Já pus uma estrela vermelha na porta
outra estrela dourada no corrimão.
Pela janela vejo camélias abertas
como se fossem também estrelas.
Está sol
mas é quase inverno
quase Natal
Natal quase deserto
deserto quase dos reis magos.
Farei as rabanadas do costume
mas não sei se haverá aletria
porque não a faço bem.
Este ano seremos menos
e menos mãos a ajudar.
Não haverá crianças de olhos ansiosos
à espera dos presentes
junto da árvore
encimada por outra estrela.
Ando há muitos anos para ir à missa do galo.
Este ano teria disponibilidade
mas o melhor é não ir
por causa das restrições.
Na Igreja
costuma haver um presépio humano
com um menino que é o Menino
e que às vezes chora
- como choram todos os meninos -
nos braços da mãe que é a Mãe.
- Coitadinho! - pensam todos.
Mas este ano menos gente terá pena do menino
porque haverá menos gente na missa do galo
e se calhar nem haverá menino Menino Jesus.
Também não poderei contar
uma história à minha neta
- Era uma vez um Natal
diferente de muitos outros
um Natal deserto
sem carros a chegar às aldeias
sem famílias grandes
à volta de uma mesa grande...
E que dela pudesse ouvir:
- Mas um deserto com muitas estrelas, avó!