domingo, 5 de outubro de 2014

«LONDRES


Nos antiquários de Chelsea os livros eram um desperdício,
dir-se-ia que apenas o fogo os poderia resgatar à morte.
As lombadas descosidas onde se lia mal
 
não te convinham, apetecia-te algum sítio que o calor
ainda rasasse. Mas eu estava mais interessado
na colecção de estampas arrancadas aos manuais
 
de antes da guerra: pássaros num nicho viçoso
de aguarela, a dissecação de um coelho com legendas
sobre os órgãos. Era uma espécie de espelho
onde eu me sentia extinto, via o princípio do mau tempo subindo
 
nas pernas das mesas, interpondo a sua ferrugem
entre nós os dois. Aquele lugar era um tédio
para ti, certamente o tempo poderia ser
 
melhor empregue – mas onde? A tua direcção era incerta
no vermelho mortiço entre os candeeiros.»
 
Rui Pires Cabral, 1997: Música Antológica & Onze Cidades. Lisboa: Presença, p. 45.


Acabo de ver, no mail, este poema, enviado pela IA,
 no seu "postal de fim de semana".
O que conheço de Londres faz-me gostar desta cidade 
(visitá-la será diferente de lá morar!)
Para além disso, vive lá uma das melhores partes de mim.
 
Por isso, logo tomei a liberdade de  partilhar o texto.
Para mais é quase fim de tarde, sei que ontem choveu em Londres mas hoje esteve sol e, apesar do frio, imagino pessoas a passear "no vermelho mortiço dos candeeiro".

sábado, 4 de outubro de 2014

Com licença! Com licença!



Irrita-me profundamente ver pessoas a ocupar os tapetes rolantes dos Centros Comerciais, esquecendo que as pessoas que vêm atrás querem passar. Se há o direito a ter tempo, também existe o direito a ter pressa e não ter de esperar.
Já vi namorados de mãos dadas, um casal a conversar (se calhar, em casa, não há assunto), duas amigas a continuarem longas conversas, pais a darem a mão aos filhos, apaixonados a trocarem beijos… ocupando a esquerda e a direita da passadeira, não reparando sequer em quem os precede.
Sei que tal não acontece em grandes cidades europeias, porque quem utiliza os tapetes rolantes e mesmo as escadas aprendeu a ocupar o lado direito, deixando o esquerdo livre para quem quer passar mais depressa.
De facto, os tapetes e escadas rolantes não são como bancos de jardim, onde as pessoas podem permanecer o tempo desejado.
Ninguém deve deixar de namorar, de conversar, de interagir… mas, por amor de Deus, sem necessidade de ouvir repetir: Com licença, com licença!

“Dias especiais”



Hoje de manhã, entrei numa perfumaria. A funcionária que me atendeu disse-me que também faziam maquillage para dias especiais.
Logo me surgiu então:
-Mas todos os dias podem ser especiais.
Ela olhou-me, abriu um sorriso bem cuidado e disse:
-É verdade. Muitas vezes os dias que pensamos que vão ser especiais não o são e, sem contarmos, um dia qualquer pode tornar-se especial.
Na despedida, disse-me, abrindo de novo o sorriso cuidado:
-Desejo-lhe um dia especial.

Quando usar o bâton que comprei, lembrar-me-ei, por certo, do desejo de tantas pessoas de viver dias especiais. Com coisas simples, é claro, como usar um bâton de nova cor.



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A pedido de Mariana



Vamos apoiar a Maria do Céu

"A Maria do Céu Brito, tem 17 anos e é aluna da Escola Secundária de Gondomar. Era uma aluna empenhada, humilde e muito boa colega que teve de interromper o seu 11ºano, em fevereiro de 2014, para se submeter a uma cirurgia cardiotorácica no Hospital de S.João, pois tivera-lhe sido diagnosticada “ Comunicação interauricular”. Contudo, contra todas as espectativas e previsibilidade do experiente cirurgião, a Maria não recuperou a consciência no pós-operatório; segundo o relatório médico, a Maria  sofreu um “AVC isquémico/hipóxico”, resultante da cirurgia. Em maio, foi relatado pelo médico que a Maria provavelmente se encontrava num “estado de consciência mínima”.

A família dela precisa da nossa ajuda e de todo o nosso apoio! Contudo, a sua força inacreditável não é suficiente e para podermos dar uma maior qualidade de vida à Maria do Céu temos de apoiá-la. Por isso pedimos ajuda!!!" (1)


Caso  queira ajudar:
NIB - 0018 0003 378 554 590 2012


(1)Texto escrito e divulgado na Escola Secundária de Gondomar.


A Mariana é uma menina que frequenta o 11º ano, na ESG. 
Juntamente com outros alunos, professores, encarregados de educação... está empenhada em ajudar a Maria do Céu. 
Para tal, o grupo tem levado a cabo iniciativas solidárias, para as quais arranja tempo, dádivas e motivação.
Mariana, a tua/vossa ajuda é o tronco que está a dar vida à árvore da generosidade de que a Maria do Céu tanto precisa.
Um bem-haja pelo vosso trabalho!

domingo, 28 de setembro de 2014

Olhando o Porto: Carlos Alberto e rua das Flores


Para quando o Dia da Lembrança?



Eu acho que deveria haver o Dia da Lembrança. Mas não me refiro ao souvenir, nem à “recordação” que gostamos de trazer para a família e amigos, muito embrulhadinha, de sítios distantes que visitamos. Não, nada disso. Para mais, os dinheiros vão sendo poucos. Seria o Dia da Lembrança Completa e Verdadeira.
Juntavam-se as perguntas que, por direito, se fazem a ministros e às quais, por dever, teriam de responder. Seria uma espécie de máquina da verdade, mas sem máquinas nem aparelhos complexos a forjar argumentos para o motor andar em busca de novas peças.
Não sei se me faço entender.
Por exemplo, nesse Dia da Lembrança, perguntava-se a um ministro:
Senhor Doutor (eles gostam, embora alguns não sejam doutores), o Senhor (convém escrever com letra maiúscula) declarou os seus vencimentos ao Fisco?
Convém não acrescentar “como nós, os cidadãos comuns”. Eles não gostam, chamam-nos piegas e mudam habilmente de assunto.
Ora, nesse Dia, se o Sr Ministro dissesse que não sabia, que não se lembrava, que não tinha presente, que de certeza que sim porque sempre assim faz, que tem a consciência tranquila, que vai entregar o caso a quem de direito, que tem de ter tempo para pensar porque é remediado, mas não rico em todas as memórias e outras generalidades, mesmo que fossem ditas em tom pausado e sério, revelador do “sentido de estado” - tão apreciado pelos políticos (às vezes fecham os olhos como se estivessem a cantar um fado aos pobres cidadãos) - haveria um sinal revelador de que o que estava a ser dito era só para encher salsichas (O Sr 1º Ministro falou delas a propósito da Educação).
Não sei muito bem como esse sinal poderia ser emitido, mas o projeto seria entregue, por concurso alargado (não só a familiares e amigos), com regras e fórmulas claras, o que faria com que o número de licenciados que emigram também fosse menor.
Pois, se tal acontecesse, os políticos com grandes esquecimentos tinham de apresentar um atestado médico como padecem de uma doença que lhes afeta a memória. E disso eles não gostam, porque apregoam que nunca estão cansados, que estão sempre preparados para o que der e vier, “que não têm dúvidas e raramente se enganam”…
Vá lá, é só um dia. Ainda restam mais de 360 para continuar a mentir!