quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A ameixoeira que não gostava de estar só


Era uma vez uma ameixoeira que morava num quintal muito acolhedor. A vizinhança era muito variada: duas macieiras, três pés de abóbora, um limoeiro, margaridas, camélias, azáleas, arruda, erva-cidreira, manjericão, lúcia-lima, hipericão…

A ameixoeira dava frutos escurinhos e aveludados. A família gostava de os colher e saborear junto à árvore-mãe.

Um dia, as folhas da ameixoeira começaram a secar. De princípio, era uma aqui, outra ali, mas, em pouco tempo, ficaram todas murchas e sem vida. Bastava uma pequena brisa para as fazer cair ao chão. Qualquer aragem as desprendia e atirava-as para terra.

No ano seguinte, o mais certo era não haver compota de ameixa.

Ora, junto da ameixoeira, vivia uma buganvília de cor bem vermelha.

Enquanto a ameixoeira secava, a buganvília crescia viçosa em várias direções, às vezes um bocadinho intrometida porque espreitava e saltava o muro.  

 

E, vá-se lá saber como ou porquê, um ramo da buganvília foi ao encontro da ameixoeira fraquinha e o outro encostou-se ao tronco, amparando-o.

Apesar de parecerem abraços, os ramos da buganvília nunca taparam a ameixoeira, para que ela pudesse respirar à vontade e ter o seu espaço.

Porém, o tempo foi correndo e quem passava por lá só tinha olhos para a buganvília, porque a ameixoeira mal se via. Ainda.

 

Um dia, a dona da casa foi ao quintal apanhar couves para a sopa. Se estivesse com pressa ou a pensar em mil coisas ao mesmo tempo, nem teria reparado no que lhe saltou logo aos olhos. A ameixoeira, que parecia estar a desaparecer, tinha novas folhinhas verdes.

Olhou várias vezes com atenção, afastou uns raminhos da buganvília e viu que as folhinhas renascidas eram mesmo da ameixoeira. Até o tronco estava mais forte.

 

Foi então que ela logo chamou o neto para ver a ameixoeira renascida.

O menino olhou para a avó e disse:

- Ó avó, se calhar a buganvília não gostava de estar só!

A avó sorriu-lhe e imaginou a compota de ameixas que faria no ano seguinte. E, na mesa, não faltaria um raminho de buganvília ao lado da compota.

 

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