Maria Keil |
Para começar, não gosto nada da palavra culpa, porque me faz lembrar modelos antigos e pesados de educação e religião. No entanto, o seu significado não pode ser posto de lado, como acontece com tanta frequência, desde as pequenas às grandes coisas. Se não gostarmos da palavra, também não há problema porque existem vários sinónimos: falta, erro, falha...
O dia a dia é fértil em desculpabilização. Há uma discussão: não fui eu que comecei. Uma conta não foi paga: outros também não o fazem. O país está mal: a culpa é do governo. Há aumento de casos covid-19: a DGS e os governantes não sabem comunicar. Os contentores do lixo estão a abarrotar: a Câmara devia pôr mais. Não se faz reciclagem: os outros também não fazem. O miúdo tem fracos resultados: os professores não gostam dele. A empresa funciona mal: eles não ligam...
O passa-culpas é constante na política e no mais comum quotidiano. Às vezes, o ser humano põe-se à parte, ficando como espectador que olha unicamente para o palco onde está o outro.
E o que é certo é que o exemplo é o mais importante e as novas gerações vão adquirindo estas práticas quando, à sua volta, são recorrentes.
Pode haver caos a muitos níveis, mas, se cada um quiser (e puder, é claro), pode ir tornando o mundo um bocadinho melhor e mais bonito. Também vou tentar tentar.