Querido diário,
Já te escrevi hoje mas apeteceu-me falar contigo outra vez. É que sonhei que a minha mãe entrou no quarto de manhã cedo para me chamar. Ao contrário das minhas irmãs, eu nem com o despertador acordo. Só com a voz da minha mãe. Ela diz muitas vezes: Mariana, põe os olhos nas tuas irmãs. Nunca tive de as chamar para irem para a escola. E olha que foram sempre pontuais. Eu espreguiço-me e digo: minha querida mãe, não é correto fazeres comparações. Não vês que posso ficar traumatizada? Estendo-lhe os braços, ela diz derretida: Mariana, estás tão quentinha e ficamos um bocadinho abraçadas a falar. E assim saboreio mais uns minutinhos o calorzinho da cama. A minha mãe diz-me muitas vezes fixando-me com os olhos matreiros: tu sabes bem levar-me, sua marota!
Quando eu nasci, as minhas irmãs já eram muito crescidas. A minha mãe, muitas vezes, olha para mim e diz-me com ar feliz e meigo: Mariana, mesmo tarde, que bom teres vindo ao mundo.
Um dia, fomos lanchar a uma confeitaria que não conhecíamos. A minha mãe pediu um sumo de laranja natural e, mesmo antes de eu falar, a rapariga que nos atendeu perguntou: e para a netinha? A minha mãe parece não gostar de brincadeiras mas até gosta e respondeu a fingir-se muito séria: para a netinha é também um sumo e uma natinha.
Nesse dia, a minha mãe queria comprar-me uns sapatos. Que seca. E eu que só gosto de sandálias e de sapatilhas. Pra mais, em duas sapatarias disseram quando entramos: que cabelo forte. Já nem há.
Vou mas é tentar não estragar o calçado para não ter de entrar daqui a pouco outra vez numa sapataria. Nem me conheciam e toca logo a falar do cabelo. Vão pentear macacos.
Um xi-coração, meu grande amigo.
Mariana