terça-feira, 24 de outubro de 2017

Quem concorda com este acórdão?

Uma das notícias mais comentadas de hoje é a de um juiz do Tribunal da Relação do Porto que encontra justificações para a agressão violenta e sequestro a uma mulher acusada de adultério. O referido juiz convoca uma lei do século XIX e a Bíblia, referindo que nesta obra é até admitida  a condenação da mulher à morte.
Parece que o referido juiz já emitiu pareceres idênticos em relação a outros casos de mulheres consideradas adúlteras.
Estamos em pleno século XXI. Os valores e votos de fidelidade e lealdade devem ser seguidos se são declarados. Porém, esse cumprimento é para homens e mulheres e as leis vigentes devem ser suficientes para o julgamento destes casos.
A violência doméstica é que não pode ser desculpada, em caso algum, tanto para homens como para mulheres.
Este juiz talvez tenha traumas que o marcaram e dos quais ainda não se libertou. Pelas imagens divulgadas, ainda estará em boa idade de se atualizar,  aprender sensatez e sentido de justiça.
De outra forma, o flagelo da violência doméstica aumenta e o adultério também. Como se viu, se for praticado por um homem será desculpado, porque tal não é (será?) proclamado na Bíblia!

domingo, 22 de outubro de 2017

Mais uma entrevista, desta vez na Renascença

Vale a pena ouvir:
http://rr.sapo.pt/artigo/96349/miguel-sousa-tavares-homenageado-no-escritaria



Ensaio Geral - Miguel Sousa Tavares - 20/10/2017

Como não tenho facebook...

https://pt-br.facebook.com/municipiopenafiel/

Procurei informação sobre a Escritaria 2017, este ano com Miguel Sousa Tavares, e vi uma reportagem interessante no endereço que aqui partilho.

Gosto de ouvir as palavras dos escritores porque, para além de seres comuns, conseguem transmitir com arte o que outros seres comuns também sentem.
Pelos textos que tenho visto, o autor, para além da capacidade de escrita, tem marcado a presença pela atenção ao mundo e pelos necessários afetos.

E é de valorizar as autarquias que apoiam e sustentam iniciativas culturais como a Escritaria em Penafiel, Correntes de Escritas na Póvoa de Varzim e muitas outras, fora das grandes cidades, valorizando e desenvolvendo culturas e populações.
Este é também um bom serviço público. E excelente quando envolve pessoas de diferentes idades.




sábado, 21 de outubro de 2017

Escritaria 2017

Como não tive oportunidade de ir a Penafiel sentir "o espírito do lugar" da Escritaria 2017, nem vi nem ouvi programas sobre o assunto, procurei na net e encontrei uma pequena entrevista da antena 1 com Miguel Sousa Tavares.
Apesar de decorrer num tempo curto, são abordados alguns temas atuais (se é que não foram de sempre): os livros, o jornalismo, a influência da mãe e muitos outros.
Deixo aqui o endereço.

https://pt-br.facebook.com/rtp


"E faz toda a diferença"

A expressão do título é usadíssima atualmente.
Em qualquer loja de roupa lá se ouve:
- E faz toda a diferença!
Em programas de culinária, aparece, perante a junção de mais um ingrediente:
- E faz toda a diferença.
A propósito de relações humanas, lá vem, para bem ou para mal:
- E faz toda a diferença!
Vezes sem conta a expressão é usada. Por facilidade, porque é a que vem logo à cabeça, porque é muito comum, etc.
Mas quando demasiado repetida, é caso para dizer:
- Com tanta diferença que faz nem faz qualquer diferença.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Tina, onde estás?

Tenho familiares idosos que passam um tempo infinito à procura de coisas em gavetas ou armários.
Ontem, também passei larguíssimo tempo à procura de um texto que escrevi há uns três anos. Nunca o publiquei porque considerei-o, então, um pouco macabro.
Partiu da lembrança de um filme de Almodôvar, julgo que "Volver", que começa com muitas mulheres, entre elas, Penélope Cruz, em grande azáfama de limpeza de campas no cemitério.
Pois, apesar da procura, não encontrei o texto que queria, e sei que o gravei, na altura, numa pasta de computador.
Como o escrevi há algum tempo, procurei-o em computador antigo, mas a busca continuou  em vão.
Porém, o que encontrei, meu Deus!
Contos e contos de alunos para um concurso que realizávamos na escola: "Uma história com... dentro". E ele foi música, receitas, amor, Natal...
Também fichas de avaliação, guiões de visitas de estudo, power-points, textos para diferentes "Festas da Língua", exercícios de gramática para uma atividade a que chamávamos "Mostra que sabes"...
Mas o tal texto é que lá não estava. 
Embora o procurasse com afinco, quase me esqueci dele por um bom bocado. Recordo-me agora que a personagem se chamava Tina.
Um dia destes, vou tentar recuperá-lo, nem que seja de memória.
Se calhar, era melhor tê-lo guardado numa gaveta ou armário!!!

"Volver"

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Yes, I am

Uma vez por semana, frequento aulas de Inglês. Gosto muito. Pratica-se a língua, aprende-se mais, exercita-se a mente, etc. Para além disso, o ambiente é bom e amigável. E sempre dá jeito saber um bocadinho mais de língua inglesa quando se tem uma filha em Londres.
Ora, na última aula, fizemos um exercício para aplicar preposições. Tarefa difícil porque in, on, at, for e outras são usadas muitas vezes no sítio errado. Por isso, em cinco alíneas, apenas acertei uma, mas não é grave e é até motivo de graça e aprendizagem.
Fizemos outro exercício de oralidade. Dispúnhamos de vários pontos, teríamos de escolher três e falar um bocadinho sobre eles. Um deles era encontrar palavras com que cada um se definisse.
A maioria optou por passar este ponto à frente e escolher outros. Não é cómodo, de facto, falarmos de nós próprios. No entanto, no diálogo que se seguiu, este ponto veio à baila, e cada um fez a sua caracterização: honestidade, respeito pelos valores humanos, etc.
Foi quando alguém, atento e sagaz, referiu que o que estávamos todos a elencar eram apenas aspetos positivos. E era mesmo. E foi quando se ouviu:
- I am lazy.
- No, I don't believe.
- Yes, I am lazy indeed.
That´s true.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Felizmente veio a chuva!

Depois de semanas a fio sem pingo de chuva, de tempo quente que mais secou a terra já tão ressequida, depois dos gravíssimos e destruidores incêndios de domingo, eis que a chuva cai, ajudando os bombeiros na árdua função de apagar incontáveis fogos.
Só que banidas as cortinas tenebrosas do fogo e do fumo, ficam mais a descoberto as negras ruínas das casas, fábricas, florestas...
Os relatos e testemunhos mostram que foi tudo muito mau. 
Muitos jornalistas, comentadores e políticos insistem na demissão da ministra da administração interna. Ao mesmo tempo, os media dão voz a especialistas e investigadores no sentido de melhorar a reorganização da floresta para que as catástrofes deste ano não voltem a acontecer.
Porém, não são esquecidos os lobbies que impedirão que muitas mudanças saltem do papel.
O homem está presente, de facto, para o bem e para o mal.
Enquanto isso, homens e mulheres perdem a vida em zonas do país cada vez mais desprotegidas e despovoadas.
Felizmente choveu, mas não se pode esperar que o remédio venha sempre do céu.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Escritaria 2017 - Programa de sábado e domingo



21 outubro
11h00 - Inauguração da Exposição “Viajar pelo olhar de Miguel Sousa Tavares”, Biblioteca Municipal de Penafiel

11h30- Leitura de textos pela Troupe Palavras Vivas e Fernando Soares com momento musical de jazz pela Escola de Artes, Movimentos e Variações, auditório Biblioteca Municipal

12h30 – Espetáculo integrado pela Escola de Artes, Movimentos e Variações na biblioteca Municipal de Penafiel

13h00 - Abertura da Feira do Livro, Largo Padre Américo

16h00 – Espetáculo integrado pela Universidade Sénior de Penafiel ADISCREP, Feira do Livro Escritaria, Largo Padre Américo

16h30 - Sessão pública de autógrafos por Miguel Sousa Tavares, Feira do Livro Escritaria, Largo Padre Américo

18h - Intervenção musical Agrupamento de Escolas Penafiel Sudeste, Feira do Livro, Largo Padre Américo

21h30 - Intervenção musical de jazz pela Escola de Artes, Movimentos e Variações, Museu Municipal

21h45 - Entrevista ao homenageado pelo Jornalista Júlio Magalhães, Museu Municipal

23h00 - Fecho da Feira do Livro, Largo Padre Américo


22 outubro
13h00 - Abertura da Feira do Livro, Largo Padre Américo

15h00 – Pintura, performance de aguarela por José Melo, Universidade Sénior de Penafiel ADISCREP, Museu Municipal

15h30 – Atribuição do prémio de Jornalismo-Categoria Carreira Escritaria 2017, Museu Municipal de Penafiel

15h45 - Apresentação do prémio literário Germano Silva do Rotary Club de Penafiel, Museu Municipal de Penafiel

16h00 – Conferência “Miguel Sousa Tavares, Vida e obra” moderada pelo Jornalista João Céu e Silva, Museu Municipal de Penafiel

20h00 - Fecho da Feira do Livro Escritaria, Largo Padre Américo

Que mão é esta?

Ontem, dia 15 de outubro, foi considerado o dia com mais incêndios em Portugal. Foram contabilizados mais de trezentos, todos neste dia quentíssimo e com vento.
Os fogos acenderam-se em cenários infernais.
E houve, até agora, uma dezena de vítimas mortais. E casas destruídos. E populações apavoradas. E regiões ameaçadas.
Os técnicos dizem que estes  incêndios não poderão ter causas apenas naturais. Nuns casos, é mão criminosa; noutros, mão desleixada que faz fogueiras onde não deve, utiliza ferramentas que causam faúlhas, não limpa as matas, etc.
Quem estará por trás da mão criminosa, para além da loucura ou de excessos como o do álcool?
É estranho tanto incêndio na véspera de um dia em que se espera chuva.
Ontem, passei na A1, entre as dezassete e as  dezoito horas, no sentido Lisboa-Porto.
Era raro o espaço, de um lado e do outro da autoestrada, sem fumos altos e negros. Em alguns momentos, as nuvens de fumo quase tapavam o sol e parecia noite. Também chamas eram visíveis. De tal modo que a circulação no sentido Porto-Lisboa foi interrompida e, em breve, o mesmo aconteceria na direção oposta.
Sim, era um cenário de horror e incomparavelmente mais leve do que o vivido pelas pessoas  atingidas. 
Que mão desumana é esta?
E a chuva, essa, ainda não veio.


sábado, 14 de outubro de 2017

Prata e neblina sobre o Douro


Porto sentido (Rui Veloso)

Sim, "A ponte é uma passagem..."


Jafumega - Ribeira

Pontes do rio Douro


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Como é possível?

Nas últimas horas, a "Operação Marquês" integra a agenda de toda a comunicação social. Pela teia de corrupção, pelas somas envolvidas, pelos esquemas perpetrados...
E tão horrível como estes comportamentos de desprezo pelo bem comum e ganância desmedida é a máscara de alguns muito prováveis protagonistas  destes crimes que aparecem com voz afável, rosto tranquilo, pose ético-legal a afirmar, perante os portugueses, que estão de consciência tranquila. Disto é exemplo Ricardo Salgado e não só.
Consciência? Que significado terá esta palavra para as pessoas envolvidas diretamente neste caso e que encheram vergonhosamente os bolsos roubando e enganando?
Como é possível? Será um caso psiquiátrico no mínimo. E o que é pena é a corrupção ter atingido o máximo com pessoas que tudo deveriam fazer para dignificar as instituições das quais se aproveitaram. E de que maneira.


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Talvez espere alguém

A partir do início da tarde, o homem chega numa lambreta muito velha, tira o capacete, também muito velho, e senta-se na ponta do banco da rua para aproveitar melhor a sombra da árvore, porque o outono vai quente e o sol persiste como visita longa e diária.
Tira do bolso um jornal, cruza as pernas e recomeça as palavras cruzadas que não terminou no dia anterior.
Muitas pessoas passam por ele porque em frente fica a estação do comboio e há sempre gente que entra ou que sai. 
Raramente levanta a cabeça, embrenhado que está em descobrir a palavra que falta para completar a linha e o quadradinho.
Não sei por que está sempre ali. Talvez espere alguém com quem se cruzou na vida.
E, enquanto espera, para não desesperar, vai cruzando palavras.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Mindelo - brilhos de outono



sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A rapariga do comboio

A meio da tarde, o comboio chegou à linha 1 à hora prevista. Esperava-o um numeroso grupo de turistas de meia idade. Iam começar a entrar, apressados, numa carruagem já com muitos passageiros de pé. Uma voz, de fora, fez-se ouvir:
- Este comboio não é o nosso; o nosso parte mais tarde e é só para os passageiros dos barcos.
Foi melhor assim, porque havia muita gente, o calor apertava, apesar de ser outono, e o comboio tinha poucas carruagens.
Um casal de namorados, de pé, espreitava a paisagem pela janela e estreitava os rostos; num dos bancos, uma mulher tossia sempre que falava com o marido, abrindo a boca para recolher o ar que lhe faltava. Ao seu lado, um menino dormia tranquilo com a cabeça apoiada numa mochila. As estações iam-se sucedendo.
No espaço entre duas carruagens, um grupo de homens falava de camiões, de estradas europeias, de aventuras e desventuras que vinham à baila como quem puxa raminhos de cerejas... Iam mudando ruidosamente de lugar sem saírem do mesmo espaço limitado. Dois deles seguravam um cigarro nervoso e apagado na mão, pondo-o na boca como se estivessem a fumar.
E a vozearia era mais que muita estrecortada de alguns palavrões fortes e duros como eles.
Faltando uma meia dúzia de estações para chegar ao Porto, entrou uma jovem de óculos e penteado colegiais, de calças largas pelo meio da perna, muito franzina, com ar lavado no banho dos anjos e puxando uma pequena mala de viagem.
Um dos homens disse-lhe que podia ficar ali porque o comboio ia cheio. Ela olhou-o com naturalidade, sorriu e acocorou-se no chão, junto à porta interior, levando os joelhos até à boca. E daí a nada, participava da conversa, não tão barulhenta,  como se fossem todos colegas de viagem.
Os homens saíram quase todos antes de chegar ao Porto. Ficaram dois: um dos mais velhos e outro dos mais novos. O mais novo continuava com o cigarro na mão e manteve uma conversa com a rapariga sobre o preço dos cigarros em Espanha. E também da cerveja. E também dos isqueiros. Ela respondia sempre com conhecimento de causa. O mais velho acenava concordante com a cabeça. O mesmo aconteceu quando o mais novo explicou o percurso que ela devia seguir até às Antas.
Quando o comboio chegou ao Porto, a temperatura estava mais baixa. O homem mais novo acendeu o cigarro. O mais velho seguia em silêncio. 
Quase me atrevo a dizer que iam a pensar que a rapariga do comboio tinha sido uma visão.

Museu do Douro - Peso da Régua