domingo, 23 de novembro de 2014

Mas que as há...


Imagem enviada por AV


Hoje, ao passar numa estrada com árvores de cores outonais, pensei que gostava de saber pintar.
Os amarelos, os ocres, os castanhos, os vermelhos, os verdes estavam lá todos.
Ou então, gostaria de saber reuni-las em versos ou em frases em que tantas tonalidades não ficassem sombrias.
Agora, abro o computador e vejo esta imagem.
Afinal, há coincidências?
Não sei, mas que há cores fabulosas nas árvores há!

sábado, 22 de novembro de 2014

A mesa da cozinha



           Alguns dos seus bons momentos são passados à mesa.
Não só para comer, é claro.  Lá, está o computador, o telefone tirado do seu suportezinho escuro, uma chávena de café ou de chá…  Ao lado, em duas cadeiras vazias, estão trabalhos para corrigir, um filme à espera de ser visto, uma cestinha com novelos, agulhas, trabalhos inacabados, um livro para ler um pouco mais…
Por isso, quando chega o tempo de se sentar à mesa, vem a pausa desejada. E quando surgem ideias para um texto ou para uma estória, em vez de ser só pausa é a abertura à imaginação, ao prazer tranquilo, à reinvenção de tempos e de espaços, aos mimos às palavras que se escolhem.
E quando das mãos saem pequenos trabalhos, que são um pequeno mimo para quem os recebe, agiganta-se o gosto das coisas simples, pequenas mas originais.
E hoje, sábado sossegado e de chuva miudinha, estar à mesa da cozinha é uma das melhores opções. E há tanto para fazer!
Em frente à mesa, está a pequena televisão. Muitas vezes sem som. Hoje, as imagens, os títulos, as citações recaem sobre “Sócrates detido”. Desde o início da manhã.
Parafraseando uma frase de Vergílio Ferreira, “Da minha língua vejo o mar”, apetece dizer que também de uma mesa da cozinha se vê o mundo. Que poderia e deveria ser bem melhor!



Os casos políticos e os mais jovens



Recuando algum tempo, e mencionando casos mediáticos, os portugueses lembram-se dos privilégios concedidos a Cavaco nas ações do BPN; do caso do imbróglio de milhões na compra dos submarinos; da confusão da Proforma que o primeiro-ministro nunca chegou a explicar; dos Vistos Gold, atribuídos por mãos sujas de polvo; da detenção, ontem, de Sócrates e, infelizmente, muitas mais.
E isto acontece porque existem mentiras, traições, falsas promessas, ambição desmedida, atropelamento de deveres e direitos, abandono de valores humanos, esquecimento do serviço público, desrespeito pelos cidadãos e muito mais.
Pelo que observo, poucos jovens veem ou escutam notícias, mas ouvem falar delas, recebem ecos, muitas vezes até vagos e distorcidos.
Muitos, hoje, dirão: "é mais um, são todos assim", etc. Mas o pior, na minha opinião, é quando pensam e dizem: "se eles são assim, por que é que eu não posso dizer e fazer a mesma coisa?"
Grave é o facto de as gerações mais jovens se confrontarem com estes casos nebulosos em que cada um afirma ter razão, tantas vezes perdendo a razão, ou pensando que os outros nem razão têm.
Quem corrompe ou se deixa corromper nem terá tempo para pensar nisso, tal é a espessura da teia. E é pena não se importarem com o mal que fazem e que não se fica pelo presente, avançando rapidamente para o futuro.
O que mais se irá esconder/descobrir?
Haja justiça, mas não apenas para alguns. Esta prática é também nefasta para os jovens.




quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Liberdade


  
Maria Keil

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,


Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Penhora?! Como disse?



Hoje, o meu fim de tarde foi avassalador.
Como já contei há tempos, pelo mês de abril, recebi uma carta das Finanças, apresentando-me uma dívida de uns quatro mil euros, pelo facto de não ter descontado – diziam eles – para a Caixa Geral de Aposentações, enquanto tive recibos verdes.
Nesse momento, fiquei boquiaberta porque sempre havia descontado para a CGA. Aliás, nem conheço nenhum professor do ensino público que não o faça, uma vez que nos é resgatado do ordenado.
Pedi ajuda (não se confunda com cunha) para organizar as papeladas e comprovativos como, de facto, tinha as contas em dia.
Como o tempo passava e não recebia qualquer resposta, fui várias vezes à Segurança Social, mas a resposta era sempre que teria de aguardar, porque eram coisas demoradas.
Hoje, ao fim da tarde, recebo um contacto do banco, dizendo-me que haviam tido ordem para me penhorarem o ordenado. Apesar de já ter sido avisada que tal poderia acontecer pela calada e de repente, não podia crer no que ouvia.
Estava entre colegas e, claro, vieram à baila os casos conhecidos de pessoas conhecidas que roubam descaradamente; que o país está a saque; que, se não fosse a idade e a família, o desejo seria emigrar…
Seguiu-se um frenesim de telefonemas: para quem me tinha ajudado a organizar o processo e para o banco.
Bem, o melhor era ir à Segurança Social, no Porto, e expor o caso de novo!
- Pode ser amanhã?
- Sim, claro. Vou telefonar e marcar.
- Obrigada. Vemo-nos, então, amanhã.
Passados uns minutos, através de novo contacto, fico a saber que, afinal, ontem havia sido emitida ordem de cancelamento da penhora porque, de facto, como eu tinha declarado e provado, nada devia.
Uf! Que alívio!
E agora pergunto: em vez do ministrinho do Ambiente andar a propagandear a redução dos sacos plásticos do supermercado, não seria melhor contribuir para que não houvesse estes  desperdícios?!
O papel utilizado foi bastante, a gasolina gasta também. Para não falar do stress que provocam cartas maçudas e secas a apontar o dedo como garras para sacar dinheiro que já havia sido descontado. E se o meu caso for multiplicado por muitos mais, que prejuízo ambiental!
Soube que seria penhorada e que, afinal, já estava tudo resolvido em menos de uma hora! Um dos comentários que ouvi foi:
- O melhor é saber destas coisas, porque sabe-se lá o que nos pode acontecer!!
- Poça!