Maria, sempre que podia, gostava
de ir para casa da avó. Perto da casa, havia um campo. Por aquilo que ouvia
contar, era menos cultivado do que antigamente. E sobretudo as crianças
já não iam para lá correr nem apanhavam raminhos de flores para oferecer à mãe,
à avó, às amigas ou para pôr nas mãos das bonecas.
Hoje, Maria teve autorização para
ir a casa da avó e ao campo que ela ainda mantinha.
Quando chegou, deu um beijo à
avó, pousou a malinha cor-de-rosa com o pijama, roupa para o dia seguinte e um
livro colorido que recebera nos anos, porque gostava de ler um bocadinho antes
de adormecer. E logo, logo perguntou:
- Avó, deixas-me ir para o campo?
- Maria, olha que só lá há
pampilhos e pouco mais– respondeu a avó.
E acrescentou: não tenho podido ir lá por causa das dores nos joelhos.
- Ó avó, disse Maria, não te
preocupes, eu vou sozinha. Podes ir à janela de vez em quando para eu te dizer
adeus.
E assim foi. Quando Maria chegou
ao campo, olhou para os pampilhos e lembrou-se de uma fotografia antiga da mãe.
Nunca tinha sentido flores tão
macias entre os dedos. As pétalas eram de perfumado e fresco veludo amarelo.
Apanhou um grande ramo e veio a correr mostrar à avó, que não se tinha afastado
da janela, vendo a neta correr pelo caminho antigo de pedras polidas pelo
tempo. Também ela havia percorrido aquele caminho muitas vezes para colher
pampilhos e com eles fazer colares.
A menina, a correr, parecia ter
asas no cabelo e chegou ofegante com o braçado dos pampilhos.
- Avó, olha o que eu apanhei. Vou
fazer-te um colar como quando eras pequena.
- Então, vou ajudar-te. Na
próxima semana, vou dar-te também um presente.
- O que é, avó?
- É surpresa, Maria.
- Diz só um bocadinho da surpresa,
avó.
- Então, vê se sabes esta
adivinha: Qual é a coisa qual é ela que corre, que brinca, que gosta de flores…
- Ó avó, sou eu?! Então, qual é a
surpresa?
- Espera, que ainda não acabei a
adivinha.
- A última palavra foi flores…
- E que dava uma imagem tão
bonita que não a quero perder.
- Ó avó, é uma fotografia.
- Se fosse fotografia, ela já
existia…
- Oh, quando começas a rimar…
- Tive a ideia e logo que possa,
quero o trabalho começar.
- Vais escrever uma história…
- Ainda não podes cantar vitória.
Quando Maria foi para casa, a avó
esboçou o quadro com Maria a segurar um ramo de pampilhos.
Assim, não mais
perderia a imagem de Maria - a colher flores naquele belo dia.