terça-feira, 18 de abril de 2017
quinta-feira, 13 de abril de 2017
"Sei um ninho"
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
Miguel Torga
"A galinha dos ovos misteriosos"
"Era uma vez uma galinha que todos os dias punha um
ovo. E todos os dias vinha a dona, com uma cestinha, tirar-lho. - Já pus 1.000
ovos. Podia ser mãe de mil filhos. Mas não tenho nenhum por causa da gente
gulosa - cacarejou certa manhã a galinha. – Vou fugir.
Se bem o pensou melhor o fez. Quando a dona entrou na
capoeira, como de costume, esgueirou- se pela porta aberta. Só parou na mata.
Logo aí tratou de fazer o seu ninho com folhas secas, palhas, penugem, farrapos
de lã. Nunca se vira ninho mais lindo, redondo, confortável. Sentou- se nele e
pôs um ovo muito branquinho
Vou encher a barriga antes de começar a chocar, que
aqui ninguém me traz de comer resolveu a galinha, afastando-se em busca do
almoço. Demorou-se, porque ali tudo lhe era estranho. Quando voltou, qual não
foi o seu espanto ao ver o ninho cheio de ovos de todos os tamanhos e feitios.
Cocorocó… O que vem a ser isto? - disse ela. - Na
minha capoeira tiravam-me os ovos, aqui oferecem-mos. Mas que sorte! E logo se
aninhou. Daí em diante, a galinha mal saía do choco. Estava preguiçosa, sentia o
corpo quente, quente como uma botija.
O tempo foi passando. Quanto, não sabia, porque não
aprendera a contar nem se guiava pelo calendário. Até que … crac. O primeiro
ovo se abriu e de lá saiu um bicharoco de bico retorcido. Ai, mas que filho, eu
até desmaio! Em vez de ser pinto é um papagaio. exclamou a galinha.
No dia seguinte, outro ovo se abriu e de lá saiu,
rastejando, uma criatura comprida e sarapintada. Ai, mas que filho, como ele é
diferente! Em vez de ser pinto é uma serpente, exclamou a galinha.
Nessa mesma tarde, o maior dos ovos partiu- se ao
meio. A galinha espreitou, desconfiada. Ao ver o que tinha à sua frente, pôs-se
a cacarejar. Ai, mas que filho, este é de truz ! Em vez de ser pinto é uma
avestruz.
Faltavam ainda dois ovos. Que esconderiam lá dentro? A
galinha, curiosa, picou um deles. Mas ia caindo para o lado. Ai, mas que filho!
Deve vir do Nilo. Em vez de ser pinto é um crocodilo.
Ainda não se tinha calado quando sentiu um reboliço no
último. Ao ver a penugem amarela, bateu a asa de contentamento e escancarou o
bico: Ai, mas que filho! Diz o meu instinto que este finalmente é mesmo um
pinto.
Olhem a minha
ninhada! - mostrava ela às galinhas do mato. - É tão variada e tão engraçada. -
Trata só do teu pinto. Não ligues aos outros bichos, aconselhava a perdiz. Mas como podia ela
abandoná-los depois de os ter chocado com tanto amor ? Que outra mãe havia de
tratar deles? Era feliz, mas vivia num desassossego.
O papagaio voava para as árvores e ela não sabia voar.
O crocodilo só estava bem dentro de água e ela não sabia nadar. A serpente
metia-se por todos os buracos e ela era gorda de mais para a poder ir buscar.
A avestruz, essa, devorava tudo, não havia comida que
lhe chegasse. Só o pinto, naturalmente se comportava como um pinto.
Mas ela de todos gostava. De todos cuidava. Coçava a
serpente quando ela tinha cócegas porque à pobrezinha faltavam as patas.
Enrouquecia de tanto tagarelar com o papagaio que queria sempre conversar.
Cansava-se a carregar petiscos para a comilona da
avestruz. Esgravatava o chão em busca de sementes para o pinto. E nos
intervalos lavava as dentuças ao crocodilo.
Tudo parecia correr bem até que apareceu no bosque um
rapaz. - Ah, que belo frango! - disse ele, ao ver o filho verdadeiro da galinha.
- Vou assá-lo para o jantar. - Cocorocó, refilou a galinha, o que quer dizer na
sua língua « não lhe toques, senão pico-te ». O rapaz riu. Pois, quem tem medo
de uma galinha? E apanhou o frango.
Foi então que a serpente, ao ver o que se passava, se
pôs a assobiar à sua frente, mostrando os dentes de veneno. - Ai, uma serpente
!, gritou ele e atirou-se ao lago para
lhe escapar. Foi a vez do crocodilo avançar de boca aberta. - Ai, que este me
come!, gritou novamente o rapaz, subindo para a outra margem com o frango debaixo
do braço.
Aí estava o papagaio, empoleirado num árvore: Aí estava
o papagaio. És ladrão, empoleirado és,
vou meter-te prisão! És ladrão, és ladrão, vou prender-te na prisão! És ladrão,
és ladrão vou prender-te na prisão! És ladrão, és ladrão vou prender-te na
prisão!
Um polícia…assustou-se o moço. - Deixa-me fugir. Mas
logo atrás de si começou a ouvir uns passos, primeiro distantes, depois cada
vez mais próximos, a grande velocidade. Era a avestruz. Apavorado, pensando que
era um polícia que o perseguia, o rapaz largou a ave e só parou, esbaforido, na
aldeia.
Às costas da irmã avestruz, o frango voltou para casa.
Para festejar, a galinha juntou todos os filhos e
fez-lhes um bolo com vários andares. Um tinha milho para o frango. Outro, peixe
para o crocodilo. Outro, fruta para o papagaio. Outro, ratos para a serpente. E
por cima, a enfeitar, sete berlindes, um martelo e vinte pregos, porque a
avestruz só gostava de pitéus extravagantes.
Depois do jantar, os filhos fizeram uma roda à volta
da galinha e puseram-se a cantar: Somos todos irmãos, somos todos diferentes:
há uns que têm bico, outros que têm dentes, há uns que têm escamas, outros que
têm asas, na terra e na água fazemos nossas casas. Eu só tenho pescoço. Eu voo
pelo ar. Eu nado a quatro patas. Eu cá gosto de andar. Somos todos diferentes,
mas todos queremos bem à boa da galinha que é a nossa mãe.
MORAL DA HISTÓRIA - TODOS DIFERENTES TODOS IGUAIS"
quarta-feira, 12 de abril de 2017
"Manhã de Páscoa"
Manhã
de Páscoa!
Dá-nos
a coragem dos recomeços.
Mesmo nos dias quebrados
faz-nos descobrir limiares límpidos. Não nos deixes acomodar ao saber daquilo que foi:
dá-nos largueza de coração para abraçar aquilo que é.
Afasta-nos do repetido, do juízo mecânico que banaliza a história,
pois a desventra de qualquer surpresa e esperança.
Torna-nos atónitos como os seres que florescem...
Torna-nos livres, deslumbrantemente insubmissos.
Torna-nos inacabados como quem deseja e de desejo vive.
Torna-nos confiantes como os que se atrevem a olhar tudo,
e a si mesmos, uma primeira vez.
José Tolentino de Mendonça
Poema adaptado por:
Clube das Histórias
es@contadoresdehistorias.com
terça-feira, 11 de abril de 2017
Ella em Londres
Há dias, em Camdem, nos arredores de Londres, houve um concerto para bebés celebrando os 100 anos do nascimento de Ella Fitzerald.
Era bonito ver crianças pequeninas a correr no palco, ao colo dos pais, sentadinhas ou de um lado para o outro sob o olhar atento de quem, amorosamente, as tinha levado.
O concerto foi numa igreja que, tal como muitas outras, traz a música às crianças.
Muito pequeninos, sem grande poder de concentração, vão adquirindo hábitos de algum silêncio, de respeito pelo que as rodeia, de interação com as pessoas, de gosto pela música, encarada como um bem natural enquanto comem uma peça de fruta, dão ou recebem um abracinho, de partilha do mesmo espaço, de escuta...
Oxalá qualquer forma de Brexit não termine com estas formas tão boas de expressão da arte que ajudam a formar e a educar.E existem meninos e pais das mais diversas proveniências, o que dá ainda mais beleza àquele espaço.
As pessoas estavam reunidas porque se celebrava o aniversário do nascimento da grande cantora de jazz e da sua brilhante carreira.
Um belíssimo motivo para acreditar na Educação também pela Arte.
Quem tem razão?
Na comunicação social, têm aparecido versões muito diferentes dos distúrbios causados num hotel do sul de Espanha por estudantes portugueses. Há testemunhos a pretender demonstrar que foram coisas de pouca monta em relação às acusações do hotel, embora este não mostre imagens dos locais onde diz ter havido atos de vandalismo.
Ao longo da minha vida de professora, convivi com o entusiasmo de muitos alunos que, muito tempo antes da viagem, começavam a falar dessas férias da Páscoa sem os olhares críticos dos pais ou dos professores. Pelos dezassete-dezoito anos é natural que assim seja, como natural é que muitos não fossem por não se sentirem atraídos por viagens em multidão.
Quando regressavam, as histórias sobretudo de excessos continuavam a ser partilhadas nos intervalos e também, em voz mais ou menos baixinha, nas aulas.
Em muitos casos, passou a ser um ritual iniciático que contribuirá para a construção de autonomias e abertura ao mundo, sobretudo para os jovens que não têm a possibilidade de viajar.
O pior é que muitos alunos se habituam a ser desculpabilizados no dia a dia. Depois em grupo, quando se sentem libertos de quaisquer amarras, destroem o que podem como forma de protesto ou simplesmente porque não se controlaram ou querem mostrar o seu poder. Haverá sempre alguém para os defender.
Sempre achei que são muito mais numerosos os alunos com bom desempenho cívico do que aqueles que transgridem as regras, mas estes, ainda que em número reduzido, roubam muito tempo e muita paciência, sendo desculpabilizados em muitas situações. Ou porque os objetos não devem estar ao seu alcance, ou porque os funcionários têm de exercer mais vigilância, ou porque há outros que também o fazem... E falo também de alunos do ensino secundário.
Por isso, poucos ou muitos estragos não deveriam acontecer e oxalá que os pais oiçam os jovens que destruíram coisas no hotel ou os que nada fizeram de mal, de modo a que todos aprendam com isto e não seja mais um motivo para, entre duas mensagens de telemóvel e quase sem levantar os olhos do ecrã, dizerem que a culpa é dos outros.
Mas o hotel também não fica muito bem na fotografia com o lucro a fazer festas aos bolsos. E talvez as Agências de Viagens devam ter outros cuidados na preparação das visitas para multidões de jovens.
De outro modo, será mais um momento triste nacional em que a culpa é de todos e não é de ninguém.
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Num avião
Não é muito meu hábito 'meter conversa' com a pessoa do lado quando viajo, ficando-me por um sorriso quando os olhares se cruzam.
Um dia, porém, comecei a falar com o passageiro do lado. Havia alguma instabilidade na atmosfera e seria um modo de não pensar tanto no assunto.
Já tinha reparado no seu aspeto despojado e um pouco místico. Vinha do Porto, onde dinamizara sessões de meditação. Era vegetariano há duas dezenas de anos.
Os assuntos foram-se sucedendo.
E falámos de tantos problemas graves que existem no mundo (como os de hoje: fome no Sudão, ataque com armas químicas na Síria...) e que, apesar do conhecimento da sua existência, vamos vivendo o nosso quotidiano, sempre em busca de bem-estar e felicidade, o que pode até acarretar alguma culpabilidade.
A resposta do meu colega de viagem de avião foi que a busca humanamente honesta da felicidade pode ajudar a melhorar o mundo, muito mais do que ficarmos acabrunhados perante os problemas.
Lembro-me dele quando as notícias são preocupantes, como acontece, infelizmente, todos os dias.
E o mundo não é um lugar fechado como um avião, onde apenas permanecemos umas horas.
Um dia, porém, comecei a falar com o passageiro do lado. Havia alguma instabilidade na atmosfera e seria um modo de não pensar tanto no assunto.
Já tinha reparado no seu aspeto despojado e um pouco místico. Vinha do Porto, onde dinamizara sessões de meditação. Era vegetariano há duas dezenas de anos.
Os assuntos foram-se sucedendo.
E falámos de tantos problemas graves que existem no mundo (como os de hoje: fome no Sudão, ataque com armas químicas na Síria...) e que, apesar do conhecimento da sua existência, vamos vivendo o nosso quotidiano, sempre em busca de bem-estar e felicidade, o que pode até acarretar alguma culpabilidade.
A resposta do meu colega de viagem de avião foi que a busca humanamente honesta da felicidade pode ajudar a melhorar o mundo, muito mais do que ficarmos acabrunhados perante os problemas.
Lembro-me dele quando as notícias são preocupantes, como acontece, infelizmente, todos os dias.
E o mundo não é um lugar fechado como um avião, onde apenas permanecemos umas horas.
terça-feira, 4 de abril de 2017
'Happy thought'
Hoje, ao arrumar uma estante, vi A Child's Garden de Robert Louis Stevenson.
Abri o livrinho - de capa muito florida, e vi este pequenino poema que agora partilho, pelo prazer que podemos retirar da observação do que se passa à nossa volta.
Já a felicidade dos reis será mais questionável nos nossos dias, apesar de todos os seus haveres.
'The world is so full
Of a number of things,
I'm sure we should all
Be as happy as kings'
Abri o livrinho - de capa muito florida, e vi este pequenino poema que agora partilho, pelo prazer que podemos retirar da observação do que se passa à nossa volta.
Já a felicidade dos reis será mais questionável nos nossos dias, apesar de todos os seus haveres.
'The world is so full
Of a number of things,
I'm sure we should all
Be as happy as kings'
terça-feira, 28 de março de 2017
Um programa na RTP 2 (domingo à noite) com Anabela Mota Ribeiro
Gosto de ver este programa porque as pessoas convidadas são uma mais-valia pelo que aprenderam, realizaram e gostam de partilhar. Ao domingo à noite, sabe(-me) bem ver este diálogo vivo e natural sobre cultura, sem a qual os dias seriam todos mais apagados e iguais.
Foi esta a lista que transcrevi do último programa http://anabelamotaribeiro.pt/curso-de-cultura-geral-26-marco-2017-231232
Curso de Cultura Geral (26 Março 2017)
"Hoje vamos a Delfos, vemos um quadro de Caravaggio numa igreja em Roma, ao Brasil de Clarice Lispector e Guimarães Rosa: isto com o Carlos Mendes de Sousa, professor universitário. Com a editora e poeta Maria do Rosário Pedreira vemos um quadro de Vermeer, ouvimos um fado de Amália, folheamos a Cartilha de João de Deus. Outras viagens ainda, pelo mundo germânico com Isabel Capeloa Gil, reitora da universidade Católica. Pode ser que falemos da magnífica Vitória da Samotrácia ou de uma performance de Marina Abramovich... Tantas possibilidades!A lista de Carlos Mendes de Sousa, ensaísta e professor da Universidade do Minho
- A Paixão segundo São Mateus, Bach;
- Grande Sertão: Veredas, João Guimarães Rosa;
- Obra poética de Sophia de Mello Breyner Andresen;
- A Paixão segundo G. H., Clarice Lispector;
- Crime e Castigo, Dostoievski;
- Ode Marítima de Álvaro de Campos;
- Ver Caravaggio numa igreja ("Vocação de São Mateus" na Igreja de S. Luís dos Franceses, em Roma);
- Retrospectiva de Bacon na Tate Gallery (nos anos 1980);
- Em busca da Verdade, Ingmar Bergman;
- Visita a Delfos
A lista de Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica:
- O Inferno – Mestre Português (1510-1520) - MNAA;
- Ópera de Cantão;
- Visita ao Louvre – Vitória de Samotrácia/A Jangada de La Meduse;
- John Steinbeck, As Vinhas da Ira;
- Allan J. Pakula, A Escolha de Sofia. (1983) (c/ Paul Celan, Fuga da morte);
- Merce Cunningham, ‘Beach Birds’;
- Hugo von Hofmannsthal, Elektra;
- Micenas – Porta dos Leões (cf. Christa Wolf , Cassandra);
- Robert Wilson, Einstein on the Beach;
- Marina Abramovic, The Artist is Present (Performance, MoMa)
A lista de Maria do Rosário Pedreira, poeta e editora do grupo Leya:
- Cartilha Maternal, de João de Deus;
- Amália cantando «Povo Que Lavas no Rio»;
- Toda a poesia de William Butler Yeats;
- O Amante e Uma Barragem contra o Pacifico, de Marguerite Duras;
- O Leopardo, de Visconti (só depois de Lampedusa);
- "A Lição de Música", Vermeer;
- As ruínas de Éfeso, Turquia;
- O interior da Catedral de S. João em La Valeta, Malta;
- O Osso e A Conferência das Aves, de Peter Brook;
- As fotografias de nuvens de Alfred Stieglitz."
Anabela Mota Ribeiro
sexta-feira, 24 de março de 2017
quinta-feira, 23 de março de 2017
Ter ou não medo: eis uma das questões!
Será que as pessoas que vivem ou trabalham em Londres não têm medo?
Será que os familiares mais próximos de quem vive ou trabalha em Londres não têm medo?
Eu ousaria dizer que a maioria tem medo, mas vai encontrando formas de viver sem pensar nele constantemente. E só assim poderão encarar o seu quotidiano de maneira saudável.
Porém, ninguém poderá dizer que o perigo está afastado e não corre riscos.
Londres é uma cidade fascinante pelo cosmopolitismo, pela variedade de crenças, formas de vestir e modos de viver.
Todos os cidadãos poderem coexistir de maneira natural, pacífica, respeitando deveres e direitos é uma das suas principais riquezas.
Infelizmente, existem seres humanos que, violentamente, se destroem e destroem outras vidas.
Provocando o medo e imensas questões.
Às quais tantas pessoas inocentes deixam, de repente, de poder responder.
quarta-feira, 22 de março de 2017
terça-feira, 21 de março de 2017
Digamos um poema
Recebi, da Bertrand, este excerto de um poema do heterónimo Ricardo Reis,
enquanto pensava num texto que poderia postar para celebrar O Dia Mundial da Poesia.
Logo o adotei, porque sempre gostei deste poema, tendo-o partilhado muitas vezes com os alunos.
Como termina o Expresso Curto de hoje, "É tudo. Digam um poema".
segunda-feira, 20 de março de 2017
"O Dia do Pai cujos filhos emigraram"
Transcrevo um excerto do Expresso Curto de hoje,
porque tenho uma filha emigrante e identifico-me muito
com o que aqui é dito por Nicolau Santos.
quando não dois ou mesmo três. No meu círculo de amigos, um dos casais tem os dois filhos fora, ele em Sidney, ela em Londres; outro, tem a única filha em Edimburgo; outro ainda tem uma filha em Londres, outra na Escócia e só uma vive cá; outro tem duas filhas em Londres e outra cá; eu tenho um filho em Sillicon Valley e a filha cá.
É bom para eles? Fora de causa. É muito bom, do ponto de vista profissional e financeiro, além da rede de contactos que entretanto constroem e que lhes será muito útil pela vida fora. Além disso, tornam-se cidadãos do mundo e ficam aptos a trabalhar em qualquer ponto do globo. A contrapartida é que não voltam – ou muito poucos voltarão. Por falta de oportunidades profissionais interessantes mas também pela baixa remuneração que lhes é proposta e que não tem qualquer comparação com o que lhes é oferecido no estrangeiro, com os estudos que fizeram e com o trabalho que desenvolvem. Mais que não fosse – e há outras razões que dificultam o regresso, como relacionamentos afectivos com pessoas doutros países entretanto estabelecidos – aqueles motivos são mais que suficientes para não pensarem voltar a Portugal, pelo menos tão cedo.
É que a esmagadora maioria não emigrou porque estivesse desempregado. Estavam quase todos a trabalhar. Emigraram porque o que aqui lhes pagavam era demasiado irrisório e sem perspectivas de melhoria rápida para quem sabe o que valem os conhecimentos especializados que dominam.
É essa uma das conclusões de um estudo promovido pela Fundação AEP com o apoio da União Europeia/Feder, que está a ser realizado há alguns meses junto da Diáspora (com especial incidência na Europa), sob a direção do investigador Pedro Góis, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e que será revelado em meados de Abril.
E a prova é que embora mais de 70% desses jovens portugueses qualificados digam que querem regressar, 66,8% dizem que não pensam fazê-lo antes de três anos e quase 40% acrescentam que não pensarão em tal coisa antes de cinco anos. É, como se compreende, uma resposta de alguém que precisa de tempo para decidir. Mas que também precisa de estímulos para regressar: projetos interessantes e inovadores e remuneração compatível. E isso não se vê no horizonte. Pelo contrário. O processo de ajustamento devastou a economia portuguesa. Antes da crise, Portugal tinha 35 empresas entre as 100 maiores da Península Ibérica. Agora tem apenas seis. Quem pode agora oferecer salários competitivos e projetos desafiadores para fazer regressar a maioria dos jovens talentos que emigrou? Quase nenhuma empresa, como é óbvio. O país perdeu a maioria da geração mais bem preparada que alguma vez teve."
Nicolau Santos, in Expresso Curto, 20 de março 2017
quinta-feira, 16 de março de 2017
Goivos, primavera e caminhada
Há dias, fiz uma pequena caminhada nas imediações da minha casa.
Estava sol e as cores das flores estavam bem vivas. Das camélias, das magnólias e de muitas outras, mais próximas da terra e aos olhos de quem vive perto delas ou de quem por lá passa.
Foi quando senti o perfume dos goivos a um clique da minha infância.
A primavera também é assim: fazer renascer boas imagens, sejam elas visíveis aos olhos ou à alma.
E as caminhadas, ainda que pequenas, revelam estas e outras coisas igualmente simples, sem as quais os dias seriam menos primaveris.
segunda-feira, 13 de março de 2017
Música em Igrejas
Acho uma belíssima ideia os concertos de música clássica em Igrejas. Já assisti a alguns.
Deve ser, por exemplo, maravilhoso assistir a concertos na Sé do Porto, na Igreja de S. Lourenço (mais conhecida pela Igreja dos Grilos), etc. Ainda não assisti a nenhum, mas espero fazê-lo em breve.
A concertos na Igreja da Lapa, também no Porto, já fui mais vezes e são sempre belíssimos momentos pela emoção que é passada naquele espaço em que a Música leva ao profundo silêncio e ao calar dos telemóveis.
Em Londres são também frequentes os concertos para crianças, também realizados em igrejas. Melhor espaço não podia ser escolhido.
No Porto, os concertos em Igrejas que conheço são para todas as idades.
Melhor espaço não podia também ser escolhido.
Espiritualidades
Ontem, fui à missa na Igreja da Lapa, no Porto, e gostei muito. Pela atualidade e pertinência de temas também abordados na homilia (corrupção); pela música tocada pelo Órgão de Tubos - Sinfonia da Paixão de Cristo - e, particularmente, pela que foi cantada por uma cantora lírica que, no final da cerimónia religiosa, foi aplaudida; pela consistência da linguagem do Pároco que parecia fugir a lugares comuns e a artifícios; pelas muitas pessoas que havia na Igreja; pelas diferentes idades dos participantes na missa...
Pelo que sei, é uma Igreja que vai convocando muitas pessoas também através da Música: nas missas e em concertos, sendo anunciado o próximo: 25 de março.
E ficou-me uma das frases que ouvi na homilia: " A arte exprime melhor do que o discurso".
Esta missa de domingo fez-me sentir a espiritualidade que procurava e que me levou àquela Igreja. Felizmente, porque nem sempre (me) acontece.
quinta-feira, 9 de março de 2017
Haja tempo!
Se olharmos com alguma atenção, logo vemos as árvores e as flores a mostrar a sua revigorada beleza, nestes belos prenúncios de primavera.
Gosto muito destes dias de sol com tantas cores e perfumes a renascer à nossa volta (mais facilmente encontrados por quem não vive na cidade, como é o meu caso).
Felizmente, muitas cidades já não dispensam espaços verdes e floridos.
E destaco as árvores de fruto que começam agora a florir.
As magnólias e as camélias estão no seu auge - imensa beleza, embora efémera porque cada flor tem vida curta. A árvore-mãe é que, incansável, vai renovando sempre a sua produção, mesmo com chuvas e ventos do inverno.
A atual exuberância da natureza parece incutir novo ânimo na nossa vida.
Faça bom ou mau tempo.
segunda-feira, 6 de março de 2017
Festival da canção
Não vi o festival todo. Confesso que tenho dificuldade em permanecer tanto tempo, vendo e ouvindo, repetidas vezes, os mesmos números de telefone, os mesmos excertos de canções - embora reconheça que tal é necessário.
Para não falar da publicidade.
No entanto, gosto sempre de ouvir as canções vencedoras de antigos festivais, sobretudo bem cantadas como foi o caso de ontem.
Quanto ao festival deste ano, vi e ouvi, pela primeira vez, este jovem cantor - Salvador Sobral - e fiquei rendida. Pela simplicidade, pela verdade, pela harmonia, pela entrega a uma bonita canção que apetece cantarolar.
E, claro, lembrei-me dos antigos festivais da canção que faziam parar o trânsito e eram motivo de conversa em toda a parte. Também não havia todas as opções de canais nem de redes sociais que hoje existem. Nem o termo zapping era usado porque não tinha aplicação à realidade.
Possam canções como esta permitir fazer zapping de tantos artifícios da vida nacional.
sexta-feira, 3 de março de 2017
Milagre!!!
A presidente do Conselho de Finanças Públicas, drª Teodora Cardoso falou de "milagre do défice".
Sobrenatural à parte, lembrei-me de um poema de Manuel Bandeira (1886-1968), poeta brasileiro:
Sobrenatural à parte, lembrei-me de um poema de Manuel Bandeira (1886-1968), poeta brasileiro:
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
Máscaras de Veneza
Às vezes penso que gostava de ir a Veneza nesta altura do Carnaval, mas ficaria, com certeza, dececionada.
Imagino os milhares e milhares de turistas em busca - tal como eu, se fosse lá - do misterioso romantismo que as belas máscaras transmitem.
Também as comprei, pequeninas, numa das encantatórias praças de Veneza, como qualquer turista que por lá passe e queira ficar com uma recordação daqueles lugares, mas sem gastar muito dinheiro.
Por vezes, olho para elas e penso nos dias felizes que lá vivi, porque há pequenos objetos que não deixam os lugares nem as memórias desaparecerem.
E isso talvez seja ainda melhor do que assistir, in loco, a um desfile de Carnaval em Veneza.
Talvez.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
domingo, 26 de fevereiro de 2017
“A Noite da Iguana”, de Tennessee Williams (1911-1983)
A peça está no Teatro Nacional de S. João, no Porto e fui vê-la ontem à noite.
O ator principal é Nuno Lopes, mas relevantes são também Maria João Luís, Isabel Munoz Cardoso e muitos outros que trabalham em palco durante umas duas horas e meia, criando ambientes sombrios mas humanos.
É um espetáculo longo porque a noite também é longa, passada num hotel fraco da costa do Pacífico. O hotel é gerido por uma mulher que acabara de perder o marido que não amava. Um dos hóspedes é um ex-pastor religioso que foi caindo em abismos empurrado pelo álcool, atraído por raparigas muito jovens, mergulhado em desespero e que tenta sobreviver como guia turístico de senhoras católicas dando-lhes a conhecer monumentos do México.
Duas outras personagens são um avô e uma neta, ele poeta de pouco talento e ela, pintora que tenta vender os seus quadros, mas não consegue. Vivem na miséria e pedem para ficar no hotel, apesar de não poderem pagar.
E todos dialogam sobre a sua condição - por vezes de modo dramático, outras com humor, embora sarcástico.
Ah! E existe uma iguana presa que acaba por ser libertada.
Tal como qualquer uma das personagens desejaria. O final deixa entrever a esperança.
sábado, 25 de fevereiro de 2017
O piano
Numa velha casa ligada à minha infância, havia um piano. Que era um mistério porque estava sempre fechado.
Eu, menina, e não só, certamente, pensava quem o teria trazido para ali e quem o teria tocado.
Imaginava até dedos finos e ágeis a tocar uma música harmoniosa.
Talvez o piano lá continue, embora desafinado, no silêncio vazio da casa.
Talvez continue a preencher felizes pedacinhos de imaginação.
"Cidade global" - Museu de Arte Antiga
Esta pintura - "A Rua Nova dos Mercadores -, inserida na exposição, é verdadeira ou falsa?
Uma polémica no atual mundo das Artes.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
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