9 – Uma visita inesperada
Uns dias depois, bateram à porta de Domingos, que
regressara minutos antes de um pequeno passeio a pé, enquanto a cidade renascia
e ainda mostrava matinal humidade azul. Quem seria? Não costumava receber
visitas. Com os vizinhos, falava quando se cruzava com eles, na rua. Seriam
queixas por causa do gato, que voltava a fazer das dele? Abriu a porta da
varanda e espreitou.
Deparou com um grupo grande. Uns de mochila, outros de
carteira a tiracolo. Todos com ar de turistas que vão revistando e revisitando
lugares históricos das cidades. Andavam na rota do Barroco. Caminhavam rumo à
Igreja da Misericórdia.
Isto foi explicado por Lurdes que, ficando um pouco para
trás, batera à porta de Domingos. Lembrava-se de, uma vez, ele lhe ter dito
onde morava. De nada se tinha esquecido.
Domingos manteve-se na varanda.
“Como passei por aqui, lembrei-me de tocar”. Quer ir ter
connosco aos Clérigos? A seguir à Misericórdia, visitaremos a Igreja. O padre
Arménio será o nosso guia. Promete. Venha daí”.
Que não, obrigado pelo convite, tinha chegado há pouco.
Ficaria para outra oportunidade. Gosto em vê-la. Boa visita. Então, adeus.
Antes de Domingos fechar a porta, olhou para a varanda de
Flor. Sentiu quase pudor. Como encararia ela o reatar da amizade com Lurdes,
sendo esta tão avassaladora? À tarde, mergulhou na leitura, no alfarrabista
habitual, mas teve de voltar a ler, várias vezes, a mesma página. Estava
desconcentrado.
(Continua, com Domingos, uns dias depois, a receber uma
chamada, igualmente inesperada).