quarta-feira, 6 de março de 2013

A filha de Elizabeti



 



Elizabeti tinha um irmão ainda bebé chamado Obedi. Via a mãe cuidar dele e, por isso, também queria ter um bebé para cuidar.
Mas não tinha nenhuma boneca. Assim sendo, saiu de casa e apanhou um pau. Pegou nele, tentou abraçá-lo, mas ele picava-a e, assim, ela deixava-o sempre cair ao chão. Depois, apanhou uma pedra. Tinha mesmo o tamanho ideal! Elizabeti podia segurá-la e não a magoava quando a abraçava. Por isso, beijou a pedra e deu-lhe um nome: Eva.
Quando o irmãozinho tomava banho, chapinhava e molhava a mãe. Mas quando Eva tomava banho, portava-se muito bem e só chapinhava um pouquinho.
A mãe dava de comer a Obedi e ele fazia "Brrrrp!" bem alto. Elizabeti dava de comer a Eva, mas ela era muito educada e nunca arrotava…
A mãe mudava os paninhos que embrulhavam o rabinho de Obedi e estavam todos sujos! Já Elizabeti ficou muito aliviada ao ver que o rabinho de Eva continuava limpo…
Quando a mãe fazia as tarefas domésticas, prendia Obedi às costas com um tecido brilhante, uma kanga. Quando Elizabeti fazia as tarefas domésticas, também prendia Eva às costas com uma kanga. A mãe tinha que dar uma ajudinha.


♥♥♥


Elizabeti foi visitar a sua amiga Rahaili. Esta riu-se quando viu que Elizabeti tinha uma pedra a fazer de boneca. Mas como também não tinha bonecas, quando a amiga foi embora, Rahaili foi à procura de uma pedra para si e chamou-lhe Malucey.
Quando Elizabeti chegou a casa, eram horas de ir buscar água ao poço da aldeia. Tirou Eva da kanga e deitou-a no chão à beira de outras pedras, para que não se sentisse sozinha. Depois, embrulhou a kanga numa trouxinha, pô-la à cabeça, e colocou o jarro da água por cima dela. Era sempre assim que transportava a água e outras coisas pesadas.
Elizabeti regressou rapidamente com a água e levou-a à sua irmã Pendo que estava na cabana, no sítio onde as refeições eram feitas. E depois correu lá para fora para ir buscar Eva. Mas Eva tinha desaparecido! Olhou em volta, mas não a via em lado nenhum!


♥♥♥


A mãe encontrou uma outra pedra e deu-a à filha. Mas a menina abanou a cabeça quando a viu. Aquela pedra era apenas uma pedra! Também Pendo trouxe uma pedra para a irmã. Mas também não era Eva… Elizabeti sentia-se muito triste e sentou--se muito quieta à espera de ajudar Pendo na cozinha.
Todas as noites ao jantar, a família comia arroz. E era a Elizabeti que competia pôr a panela do arroz no centro da fogueira, centro esse que era composto por três grandes pedras. Encheu tristemente a panela com água e colocou-a em cima das pedras, para ferver. Só que uma das pedras não era uma pedra. Era Eva!
Elizabeti chamou a mãe e, juntas, retiraram a panela com água e rebolaram Eva para longe do fogo. Embora estivesse um pouco suja, não se tinha magoado! Pendo correu logo lá para fora para arranjar uma nova pedra para a fogueira. Afinal, tinha sido assim que a pobre Eva tinha desaparecido…
Eva sentou-se muito sossegada enquanto Elizabeti a limpava e abraçava. À hora de deitar, a mãe cantou uma canção e embalou Obedi nos seus braços até ele adormecer. Elizabeti também cantou uma canção de embalar, mas adormeceu antes de Eva. A mãe cobriu ambas com um cobertor. Sorriu e pensou que, um dia, Elizabeti seria uma ótima mãe. Eva pensou exatamente o mesmo.



Stephanie Stuve-Bodeen
Elizabeti’s doll
New York, Lee &Low Books, 1998
(Tradução e adaptação)

 

domingo, 3 de março de 2013

Li e gostei muito



 Este será o livro discutido na sessão de 13 de março da Comunidade de Leitores, na Biblioteca Municipal de Gondomar.

A obra foi escolhida por João Tordo que dinamizará a sessão.


A história começa assim:

"Vi Gustavo Roderer pela primeira vez no bar do Club Olimpo, onde à noite se reuniam os jogadores de xadrez de Puente Viejo. O lugar era suficientemente duvidoso para que a minha mãe protestasse em voz baixa de cada vez que eu ia lá, mas não o bastante para que o meu pai se decidisse a interditar-mo". (...)


Guillermo Martinez nasceu em Bahia Blanca, Argentina, em 1962.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Porque...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.


Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.


Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Quem a tem...


Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença

E sempre a verdade vença,
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.

Mas embora escondam tudo
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade. 


Jorge de Sena