Sempre que
posso, vejo filmes lusófonos e francófonos. Para além do meu gosto pessoal,
também os procuro para os sugerir aos alunos. Gostaria de lhes provar que os
filmes de língua portuguesa ou francesa não são chatos, como se diz.
Mas, às vezes,
acho o filme com uma história bastante triste. Tudo parece acender o lado lunar
da vida e apagar o mais solar. Por isso, acabo por esperar pelo próximo.
Não sei se é por
isso, às vezes o filme está pouco tempo em exibição. Desaparece
da sala de cinema enquanto o diabo esfrega um olho.
Pois bem, vi:
O Segredo de um Cuscus
De AQbdel kechiche
Com: Habib Boufares, Hafsia
Herzi, Farida Benkhetache
E gostei muito deste filme francês
que recebeu vários prémios, tanto em França como em Veneza.
O filme revela temas importantes, como: Relações
Familiares, (in)Fidelidades, Imigração, Delinquência Juvenil, Momentos de vida
dos Sem-Abrigo, Solidariedade, Alegria/Vontade de Viver, Desemprego, Projetos
de Vida …
Durante três horas,
acompanhamos passos de muitas pessoas «reais» que habitam num bairro suburbano,
numa zona do sul de França.
Gostei
particularmente das solidariedades espontâneas e ruidosas da família magrebina,
protagonista do filme. Todos falam alto e ao mesmo tempo, saúdam-se com beijos
estridentes, abraçam-se, ajudam-se, zangam-se, riem… Arranjam sempre lugar para
mais um saborear a comida de que tanto gostam; neste caso, couscous!
À mesa, e à
volta de uma refeição de couscous, todos celebram a festa dos sentidos. Com os
dedos e os lábios besuntados com derramado e visceral prazer!
Parece que
sentimos o cheiro dos melhores petiscos feitos por quem tem a mão certa para os
temperos, para o tempo de cozedura, para a combinação dos alimentos mais
frescos e saborosos. O que acontece quase sempre com a comida das nossas mães.
No caso da família magrebina, também era a mãe que reunia a sabedoria da junção
e preparação dos melhores sabores. Para que o resultado fosse perfeito.
Como quando a
comida vem para a mesa no tacho e, ao destapar-se, liberta um odor que (nos) aquece
a alma, embora também o corpo encontre consolação.
Neste filme, encontrei
sobretudo imagens solares, embora as haja também lunares, porque a vida não as
dispensa nem justifica a sua falta.
A ação mostra
que às vezes um projeto pode falhar, mesmo estando-se à beira da sua
concretização. Mas também fica na história de cada um todo o processo para o
conseguir. Naquele caso, foi toda uma família que se uniu para ajudar o pai –
separado da mãe – que, de repente, ficou sem trabalho. Também ele procurava
ajudar a família.
Se vier a
propósito – e vem sempre quando se quer –, vou sugerir este filme aos meus
alunos.
Para além de
tudo, há uma música encantatória, sobretudo quase no final.
E há, ao longo
do filme, uma jovem, muito solidária e lutadora, que encontra soluções para
ajudar a avançar os projetos de pessoas que lhe são próximas.
Para que não
digamos que os jovens são sempre egoístas. E sobretudo para que eles vejam que
vale a pena não se ser indiferente.
Seja como for, boas imagens!
Solares, de preferência.
Nem que sejam pequenas como um
grão de cuscus.