Cheguei com o presente. Ofereci-lho e disse:
- Boas Festas.
Ela, com ar preocupado, e eu, felizmente, bastante menos:
- Obrigada. Peço-lhe desculpa, mas ainda não tive tempo de comprar nada.
- Não é para me dar nada.
- Mas eu quero.
- Eu sei como são os seus dias sempre ocupados.
- Eu sei que sabe.
- Também sei que o mais importante é a ajuda durante o ano e não apenas os mimos destes dias.
E voltámos a desejar Boas Festas.
sábado, 22 de dezembro de 2018
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
Impossível não lembrar a infância
Quando eu era pequena, devido à grande religiosidade da minha mãe e, talvez, aos costumes da época, não fazíamos árvore de Natal em casa. Porém, nunca faltava o presépio que fazíamos sempre com musgo que íamos buscar ao "monte". O monte mais não era do que uma mata num terreno mais alto do que a nossa aldeia. Levávamos uma cestinha e, com as pequenas mãos, arrancávamos plaquinhas de musgo que grassava nas zonas mais frias e cobertas de árvores.
Fazer o presépio era uma tarefa do frio dezembro com as figurinhas que, de ano para ano, a minha mãe guardava numa caixa de sapatos; com a cabaninha onde colocávamos a estrelinha dourada de cartão; com os caminhos de saibro que alinhávamos sobre o musgo. Depois de concluído, começava o Natal.
O tempo não era largo em gastos nem em desperdícios. Depois da ceia de Natal, era a hora de pôr o sapatinho na chaminé para que o Menino Jesus lá deixasse o seu presentinho.
Era tanta a inocência que, uma vez, pareceu-me ver o Menino Jesus a depositar as prendinhas. E tinha caracóis, afirmava eu.
Devo ter sonhado porque o Natal também é sonho. Talvez por isso, agora, que simplifico o presépio e faço uma pequena árvore de Natal, é-me impossível não lembrar a infância.
Natal: o direito à escolha
Ontem à noite, ouvi uma atriz a dizer que não faz árvore de Natal. Nem enfeita a casa de forma especial. E a lamentar não poder ir a lado nenhum à vontade porque é sempre uma multidão em frenesim.
Hoje, ouvi um cantor a louvar esta época pelo tempo mais relaxado em família, à volta dos prazeres da mesa e do alegre convívio.
Para mim, ambos têm razão.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
"Um Deus à nossa medida"
Uma história (numa coletânea) de Natal
A
Árvore de Josué
"Todo aquele que possui a memória
do amor
é com certeza um contador de
histórias".
Agustina
Bessa-Luís, O Manto
Desde muito pequeno que Josué gostava de
desenhar. Em casa, não faltavam tintas, lápis de cor, desenhos presos com post it pelas paredes. Uns de cores
garridas que se matizavam; outros, já com traços mais definidos, mostravam o
gosto continuado e a evolução dos gestos. A todos, o menino atribuía
significados: eram os pais, os irmãos, os avós, os primos, o rio, as árvores...
Na
família, havia o gosto pelas artes, sobretudo pela pintura e também pelo
colecionismo. Para além das ajudas familiares, desde muito cedo que as crianças
participavam em oficinas nos museus da região, vendo surgir bonitos objetos das
suas pequenas mãos e que eram motivo de orgulho para os pais e avós.
Mantinha-se a tradição e cultivava-se a beleza. O amor pela natureza também se
semeava porque muitos objetos eram produzidos a partir de folhas caídas das
árvores, de pequenos galhos secos, de raminhos de plantas aromáticas...
O
avô de Josué não era dotado para o desenho, mas entusiasta dos talentos
familiares. Colecionar postais ilustrados antigos era o seu hobby. Dizia ser uma maneira de
partilhar a arte que não sabia produzir. Muitas noites e muitos fins de semana eram
passados a organizar os postais que ocupavam várias prateleiras na sala. Enquanto
os agrupava e os incluía no sítio certo, ia contando histórias vividas nos
países e locais visitados para adquirir os seus postais, muitas vezes em feiras
de antiguidades ou lojas da especialidade.
Nas suas histórias, em
que revelava bom humor e otimismo, surgiam, por exemplo, neves da Suíça que, uma
vez, no início de uma manhã luminosa mas fria, engoliram a chave do carro, enquanto
o seu olhar e o da avó se distraíam, presos às belas e brancas paisagens das
montanhas. Com cumplicidade amorosa,
decidiram não mexer os pés e procurar a chave, convictos de que a
encontrariam se fossem persistentes e pacientes. E assim aconteceu. De repente,
a ponta de um objeto metálico pareceu brilhar. (...)
Embora
o avô não fosse muito dado a abraços ou a beijos, o seu olhar era um espaço
calmo de carinho e confiança que a todos envolvia e estimulava. Parecia olhar
mais para o que cada um tinha de bom e assim a árvore familiar ia criando
raízes mais sustentadas.
Uns
tempos antes do Natal, o rapazinho começou a pensar no presente para o avô e
logo lhe surgiu a ideia de um postal ilustrado antigo para a sua coleção.
Apesar de ajudar o avô assiduamente, apenas conhecia uma parte do espólio. Era
difícil, portanto, escolher um postal que lhe pudesse agradar e não fosse
repetido. Para além disso, seria muito caro, com certeza, ou difícil de
encontrar.
(...)
Estes são excertos de um conto de Natal que escrevi e que foi publicado, este ano, na coletânea cuja capa também partilho.
Não conheço o Josué nem o avô, mas, confesso, gostava de os conhecer.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
Em Londres, uma árvore com estrelinha
Em Trafalgar Square, em frente à National Gallery, ergue-se uma árvore de Natal, vinda da Noruega, como acontece anualmente, desde 1947, como agradecimento ao povo de Londres pela ajuda durante a Segunda Guerra Mundial.
A árvore não é muito grande, mas é enorme a sua simbologia.
Com tantas e boas práticas que há no mundo, por que persiste a violência, a corrupção, a mentira, a falta de compaixão...
Há bancos e bancos, assim como memórias
No belo parque de Waterlow, nos arredores de Londres, muitos
dos seus bancos têm inscrições que marcam boas memórias
de bons momentos lá partilhados com alguém.
Neste, por exemplo, há o desejo de que a pessoa, que o utilizava,
continue a apreciar a vista,
que se estende calma e larga.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
Feliz Natal e outras coisas, se calhar, esquisitas
Na rua, nas lojas, no local de trabalho, no hospital, seja onde for, nesta época, ouve-se com frequência: Bom Natal! Feliz Natal!
Acho que as tradições são importantes porque são sempre marcos de alguma redenção, apaziguamento, sorridente atenção aos outros...
Mas dizer tantas vezes Bom Natal, Se não te vir até lá, Bom Natal, Bom Natal para todos! passou a ser, na minha opinião, como Beijinhos, Beijinhos para todos, Dá beijinhos à família, Beijinhos beijinhos...
São meras formas de despedida que, de facto, valem mil vezes mais do que o esquecimento ou a indiferença, mas repetimos tantas vezes a mesma expressão, utilizamos tanto as palavras que estão mais à mão, isto é, na ponta da língua porque são as mais usadas.
Também a ideia de que "O Natal é quando o homem quiser" pode dar para muita coisa: para viver o espírito de Natal em qualquer altura do ano e não apenas nos dias 24 e 25 de dezembro, o que é ótimo; mas também pode levar à fuga constante da solidariedade porque dá trabalho e é mais exigente.
Enfim, depois de ter baralhado alguns dados, acho que se o desejo de Bom Natal se refere apenas a um dia ou dois no ano, nem valia a pena tanta ênfase, mas não me ocorre agora como substituir esses votos.
E tal acontece porque sou um comum ser humano que também repete na rua, nas lojas... seja onde for: Bom Natal! Feliz Natal!
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Ela, o velório, o mar e tanta outra coisa
Ela veio ao velório de uma amiga comum, mesmo com custo. Tinha de vir. Por amizade antiga, duradoira e profunda.
- Estás melhor do que da última vez que te vi. Que bom.
- Engordei um bocadinho. Detestava doces e agora só me apetece comer doces.
- E sempre o teu sorriso maravilhoso.
- Não adianta andar chateada nem andar a queixar-me a toda a hora. Quero é chatear as metástases.
- Só tu.
- Estava com tanta vontade de vir que me esqueci dos medicamentos e devem ter a mania que são importantes porque já me estão a fazer falta.
- Levamos-te a casa quando quiseres.
- Agora estou dependente das boleias, e logo eu que era um ás do volante.
E logo uma gargalhada.
Fomos a conversar sobre as nossas vidas.
Chegámos.
- Podes parar aqui. Vou este bocadinho a pé senão tens de dar uma grande volta.
- É bonito aqui e podes ver o mar.
- Sim, tenho tudo o que é necessário: a farmácia, o mini-mercado e, sim, o mar.
- E felizmente tão perto.
- Vou vê-lo sempre que posso.
Depois de troca de palavras carinhosas, saiu do carro e percorreu o passeio devagar apoiada a uma bengala, apesar da sua ainda meia idade.
Ainda há tantas coisas boas na vida. Não me posso queixar.
Isto pensaria ela por certo. E se lesse este pequeno texto, daria outra gargalhada ao ver que o seu nome até rimava com ela.
- Estás melhor do que da última vez que te vi. Que bom.
- Engordei um bocadinho. Detestava doces e agora só me apetece comer doces.
- E sempre o teu sorriso maravilhoso.
- Não adianta andar chateada nem andar a queixar-me a toda a hora. Quero é chatear as metástases.
- Só tu.
- Estava com tanta vontade de vir que me esqueci dos medicamentos e devem ter a mania que são importantes porque já me estão a fazer falta.
- Levamos-te a casa quando quiseres.
- Agora estou dependente das boleias, e logo eu que era um ás do volante.
E logo uma gargalhada.
Fomos a conversar sobre as nossas vidas.
Chegámos.
- Podes parar aqui. Vou este bocadinho a pé senão tens de dar uma grande volta.
- É bonito aqui e podes ver o mar.
- Sim, tenho tudo o que é necessário: a farmácia, o mini-mercado e, sim, o mar.
- E felizmente tão perto.
- Vou vê-lo sempre que posso.
Depois de troca de palavras carinhosas, saiu do carro e percorreu o passeio devagar apoiada a uma bengala, apesar da sua ainda meia idade.
Ainda há tantas coisas boas na vida. Não me posso queixar.
Isto pensaria ela por certo. E se lesse este pequeno texto, daria outra gargalhada ao ver que o seu nome até rimava com ela.
sábado, 8 de dezembro de 2018
Flores secas com romã
Tenho uma amiga que aproveita tudo que pode ser reutilizável. Em cima da mesa, tem sempre tecidos cortados, frascos com botões, fios variados...
O que eu não contava era ver flores feitas a partir de folhas que o outono atira ao chão.
Ela contou-me, com o habitual sorriso, que as viu numa rua. Estavam na cor e no ponto certo: inteiras e secas. Pensou logo numa nova função para elas.
Encheu um saco e, com elas, as suas mãos geraram flores.
E dizia-me feliz: repara como mantiveram o perfume da árvore!
Em casa, pu-las num pequeno recipiente e juntei uma romã.
Talvez goste também do perfumado aconchego.
O que eu não contava era ver flores feitas a partir de folhas que o outono atira ao chão.
Ela contou-me, com o habitual sorriso, que as viu numa rua. Estavam na cor e no ponto certo: inteiras e secas. Pensou logo numa nova função para elas.
Encheu um saco e, com elas, as suas mãos geraram flores.
E dizia-me feliz: repara como mantiveram o perfume da árvore!
Em casa, pu-las num pequeno recipiente e juntei uma romã.
Talvez goste também do perfumado aconchego.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
Van Gogh, Gauguin, Laval: vida curta, vasta obra!
A exposição, no museu Van Gogh, era vasta. A vida dos três
pintores e amigos tinha sido curta, mas haviam pintado intensamente e deixado
uma Obra à Humanidade.
Charles Laval era o menos conhecido.
Uma multidão juntava-se em frente aos Girassóis de Van Gogh. De vez em quando, ouvia-se uma voz tonitruante, vinda de um homenzarrão de
fato preto: No piiiictuuuures!!!
No piso da entrada, uma belíssima exposição: um grande espaço
de girassóis de vidro que mudavam de cor consoante a iluminação ténue da sala.
Uma obra de arte gerada por outra obra de arte. Esta, imortal.
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