e uma neta. 
Ao balcão do café, à mesa, no cansado sofá, todos conversam sobre as suas vidas, mostram afetos, partilham preocupações e arrelias... tudo como numa família comum.
O pai é um pescador que vai, todos os dias, no seu barco, em busca de peixe do rio. O negócio não corre bem, mas não deixa de sair de casa cedo, sob as luzes róseas que as madrugadas vão mostrando.
É um homem reflexivo de mãos grossas, braços musculados, que puxa as redes, que as conserta, que põe o motor do barco a trabalhar diariamente sob o céu pintado de cores ainda da noite ou do alvorecer. 
Recorrentemente, em terra, olha o horizonte, fuma cigarros em silêncio, bebe solitárias cervejas, senta-se à mesa dizendo poucas palavras, ouve conselhos da mulher e parece arrastar consigo ondas de alguma tristeza e algum mistério, mas nunca de desamor.
Toda a família parece unida por fortes e alegres laços, apesar dos problemas que advêm de fracos recursos. Sem grandes dramas nem grandes euforias, vivem o pulsar dos dias que em conjunto vão alimentando.
Não há, no filme, uma grande história, mas as pequenas histórias dos dias de muita gente.

Gostei do filme "Terra Franca" de Leonor Teles, jovem realizadora portuguesa, que escolheu aquela família e não atores profissionais. E é curioso que todos pareciam estar a viver os momentos sem o incómodo das câmaras.
Retomando uma palavra do título, a ideia que fica é que é uma família de gente franca, o que é consolador.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Uma ilustre casa na serrania


A Torre da Lagariça fica em Resende, perto de Lamego. Lá estão as ruínas da casa que terá inspirado Eça de Queirós para escrever o seu livro A ilustre casa de Ramires.
Os acessos não são fáceis, o abandono da casa mete dó, mas vale a pena ir até lá. Junto dela não passam carros, está cercada de serranias e ouve-se o calmo e profundo silêncio.
Se puderem, vejam o blogue Carruagem 23, https://carruagem23.blogspot.com/2019/01/aventura-dos-cinco.html, onde Vítor Oliveira conta a aventura de cinco amigos que visitaram a casa que está à venda e em ruínas.
A intenção não era a compra, mas ver os ainda visíveis sinais de uma casa que parece ter sido muito inspiradora para um dos nossos maiores escritores.
Mesmo em ruínas,  continua a sê-lo para quem dela se aproxima nos nossos dias.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Por que razão as igrejas estão tanto tempo fechadas?

A Igreja de Santa Maria, no Marco de Canaveses, merece ser visitada. Pela sua singularidade, pela sua luz interior e muito mais que só vê e sente quem lá entrar. Ontem de manhã, sábado, estava fechada e não se via ninguém nas imediações. É pena.
O arquiteto foi Siza Vieira.
Do adro, sobretudo do alto da escadaria, tem-se uma vista bonita de serranias. 
Do outro lado da rua, há um café moderno, de simpático atendimento. Valha-nos isso em dias frios com portas da igreja fechadas.

Doce domingo com... pouco açúcar!


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Conversa ao pé da porta

- Sabe que hoje é o dia do sorriso?
- Soube logo pela manhã.
- Não parece muito entusiasmado.
- Por que diz isso?
- Ainda não sorriu.
- Há dias, era o dia do agradecimento e tive de dizer obrigado vezes sem conta.
- Não lhe deve ter custado. Acho-o sempre gentil.
- O que me custa é que hoje é o dia do sorriso e em casa ainda não vi nenhum.
- Se calhar, estão a guardá-lo para mais tarde.
-  Guardar? Tal como eu guardo esta solidão?