sexta-feira, 21 de julho de 2017

Pequenas-grandes janelas


Imagem da net
A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles

terça-feira, 18 de julho de 2017

Direito ao sol!


domingo, 16 de julho de 2017

David Hockney - 2000


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Flores de julho!


Romantico, ma non troppo!

Bye, London!

Estive uns dias em Londres. Dias quentes e com muito sol. Os ingleses aproveitam-no bem porque não abunda durante largos meses.
As noites amenas também enchem ruidosamente esplanadas, sobretudo em vésperas de fim de semana.
Da nossa janela, ao fim da tarde, começava a ver-se melhor a lua, para grande alegria da Clarinha que a procurava no céu e muito contente ficava quando a descobria.
Gosto de Londres e da preenchida pacatez dos arredores, do pulsar da vida comum cosmopolita no supermercado, no talho, na padaria, nas igrejas, no metro, na rua, no mercadinho de produtos hortícolas ao sábado de manhã, no infantário onde a minha neta brinca com meninos de diferentes nacionalidades, no pequeno museu com um grande jardim, nos parques...
Mas, por cá, há muitos afazeres também. E outras obrigações familiares.
Para já, bye London!
See you soon (I hope)!

Da janela, via-se a lua!


terça-feira, 27 de junho de 2017

Socorro, preciso de um psicólogo!

Os incêndios criaram o caos em Pedrógão. Houve demasiados estragos, o número de mortes foi elevadíssimo, porque foram sessenta e quatro as vidas perdidas na tragédia. Para além dos feridos. Para além das sequelas. Para além das destruições.
E as televisões, umas de maneira mais séria, outras de modo sensacionalista fizeram diretos, reportagens, ouviram testemunhos, choros, queixas, lamentos, etc. 
E não é precisa muita compaixão para todos se solidarizarem com as perdas e com o sofrimento.
E os técnicos de saúde estavam também no terreno, como os psicólogos, e bem necessários foram de certeza. E continuarão a ser.
Os governantes iam dizendo que se estava a fazer tudo o que era possível para bem das populações; os políticos não governantes apontavam sobretudo os erros e as falhas. A ponto de o ex-primeiro ministro ter ouvido de um responsável político da região que tinha havido um suicídio na sequência dos incêndios, o que logo se propagou às palavras do ex-responsável pela política nacional, que logo as passou aos jornalistas, pondo os suicídios no plural.
Pouco tempo depois era tudo desmentido pelos dois, pedindo públicas desculpas, pela não confirmação do boato ouvido e transmitido.
Talvez um psicólogo nas equipas de aconselhamento político não fizesse nada mal!
Paralelamente, as televisões dissecam, durante horas, o caso dos e-mails do Benfica que incendiaram ódios clubísticos e, mais uma vez, levaram à descrença na pessoa humana.
Psicólogos e psiquiatras dariam uma ajuda nestes casos, porque o incêndio continua num frenético passa-culpas para quem o ateou.
Vejo muitas vezes estas notícias. E, enquanto as vejo, vou pensando que podia estar a fazer outra coisa bem mais interessante, mas, muitas vezes, continuo, o que não deveria acontecer.
Socorro, preciso de um psicólogo.

domingo, 25 de junho de 2017

S. João já se acabou?


Ainda há bandeirinhas
Os palcos ainda lá estão
O Porto continua em festa
No adeus ao S. João!




sexta-feira, 23 de junho de 2017

Os barcos não têm motores a medir!

Travessia do Douro, há poucos minutos, de Gaia para o Porto.
Em cada uma das margens do rio, há festa, música, bandeirinhas, sardinha assada, febras, broa, pimentos...
E muito manjerico, e erva-cidreira, e arruda, e alho-porro, e martelinhos...
A noite está bonita, fresquinha, luminosa, alegre, ousada, dançarina...
É S. João, a noite mais longa e iluminada do ano.
A noite em que a cidade do Porto, e não só, vem para a rua e entra na madrugada como num barco sem motores a medir.

Caldo verde

Ó meu rico S. João,
Ai que boa esta sopinha;
É proibido o balão
Mas não é esta broinha!



Necessária proibição

Ouvi agora nas notícias que o lançamento de balões é proibido na noite de S. João, que hoje se celebra em muitos locais e sobretudo no Porto.
Esta proibição é bem-vinda. Oxalá as pessoas a oiçam e cumpram.
E não se pense como às vezes acontece: é só um, não faz mal.

Necessária proibição
Nesta noite divertida
Não é preciso balão
Para celebrar a vida!




quinta-feira, 22 de junho de 2017

Oxalá este ano haja menos balões!

Quem não gosta de ver os balões no céu em noite de S. João? É difícil não gostar, mas este ano a atenção deve ser redobrada porque é impossível esquecer as vítimas e os estragos provocados pelos incêndios no centro do país.
Ver o céu iluminado por balões em movimento pode ser encantatório, mas o melhor é ser realista e prático pensando no mal que eles também podem acarretar.
Basta um balão aceso cair num espaço facilmente inflamável para ser causa de muita destruição.
Conheço várias pessoas que moram em casas muito antigas para quem a noite de S. João é de sobressalto. E muitas vezes essas pessoas já se deslocam com dificuldade.
Nem sempre a tradição é a melhor conselheira.

Ó meu rico S. João,
Com perfume a mangerico,
Evita tanto balão
Que ao cair é mafarrico!

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Na margem do Rio Douro: Mais bonito era impossível!


"Que somos nós senão o que fazemos?"

QUE SOMOS NÓS

Que somos nós
Que somos nós senão o que fazemos?
Que somos nós senão o breve traço
da vida que deixamos passo a passo
e é já sombra de sombra onde morremos?

Que somos nós se não permanecemos
no por nós transformado neste espaço?
Que serei eu senão só o que faço
e é tão pouco no tempo em que não temos

para viver senão o tempo de
transformar neste tempo e neste espaço
a vida em que não somos mais que

o sol do que fazemos. Porque o mais
é já sombra de sombra e o breve traço
de quem passamos para nunca mais.

Manuel Alegre

Alexander Search - "A day of sun" - 5 Para a Meia Noite


Alexander Search é uma personagem criada por Salvador Sobral.
Possa o título da música - A day of sun - estender-se a todos os seus sentidos.



terça-feira, 20 de junho de 2017

Indeed

Um bom filme numa boa casa de cinema


Resultado de imagem
Vejamos algumas linhas do enredo:
Um homem sisudo, pelo peso do passado, é gerente de uma pastelaria que fabrica e vende panquecas recheadas de pasta doce de feijão (dorayakis). O negócio não corre bem porque os doces não satisfazem os clientes.
Um dia, uma senhora com mais de setenta anos vem propor-se para trabalhar com o pasteleiro. Para além da idade avançada, ela sofre de deformação nas mãos, não sendo aceite. Porém, persiste na vontade de lá trabalhar e oferece pasta de feijão, feita por ela, ao gerente da pastelaria. Provando a perfeição do doce, o gerente contrata-a e a loja ganha muitos clientes que, às vezes, têm de ser atendidos pelos dois.
No entanto, a deformação das mãos leva a que várias pessoas se questionem sobre o problema que pode afetar quem consome os doces.
Paralelamente, a septuagenária revela grande fascínio pelas coisas simples do dia a dia - a beleza das cerejeiras, o cantar dos pássaros, as histórias que todos os seres vivos trazem consigo - que contagia o gerente e uma jovem frequentadora da pastelaria, criando laços de amizade e novas maneiras de encarar a vida.

Gostei muito dos cenários com a exuberância das cerejeiras; da história que veicula problemas dos mais velhos, das pessoas a quem são cobrados favores por favores antigos; do poder avassalador dos boatos, etc.
A personagem mais velha revela uma grande e enternecedora sabedoria no ver e no ouvir o mundo. Nalgumas cenas, talvez se recorra um pouco à caricatura, reconhecendo, contudo, que na cultura japonesa existem traços não usados no Ocidente, como a vénia.
Em todos os momentos, a velha senhora introduz uma grande leveza e harmonia nas relações que estabelece com todos, como que ajudando a transpor muitos muros.
O filme está em exibição no cinema Trindade, no Porto. É um cinema calmo, com duas salas e bons filmes para ver.
Ah, e não há publicidade antes de o filme começar nem há pipocas!

segunda-feira, 19 de junho de 2017

E, de repente, fez-se noite!

MB Incendio figueiro Pedrogão 1.jpg
Foto do Expresso Curto de hoje

Pior era impossível

Morreram mais de sessenta pessoas, o número de feridos ultrapassa também as seis dezenas.
Todos no desespero da fuga e da preservação da própria vida, dos familiares e alguns dos seus bens.
Inimaginável.
Oiço agora que está a chover numa das aldeias de Pedrógão Grande. Chuva benfazeja. Não devolve as vidas perdidas, mas pode evitar que outras vidas se percam.
As televisões estrangeiras davam ontem destaque à tragédia que o centro de Portugal viveu e está ainda a viver.
E a rede de solidariedade que se estabeleceu é um sinal de confiança na ajuda de quem já não teria muito, mas que agora ficou com quase nada.
O facto de os principais governantes estarem no local da tragédia também é importante, porque só com o conhecimento direto da realidade os leva e levará a tomar medidas mais adequadas e "à ação", como disse a ministra que acompanhou também as operações de combate ao fogo.