A família da minha mãe estava ligada à agricultura e, como vivíamos todos próximos uns dos outros, fui habituada, desde pequena, a conhecer e a valorizar muito do que a terra nos dava.
Uma das plantas era o linho, que nunca vi cultivar, mas cujas alfaias me eram familiares. Ouvia também falar das técnicas utilizadas no seu cultivo até o fio ir para a tecedeira.
Ora, eu via toalhas, colchas, panos e cortinas de linho e qualquer bocadinho não se desperdiçava nunca, porque tinha sempre serventia: para usar em feridas, para aumentar e embelezar com entremeios de renda, etc.
Também as rendas e bordados eram usuais. A casa dos meus avós maternos era de matriarcado. Em muitas tardes da minha infância, via tias a bordar o linho com desvelo e bom gosto ou a tecer rosetas ou longas tiras de crochet.
Por isso não será de estranhar que achei estranho o achado junto de um contentor de lixo: um rolo com mais de dez metros de linho e um trabalho minucioso de crochet. Como mos mostraram, fotografei-os e partilho-os agora com algumas interrogações:
- mesmo que se desconheça o valor destas coisas, não seria melhor oferecê-las a alguém ou a instituições?
- ainda que a intenção fosse disponibilizar o que não se queria para ser aproveitado por quem passasse (foi sorte não ter passado antes o camião do lixo), não será um grande desprezo pelas pessoas e pelos objetos?
Tenho uma amiga que, um dia, encontrou peças de loiça da Vista Alegre, ainda embaladas, num contentor de lixo.
Custa-me imenso ver pessoas a vasculhar nos contentores de lixo em busca de comida.
Oxalá que para isso não sejam nunca procurados, mas, se calhar, de vez em quando, convirá dar uma vista de olhos. Sabe-se lá as coisas improváveis que podem ser encontradas.