quinta-feira, 10 de abril de 2014

Em casa



Este será o último livro abordado no Ateliê de Leitura e de Escrita, dinamizado por Mário Cláudio, em Serralves, com o tema: Os prazeres e os dias.

Tomei nota do título e da autora. Como de outros também escolhidos:


Poemas de Safo
Vozes no Escuro de Rui Vieira
Balada do Mar Salgado de Hugo Pratt
Roma de António Mega Ferreira
O Cozinheiro do rei D. João VI de Hélio Loureiro
Trinfo do Amor Português de Mário Cláudio

E procuerei este livro: A Casa e o Cheiro dos Livros de Maria do Rosário Pedreira
 Resposta das várias livrarias: “É um livro da Gótica. Está esgotado”.

Hoje de manhã, julgando que não pensava no assunto, lembrei-me de ter lido poemas sobre uma casa e sobre livros desta poeta e também editora. Fui à estante e, passados uns minutos, encontrei o livro que julgava não possuir.

Foi uma coisa simples e boa. Assim se vão encontrando alguns dos 
prazeres dos dias.



 Um poema do livro de Maria do Rosário Pedreira:

Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
é sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,

se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas –
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escreveremos. Entre nós

o tempo desenha-se assim, devagar.
Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Podia ser um diário


Ela pensou na doença do pai, problema que afeta muitos homens e ainda mais quando a idade é muita. E como a idade é muita, muitos amigos já partiram, as forças não são muitas e tudo parece ser pouco como o futuro. A não ser os desgostos, chatices e preocupações que se espessam, tornando-se muitos muitos.
Ela respirou fundo antes de entrar no quarto onde a irmã estava presa a uma cama. Presa, mas sem correntes, é claro. As correntes estavam no corpo doente que não obedecia a qualquer ordem ou vontade. Apenas aos gestos dos outros para o voltarem e dele cuidarem.
Ela reviu um conto sobre o Porto, depois de uma amiga ter sugerido cortes necessários e certeiros. E sentiu prazer nas sucessivas leituras. Com uma história simples, o tempo de escrita e leitura permitia que entrasse num domínio sereno de felizes afetos.
Ela recebeu um convite amigo para ir ao Teatro Nacional de S. João no Porto, onde se representa uma peça com base na obra de Fernando Pessoa. Disse que não, mas como gostava de dizer que sim, soou a talvez, mas será não, com certeza.
Ela pegou no livro O cozinheiro do rei D. João VI, de Hélio Loureiro, e que será abordado no Ateliê de Escrita e de Leitura, em Serralves, dinamizado pelo escritor Mário Cláudio, e pensou que, pelo menos, algumas páginas queria ler.
Ela chegou à reunião de direção de turma sem ter tido tempo para organizar todos os papéis. E repetiu-se, na presença dos interessados: é necessário, sim, mais estudo, mais atenção nas aulas, menos brincadeira, mais maturidade, mais consciência das exigências do Ensino Secundário…
E, no fim, todos desejaram bom descanso. Já nem todos dizem “Boa Páscoa”. Existem outras liberdades, felizmente. Todos esperam, porém, uma vida nova.


terça-feira, 1 de abril de 2014

Olha para o céu que a estrela está lá



“ Se as estrelas falassem”

Tudo aconteceu num dia chuvoso e frio, em novembro. As pessoas andavam irritadas por causa do tempo e as lojas pouco vendiam.
Eu e a minha única irmã, a Joana, de oito anos, decidimos ir fazer compras, apesar das condições meteorológicas. Sempre gostei de passear com ela. Era uma menina alegre, carinhosa e sonhadora. Partilhávamos tudo uma com a outra, mesmo sendo grande a nossa diferença de idades – onze anos. Ambas contávamos os nossos segredos e perspetivas da vida. Ela dizia muitas vezes que as estrelas lhe davam conselhos quando precisava. E eu exclamava: “ Mas elas nem sequer falam!”. Porém, ela afirmava que as escutava todos os dias à noite. E eu fazia que acreditava.
Como estava a chover, fomos de carro. No ano anterior, eu tinha tirado a carta e comprado imediatamente o automóvel com as minhas poupanças. A Joana dizia que ele era muito pequeno, apesar de confortável. Embora o para-brisas estivesse sempre a funcionar, a estrada mal se via com tanta chuva. Infelizmente, o pior aconteceu. O carro despistou-se e caiu numa ravina. A partir desse momento, tudo ficou negro.
Acordei no hospital, numa cama com lençóis rosa floridos. Sentia-me atordoada, mas nada de mais. O médico veio ter comigo e disse-me: “ Teve muita sorte em ter sobrevivido. Infelizmente, já não posso dizer o mesmo da sua irmã. Lamento imenso.”. Como era possível? A pessoa mais importante da minha vida morreu? E por minha culpa? Como é que não consegui controlar o carro?
Hoje, passados dois meses, estou sentada na cama da minha irmã Joana. Os cobertores ainda têm o cheiro dos seus cabelos encaracolados. Tudo naquele quarto me faz lembrar a sua vivacidade. Porém, ela já cá não está. As recordações de todos aqueles anos ainda se mantêm intactas na minha mente. Parece que ainda ouço o seu riso, a sua voz.
Olho para a mesinha de cabeceira e vejo o seu pequeno livro de notas azul. Este estava cheio de imagens de estrelas e, por baixo destas, um texto. Quando o li, percebi do que se tratava: era uma espécie de carta, na qual constavam aspetos da vida diária da minha irmã. E o remetente era uma estrela. Perante este facto, sorri. Lembrei-me do que ela costumava afirmar com absoluta convicção: “Eu falo com as estrelas e elas ajudam-me.”. Larguei o livro e pedi perdão à Joana. Por tudo. Por não ter acreditado nela e, principalmente, pelo acidente. “Desculpa. Eu adoro-te e espero que me estejas a ouvir. Se me perdoares, envia-me um sinal para eu poder tirar este peso que tenho na consciência.” – murmuro eu. Nada. Não acontece nada. Assim, decido ir para a janela apanhar um pouco de ar. Sou mesmo culpada de tudo e não tenho perdão. Olho para o céu. Está estrelado. Uma estrela brilha imenso, como se estivesse a chamar por mim. É um sinal. Pego no bloco de notas azul e começo a escrever, como se não houvesse amanhã. A estrelinha tremeluz e eu continuo a escrever, como se estivesse a falar para a minha irmã. E estou. Agora sim, consigo falar com as estrelas.

Helena Isabel Oliveira Gomes, 10º ano


sábado, 29 de março de 2014

Assim, é primavera!



quinta-feira, 27 de março de 2014

Visita a Mafra

Para ler melhor o Memorial do Convento
de José Saramago


quinta-feira, 20 de março de 2014

Flores de minha mãe


quarta-feira, 19 de março de 2014

Se as estrelas falassem…

Após uma sessão no Planetário,
desafiei os meus alunos do 10º ano a escreverem 
 um poema, uma história...  com o título
"Se as estrelas falassem".
Este foi um dos textos que li e gostei. 
E assim vão nascendo novas estrelas.


Van Gogh
Para mim, elas falam. Aqueles pontinhos brilhantes, reluzentes, que todas as noites nos visitam, que nunca nos abandonam na imensidão da noite têm, tal como nós, vida. Vejo-as como seres maravilhosos e amigos. Falam de uma forma especial que só elas entendem  e, como são tão pequeninas, não as conseguimos ouvir. Mas será que são todas iguais?
Há muito tempo, havia uma menina, Carolina. Todas as tardes, após o lanche e realizados os trabalhos da escola, saía de casa, ao final da tarde, dirigia-se ao campo, airoso e preenchido com camélias, que ficava em frente à sua casa, cor de palha, e esperava pelo cair da noite. Ela não perdia um dia para falar com a estrelinha, que sobressaía no luar da noite.
Ensinava-lhe o que aprendera na escola e esta, encantada com as maravilhas que Carolina lhe trazia todas as noites, ficava ali, encantada com cada palavra que a menina lhe dizia. Depois, chegava a hora da rapariguinha ir dormir e a reluzente estrelinha cantava uma canção para esta adormecer.
Certo dia, Carolina estava, como habitualmente, no campo à espera da sua amiguinha, mas ela não aparecia. Começou a ficar preocupada e, chegada a hora de se deitar, nada mais lhe restou do que ir para a cama. Nessa noite, não dormiu, pois faltava-lhe a canção que a sua companheira lhe costumava cantar, com aquela voz fina, mas delicada.
Acontecera que, devido à poluição que se fazia sentir naquela época, todas as estrelas do céu começaram a ficar doentes e, como tal, deixaram de aparecer. Agora o céu encontrava-se escuro e andar pelas ruas tornara-se assustador. Não demorou muito para que a frágil menina se apercebesse da situação e, como sabia que se isto continuasse, o mundo se ia tornar vazio, como a imensidão do espaço, decidiu colocar “mãos à obra”!
Na manhã seguinte, foi a primeira a acordar e, eufórica e incontrolável, foi falar com o pai. Era  alto, elegante e de olhos cor de mel. Contou-lhe o que se estava a passar e pediu-lhe para lhe explicar melhor a situação, visto que ela ainda era pequenina e não percebia tudo o que a senhora da televisão dizia. Após a conversa, saíram os dois apressadamente de casa, pois a hora da rapariguinha regressar à escola aproximava-se. Pelo caminho, magicou e encheu a sua cabeça com ideias que iria expor à sua turma para travar o que se estava a passar, pois se continuasse, ia pôr muitas vidas em risco e já sentia falta da sua estrelinha.
À entrada da escola, reparou nas crianças que andavam cabisbaixas, como se algo de terrível tivesse acontecido. Estariam elas a rebaixar-se por esta desgraça sem sequer lutarem contra ela? Iriam desistir assim tão facilmente? Carolina tinha agora trabalho a dobrar! Tinha de, urgentemente, alterar as mentalidades que a rodeavam!
Após ter entrado na sala de aula, discursou perante os colegas, dizendo:
“- Isto assim não pode continuar! Já não falo com a minha estrelinha há muito tempo! Tenho saudades dela, mas preciso da vossa ajuda para ela poder vir ter comigo novamente. Ela está doente. Preciso que me ajudem a acabar com a poluição que se faz sentir.”
“- Claro, Carolina. Sabes que podes contar connosco, estamos do teu lado!”.
Logo após ter ouvido estas palavras, uma alegria renasceu dentro dela. Apressou-se a ir buscar cartazes de diferentes cores, marcadores pretos e, com a ajuda das restantes crianças, não hesitou em pôr “mãos à obra”!
Os cartazes que prepararam tinham escritas pequenas mensagens que visavam a diminuição do lixo que vagueava pela atmosfera. Não demoraram a espalhar os mesmos pelas ruas da cidade e pelos cafés mais frequentados.
Com este simples gesto, as pessoas ficaram conscientes da situação e começaram a adotar medidas saudáveis para o ambiente. Este começou a ficar melhor e, em poucos dias, o céu começou a surgir, de novo, brilhante. Carolina correu para o local onde costumava encontrar-se com a sua companheira, mas ela não aparecia. Desanimada, decidiu voltar para casa. Levantou-se e, cabisbaixa, caminhava em direção ao seu lar, quando, de repente, ouviu uma vozinha que lhe disse:
“- Ias embora sem me contares o que aprendeste de novo na escola? Assim também não tens direito a uma canção para adormeceres!”
Carolina não acreditava! Soltou um sorriso e ficou ali, horas a fio, a conversar com a sua amiga. E, para não fugir à “praxe”, ao deitar-se, ouviu a mesma fina voz de sempre que a fez cair num sono profundo.

Daniela Figueiredo,  10.º ano

domingo, 16 de março de 2014

Camélias em Londres