terça-feira, 1 de dezembro de 2020

E hoje morreu Eduardo Lourenço!



 

Partilho o endereço de uma entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Eduardo Lourenço e a um grande amigo do Filósofo, Pensador, Escritor..., José Augusto França.

Vale a pena ler, apesar de a entrevista já ter algum tempo. 

Pela mão da jornalista, ficamos a conhecer uma boa parte da vida, da obra de ambos, da cultura portuguesa e europeia que os dois intelectuais conheceram de perto, nomeadamente Eduardo Lourenço - um Homem aberto ao Mundo, à Curiosidade, ao Conhecimento, à Literatura, ao Humanismo...

 

https://anabelamotaribeiro.pt/eduardo-lourenco-e-jose-augusto-franca-148866

Hoje, nasce dezembro!

 

Ana Manso (N. Lisboa, 1984)

"(...) 

Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
(...) "

José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Retribuições

 

Tenho há muito tempo esta toalha e gosto de olhar para os seus dois lados.

Obrigada, Noémia, por tantas mensagens que já bordaste.

Oxalá continues a fazê-lo.



domingo, 29 de novembro de 2020

Felizmente, há tanta coisa bonita desconfinada!

 

Lurdes Castro

Quando, pela manhã, abri as janelas, entrou em casa a luz do sol - que, felizmente, hoje está desconfinado. 

Uma amiga ligou-me e falámos de muitas coisas das nossas vidas quotidianas, de livros que temos partilhado, dos filhos, do Natal que, este ano, será diferente...  Que bom termos amigos e podermos falar, aproveitando todos os meios de que dispomos.

Outra amiga enviou-me um poema que escreveu (vou partilhá-lo aqui um dia destes). Li-o e reli-o, como faço quando gosto muito de um texto. E que bom haver poemas, músicas, blogues, livros, pessoas de quem gostamos...

Liguei para a Bertrand para encomendar um livro para a Clarinha. Um livro em português com ilustrações de meninos portugueses para que, em Londres, ela veja palavras portuguesas, desenhos portugueses, para além das palavras em português que ouve diariamente da mãe. Não, perto ou à distância, o amor não está confinado. E, felizmente, há o skype, o facetime... Não é a mesma coisa, mas é alguma coisa.

Aproxima-se mais uma tarde de confinamento. Que todos, independentemente da idade mais ou menos avançada, possamos aceder a coisas simples e boas que, felizmente, não estão confinadas.

 

sábado, 28 de novembro de 2020

Poetas das nossas vidas!

Desculpem! Vou falar da minha mãe

 

Nos encontros ou festinhas familiares, há sempre o 'momento de poesia', em que a minha mãe é a protagonista, porque, da família, é a única que sabe muitos versos de cor. E o que é mais curioso é que os aprendeu há mais de oitenta anos na escola primária. Com a D. Berta, 'a minha professora', como gosta de frisar. 

Antes de começar a recitar os versos, acedendo ao nosso pedido, refere sempre que são simples, que já são muito antigos e outras modéstias, mas logo se concentra e diz o poema que escolhe ou que lhe sugerimos, pronunciando muito bem todas as palavras, todas as rimas, todas as sílabas.

A minha mãe não é dada a falar de prazeres, mas, quando está a dizer versos, vemos que é prazer o que está a sentir.

Quando termina um poema, todos aplaudem e pedem mais. Ela enumera outras modéstias, como não ter  estudos, mas logo se lembra de outro poema. Pode ser 'A balada da neve', um poema sobre o monte Crasto, outro sobre o fabrico do linho, outro sobre as regiões de Portugal... O rol é muito extenso e sempre fiel às tradições.

Todos nós, de cada vez que a ouvimos, nos extasiamos com os inúmeros poemas que guarda tão bem na caixinha da memória.

O meu pai, que não era muito dado a elogios caseiros, ouvia-a sempre embevecido, o que também era muito bonito.

Há um poema, cujo autor desconheço, que, nessas ocasiões, ouvimos da minha mãe, dando entoação aos pontos bem humorados, mas sem nunca perder o fio à meada das palavras, como em todos os outros que aprendeu há mais de oitenta anos e que nunca esqueceu.


"Os velhos

Numa aldeia distante,

isto em tempos já passados,

viviam alegremente

dois velhinhos bem casados.

 

A mulher e o companheiro

diziam, juntos, os dois:

Se tu morreres primeiro,

morrerei logo depois!

 

Nisto, uma pancada forte

na porta se fez ouvir.

- Quem é? Perguntam.

- É a morte.

Quero entrar; venham abrir.

 

- Diacho, diz o marido,

como há de isto agora ser?

Tenho aqui um pé dorido;

vai lá tu abrir, mulher.

 

Mas ela logo se queixa:

-Valha-me Nosso Senhor,

este flato não me deixa;

Vai lá tu, fazes favor.

 

Nisto, a morte enfadada

Investiu pelo postigo

E, entrando na pousada,

Levou os velhos consigo!"

 

 (Encontrei esta narrativa, com algumas diferenças, em

http://www.ffam.pt/docs.asp?id_menu=135

Dizem ser uma 'fábula polaca').

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Faz tanto frio... E não é só em Paris!

Árvore de Natal com flores de papel!

 




quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Quando buscamos...

 

Postal enviado pelo Clube das Histórias


Quando buscamos

o que de melhor

existe nos outros,

descobrimos

o que de melhor 

há em nós.

 

W. A. Ward 

(US 1921/1994)

 


Conversa à beira da Igreja com um verbo que me fez rir

 

 - Desculpa, sabes aonde foi quem conduz o carro? Assim, não posso tirar o meu.

- Eu então vou chamar a minha mãe.

- Não, não vás. Não deixes o carro aberto e sem ninguém.

- Eu acho que ela vem já.

- Eu posso esperar um bocadinho. 

- A minha mãe foi só comprar uma missa!

- Ah!!!!! Não deve demorar, então.

- Sabe onde se compram as missas?

- Sei!!!! Vem ali uma senhora. É a tua mãe?

- Sim, ela disse que só ia comprar a missa e vinha já.

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Ainda a propósito das máscaras


 Li hoje no Expresso Curto:

 

"Reutilizáveis O Governo apelou para o uso de máscaras reutilizáveis para reduzir os custos ambientais das descartáveis, que podem representar seis toneladas de plástico a ir parar aos mares todos os meses, só a partir de Portugal".

 

Os meus (velhinhos) corações de papel natalícios!

 



Uma iniciativa com Alma!

 


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Não nos podemos esquecer


 

Eu sei que se deve falar, mas...

 

Uma boa parte dos telejornais é preenchida com notícias covid-19. Não podemos ignorar o problema, é preciso falar dele, mostrar evidências de que pode trazer muitos perigos para as diferentes gerações e que temos mesmo de tomar precauções para evitar e não transmitir a doença.

Porém, ouvir falar do mesmo assunto vezes sem conta e em todos os canais simultaneamente também pode trazer cansaço, medo e desejo de fuga perante a gravidade da pandemia.

Não será por acaso que as esplanadas se enchem ao sábado e domingo de manhã, enquanto se pode estar fora de casa. A região norte de Portugal é das zonas europeias mais atingidas pela covid-19 e, aparentemente, as regras sanitárias são seguidas pela maior parte das pessoas. Serão mesmo? Então, o que se passa?

Em março, quando a doença começava a alastrar, eu também fiquei infetada. Tentei seguir as regras da DGS, como desinfeção de superfícies (até estraguei o teclado do computador), distanciamento social, lavagem das mãos com muita frequência, etc. e a cura foi em casa. Apesar de não ter sido muito grave, sentia muito cansaço se falasse durante uns minutos, a tosse demorou a passar e o olfato ficou muito reduzido. Naquela altura, só se tinha alta ao fim de dois testes negativos, como, felizmente, veio a acontecer após o primeiro teste positivo.

Ora, quem está ou não infetado e vive em casas pequenas, sem espaços exteriores onde possa respirar mais à vontade, ao ver tantos números, imagens de hospitais superlotados, pessoas a sofrer... escolhe alternativas para se desligar dessa realidade, o que também não é bom.

De facto, muito errado seria não se falar do assunto para fazer de conta que não existe (como fazia Trump). Não sou profissional de saúde nem comentadora, mas as imagens da comunicação social deviam ser repensadas, na minha opinião, de forma a serem mais pedagógicas e menos repetitivas e assustadoras. 

Felizmente que a vacina agora também é assunto recorrente. Ainda bem que a Ciência, também no âmbito desta descoberta, avançou ao longo destes meses para que a Humanidade também avance.


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Às vezes, esquecemos ou nem nos lembramos!

 

 

A tolerância

não é uma posição contemplativa

é uma atitude dinâmica

que consiste em prever, em compreender e 

em promover quem quer ser.

A diversidade das culturas humanas

precede-nos, está à nossa volta

assim como diante de nós!

 

Claude Lévi-Strauss

domingo, 22 de novembro de 2020

Conversa junto da laranjeira


 

 - Mãe, tantas laranjas e tão bonitas.

- Filha, ainda devem estar azedas.

- A cor delas diz que não.

- Já reparaste que a laranjeira só deu fruto do lado do sol?

- Curioso. Não há laranjas do lado sombrio.

- Todos os seres procuram o sol.

- Vou apanhar uma laranja.

- Pode ser que já esteja boa.

- Bonitas por fora estão elas.

- O que não quer dizer, filha, que por dentro também sejam. 

- Como as pessoas, queres tu dizer.

- Claro.

- Que boa e que sumarenta!

- Como esta tarde em que podemos estar junto da laranjeira.



Flores ao sol de outono

Obrigada, A.P., pelas fotos




 

sábado, 21 de novembro de 2020

Estrelas

 

Já pus uma estrela vermelha na porta

outra estrela dourada no corrimão.

Pela janela vejo camélias abertas

como se fossem também estrelas.

 

Está sol

mas é quase inverno

quase Natal

Natal quase deserto

deserto quase dos reis magos.

 

Farei as rabanadas do costume

mas não sei  se haverá aletria

porque  não a faço bem.

Este ano seremos menos

e menos mãos a ajudar.

Não haverá crianças de olhos  ansiosos

à espera dos presentes

junto da árvore

encimada por outra estrela.

 

Ando há muitos anos para ir à missa do galo.

Este ano teria disponibilidade

mas o melhor é não ir

por causa das restrições.

Na Igreja

costuma haver um presépio humano

com um menino que é o Menino

e que às vezes chora

- como choram todos os meninos -

nos braços da mãe que é a Mãe.

- Coitadinho! - pensam todos.

Mas este ano menos gente terá pena do menino

porque haverá menos gente na missa do galo

e se calhar nem haverá menino Menino Jesus.

 

Também não poderei contar

uma história à minha neta

 

- Era uma vez um Natal

diferente de muitos outros

um Natal deserto

sem carros a chegar às aldeias

sem famílias grandes

à volta de uma mesa grande...

 

E que dela pudesse ouvir:

- Mas um deserto com muitas estrelas, avó!





Também importante em dias de confinamento

Postal enviado pelo Clube das Histórias