quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Londres

As imagens recentíssimas de Londres provocam pavor. Pela violência. Pela impotência perante o caos.

Quem visita Londres tem muitas condições para gostar da cidade.: multicultural, civilizada, viva, airosa, organizada.


Há uns dois anos, estive em Londres. O tempo era de forte e pacífico movimento.

Escrevi depois: Lembro-me da janela da tua casa, em Londres, com um vaso de flores matizadas. Só pedia água para tanta beleza e suavidade.


Pergunto agora: a quem serve matar a vida, quase humana, das cidades?

As flores da senhora Margarida

Infelizmente sou como muitas pessoas que se queixam da falta de tempo. Porém, há quem o saiba aproveitar. Felizmente.

Havia duas vizinhas que viviam numa aldeia: a senhora Margarida e a senhora Floripes. A senhora Margarida tinha um jardim com muitas flores. Sabia o nome de quase todas. Conhecia-as e falava-lhes porque, para ela, as flores eram amigas que precisavam de água, de boas palavras e de companhia para mostrarem toda a sua beleza.

À frente da casa da senhora Margarida, morava a senhora Floripes que também gostava muito de flores. Regalava-se a observá-las mas não arranjava tempo para cuidar delas.

A senhora Margarida levantava-se cedinho para regar o jardim, tirar as ervas daninhas, mudar as plantas de sítio quando pressentia que elas não gostavam do lugar e muito mais fazia, porque as flores, tal como as pessoas, não são todas iguais.

A senhora Floripes, por sua vez, quase nunca arranjava tempo para o jardim. Ou porque acordava tarde, ou porque estava a dar um programa na televisão que ela não queria perder, ou porque estava cansada, ou porque lhe doía a cabeça, ou porque andava desanimada, ou porque tinha chovido e a terra estava molhada…

Todos os dias a senhora Floripes olhava para as flores da senhora Margarida e queixava-se de não ter plantas assim. Que lindas! Tantas cores! Que perfeição. Até aqui se sente o perfume!

Um dia, a senhora Floripes disse à senhora Margarida que lhe invejava a sorte porque as flores se davam muito bem no seu jardim que não se cansava de admirar. Só ela, a senhora Floripes, não tinha sorte nenhuma porque gostava tanto de flores e elas pareciam não gostar dela. E acrescentava que tinha flor no nome e nem assim o jardim floria.

Quando precisava de flores, a senhora Floripes batia ao portão da senhora Margarida para lhe pedir um raminho de rosas, de margaridas, de lírios, de cravos, de sécias...

- Bom dia, senhora Margarida, pode arranjar-me um raminho de flores? Hoje chega o meu filho e não tenho nada para pôr nas jarras. E, já agora, um raminho de salsa e umas folhinhas de loureiro?

E a senhora Margarida lá lhe apanhava flores e as plantas fresquinhas e aromáticas. E ainda lhe desejava saúde para ela e para o filho que trabalhava no estrangeiro.

Um dia, a senhora Floripes pôs-se à janela, porque gostava muito de ver e de saber o que se passava na rua. Debruçava-se e estava ali horas rodando os olhos para um lado e para o outro à procura de novidades ou para confirmar as suas impressões.

As pessoas que passavam diziam-lhe bom-dia ou boa-tarde e paravam um bocadinho a conversar. Era uma maneira de ela saber quem estava doente, quem tinha morrido, quem se tinha zangado e com quem, quem começara a namorar, quem tinha acabado o namoro, quem engravidara, etc.

Um dia, como durante um bom bocado não passava ninguém, a senhora Floripes começou a olhar para o jardim da senhora Margarida e a lamentar, como sempre, não ter flores assim fresquinhas e bonitas.

Foi quando apareceu no jardim a senhora Margarida que andava sempre a lidar para ter tudo organizado e evitar correrias que não deixam fazer as coisas bem feitinhas. Viu a vizinha, acenou-lhe e disse-lhe bom-dia com um sorriso.

A senhora Floripes aproveitou a oportunidade para comunicar.

- Estava a olhar para as suas flores. Estão cada vez mais bonitas. Eu gostava era de ter tempo para tratar delas como a senhora Margarida.

A senhora Margarida continuou a regar as rosas e, como tinha bastante sabedoria, resolveu nada dizer, porque às vezes o silêncio vale mais do que mil flores. Para mais, olhou a janela da senhora Floripes e pareceu-lhe ver uma carochinha triste e desalentada.

Ou seria uma cigarra em eterna crise?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Dunas


Há dias escrevi um pequeno texto sobre o Dunas, o nosso velho cão labrador. Dei-lhe o título: “Tal como eu”. Se o escrevesse hoje, infelizmente teria de pôr os verbos no passado. O Dunas partiu numa noite sem luar no início deste mês de Agosto.

Ficou(-me) a sua alegria segura e serena quando abanava a cauda bebendo água, vendo a comida, recebendo festas, tendo companhia, entrando no carro para ir passear...

O seu nome foi escolhido porque o pelo fazia lembrar dunas claras e macias. No verão, em Mindelo, gostava de correr na praia e subir as dunas. Sempre a abanar a cauda, sabia entregar-se - com certeza como qualquer cão - a momentos de felicidade simples e livre.

Quando era mais novo e estragava qualquer coisa, mostrava um olhar de arrependimento, baixando a cabeça e parecendo pedir desculpa. Era inteligente se é inteligência compreender os seres humanos e saber adaptar-se a eles.

Dava mais do que pedia. Sempre disponível e à espera que os donos chegassem. Entrando em casa, deitava-se na carpete da entrada, suspirava tranquilo e adormecia.

Perante a sua placidez, dizíamos muitas vezes: “meu bom cão”. Parecia não querer incomodar, apesar de gostar de conviver. Não sei se foi coincidência ou não, mas foi breve o tempo que antecedeu a partida.

Ao texto anterior sobre o Dunas dei o título “Tal como eu”. Corrijo agora: “ Melhor do que eu”.

A Micas surfista, iô!


Quando chega à praia entra logo no mar

Nem precisa de prancha pra logo surfar

Na crista da onda gosta de boiar

e muito surfista pode igualar

E fica contente

sentindo a água fria

Nunca vestiu fato

Que não lhe serviria

Gosta de mergulhar

Essa é a verdade

E de poder desfrutar

De toda a liberdade

O pelo é bem pretinho

Mas é loiro na cabeça

E falar ninguém lhe peça

Se tiver juizinho

Mesmo sem prancha ou parafina

Vê-se à primeira vista

Que a cadela sabe surfar

É brincalhona e fina

Iô, a Micas surfista

Gosta mesmo do mar!