domingo, 9 de junho de 2024

Vou votar em mobilidade

 

Hoje é dia de eleições europeias.. E vou votar, é claro, como sempre tenho feito. Acho que, desde que vivemos em democracia, só não votei uma vez. 

Acho bem que tenham pensado em alternativas para a escolha do local de voto, não só por causa dos feriados, mas porque pode motivar mais à participação, tornando o ato mais natural e menos rígido.

Estou até com alguma curiosidade para ver como funciona.

Logo às oito da noite, conto estar atenta para saber se as sondagens acertaram ou se foram apenas sondagens, como dizem os políticos quando os resultados não agradam ou querem conter o entusiasmo.

Tenho as minhas convicções e espero que a minha candidatura preferida ganhe. Se não ganhar, paciência, embora preferisse a vitória. O que é preciso é que quem for para o parlamento europeu continue a defender direitos e deveres, como, no geral,  foi proclamado na campanha eleitoral, para que na humanidade haja avanços e não retrocessos. 

Dos candidatos,  lamento, porém, a presença do velho senhor, que é ou já foi velejador, não pela idade, mas pelas ideias que defende e que se move em águas de desventura.

Quando o dia começar a declinar, veremos os resultados. 

Convinha era não haver outras eleições em breve, senão, mesmo com mobilidade, ganha a vontade de desmobilizar.


sexta-feira, 7 de junho de 2024

Que calor!

 

Digo também: ‘Que calor!’ Mas não me posso queixar! Não tenho de entrar em autocarros cheios, nem comboios a abarrotar, nem andar a pé e à pressa para chegar a horas ao emprego, nem trabalhar em lugares quentes com pessoas frias que ainda ficam mais frias com o excesso de calor…

Entre o dia de ontem e o dia de amanhã, intercalou-se um dia de calor que, dizem as previsões, arrasta poeiras, desaba em chuvas e rebenta trovoadas. Desde pequena, que relâmpagos e trovões me apavoram. 

Em criança, ouvia repetidamente que as trovoadas eram castigos de Deus pelos pecados cometidos. Com os ensinamentos da vida, fui-me afastando dessa noção de Deus castigador, ideia que, tantas vezes, servia para aumentar ou calar outros grandes medos quando a liberdade era muito pequenina.

Mas, pelo que se ouve e sabe, mesmo empiricamente, muitas tempestades atuais resultam da acumulação de erros de muita gente e ao longo de muito tempo. 

Iremos ainda a tempo de reduzir problemas como o excesso de calor e outros fenómenos climáticos que atingem e adoecem os diferentes continentes?

Ser otimista, também neste caso, poderá ser estimulante para se melhorar o que se faz, ou que ainda não se faz e que, facilmente, se pode fazer para benefício de todos e de cada um.

E para que não se diga, aflitivamente, em tantos sítios do mundo: Que calor!


quarta-feira, 5 de junho de 2024

Despojamento

 

Hoje passei uma boa parte da manhã a arrumar uma divisão da casa  que já estava à espera disso há muito tempo. Eu, pelo menos, estava, mas demorou a começar: umas vezes porque não havia tempo, outras, porque faltava vontade…

E, como estamos no tempo das cerejas (hoje comi algumas e souberam-me muito bem), umas coisas puxam outras. Recuei então ao tempo em que as minhas filhas eram pequenas e passávamos férias no Algarve. Tínhamos um Mini, onde cabíamos os quatro, mais as malas, mais uns sacos, mais um lanche e garrafas de água…

Nessa época, eu tinha o fraquinho pelo artesanato do Alentejo e por cestos em vime do Algarve.

Portanto, na viagem de regresso, o pobre do Mini aguentava também com cestos algarvios (alguns ainda duram) não muito pequenos e pratos ou outras peças do Redondo, que ainda conservo, embora já tenha dado algumas.

Ah, e da zona de Almeirim, ainda trazíamos um melão ou melancia e pequeninas abóboras decorativas.

E não havia autoestrada nem ar condicionado. Nem telemóveis. Saiamos de madrugada e, ainda assim, apanhávamos filas intermináveis. Éramos jovens, os perigos espreitavam, mas quase não os víamos.

Era o tempo da acumulação de objetos. Vou-me despojando, no entanto, de algumas coisas e não sinto vontade de ocupar esses lugares que ficaram vazios. 

Agora, procuro rentabilizar o que tenho. E, quando faço arrumações, vou separando coisas para dar, para levar à loja social, para conservar pelo valor afetivo que algumas coisas têm…

E, apesar de achar que agora um Mini seria demasiado pequeno, cada vez gosto mais da palavra despojamento.


terça-feira, 4 de junho de 2024

Os biscoitos souvenir


Sempre que eu ia a Londres, trazia uns biscoitos ou bombons para a minha mãe. De preferência em caixa ou lata bonita, que também valorizava. E depois sempre lhe arranjava serventia.

Agora, que já cá não está, quando vou e antes de eu regressar, vem-me sempre à memória essa necessidade que criei e que parece estar ainda presente. Apesar de preferir não trazer sacos no avião, para além da carteira, mesmo no aeroporto, dou comigo a pensar nos biscoitos souvenir para a minha mãe. Caio ‘na real’, lembrando-me que já não.

Um vez, juntamente com os biscoitos sempre bem-vindos, trouxe um postal com uma foto da rainha, que tinha a idade da minha mãe, e de quem a minha mãe era uma grande fã. Outras vezes, trazia pagelas de santos de uma qualquer igreja aonde eu entrasse. Ela recebia estes objetos, acarinhando-os, como se fossem únicos.

Também cheguei a trazer-lhe sementes, que ela, com os seus cuidados, ajudava a crescer e a florir, aproveitando bocadinhos de terra livre, como tantas vezes se vê em Londres, cidade que nunca visitou.



segunda-feira, 3 de junho de 2024

A guia

 

Era tarde de sábado, não chovia, o que era bom para fazermos a visita guiada já marcada à City, em Londres.

Chegámos ao ponto de encontro - de vários grupos para diferentes visitas - bem perto da majestosa Torre de Londres. Como ainda faltavam alguns minutos e um espaço verde se estendia ao nosso lado, o mais pequenino começou logo a correr na relva e a mais crescida a fazer a roda, toda consolada.

Chegaram as catorze horas - a mesma hora no Porto, como dizem nos aviões - e aproximámo-nos de uma guia. Sim, seria ela a guia da visita à City.  Éramos doze visitantes, incluindo as nossas duas crianças. 

Começámos por uma zona muito antiga, onde em séculos anteriores vivia muita gente que acabou por morrer ou afastar-se devido ao grande incêndio de Londres, ou à chegada do comboio, ou à primeira guerra mundial.

Ora, a este texto dei o título ‘A guia’ e ainda não falei dela. Pois bem, teria uns sessenta anos, era muito expressiva, parecia bem informada e tinha sentido de humor. Ah, e fazia muitos gestos com as mãos pequenas e magras, sobressaindo as unhas muito compridas. Usava gabardina preta e, ao ombro, um saco vermelho de tecido, já bastante usado e que nunca saía do sítio.

Como eu gostaria de ter percebido muito mais do que ela dizia. Às vezes, quando as pessoas se riam, eu apenas sorria por simpatia. O que vale é que a minha filha que vive em Londres ia-me fazendo o ponto da situação.

Circulando entre os edifícios modernistas, espelhados e altíssimos, fomos sabendo também que há alguns que deviam ser implodidos, mas que não o são por falta de espaço. 

No final, a guia, que havia sido professora, elogiou o comportamento dos nossos meninos. Ficámos contentes. 

Sabe elogiar e olhar para todos enquanto comunica, pensei eu.

Terminámos a visita numa praça bonita, onde, no subsolo, havia ruínas romanas. A guia despediu-se de todos com o sorriso que sempre manteve ao longo das duas horas sempre a comunicar e imaginei-a a chegar a casa e a estender os braços e as pernas no sofá-alivio.

Felizmente na praça também havia bancos e logo procurei um. Que bom poder descansar um bocadinho, pensava eu, enquanto a minha neta aproveitava a praça com pouca gente para correr e fazer a roda. Que bom poder fazer mais movimento, pensaria ela. 



Fui à primeira sessão e gostei muito

 


sábado, 1 de junho de 2024

Acho que em Portugal não aconteceria!

 

Há uns dias, uma senhora velhinha e muito frágil foi a um Centro de Saúde a poucos quilómetros do centro de Londres. Dirigiu-se ao balcão e disse ao que ia: sentia-se doente e queria marcar uma consulta. Ouviram o pedido e a resposta foi:

- Desculpe, mas não podemos marcar consultas aqui ao balcão. Tem de o fazer online. 

A velhinha disse que tinha dificuldades em fazê-lo desse modo.

Poderia então pedir ajuda a alguém - responderam-lhe.

A senhora velhinha foi-se embora, muito mais triste e fragilizada do que tinha chegado.


Apesar de todas as críticas ao SNS em Portugal, vindas de diferentes setores e agudizadas por ideias que na Campanha eleitoral são repetidas, acho que tal não se passaria e a consulta seria marcada.

Oxalá eu tenha razão no que estou a dizer. E sobretudo que continue a haver cada vez mais razões para que quem precisa de ajuda tão premente não seja despachado com indiferença o que, em idades mais avançadas, aumenta a dor da solidão.


sexta-feira, 31 de maio de 2024

Como se eu tivesse oito anos

 

O meu pai lê muito e muito bem. A minha mãe também, mas à noite é o meu pai que costuma ler para mim. Deito-me e só adormeço depois de ouvir a história. Há muito tempo que andamos a ler Harry Potter. Adoro tudo o que é Harry Potter. Ano passado, oferecemos um livro, em português, do Harry Potter à minha avó. Ela gostou muito, mas disse que a letra era muito pequenina.

Eu já sei ler há muito tempo, mas adoro à noite estarmos os três a ler ou a ouvir ler um livro. Já é assim, desde muito pequenina. Deve ser por eu gostar tanto que a minha mãe às vezes diz que não há leitura de história à noite, quando ralha comigo por qualquer coisa que fiz mal, mas acaba por desculpar e leem na mesma um livro. Eu acho que os meus pais também gostam muito daquele bocadinho em que estamos os três juntos para a leitura, antes de eu dormir.

Quando a minha avó nos vê assim, diz que é muito bonito e que é por isso que eu gosto de ler. Não sei se é, mas gosto muito de ler e também de cantar e de ver vídeos no meu iPad e da escola e da natação… Do que não gosto tanto é de tocar piano, mas o meu pai insiste. Se eu soubesse magia como no Harry Potter, havia de convencê-lo a não insistir tanto, mas como não sei, tenho mesmo de tocar,

O que vale é que todas as noites, sei que vou estar quentinha e feliz na minha cama a ouvir ler uma história,


quinta-feira, 30 de maio de 2024

De dentro para fora - diferentes formas de calor

 

Quando chegámos a Londres, chovia com abundância. Em Portugal, as temperaturas altas levavam muita gente para o bronze ou frescura da praia. Sol e maresia a consolar o corpo e a alma.

Mas eu, que se calhar sou meio esquisita, gostei de ouvir a chuva nas janelas do avião. Seria assim depois da viagem de comboio e já em casa da minha filha?

Tínhamos partido cedo e já havia fome. De estarmos todos juntos e também de almoçar.

E se fôssemos ao restaurante libanês? Todos concordaram.

Comida saborosa, mediterrânica, colorida…

Depois da caminhada a pé, chegámos a casa. Com as malas e com sol, ainda que tímido mas bonito. E veio o dilema: ficar em casa ou aproveitar o tempo do resto da tarde para um passeio ou visita. 

Vamos andar de barco?

Vamos a um parque?

Acabámos por ficar em casa a ouvir a chuva que voltou, a sentir a preguiça boa de poder estar no sofá, conversando, uns quase dormitando…

Entretanto, reparei que o fogão precisava de limpeza e o frigorífico de alguma arrumação. Sem dizer nada,  meti mãos à obra. Entretanto, a menina tinha afastado os seus castelos de legos para que o primo mais pequenino não os desfizesse. E era uma correria: o mais pequenino que queria chegar aos castelos e a mais crescida que logo ia atrás dele como boa castelã e guardiã.

No dia seguinte, haveria programa mais completo.

No nosso país, tinha ficado a campanha eleitoral das europeias. E muito calor.

Aqui, em país que saiu da Europa, havia outra forma boa de calor. 


terça-feira, 28 de maio de 2024

Palavras ditas ou não ditas

 

Dizer alguma coisa, por pouco que seja, em muitas circunstâncias, ainda que simples, é correr riscos. No entanto, não dizer nada também pode trazer consequências.

Considero cada vez mais difícil atingir o equilíbrio, isto é, dizer as palavras  certas no momento certo e saber calá-las, quando desnecessárias. E, às vezes, as palavras, ainda que aparentemente anódinas, ferem e marcam algumas sensibilidades, ainda que sejam proferidas naturalmente e sem má intenção.

Recordo-me de algumas situações - poucas, felizmente - em que umas tantas palavras me escorregaram e a outra pessoa reagiu, por exemplo, pelo silêncio, que pune mais do que muitas palavras.

Se, para algumas pessoas, não custa  nada ver que alguém ficou melindrado com alguma palavra; para outras, pode aumentar tristeza e até solidão, sobretudo se a educação foi mais acusatória do que benevolente.

Será lugar comum dizer-se que o ser humano é complexo. Bem mais do que algumas situações, aparentemente simples, que complicamos  - quando dizemos ou escutamos alguma coisa que, no momento, não nos cai no goto. Também não fujo à regra, é claro.


segunda-feira, 27 de maio de 2024

Este é o tempo da hidrângea ou hidranja ou hortênsia …

 





Elogio versus crítica

 

O tempo em que nasci e vivi durante anos era avesso aos elogios, ou melhor, estes nem eram lembrados porque quem o poderia e deveria fazer também pouco ou nada os tinha ouvido.

E a falta de elogios deixa mazelas. Conheço vários casos de sofrimento ao longo da vida por não ter havido, durante a fase de crescimento, um sorriso de empatia, uma palavra elogiosa, o reconhecimento de que algo estava bem feito.

Se as coisas corriam mal, havia críticas fortes; se as coisas corriam bem, nada se dizia porque assim tinha de ser e nada havia a acrescentar.

E como cada ser humano é diferente e complexo, muitos dos que sempre ouviram críticas e nunca elogios mantiveram essas práticas para com os mais próximos; enquanto outros passaram a dizer que sim a tudo para que o pesadelo vivido não se repercutisse nos seus descendentes.

Muitas inseguranças se geraram pela ausência permanente do elogio e pela mais que certa crítica por tudo e por nada.

É por estas e por outras que precisamos cada vez mais de reconhecer o que os outros fazem de bom para sermos todos um bocadinho mais felizes!


domingo, 26 de maio de 2024

O ‘não fez nada’ está na moda


Pelo menos desde que a atual ministra do trabalho criticou duramente Ana Jorge por não ter feito nada na Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, já ouvi até jornalistas a dizer que fulano ou fulana de tal não fez nada no cargo que exercia.

Não estou lá para ver, mas custa-me bastante aceitar que uma equipa não faça nada. Pode ficar aquém das expectativas, não ter resolvido problemas essenciais, mas dizer que não se fez nada é, muitas vezes, uma forma de puxar a cadeira para que outra pessoa se sente nela o mais depressa possível. Se a moda pega, nem é preciso arranjar muitas justificações - dizer e repetir que alguém não fez nada no cargo é o pontapé para saída da pessoa que se quer ver substituída e não o pontapé de saída para se conhecer a realidade.

A moda não se ficará só pela política. E nem são precisos muitos adereços: basta poder e alguma arrogância.

Recordo-me de ter ouvido um dia uma professora dizer desesperada, depois de um momento difícil na sala de aula: ‘Não valho nada’.

Sentir que não se vale nada será muito diferente de ouvir que não se fez nada?


sexta-feira, 24 de maio de 2024

O pássaro num fio

 

O pássaro que acabei de ver pela janela. Já desapareceu. Fez bem. Há parar e voar!



Há mar e mar…


‘Há mar e mar, há ir e voltar’ 
Alexandre O’Neil







domingo, 19 de maio de 2024

Mais um problema para alguns professores

 

Felizmente aconteceu-me poucas vezes, mas houve alturas em que ouvi alunos a dizer: ‘Eu digo o que eu quiser, porque há liberdade’

Para responder com eficácia nessas ocasiões, não há modelos e mesmo o que se diz pode ser bom para uns e o contrário para outros, o que é natural.

Continuo a ter muito mais dúvidas do que certezas sobre muitas coisas e sobre esta também. Como vivi também no tempo em que não havia liberdade de expressão, defendo que esta tem de existir, mas deve haver o cuidado de não se ofender nem amesquinhar seja quem for.

Isto tem a ver com o que se passou recentemente na Assembleia da República, cujo presidente defendeu que tudo pode ser dito na ‘Casa da Democracia ‘, uma vez que há outros escrutínios.

Como houve bastante ruído em relação a este episódio, JPAB já argumentou em sua defesa, mantendo a posição tomada. Ele estará no seu direito, mas, na minha opinião, crescerá o número de alunos a afirmar: ‘Posso dizer o que eu quiser, porque há liberdade’. 

Se tal acontecer, esses professores sentir-se-ão mais indefesos e sós. Viver em liberdade é um dos maiores bens humanos, mas ver pessoas tristes não celebra o seu sabor.


sábado, 18 de maio de 2024

Hoje comecei o meu dia a olhar flores

 




Ainda não eram oito da manhã quando saí de casa. Minutos depois, noutro espaço, onde vivem muitas árvores,  podia olhar e fotografar algumas flores - que estão ao sol e à chuva. E as rosas, apesar de mais imperfeitas e rugosas do que as de estufas, têm perfume e as cores são vivas.
E há pequenas margaridas a irromper na relva com muitas ervas daninhas à mistura. 
E há um banco comprido que chama para um pouco de descanso, mas que não é ouvido e continua só a maior parte do tempo. Quando está vento, as camélias dançam e fazem-lhe festas nas costas.
Chuviscava e afastei-me.
Quando voltei a casa, vi as fotos. E sentei-me no banco comprido com o olhar mais descansado.


quinta-feira, 16 de maio de 2024

Quem fala assim não está afónico!

 

Tenho seguido, ainda que de forma intermitente, o caso da exoneração de Ana Jorge da Santa Casa da Misericórdia. 

Tinha visto a entrevista com a ministra do trabalho e solidariedade em que disse e repetiu que a ex-provedora não tinha feito nada no cargo e a acusava de inação. Falava de rosto fechado, com secura e ar cáustico de justiceira.

Vi depois Ana Jorge a defender-se com muitos números à mistura, muita citação de documentos, tudo com alguma lentidão, o que já mostrou ser característica sua, como é fechar os olhos de vez em quando, o que não a revela desempoeirada, ainda que séria.

Fiquei com curiosidade e quis ver e ouvir as explicações da atual ministra. E, pelas seis da tarde, estava eu no sofá, com um trabalhinho nas mãos, para ver e ouvir o que pudesse. 

Aparece então a ministra, saúda ‘afavelmente’, como referiu, os interlocutores, diz que está constipada e pode ficar afónica e expõe longamente factos, documentos, números, etc, que incriminam Ana Jorge e, no seu entender, justificam a exoneração.

Retive sobretudo a forma veloz de se expressar, a capacidade de argumentar durante umas duas horas, sempre a encostar com força a ex-provedora às cordas. Havia momentos quase de êxtase crítico do poder, embora tivesse dito que sabe que este é finito.

Não vi tudo, mas não me lembro de ouvir referir uma única coisa que a ex-provedora tivesse feito bem. Quem fala assim achará que é perfeito e devem-lho ter incutido desde tenra idade. 

Crucificar assim alguém na praça pública, ainda que tenha cometido erros de gestão, nem parece de alguém em cujo título está a palavra solidariedade.

No final da audição, referiu, ufana e vigorosamente, o nome do novo provedor da Santa Casa, como um trunfo que só ela detinha. Minutos depois, era noticiado que  o nomeado, Paulo Alexandre Sousa, já teve problemas num banco onde trabalhou em Moçambique, tendo tido uma sanção pesada.

Uma Santa Casa de santos ou pecadores?



Nota de hoje, 6a f:

Dizem as notícias que, após recurso, o tribunal deu razão ao provedor agora nomeado. 

Vá-se lá saber a razão de tal trabalho num banco em Moçambique ter sido omitido pela ministra no currículo que evidenciou do provedor. 

Se me permitem a ironia: isso ficou por dizer por causa da possível afonia!



terça-feira, 14 de maio de 2024

O aeroporto e a churrasqueira

 

Estive a ver as notícias sobre o anúncio da construção do novo aeroporto e, logo a seguir, passou uma reportagem em Alcochete, local escolhido para o efeito. As pessoas interrogadas mostravam agrado pela escolha e estavam confiantes sobre o desenvolvimento mais que provável que o aeroporto traria consigo. Num diálogo curto com um habitante, o jornalista perguntou se não o incomodaria o ruído dos aviões e logo se ouviu a resposta: que não, de maneira nenhuma.

Ora, recuei umas dezenas de anos e dei comigo no apartamento onde vivi durante os meus primeiros cinco anos de casamento. Um dia, tivemos a notícia de que em breve haveria uma churrasqueira na loja que dava para a rua, mesmo por baixo do nosso apartamento. Ficámos radiantes. Quando chegássemos tarde do trabalho ou não apetecesse cozinhar, o problema estava resolvido. 

Pois bem, a churrasqueira abriu e a alegria continuava. Não sabíamos era que essa alegria seria breve. Os dias foram passando e o fumo voando e passando na minha varanda. O tempo não contemplava as exigências atuais, por isso o cheiro e o fumo mantinham-se e circulavam à vontade. O meu dia mais feliz da semana passou a ser a segunda-feira porque a loja estava fechada.

O tal senhor de Alcochete, que diz não se importar com o ruído dos aviões, ainda  vai poder desejá-los durante muito tempo, porque construir um aeroporto não é a mesma coisa que abrir uma churrasqueira.

Se não for vegetariano, ainda poderá comer sossegadamente muitas vezes frango no churrasco. E o melhor é aproveitar enquanto não chegam os ruídos dos desejados, porque não faltará ocasião para dizer, enquanto tapa os ouvidos: parem  de chatear o Camões!


segunda-feira, 13 de maio de 2024

Por falar em cores

 

Desde que me conheço, em nossa casa sempre vi entusiasmo pelo FCP. Já casada e com filhas adolescentes, cheguei a ser sócia e a assistir a alguns jogos. Eu própria me surpreendia com o entusiasmo que exteriorizava e me fazia levantar bem alto o cachecol azul e branco que levava comigo e que se juntava a tantos outros na cor e calor da festa.

As minhas filhas iam também muitas vezes aos jogos e era vê-las muito jovens, alegres e bonitas com os cachecóis azuis amarrados à cintura.  Com o tempo, elas  foram perdendo o entusiasmo e agora só sabem aquilo que os media anunciam, repetem e toda a gente conhece. 

No meu caso, há anos que não vou ao Dragão nem a outro campo qualquer, mas continuo a ser adepta do FCP - um pouco como quando se diz ‘sou católico mas não praticante’. Nem sequer conheço o nome de todos os jogadores, mas as vitórias do FCP continuam a dar-me alegria.

Porém, estas feias macacadas muito faladas recentemente - embora já muito antigas - e ontem ainda mais divulgadas envergonham - ou deviam envergonhar - quem as pratica e quem as apoia. Infelizmente uns e outros já estão tão habituados a esses esquemas de ilícitos lucros dourados que nem param para refletir ou mudar.

Ainda bem que algumas coisas poderão mudar com a nova direção do clube, mas vai ser tarefa muito difícil porque árvores muito enraizadas custam a arrancar.

E como seria bom, mesmo arrumados os (meus) cachecóis, ter a alegria de ver o clube sem esta péssima, continuada e alargada macacada de ‘bilhetes dourados’. Seria oiro sobre azul.