sábado, 28 de janeiro de 2012
Seremos?
Sempre achei
muita graça como este prato é anunciado: arroz do polvo com arroz do mesmo. A
mesma piada já não se encontra quando se fala do polvo com outros sentidos,
infelizmente muito atuais. É o caso das ligações ardilosamente ramificadas entre
figuras públicas sob uma aparência de seriedade, verdade, desejo de
transparência… sendo ocas, opacas, mentirosas, interesseiras…
Vícios como a hipocrisia
e a traição eram já atribuídas ao polvo pelo Pe António Vieira, no seu Sermão
de Santo António aos Peixes, proferido no Brasil, em S. Luís do Maranhão, em
1654.
Durante todos
estes séculos, um número muito elevado de seres humanos ainda não aprendeu
tantas lições dadas pelos grandes mestres e pela sabedoria popular.
Os mass-media
revelam, em cada dia que passa, dados sobre ligações política-maçonaria-poderosas
empresas… altamente lucrativas para alguns e prejudiciais para muitos mais.
Até quando se
entenderá que os comuns dos mortais são todos cegos, surdos e mudos?
Além da Terra, além do Céu
Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Fico sem jeito
Tem tanto jeito
para escrever. Tem tanto jeito para pintar. Tem tanto jeito para desenhar. Tem tanto
jeito para bricolage…
Quando se fala
assim, habitualmente (acho eu, é claro) queremos dizer que o talento bateu à
porta, ficou um bocadinho e partiu de seguida em busca de terreno mais fértil.
Não se diz que
Eça de Queirós tinha jeito para escrever, ou que Paula Rego tem
jeito para pintar, ou que Mourinho tem jeito para ser treinador de futebol, ou
que Cristiano Ronaldo tem jeito para jogar à bola. Dizemos que são geniais, que
têm talento, que gostamos ou não do seu trabalho, que são o máximo… E se se
falar de Mourinho até se diz (e ele também) que é special one.
Bem, se calhar
tenho algum jeitinho (falsa modéstia também não tem jeito nenhum) para alguma
coisa, mas aprecio muito quem tem talento. Até parece que fico sem jeito.
Que seca!
Ficar
sem frigorífico é uma seca. Não posso comprar yogurts porque se estragam. Para
não falar da sopa, do queijo, da manteiga, das sobras de comida… que não posso conservar.
A
gente habitua-se às coisas e quando avariam é como não termos chave quando
chegamos a casa cansados.
As
avarias de eletrodomésticos também mostram o nosso poder de adaptação e o lugar que ocupamos no universo. A verdade é que se sobrevive e não é por eu estar sem frigorífico que
se acaba o sol de inverno.
Por
falar em inverno, a falta de chuva pode trazer uma grande seca. E será mais grave do
que ter o frigorífico avariado.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
A ESTRELA DE ERIKA
NOTA DA AUTORA DO CONTO
Em 1995, cinquenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, encontrei a mulher de que fala esta história. O meu marido e eu estávamos sentados na beira de um passeio em Rothenburg, na Alemanha. Observávamos uns trabalhadores a limparem as ruínas do telhado da Câmara. Na noite anterior, um tornado tinha-se abatido sobre esta bonita aldeia medieval. Havia entulho um pouco por todo o lado. Um velho comerciante disse-nos que os estragos causados por este tornado se assemelhavam aos da última ofensiva dos Aliados durante a guerra. O comerciante entrou na sua loja, e uma senhora, sentada perto de nós, apresentou-se como sendo Erika.
Perguntou-nos se tínhamos vindo fazer turismo naquela região. Quando lhe disse que vínhamos de Jerusalém, onde passáramos duas semanas a fazer pesquisas, confessou-nos, com um suspiro, que desejava muito lá ir mas que não tinha dinheiro para a viagem. Ao ver uma estrela de David pendurada ao seu pescoço, eu disse-lhe que, no regresso de Israel, tínhamos passado pelo campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. Erika confessou-nos que, um dia, tinha tentado visitar o campo de Dachau, mas que não conseguira franquear a porta. Depois, contou-nos a sua história…
Em 1995, cinquenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, encontrei a mulher de que fala esta história. O meu marido e eu estávamos sentados na beira de um passeio em Rothenburg, na Alemanha. Observávamos uns trabalhadores a limparem as ruínas do telhado da Câmara. Na noite anterior, um tornado tinha-se abatido sobre esta bonita aldeia medieval. Havia entulho um pouco por todo o lado. Um velho comerciante disse-nos que os estragos causados por este tornado se assemelhavam aos da última ofensiva dos Aliados durante a guerra. O comerciante entrou na sua loja, e uma senhora, sentada perto de nós, apresentou-se como sendo Erika.
Perguntou-nos se tínhamos vindo fazer turismo naquela região. Quando lhe disse que vínhamos de Jerusalém, onde passáramos duas semanas a fazer pesquisas, confessou-nos, com um suspiro, que desejava muito lá ir mas que não tinha dinheiro para a viagem. Ao ver uma estrela de David pendurada ao seu pescoço, eu disse-lhe que, no regresso de Israel, tínhamos passado pelo campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. Erika confessou-nos que, um dia, tinha tentado visitar o campo de Dachau, mas que não conseguira franquear a porta. Depois, contou-nos a sua história…
Ruth Vander Zej/Roberto Innocenti
Esta e muito mais histórias podem ser lidas através dos seguintes endereços:Vale a pena consultar e ler muitas das histórias. Os "Contadores de histórias" são um projeto que merece todo o apoio e carinho. Leva histórias motivadoras a diferentes partes do mundo. Parabéns.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Eu não estou contra os pais
Muitas vezes,
os pais chegam à escola e não sabem qual é a turma do filho ou da filha. Muitos
vêm por bem: dialogam naturalmente e mostram-se interessados pelos filhos.
Alguns chegam de pé atrás e querem tirar satisfações por causa de coisas que
ouviram dos filhos e de que não gostaram: o professor deu-lhe ordem de saída
sem motivo; o professor não gosta dele; o professor responde mais prontamente
aos outros alunos…
Outros pais nem
sequer vão à escola: ou porque os filhos ficam com as cartas enviadas pelo
diretor de turma, ou dão o contacto errado…
No segundo
caso, os pais, quando confrontados com ocorrências dentro ou fora da sala de
aula, acabam por pedir desculpa, dizendo que não sabiam o que se passava. De
facto, existem alunos que manipulam habilmente os pais. Sobretudo quando estes
caem que nem patinhos. Ou porque é mais fácil, ou porque querem evitar mais um
problema, ou porque estão cansados…
Quando os pais
nunca vão à escola, ainda que chamados, então o caso é bem mais complicado.
Eu não estou
contra os pais, mas os pais que pouco vão à escola, por muito pouco ficam
contra ela. E quando assim é, o aluno sente o terreno mais aberto para fazer
das dele. E o mundo parece andar às avessas.
O país está irritado…
…e eu, como cidadã portuguesa,
também, é claro, com as declarações do Senhor Presidente da República, quanto
ao valor da sua(s) reforma(s). Julgo que, em qualquer país civilizado, o que
foi dito teria consequências.
Os milhões de portugueses que
vivem com muitas dificuldades foram esquecidos.
Mas tão grave como esse
esquecimento é a ideia que é passada de que os portugueses não pensam, não têm
sentido crítico, isto é, são todos parvos.
Para mim, isto é ainda mais
grave. E são muitos os setores da vida nacional a fazê-lo. Ainda não
aprendemos, ou melhor, essas pessoas que se julgam acima de muitos dos deveres
de cidadania ainda não aprenderam que os outros cultivam a sua inteligência. E
raramente com as mordomias a que eles se habituaram.
Cavaco Silva diz que o dinheiro
que recebe ao fim do mês não lhe chegará para as despesas!!! Podia ter-se
livrado de tanta chacota nacional se fizesse as suas amadas e domésticas continhas
(continhas???) longe das câmaras e dos microfones e alargasse os seus
horizontes à vida nacional.
Por falar em despesas, muitas
figuras públicas ficam-nos muito caras! E, muitas vezes, o que se ganha não dá
para os gastos do mês! Isto quanto aos cidadãos comuns, é claro.
domingo, 22 de janeiro de 2012
Abri um mail e a mensagem soube bem. Como algumas manhãs de domingo!
Fernando Pessoa
(Lisboa, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935)
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
(,,,)
Fernando Pessoa
Porque hoje é domingo
Preparei um
pequeno almoço mais completo, mais colorido e com um pouco mais de vagar do que
durante a semana.
A rua está
sossegada, o sol anuncia-se com luz e com silêncio e aqui estou eu, simples
cidadã, a saborear o pequeno almoço, enquanto oiço também as notícias da manhã.
Leio em títulos
de jornais a palavra sacrifício. Só que sacrifício para alguns políticos de
topo seria um grande prémio para milhões de cidadãos. Será que as palavras
traem ou “eles” não olham a realidade, pelo menos num qualquer dia da semana?
“Guimarães
somos todos” vejo noutro título. Quero arranjar tempo para lá ir. De
preferência sem grandes multidões. Os eventos e a cidade prometem.
Felizmente,
ainda existem pessoas e coisas em que é possível acreditar. Ou será porque hoje
é domingo?
sábado, 21 de janeiro de 2012
Que título dar a este poema de Manuel Bandeira?
Beijo pouco, falo menos ainda
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verdo teadorar
Intransitivo: Teadoro, Teodora
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verdo teadorar
Intransitivo: Teadoro, Teodora
Nota 1 - Há poetas que enchem as palavras de montanhas de afetos!
Nota 2 - O título que me chegou é Neologismo
Os gostos discutem-se?
Sei que parece estranho, mas não gosto de dias prolongados
de sol. Sobretudo no inverno. Gosto de chuva e de nuvens no céu.
Há uns anos, ouvi um pintor – cujo nome não recordo – dizer que
tinha emigrado para um país do norte da Europa por causa do clima. Preferia
viver com menos sol.
Eu nunca chegaria a esse ponto, mas acho que não me importaria
nada de viver longo tempo sob um céu cinzento.
Um dia, ouvi Agustina Bessa Luís dizer que gostava da chuva.
Eu, cidadã comum e de talentos comuns, também afirmo: gosto
de nuvens e de chuva.
Muito bem!
Hoje, um
formador, no âmbito da escrita sobretudo para o ensino básico, afirmava que os
jovens gostam de escrever se tiverem o professor do lado deles, se sentirem que
são acompanhados e valorizados na sala de aula.
Foi referido
que tão importante como ensinar a fazer é saber elogiar quando o aluno escreve
bem uma frase, aplica corretamente a pontuação…
… é dizer com
convicção, olhos nos olhos, que o aluno será capaz de fazer melhor, nos casos
em que não acertou…
… é mostrar,
objetivamente, como deve ser corrigido o erro…
E insistiu na
eficácia das palavras de reforço, oralmente ou por escrito.
Apetece dizer
e repetir: Muito bem!
Versos Escritos N'água
Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.
Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza...
Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou
.
Manuel Bandeira
(Recife 1886/Rio de Janeiro 1968)
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Romance
Picasso
Para muitos
alunos, romance é sinónimo de história de amor. Basta falar de romance e
aguça-se-lhes a curiosidade sobre quem ama quem.
Depois, é-lhes
explicado que pode haver romances sem histórias de amor. Que o que nos
interessa é romance entendido como narrativa em prosa na qual as personagens
podem existir em grande número e com grande densidade psicológica. Para além
dos tempos e dos espaços que podem ser abundantes. Assim sendo, o romance tem
uma extensão considerável.
Algumas vezes, perde-se
o fascínio, outras não, porque muitos romances contêm belas histórias de amor.
E quem não as aprecia?
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
A Palavra Mágica
Amadeo de Souza-Cardoso
Certa palavra
dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade
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