segunda-feira, 16 de setembro de 2024

E não custa nada!

 

Conheço casas com jardins ou quintais - ainda que pequenos - onde há uma mesa, uns bancos, mas onde ninguém descansa um pouco ou desfruta das plantas que estão à volta, do céu que nunca se esconde, mesmo com nuvens, não aproveitando nunca esses bens simples e bons.

Esses bancos, onde as pessoas se podiam sentar tranquilamente de vez em quando para manterem ou recuperarem energias, servem muitas vezes para pousar coisas utilitárias que podiam viver noutro lugar e deixar aquele espaço mais livre e mais convidativo. E mais bonito.

Muitas vezes, as pessoas têm as coisas, mas não lhes cumprem a função. Parece que é pecado parar e não fazer nada de vez em quando, se o corpo e a alma pedem um pouco de repouso, ou simplesmente apetece e a paragem a ninguém prejudica.

Parar quando se pode também é preciso, sem culpas nem receios de lembrar a preguiça. E a preguiça, cujo peso pecaminoso se foi esbatendo com o tempo, também pode ser necessária para o equilíbrio humano.

E se se tem um banco no jardim ou no quintal, por que não dar-lhe uso? São dois em um e quem o faz fica a ganhar. E também quem está à sua volta, incluindo as plantas se as houver. Parando um pouco, ouvindo sons da natureza,  cresce a atenção aos pormenores e àquilo que escapa quando a pressa e a azáfama não deixam ver as diferentes cores e muito menos as tonalidades.

Ter as coisas e não as usar também é desperdício e, cada vez mais, temos de as ulilizar o melhor possível. Sobretudo quando não custa nada.


sábado, 14 de setembro de 2024

Olivença, de quem és tu?

Imagem da net


Gostava de ir a Olivença

Terra que não conheço

Muito pertinho de Beja

Para uns é portuguesa

Para outros espanhola

E todos terão razão

Uns dizem ser espanhóis

Outros dizem que Portugal

Lhes está no coração!


E ontem o ministro da defesa

Em cerimónia militar

Vestiu fato de líder político

E mesmo sem ser o momento

Abriu o seu pensamento

E lembrou que Olivença 

Pertence a Portugal

Servindo o assunto do dia

Mesmo sem pôr avental!


E logo criou incómodo

Em pelouros do poder

Que resolveram calar

Porque não era lugar

Pra tal assunto trazer!


E o vento foi despenteando 

O farto cabelo branco

Do ministro que é cioso

Da terra de Olivença

Que entende ser pertença

Do nosso Portugal

Que é dono do ‘bocadinho’

Que está do lado de lá

Mas que por justo direito

Pertence ao lado de cá.


Ainda vai ouvir raspanete

Do seu chefe e primeiro ministro

Que gosta de brilharete

E de apregoado recato

E não do que gera polémica

E que se possa dizer

‘Este ministro é um prato’!


sexta-feira, 13 de setembro de 2024

E estas também são flores…


 … embora não as olhemos do mesmo modo que aquelas que plantamos, regamos,  colhemos ou compramos.
Até preferíamos que ervas e flores daninhas nem aparecessem.

Porém, as abelhas querem-lhes bem porque sem flores - incluindo as bravias e espontâneas - não têm alimentos e não sobrevivem. 

E a humanidade, sem abelhas, também não.


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Ai flores, aí flores, do meu quintal!

 







E impossível não me lembrar desta cantiga de amigo, da autoria de D. Dinis.


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Gosto do silêncio, mas não podia ser monja!



A região do Douro tem paisagens inigualáveis. Vendo-as, à cabeça - consolados que ficam os olhos - vêm-me palavras como beleza, perfeição… 

E há lugares onde mora o profundo silêncio. Nada se ouve, talvez para se ver tudo melhor.

E eu, que gosto do silêncio,  penso para mim ao fim de algum tempo: também me faz falta ver pessoas. Não, não podia ser monja!!!

Isto ocorre-me talvez por aquelas belíssimas paisagens terem a marca da mão humana, reveladora de um trabalho quase divino.


sábado, 7 de setembro de 2024

Tanta coisa aconteceu neste verão!

 

Gosto de chuva mansa, sobretudo quando o quintal e o jardim precisam de água. E não só, é claro, porque a seca vai rasgando o manto da terra.

Fiquei contente quando vi os pingos de chuva a escorrer na janela. Era pouca, mais ou menos como quando o meu neto pega no restinho de água dos copos e deita nas plantas porque também têm sede como nós.

A terra com esta chuva não ficará saciada, mas, pelo menos, refrescada.

Talvez seja o outono a aproximar-se ou pingos de cansaço do verão cada vez mais quente.

Tanta coisa aconteceu neste verão. Felizmente, ainda há calma e paciência para se olharem os pingos de chuva, ainda que escassos.


Bom fim de semana!

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Queria ter coragem de desligar!


Sempre gostei de ver debates sobre os mais variados temas, nos quais também cabe a política.

Mas às vezes fico irritada com o que vejo e oiço (não só com o discurso deste governo!) e, se não mudo de canal, ainda mais irritada fico, sobretudo comigo própria.

Irrita-me, por exemplo, ouvir perguntas a políticos e estes desviarem-se habilmente do que é perguntado, respondendo com coisas vagas, atribuindo culpas aos antecessores, apregoando projetos  para o futuro, ou fazendo crer que tudo é ‘cristalino e transparente’, não se importando, porém, de tornar as coisas ainda mais opacas.

Também me irritam frases feitas que mais não são do que modos de chutar para canto problemas impopulares que não dão votos.

Por exemplo, o caso da privatização da TAP dava para uma tese. São tantos os argumentos, os contra-argumentos, as defesas, as acusações, as verdades de uns que são mentiras para outros tantos…

Outra afirmação que irrita é ouvir políticos acusados e, alegadamente, com provas, afirmar, angelicamente, que têm a consciência tranquila!!!!

E penso para mim própria: era bem melhor continuar a leitura do livro, ao menos, aprendia alguma coisa!

E penso também: ao longo da vida, vamos aprendendo tanto e uma coisa simples como desligar a televisão às vezes ainda custa!


quinta-feira, 5 de setembro de 2024

‘Avó, qual é o mais pior?’

 

Nestas férias, a minha neta - a Clarinha que vive em Londres - esteve cá bastante mais tempo do que é costume, por razões que estão no post anterior.

Eu cheguei a dizer que ‘há males que vêm por bem’, porque assim a Clarinha consolou-se de brincar com os primos e ficou a falar melhor em português. Ah, e aprendeu a andar melhor de bicicleta. Oh, happy days!

E foi captando muito do que ouvia. 

Um dia, perguntou- me: Ó avó, qual é o mais pior,  é dizer Poça!, ou dizer Fogo!?

Embora não goste muito de estar sempre a corrigi-la (até porque acho piada a certas expressões e não quero que se sinta constrangida), aproveitei para fazer a pergunta mais corretamente e ela repetiu ‘qual é o pior’…

Pois bem, pensei uns segundos e respondi:

- Eu acho que é Fogo!, querida.

De repente, ouviu os primos e foi a correr brincar com eles. 

E assim não me perguntou porquê!!!



quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Também gosto muito, disse eu!


 
Uma amiga partilhou esta canção comigo. 
Também gosto muito, disse-lhe eu.
Obrigada.


terça-feira, 3 de setembro de 2024

‘Ainda tenho tanta coisa que gostava de fazer!’


Com o início destas férias de verão veio um crescente cansaço e com ele os costumeiros comentários e conselhos:

- É do calor. Tens de descansar mais. Também não paras!

O melhor era mesmo fazer as análises já prescritas há bastante tempo. 

Por email, chegaram os resultados. No meio de letras e números pequeninos, apareciam os valores de uma anemia. Das grandes. 

Em poucos dias, sucederam-se exames. O primeiro -  colonscopia - deu logo o alerta.

Como é possível? Não doía nada! Tudo parecia normal.

Em casa, entravam palavras até então pouco usuais: ferro, consulta, hospital, internamento…

- E agora? E as vossas férias já marcadas?

E eu que não gosto nada de estragar a festa!

- Mãe, há prioridades. O que é preciso é resolver isto quanto antes.

E, num sábado de agosto, veio a cirurgia.

- Como se sente? Correu tudo bem!

Que bom, então.

E ontem a consulta sobre o que já se sabia  sobre o intruso no intestino, que, felizmente, deixou limpas as proximidades da área, onde se tinha instalado e donde foi retirado.

Que alívio!

Mas logo veio a comunicação (já esperada) de quimioterapia e, com ela, as necessárias explicações sobre esse tratamento preventivo.

- Concorda?

- Claro que sim, senhora doutora, se tem de ser…

É que gostava ainda de fazer tantas coisas!


Nota 1 - Façam(os) os exames que os médicos ou  o SNS aconselham. Embora nem sempre apeteça, pode ser que não tenhamos tantos percalços, e sejamos mais felizes, bem como aqueles que nós amamos e que nos amam também.


Nota 2 - Muita saúde para todos e festejemos  a beleza da luz de cada dia. 


domingo, 1 de setembro de 2024

Por falar em Escola…


 Apesar de terem passado muitos anos, tenho  bem presente o meu tempo de conselho diretivo numa escola secundária. As minhas filhas eram muito pequenas e eram quase sempre as últimas a sair da escola (privada que frequentaram até ao quarto ano, passando, depois, para o ensino público até final dos cursos), porque o trabalho na escola parecia multiplicar- se.

Apesar de muito trabalho, tanto na escola como em casa, foram quatro anos que me trouxeram muita felicidade, apesar de muitos constrangimentos. Nesse tempo, as equipas  que geriam as escolas eram eleitas por todos os docentes, ao contrário de agora em que a eleição é feita por um conselho de representantes da comunidade escolar e educativa.

 Nesse tempo, para gerir a escola, não era necessário ter cursos específicos de gestão escolar. Valia-nos o gosto pela boa gestão e harmonia daquela comunidade para a qual havia muito trabalho comum. Ah, e um grande amor ‘pela camisola’. No entanto, sou a favor de cursos de maior especialização.

Os serviços não estavam informatizados como agora. Com tentativas e erros, trabalhávamos no sentido da melhoria dos diferentes setores. Por exemplo, ver os equipamentos da cantina mais modernos foi uma alegria, porque, assim, alunos, professores e funcionários passariam a ter melhores condições de trabalho e de utilização.

Uma área que muito fascinava era ver sucessos dos alunos, fossem eles na avaliação, na participação em atividades, etc., áreas em que muitos professores se empenhavam de alma e coração e em que funcionários também colaboravam.

Foi um tempo de grande entusiasmo e aprendizagem, embora momentos menos bons também existissem, como é natural, e que tentávamos superar.

Em todos os tempos, a gestão escolar - quando desenvolvida de porta aberta - não é fácil e a exigência sempre foi crescente.

Conheço muitos casos de grande dedicação e competência, tanto do passado como no presente. Possa assim continuar porque a vida da escola é um mundo.

 E todos esperam e desejam um Mundo em progresso e sempre melhor.


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Eu não, obrigada!

 

Não sei se está a ser aceite ou não a proposta do governo de os professores reformados poderem continuar a dar aulas. Pode até ser uma medida que ajude a resolver o grande problema da falta de professores, mas parece-me que revela desconhecimento da vida das escolas, por parte dos decisores, 

Quase todos os professores em final de carreira e, sentindo grande cansaço, anseiam por vir para casa e fazer outras coisas para as quais não tinham tido tempo enquanto lecionavam. 

Ora, querer continuar na escola ou a ela voltar implica que os professores em fim de carreira gostem muito da escola, que o seu trabalho seja reconhecido pela direção e pela comunidade; o salário seja estimulante e saibam claramente o que vão fazer.

Para juntar a este leque, existirão, por certo, alunos, que, logo no primeiro contacto, dirão: mais um velhote.

Também os colegas mais jovens olharão (desculpem se tal não acontece) a generalidade dos já reformados como seres muito dependentes da escola, mas que pouco sabem de coisas fundamentais nos nossos dias como são as novas tecnologias.

A classe docente está bastante envelhecida e os que amam a Escola e a Educação gostariam de ver mais jovens a ingressar na profissão docente, mas será que fazer mais sacrifícios e ter mais constrangimentos depois de tantos anos de trabalho vale a pena?

Não conheço ninguém que vá continuar na escola após a reforma, mas, se houver professores que o façam, parabéns pela força e coragem.

No entanto, conheço docentes que continuam na escola, não para dar aulas, mas em funções ligadas, nomeadamente, à arte, à ciência, às bibliotecas…. Nesse caso, poderá ser estimulante, mas, mesmo assim, só se for compensador e uma mais-valia pessoal.

Vou repetir uma ideia já por demais dita e redita:

Deixem-nos descansar, deixem-nos viver sem cumprir tantas obrigações. Sem o tic-tac do relógio, que torna a vida ainda mais breve. 

A menos que a vida seja, assim, mais feliz, mas, nas circunstâncias atuais, não me parece.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Ouvir falar muito também cansa!


O post anterior era um diálogo entre duas pessoas - uma não sabia ouvir os outros e preferia falar, faltando-lhe empatia para ver que estava a ser incómoda pela situação frágil de quem estava do outro lado, recém-operada, e que precisava de descanso e não  de ouvir longas peripécias.

Todos conhecemos pessoas assim: esquecem-se - mesmo sem querer e sem ser por mal - das necessitadas da pessoa com quem estão a interagir e não descolam de si. Muitos de nós somos assim, em diferentes doses. Também me acontece, infelizmente,  e  fico triste quando caio em mim.

O amigo JR até pensou que era piada e fez-me voltar ao texto. Podia ser graça, mas existem situações idênticas. Alguém está doente, mas o interlocutor acha que esteve ou está ainda pior, contando todos os pormenores como se fossem únicos.

Faz lembrar o ‘Não se esqueça do que vai dizer’, intercalando um longo relato de algo que se passou e que, facilmente, faz cair o que ia ser dito pela outra pessoa.

Ouvimo-nos muito mais a nós do que às outras pessoas. Muitas vezes falamos mais do que ouvimos. Nalguns casos, até nem é grave; noutros, é uma seca que só com muito controle não seca a paciência!!! Ou provoca ainda mais cansaço a quem precisa de o vencer.


sábado, 24 de agosto de 2024

Está melhorzinha?


Ex-doente  - Então, está melhorzinha?

Doente - Obrigada. Para já, está a correr bem, mas continuo cansada, sobretudo quando falo.

Ex - Foi como eu quando fui operada há uns anos. A recuperação foi tão complicada! Nem imagina. Ainda agora o sinto só de pensar nisso, Até me custava falar. Eu bem queria, mas tinha muita dificuldade!. Sabe o que eu fazia? Às vezes, recorria aos gestos. Imagine como eu estava.

D. - A mim, o cansaço ainda não me largou.

Ex. - Eu sei. Oh, se sei, porque já passei por elas. E de que maneira! E, agora, as coisas estão mais facilitadas; no meu tempo, sofria-se mais. O que me valeu foi o meu médico. Ele é um grande especialista. O consultório dele é em Gaia e com vista para o rio. Um luxo de consultório e um luxo de médico. Só me zanguei um bocadinho com ele uma vez. Eu estava tão mal, tão mal que o chamei a casa, já depois da operação, e ele disse-me que não podia vir. Nem imagina como fiquei.

D. -, Em breve, vou ficar sem bateria.

Ex. - Eu também não demoro. É só mais um bocadinho. Voltando ao médico, eu disse-lhe que quem segue esta profissão tem de estar disponível para quem chama porque está  a sofrer. Sabe que não me respondeu! É porque enfiou a carapuça, não acha? Diz-se que quem cala consente, não é verdade?

D. - Desculpe, a minha bateria vai mesmo terminar e, para além disso, estou mesmo cansada. Ade…

Ex - Para os seus botões: 

Tirei uma  boa parte da tarde para falar com ela, até me encostei às almofadas para conversar durante mais tempo e para não me cansar, e, afinal, nem sequer se dignou levantar-se para pôr o telefone a carregar. As pessoas são cada vez menos generosas e mais egoístas. Só pensam em si! Que mundo este!


terça-feira, 20 de agosto de 2024

Eu amo-o, senhora enfermeira!


Do que Alcina menos gostava no hospital era das noites Custava-lhe a luz forte e comprida da parede em frente, que ficava acesa até muito tarde. Também a vozearia das enfermeiras e das auxiliares a perturbava.  Porém, não fazia críticas, porque, desde pequena, a isso não fora habituada e a reação implicava sempre ralhetes e o pior era fazerem-lhe crer que ela não tinha direito a opinião.

Nesses momentos, fechava os olhos, parecia dormir, mas estava bem acordada. Deixava fluir o pensamento, com muitos avanços e recuos. Era então que muitos dias do passado lhe afloravam ao pensamento. E lá se desenhavam momentos sem nenhuma cor de qualquer carinho. Vinham também monólogos antigos que não deixavam tempo nem permissão para qualquer resposta ou defesa.

E a falta que lhe faziam mimos, beijos e abraços. Se ao menos tivesse  tido uma tia ou uma avó que a acarinhassem, mas nem isso!

Só o médico que a acompanhava no hospital parecia compreendê-la. Mais vale tarde do que nunca - pensava ela. Ele tratava-a pelo nome, ouvia-a e olhava-a com atenção e ela sentia que era bom ter nascido.

Numa noite, em que as insónias a faziam virar e revirar na cama vezes sem conta, já com dores no corpo e no pensamento, a mão premiu, repentinamente, a campainha de chamada.

A enfermeira de serviço entrou, acendeu a luz e perguntou:

- Quem tocou?

- Fui eu - disse D. Alcina,  com voz fraca e quebrada. 

- O que se passa? De que precisa? 

- Peço  desculpa, senhora enfermeira, mas eu amo-o.

- Não entendi - respondeu a enfermeira, conchegando-lhe a roupa da cama, enquanto perguntava apressada e perplexa:

- Você gosta de quem?

D. Alcina, olhando-a, pensou: ‘você’ não entenderia e disse, fechando os olhos:

- Desculpe, senhora enfermeira, estava a sonhar!! 


domingo, 18 de agosto de 2024

Senhor doutor, mande-me embora!

 

O médico, simpático como sempre, chegou à enfermaria para falar com a doente da cama 10, perto da porta. Pergunta daqui, resposta dali, chegou a boa notícia: Como estava tudo a correr como esperado, a doente ia ter alta nesse dia.

A cama já estava feita de lavado, mas outra pessoa a ocuparia.

Após a boa notícia, aumentaram os sorrisos de alegria, mas, da cama próxima da janela, veio um pedido, de resiliência calma mas não calada:

- Senhor doutor, mande-me embora!

O médico, olhando-lhe o rosto magríssimo e meigo,  disse:

- Já imaginou que podia não estar aqui?

A senhora, de corpo quase sumido, esboçou um sorriso e foi olhando para o programa que estava a dar na televisão. Também ia olhando pela janela. Como se procurasse prazeres imaginários de agosto que desgostos lhe tinha trazido. Felizmente ainda estava ali para os desafiar.


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A enfermeira

 

Quando a enfermeira chegou à enfermaria, logo pareceu empática. Sem falar alto, sem chamar minha querida, meu amor… sem infantilizações, sugeriu um  passeiinho pelo corredor, não sem antes ensinar exercícios de respiração - inspiração seguida de expiração.

Ajudou-a a levantar do cadeirão, deu-lhe o braço e daí a muito pouco, estavam a caminhar pelo corredor e a conversar. Na conversa, entrou o mar que se via das janelas do outro lado do corredor,  sem muita nitidez, por causa do nevoeiro.

Voltou dois dias depois e repetiu alguns dos exercícios da sua especialidade: enfermeira de reabilitação.

De novo no cadeirão, para descansar um pouco, a doente ia pensando que o SNS tem serviços muito úteis, muitos deles criados há anos, mas pouco conhecidos. E deles pouco se fala. Porém, em todos os tempos se apregoa muita coisa que, de utilidade, só fica o eco, 


quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Estou (quase) de volta, e o tempo é de compra de beijinhos e abracinhos!


Os últimos dias foram diferentes para mim. Nem sei se hei de dizer ‘felizmente ‘ ou ‘infelizmente’. Em breve, vou explicando através de peripécias quotidianas destes dias.

Antes de recomeçar, deixem-me só falar um bocadinho de imagens que vejo de rentrées políticas, comícios, campanhas, etc.


Aqui vão algumas impressões, que são fruta da época:


Deixai vir a mim as criancinhas, os abraços e os beijinhos

Não há campanha, comício ou rentrée política em que não haja crianças pegadas ao colo, entre muitos sorrisos e muitos desejos de prolongado poder, pelos políticos que assim angariam simpatias e votos. Grão a grão… 

A família, vendo o gesto, mesmo que não pense no assunto de imediato, na hora do voto,   procura o quadradinho certo para pôr a cruzinha no partido que mimou a sua criança.

E os abraços correspondidos são também garantia de votos a entrar na urna. O mesmo se passa com os beijinhos.

Estou a imaginar esses políticos, no final do dia, a chegar a casa ou ao quarto do hotel a despir-se da roupa supostamente cheia de micróbios e impregnada de maus cheiros. É natural que o dr Montenegro demore mais um bocadinho nessa tarefa, porque as calças são quase sempre muito apertadinhas! A fase seguinte é o banho, nesses dias mais prolongado do que o habitual.

E, olhando os palanques, vejo mulheres extasiadas, homens folgazões, velhos sem perceber a razão de estarem ali, jovens a bocejar, políticos a repetir ‘sinceramente’, ‘humildade’, ‘vergonha’, etc e etc.

E já que estamos no querido mês de agosto, vêm-me à memória canções que se cantam porque, com elas, muitos males se espantam e, assim, não se pensa em tanta promessa incumprida em muito comício desta vida!


Aqui vai uma, mas há outras mais pimba e igualmente engraçadas e que, implícita ou explicitamente, cumprem a função.


‘Ora dá cá outro, toma lá um beijinho….’



quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Até breve!

 

Queridos amigos,

Durante uns dias, não virei aqui partilhar algumas coisas do dia a dia, como tanto gosto.

Obrigada pelas visitas e pelas mensagens. 

Feliz verão!

Um abraço e até breve! 


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Onde está o meu Sal?

 

O carro entrou no pátio, ela saiu a sorrir e, voltando-se para o jardim onde estavam meninos e uma educadora, perguntou: onde está o meu Sal?

E logo me lembrei da história do homem que tinha três filhas e da tristeza enfurecida que sentiu quando a prova de amor de uma delas foi que o amava como a comida ama o sal (ainda não tinha chegado o tempo da necessária redução de sal na alimentação).

Com estes pensamentos, eu ia ouvindo: Onde está o meu Sal? Com aquele sorriso feliz de quem vai buscar o neto à escola para o mimar alegremente.

Para temperar a sua vida, ou até salvá-la, quem sabe, não tivesse o menino de seu nome Salvador.