quinta-feira, 9 de abril de 2015
quarta-feira, 8 de abril de 2015
A Razão de Pessoa
Obrigada, IAzinha, pela sugestão deste vídeo e pelos ensinamentos
no Bem-vindo ao Paraíso.
segunda-feira, 6 de abril de 2015
Momentos de Londres
O leitor de Oxford Street
Sentado, aconchegou o casaco até ao nariz. Estava a ler e a noite chegara iluminada e fria. Como o segurava na mão,via-se a espessura do livro. Ia quase a meio de várias centenas de páginas. As pessoas passavam num frenesim ruidoso de véspera de feriado. A leitura continuava concentrada. Quando a noite entrasse pela madrugada, fecharia o livro, puxaria a si o cobertor e tentaria dormir. Se não conseguisse, tinha o livro para ler.
A boneca japonesa
Circulava entre os retratos da National Portrait Galery. Quase nem tocava o chão, de tão franzina leveza. Os olhinhos pequeninos passeavam, mas em poucos retratos se fixavam. As pontinhas da escura saia rendada quase lhe chegavam aos pezinhos com sapatinhos de veludo decorados com um pomposo pom-pom preto.
Não sei se tinha capeuzinho como usam, muitas vezes, as bonecas. mas estas também não costumam ir às exposições e muito menos de retratos do tempo da rainha Vitória.
Mas quem o pode negar?
O ruído na Casa de Chá
Uma casa de chá. Cheia. Pessoas à espera na entrada do piso que dava para a rua, ladeado por dois espaços ao fundo e ao cimo de uma meia dúzia de degraus. Em mármore. Se a Casa de Chá não fosse tão grande, lembraria o Café Majestic, no Porto.
Ouviam-se vozes - muitas vozes -; gargalhadas - muitas gargalhadas -, num alegre ambiente sem pressas. A pressa seria de afastar qualquer stress.
Um som mais forte elevou-se daquela pequena multidão. Repetido.Viria de alguém mais entusiasmado de um dos espaços mais altos. Uma pessoa olhou para trás. E outra. E talvez ainda outra.
À volta da mesa de um casal, inclinavam-se vários funcionários do estabelecimento.
Um homem tinha-se engasgado, A mulher gritara por ajuda - gritos diluídos e confundidos na vasta vozeria.
O problema surgiu e foi resolvido, sem que quase ninguém se tivesse apercebido.
O chá com bolinhos nunca deixou de ser saboreado, num espaço que se circunscrevia a cada mesa.
Só mais uma vez.
Todos os dias a passadeira de Abbey Road, que foi capa de disco de Os Beatles em 1969, é visitada e atravessada por turistas. Em busca de diversão, de um minuto de imaginada glória, de revivalismo, de seguir pisadas de ícones e muito mais razões que cada um encontrará.
Um homem de casaco castanho de bombazina atravessou a rua, imitando (talvez) os seus ídolos.
A família fotografava. Ele parecia divertido, passando para lá e para cá de uma nova realidade. Um rapaz passou a correr, quase indiferente. Três carros estavam parados à espera de poder avançar. O homem de casaco de bombazina continuava a atravessar a passadeira de Abbey Road. A mulher chamou-o. Lembrou-lhe que estava a interromper o trânsito.
- Nem tinha reparado - disse ele, satisfeito. Acrescentou: só mais uma vez!
Desnecessária explicação
Que importa a melodia
se acaso aos outros dou,
com pávida alegria,
o pouco que me sou?
Que importa ao que me sabe
estar só no meu caminho,
se dentro de mim cabe
a glória de ir sozinho?
Que importa a vã ternura
das horas magoadas,
se ao meu redor perdura
o eco das passadas?
Que importa a solidão
e o não saber onde ir,
se tudo, ao coração,
nos fala de partir?
Daniel Filipe, poeta cabo-verdiano, nasceu a 1/2/1925 e morreu a 6/4/1964, há 49 anos.
(Informação da livraria Poetria)
quinta-feira, 26 de março de 2015
Pastoral
Paul Cézanne |
Não
há, não,
duas
folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.
Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.
Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.
Nas formas presentes,
nos atos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.
Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.
É dessas que eu sou.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.
Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.
Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.
Nas formas presentes,
nos atos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.
Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.
É dessas que eu sou.
António Gedeão, Poesias Completas
Uma professora de Matemática
falou deste poema a uma professora de Português que falou a outra professora
de Português que, por sua vez, falou dele a outra professora, também de Português.
Todas elogiaram a professora de Matemática que,
apesar de não parecer, gosta de Poesia.
E a última professora, que falou do poema, plantou-o num e-mail,
passando a morar neste blogue (obrigada, IAzinha)
Só falta lembrar que o autor do poema era professor de Físico-Química e plantador de árvores, cujas "folhas" todos podem colher, apesar das diferenças. Felizmente.
quarta-feira, 25 de março de 2015
Sobre um Poema
Edward Hopper |
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
1930/2015
sábado, 21 de março de 2015
Eça de Queirós nas paredes de Leiria
Eça de Queirós viveu quase um ano em Leiria (1870/1871), onde foi administrador do concelho.
Agora, em 2015, na parte antiga da cidade, nas imediações do Castelo, é possível ver pinturas alusivas ao romance O crime do Padre Amaro, cuja escrita foi iniciada nesse espaço e nesse tempo. Também podem ser lidas muitas referências à vida e obra do escritor.
Uma boa iniciativa, na minha opinião, para cativar olhares, desenvolver a cultura portuguesa e animar muitos locais.
terça-feira, 17 de março de 2015
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