quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"O Édipo do Bolhão"



Ontem, dia 22 de janeiro, o ator António Capelo esteve na Biblioteca Municipal de Gondomar, para falar de Rei Édipo de Sófocles, numa sessão integrada na Comunidade de Leitores.
Lembro-me muito bem de o ter visto, há uns dois anos, no Teatro do Bolhão (na antiga escola Almeida Garret), como protagonista desta tragédia. Ficou-me a imensa força de um ator em palco, dando vida à inesgotável sede do autoconhecimento.
Para além do que ensinou sobre a peça, anunciou, com visível alegria, que o Teatro do Bolhão iria regressar ao Palácio, na rua Formosa, perto do mercado do Bolhão. O Rei Édipo de Sófocles irá ser a primeira peça representada nas novas instalações.
Vi-o a assinar, talvez com orgulho, talvez com irónica emoção: “O Édipo do Bolhão”.
Bem visto, sim, senhor!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Olhar (d)a gaivota



domingo, 19 de janeiro de 2014

Não sou comentadora, mas...



O que se passou no último debate na Assembleia da República foi assustador.
Tendo sido votado o possível referendo sobre a coadoção por casais do mesmo sexo, muitos deputados dos partidos do governo votaram, declararam eles, contra a sua consciência, mas unicamente porque lhes tinha sido imposta a disciplina de voto.
Então, meus senhores, são representantes do povo ou apenas da vontade, mais ou menos plástica, de um líder? E apresentam-se tantas vezes, perante os cidadãos comuns, como arautos da verdade!
Alguns deputados são tão novos que apetece dizer com ironia: “olha, como aprendeu a lição tão depressa!”
Para além da desresponsabilização dos governantes, agiganta-se a figura da voz única e da ideia de que “quem não está por mim está contra mim”.
Sobre estas questões já muitos se pronunciaram com mais ou menos profundidade. E muitos mais comentadores haverá a julgar, a defender, a desculpar, a criticar, a gesticular...
 Do que ainda não ouvi falar foi do tom, despoticamente autoritário, usado pelo presidente da assembleia da República, após a votação do referendo, e perante a reação das pessoas que se manifestaram nas galerias.
Se os manifestantes transgrediram regras, a voz ameaçadora do deputado, nas funções de presidente, também foi reprovável. Só faltava dizer: “tragam-me o chicote”.
Tivesse eu metade da idade que tenho e emigrava. Podia não ser bem sucedida, mas não veria as máscaras despudoradas de tantos políticos.







 

sábado, 18 de janeiro de 2014

De palavras outras palavras surgem

Maria Keil
CONTOS DE FADAS

Era uma vez um conto de fadas. Estávamos
na terra do sonho; o castelo tinha torres
que chegavam à lua; e a noite quente do verão
entrava pela janela e tapava-nos
num aconchego de mãe. Neste sonho, não havia
ogres nem lobos maus; e um barco
branco esperava por nós, no porto da cidade,
para nos levar para o oriente onde o sol
nunca se põe. Nenhum de nós queria acordar
para não se esquecer deste sonho, e mesmo que
acordássemos, não iríamos abrir os olhos,
para não ver o que nos esperava, ao sair
do casulo dos sonhos. Mas se concordássemos,
e abríssemos os olhos, e víssemos que tínhamos
saído da noite para entrar no dia, que já não é
um conto de fadas, podíamos dizer uns
aos outros: “Este é o sonho de onde temos
de acordar, para voltar ao conto de fadas
onde a noite nunca se põe”.
Nuno Júdice, A matéria do poema, Don Quixote, Lisboa, 2008, p.66


Da leitura e de algumas expressões deste poema surgiu um pequeno texto:
      
Aconchego de fadas

Era uma vez uma menina que não gostava de contos de fadas. Preferia estórias de ogres e lobos maus porque, dizia ela, eram mais reais e frequentes na sociedade que ia conhecendo.
Num dia de verão, visitou um castelo e as suas altas torres. Tinha por perto o amparo e aconchego da mãe. As férias pareciam um sonho e sentia que a mãe era para si, cada vez mais, um porto de abrigo, um barco branco em que sempre podia viajar.
A menina, quando era mais menina ainda, tinha adormecido, muitas vezes, ao som de contos de fadas e de cantigas de embalar que rimavam: para bem adormecer e para, sossegadamente, acordar.
Um dia, a menina, já adolescente, recordou os anos em que ouvia ou lia contos de fadas com entusiasmo. Encantada por esses seres minúsculos e míticos, não perdia, na sua infância, a esperança de ver a transformação da realidade pelos poderes da varinha de condão.
E, como se esse toque de magia perdurasse, numa manhã de sol, deu consigo a pensar que os contos de fadas ajudam a subir mais alto, como às torres de um castelo, onde, tal como no casulo dos sonhos, a noite nunca se põe. Seriam outra forma de aconchego em todos os caminhos que ia percorrendo.