domingo, 19 de outubro de 2025
domingo, 5 de outubro de 2025
Por cá, também os livros entram na Festa!
Por estes dias, Gondomar está em Festa. É a Senhora do Rosário. Também conhecida pela Festa das Nozes, Festa do Rosário, ou, simplesmente, Rosário.
Pois bem, o tempo está de um outono quente e de céu azul e lá estão as agitadas e bem sonoras diversões e as barraquinhas de brinquedos, onde me vejo ainda criança a receber tachinhos e panelinhas das mãos da minha mãe. E, sendo já eu a mãe, a comprar um brinquedo para as minhas filhas e, agora como avó, para os meus netos.
E como me recordo dos Robertos, no largo do Souto, bonecos que se moviam num palcozinho pequeno e nos faziam rir às gargalhadas. Há muito que partiram, mas não as barracas das nozes, das castanhas, dos bolinhos de amor, dos figos secos... E dos nabos e do vinho doce e de tantas coisas boas que também o outono traz. Ah, e também não costumam faltar os vendedores ambulantes, com microfone preso ao peito, a apregoar o pague um, mas não leva só um nem dois, nem três... e ainda leva isto e mais aquilo...
Mas entremos agora nas tasquinhas, onde a esta hora, já haverá pessoas a saborear o caldo de nabos, as papas, as inúmeras iguarias tradicionais, cozinhadas e apresentadas por coletividades de Gondomar. É uma Festa para os sentidos.
Mas a Festa com palavras é ainda mais Festa! Por isso, junto às saborosas tasquinhas, há também uma bonita e bem disposta barraquinha com venda de livros, de temas muitos variados, e cujos autores estão ligados a Gondomar. Tal acontece graças à colaboração e entusiasmo de muitos desses autores que estão presentes, dando vida a esta e outras iniciativas de divulgação de obras que se vão produzindo.
Em breve, haverá uma bela e bem cuidada coletânea de textos escritos por autores de Gondomar e que nasceu de uma conversa feliz de um pequeno grupo, que não só teve a ideia, mas passou à sua concretização, através de um trabalho que se foi alargando e que é de louvar e de reconhecer. A seu tempo, darei conta dessa publicação coletiva. De facto, a Festa é mais Festa com união e com livros.
Boas leituras e bom domingo! E que haja sempre uma festa a celebrar!
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
A ameixoeira que não gostava de estar só
Era uma vez uma ameixoeira
que morava num quintal muito acolhedor. A vizinhança era muito variada: duas
macieiras, três pés de abóbora, um limoeiro, margaridas, camélias, azáleas,
arruda, erva-cidreira, manjericão, lúcia-lima, hipericão…
A ameixoeira dava frutos
escurinhos e aveludados. A família gostava de os colher e saborear junto à
árvore-mãe.
Um dia, as folhas da
ameixoeira começaram a secar. De princípio, era uma aqui, outra ali, mas, em
pouco tempo, ficaram todas murchas e sem vida. Bastava uma pequena brisa para
as fazer cair ao chão. Qualquer aragem as desprendia e atirava-as para terra.
No ano seguinte, o mais certo
era não haver compota de ameixa.
Ora, junto da ameixoeira,
vivia uma buganvília de cor bem vermelha.
Enquanto a ameixoeira secava, a buganvília
crescia viçosa em várias direções, às vezes um bocadinho intrometida porque
espreitava e saltava o muro.
E, vá-se lá saber como ou porquê, um ramo da buganvília foi ao encontro da
ameixoeira fraquinha e o outro encostou-se ao tronco, amparando-o.
Apesar de parecerem abraços,
os ramos da buganvília nunca taparam a ameixoeira, para que ela pudesse
respirar à vontade e ter o seu espaço.
Porém, o tempo foi correndo e
quem passava por lá só tinha olhos para a buganvília, porque a ameixoeira
mal se via. Ainda.
Um dia, a dona da casa foi ao
quintal apanhar couves para a sopa. Se estivesse com pressa ou a pensar em mil
coisas ao mesmo tempo, nem teria reparado no que lhe saltou logo aos olhos. A
ameixoeira, que parecia estar a desaparecer, tinha novas folhinhas verdes.
Olhou várias vezes
com atenção, afastou uns raminhos da buganvília e viu que as folhinhas
renascidas eram mesmo da ameixoeira. Até o tronco estava mais forte.
Foi então que ela logo chamou
o neto para ver a ameixoeira renascida.
O menino olhou para a avó e
disse:
- Ó avó, se calhar a buganvília não gostava de estar só!
A avó sorriu-lhe e imaginou a
compota de ameixas que faria no ano seguinte. E, na mesa, não faltaria um raminho de buganvília
ao lado da compota.
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Vem aí o Natal
Já chegou o convite para participação na nova coletânea de Natal, da Editora Lugar da Palavra. É uma oportunidade de partilharmos o que escrevemos e ir deixando uma marca - por pequena que seja - no mundo em que vivemos. Já escrevi o meu conto. Apesar de o ter lido, relido, corrigido muitas vezes, ainda está a marinar. Há tempo para o envio: final de outubro.
Boa participação e boas escritas!
LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME XIV
sábado, 27 de setembro de 2025
Roupa, pra que te quero?
Nunca fui de comprar muita roupa, mas já comprei bem mais do que compro agora. Só vou às lojas quando preciso mesmo, porque, para além de não ter muita paciência, penso melhor, e vejo que, afinal, tenho peças de roupa suficientes para qualquer estação. Se bem que as diferenças de temperatura vão sendo cada vez mais pequenas.
Por vezes, compro algumas coisas on-line. Em segunda mão, recordo-me de comprar uma blusa branca em Bordéus, já lá vão muitos anos, mas acho que nunca a vesti. Lavei-a várias vezes, mas o tamanho era pequeno para mim e interrogava-me sobre quem a teria usado. Contudo não me desfiz dela durante muito tempo porque achava-a bonita. Há dias, seguiu, com outras coisas, para a loja social que está aberta perto de mim.
Também entre nós são cada vez mais as lojas de roupa em segunda mão, o que será um modo sustentável de reutilizar a roupa e evitar o seu excesso. Já para não falar do espetáculo degradante de ver roupa abandonada e espalhada pelo chão, junto de qualquer contentor.
As lojas de arranjos também são ótimas para tornar diferente uma peça de roupa, evitando, assim, nova compra, novos gastos e novos desperdícios. Às vezes, nem parece a mesma peça, graças apenas a um ou outro adereço e pequenas modificações.
A propósito, é tempo de arrumar o guarda-fatos para o outono. Eu, que não sou nada exemplo de celeridade, já comecei. Que remédio, o frio já nos vai vestindo e o fim desta tarde prevê-se com sinais da tempestade Gabrielle, que esteve nos Açores e que também vai passar por cá.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Arrumações
Não sei o que se passa comigo
Só me apetece arrumar
Armários e gavetas
Que não quero entulhar
Separo roupas antigas
E também limpo a poeira
Que se vai acumulando
Durante uma vida inteira
E lá vou pondo em sacos
Coisas pra dar ou contentor
Ou para a loja social
Onde se vendem restos de amor
E durante a arrumação
Não deixo de me lembrar
Do mundo desarrumado
Que o Poder quer conservar
O mundo não é sempre igual
Mas ver afastar a verdade
Ao mundo faz muito mal
E vai arrumando com a Liberdade!
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
A caixinha dos artistas
Todos os dias o Jornal de Notícias nos chegava a casa. Depois do almoço, o meu pai lia o jornal, prestando mais atenção às páginas de desporto. Quando era hora de ele retomar o trabalho, a minha irmã e eu pegávamos no jornal e a nossa maior atenção ia para as páginas que mostravam artistas de cinema e da canção.
Ora, a nossa vontade era logo recortar as fotos dos ídolos da época e guardá-las numa caixa de papelão, a que chamávamos caixinha dos artistas. Estavam lá Brigitte Bardot, Marisol, Adamo, Rita Pavone, Alain Delon e muitos mais, em folha fininha de jornal e a preto e branco.
De alguns artistas, havia várias fotos, ou porque viessem a Portugal ou porque deles se falava muito no momento. Uma dessas figuras era a belíssima e talentosa Claudia Cardinali, sempre com o seu risco preto nos olhos e sorriso sedutor. Nasceu na Tunísia em 1938 e morreu ontem em França.
A caixinha dos artistas, que íamos preenchendo na infância e folheando com fascínio, há muito desapareceu. Porém, alguns filmes que a atriz protagonizou, como O Leopardo, esses ficarão para sempre.
terça-feira, 23 de setembro de 2025
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
Olá, outono!
O outono chegou hoje e logo se fez sentir. Está mais frio, apesar do sol acolhedor, que empalideceu e amarelou um pouco.
Colhi marmelos e olhei os dióspiros ainda verdes.
Observei as inúmeras belas-donas que, adormecidas até agora na terra, renascem coloridas e viçosas em canteiros, cantos e recantos, tornando-os vivos e festivos.
Vi que as hidrângias estão em despedida. Irromperam na sua plenitude azul que, ao longo do verão, se foi acastanhando e secando. Não sei, contudo, qual é a sua fase mais bela.
Tirei algumas fotografias, que nunca ficam perfeitas. A imperfeição também tem a sua beleza.
Pus umas tigelas de marmelada a secar ao sol da janela e lembrei-me de gestos que repetimos em muitas estações.
Procurei músicas para partilhar aqui e gostei destas. Oxalá gostem também.
Feliz outono!
sábado, 6 de setembro de 2025
Praia de (quase) outono!
Gosto muito do mar, ainda que raramente entre nele, porque não sei nadar (quando vejo as minhas filhas e os meus netos, felizes, a nadar, fico ainda mais feliz).
Também gosto de praia, mas não fico na areia durante muito tempo. No entanto, gosto de sentir o verão com todas as suas delícias e cores dadas pela presença das pessoas, pelas barracas, pelos guarda-sóis; por poder partilhar prazeres naturais e descontraídos que a praia oferece...
Porém, para mim, quando se aproxima o outono, a praia ganha dimensões que me agradam particularmente: abre-se, alarga-se e acalma. Olhar a praia deste (quase) outono é ouvir mais silêncio, é rever muita coisa (boa ou menos boa) que irrompe da memória. Parece que o tempo também se estende um pouco mais.
Que não se pressinta um adeus nostálgico a muitos dias de agosto: aos netos e sobrinhos-netos, todos juntos em bricadeiras divertidas e ruidosas ou em zangadas e infantis teimosias, esquecidas dentro de momentos; ao prego na esplanada do Fernando, à esplanada do Raminhos donde se avista mais areia e mais mar e se respira mais maresia, ao reencontro com pessoas amigas que a praia também chamou, à celebração dos aniversários em família em que sinto prazer de ver o prazer que dá a sopa de peixe que acabei de fazer...
Pronto, foi bom mas acabou-se, ou melhor, interrompeu-se. Para o ano há mais, como sempre se espera.
Logo que possa, quero ir a Mindelo, para olhar, calmamente e devagar, a praia bem mais sossegada, tal como a maioria das praias do país.
O outono está aí e a chuva parece que está também a chegar. Venha ela, é bem-vinda, mas sem fazer estragos. Que venha serena, como se espera que seja o outono, apesar do tumulto dos últimos dias.
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
terça-feira, 2 de setembro de 2025
domingo, 31 de agosto de 2025
Ter… terapias
É cada vez mais frequente ouvir-se falar de terapia (quando se pode pagar, é claro): eu faço terapia, a terapia ajuda-me muito, consegui resolver isto porque tenho terapia…
Pois bem, julgo que não é parvo dizer que ninguém escapa a problemas, sejam eles de que natureza forem e tenham eles a dimensão que tiverem; venham eles do passado, de factos inquietantes do presente, de ansiedades sobre o futuro…
Tantas coisas que escurecem a vida que, legitimamente, queremos clarear.
Vem isto a propósito de uma conversa que ouvi de alguém que dizia: com a ajuda da minha psicóloga, consigo falar sem chorar de coisas do passado que me traumatizaram.
Ouvi a frase e logo a memória se abriu a coisas menos boas que me ficaram incrustadas nos muros das lembranças desagradáveis que não se apagam e que, de uma maneira ou de outra, acontecem a todos. Às vezes, são pequenas situações, mas que se afiguram grandes quando somos nós a senti-las e a vivê-las.
E é sorte encontrar a pessoa certa para ouvir e ajudar com parecer ou propostas de soluções. Sei de um caso em que a terapeuta dá até tarefas à paciente, assim como conheço outro em que apenas ouvia no período de tempo que estava estipulado, findo o qual recebia o dinheiro da sessão e esta terminava.
A escrita, a leitura, a dança, o treino físico, ter uma horta… também podem ser boas terapias e, por vezes, bem mais baratas, ainda que sem retorno aparente no momento, embora acalmem e deem alguma felicidade. Também a família e os amigos mais próximos são uma ajuda essencial.
E, perante o estado atual do país e do mundo, cada um terá mesmo de encontrar a sua terapia. Nem que seja caminhar um pouco para ir emagrecendo alguns problemas.
Para mim, comunicar através deste simples blogue é muito bom. Obrigada, bom domingo e um abraço!
sábado, 23 de agosto de 2025
sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Não há andorinhas só na primavera!
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
domingo, 17 de agosto de 2025
Se há festa, venha ela!
Um dia, ouvi alguém dizer: estou na praia, mas prefiro ficar em casa a ler durante a tarde. Naquela altura, eu tinha as filhas pequenas e, mesmo que quisesse, nunca me poderia dar a esse luxo.
Agora, tendo por perto netos e sobrinhos-netos também não é fácil, porque as brincadeiras ruidosas, engraçadas e muitas, são entremeadas de algum choro porque os que têm idades próximas querem os mesmos brinquedos…
Mas é bom pensar que todos eles estão a crescer e as memórias felizes também.
Há dias, fomos (não todos porque somos muitos e há programas de férias diferentes) às Festas da Agonia, em Viana do Castelo. Vi e apreciei o cortejo da mordomia e gostei particularmente da ‘romaria para crianças’, com muitas atividades ligadas às tradições. Ver as crianças a correr em jogos tradicionais, a desenhar, a recortar, a pintar, a produzir peças como corações… é melhor do que ler um livro no sossego da casa, mesmo respirando maresia!
A minha filha que vive em Londres ficou encantada com as múltiplas e bem organizadas atividades para crianças e mais ainda por serem gratuitas.
Temos muita coisa desagradável à nossa volta (os incêndios e aparente indiferença de quem governa; leis nada católicas, influenciadas por quem se diz muito católico, etc), mas vivemos num país com gente maravilhosa que cria, que faz, que se entusiasma, que rema contra muitas marés difíceis, que não cessa de abrir o belo sorriso…
Numa das exposições fotográficas na Festa da Senhora da Agonia, via-se o ar bem mais triste e pesado das mordomas nos anos sessenta, ao contrário dos sorrisos atuais, bem mais abertos, desempoeirados e libertos. Felizmente.
Nesse tempo, vivia-se numa praia sem se desfrutar da praia, tão grande e generalizada era a agonia.
Que agora é nome de Festa e, se há festa, e da boa, venha ela!
quarta-feira, 13 de agosto de 2025
sábado, 9 de agosto de 2025
O que fará um gato nas dunas?
Sentirá o prazer da areia limpa que ninguém pisa?
Pensará que as dunas protegidas são portas transparentes que se abrem ao oceano?
Andará à procura de raizes ou surpresas entre a vegetação?
Olhará o mar que deseja liberto de neblina?
Esperará alguma gaivota que o ensine a ficar?
Buscará apenas uma saída sem se picar nos cardos que a maresia ajudou a plantar?
…









