sábado, 3 de maio de 2025

Corações ligados

 

💗1. A mãe foi buscar o filho pequeno à escola. O menino, quando viu a mãe, começou a correr pelo corredor fora ao seu encontro. Na mãozita pequena, com muito cuidado para não a deixar cair, trazia a prendinha feita na sala com a educadora, para a mãe, porque ia ser o seu Dia. Logo que chegou junto da mãe, disse a sorrir, na ternura tímida dos seus quatro anos:

- Mamã, o meu coração está ligado ao teu.

A mãe sorriu, deu-lhe um abracinho e os olhos dela encheram-se de lágrimas felizes.



💔 2. Numa sala de aula, a professora pediu aos alunos, adolescentes, que escrevessem uma carta à mãe. Vinha a propósito porque tinham dado a estrutura da carta e o Dia da Mãe era no domingo seguinte. Podiam até oferecê-la à mãe nesse dia. Ela ficaria feliz, com certeza.

Um dos alunos recusou-se a escrever. A professora perguntou porquê. 

- A minha mãe morreu há um ano e não consigo escrever.

Nos olhos da professora irromperam lágrimas tristes e, contra o costume, logo aceitou o pedido do aluno para ir lá fora apanhar um pouco de ar.


BOM DIA DA MÃE!

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Convite - Sejam bem-vindos!


 

No primeiro Primeiro de Maio fui para a rua; hoje não vou. Porquê?

 

Nesse dia, fui de mãos dados com o meu namorado com quem viria a casar. Ele tinha um mini e fomos para o Porto, como tanta gente, como um mar de gente vinda de todo o lado. Os nossos olhos abriam-se em liberdade naquela imensa multidão na Praça da Liberdade. Nunca nenhum de nós tinha visto uma coisa assim, habituados que estávamos a que mais do que uma pessoa já era ajuntamento. 

Que me lembre não voltei a nenhum comício, mas aquele ficou-me na memória e no coração.

Admiro muito quem vai para a rua lembrar os direitos e deveres de cada um, porque cada um tem um papel importante na sociedade. E assim lembram valores da Liberdade.

Neste âmbito, viu-se que o governo já não teve muita vontade de comemorar o 25 de Abril e, para animar os jardins de S. Bento, foi escolhido o Tony Carreira. A este propósito, gostei de ouvir o Pacheco Pereira, no passado domingo, no programa ‘O princípio da incerteza’ da CNN, dizer que  a festa do 25 de Abril em Portugal corresponde ao 14 de Julho em França. Por isso não pode ser minimizado. E concordei também com ele quando disse que em vez de Tony Carreira então  era melhor convidar o Quim Barreiros.

Agora digo eu: se fosse o Quim Barreiros o convidado, ele ainda faria algum jogo de palavras brejeiras a  rimar com jogos de poder e isso não conviria nada!

Na minha modesta opinião, os políticos são muito necessários para o bom funcionamento do país, mas é difícil encontrar um que entusiasme, no qual a gente se reveja. Às vezes, escolhe-se o que achamos melhor. Do mal o menos.  Aquele que se dedique à causa pública sem cinismos, sem tanta mentira ou meias verdades, sem fazer dos outros parvos…

Pois bem, prevejo e desejo que o meu dia seja tranquilo e doméstico. Por opção minha.  Irei ao meu quintal regar as plantas abrigadas da chuva e ver as que a aproveitaram.

Coisas pequenas e boas, mas feitas com o bem infinito que é a Liberdade. 


quarta-feira, 30 de abril de 2025

E depois do apagão


Segunda-feira, 28 de maio, 11.33 da manhã, vai ficar na história dos dias às escuras. Muitas prateleiras de supermercados ficaram vazias. Pelo que muitas pessoas disseram, esgotou a água, esgotou o leite, esgotou o papel higiénico, esgotaram as pilhas, esgotaram os enlatados… só se espera é que muita coisa açambarcada não se apague no lixo!

Mas, felizmente, não esgotou a paciência, a resiliência, a adaptação a novas situações, à aceitação de riscos que corremos cada vez mais.

Não sou frequentadora de redes sociais, mas, pelo se diz, bem acesa esteve a desinformação, que teve ainda mais espaço porque a Proteção Civil nada enviou para os telemóveis, como faz em tantas ocasiões. E não faltaram culpas atribuídas e desculpas de quem governa, como é costume.

E foram muitos os elogios para a rádio que, a cada minuto, informava as pessoas, num verdadeiro serviço público, que foi reconhecido. 

E também não faltaram as caricaturas cómicas sobre o apagão. Acho incrível essa capacidade de rir e fazer rir quase momentânea em situações problemáticas.

E, com este grande apagão, aprendemos muitas coisas. E vimos crianças a brincar sem estarem ligadas a vídeos. E demos mais valor às mercearias de rua. E houve interajudas até para aquecer a comida…

Ah, e tenho de comprar pilhas para um rádio antigo que tenho, e algumas latas de atum, alguns pacotes de leite, etc. Não vá outro apagão tecê-las!




terça-feira, 29 de abril de 2025

'O que fomos e o que somos'


Conheci esta canção de Lena D'Água no Expresso Curto de hoje. Gostei e quis agora partilhá-la. 

Para além da voz, que o tempo não estragou, a letra é bonita e a animação também. E lembra a esperança - tão importante nos dias que correm!

Oxalá gostem.

Um dia bom para todos, sem andarmos às escuras!



segunda-feira, 28 de abril de 2025

A mentira, afinal, tem perna longa!


Ensinamos às nossas crianças que não se deve mentir. E contamos-lhes histórias em que o conselho é apresentado de forma bonita e motivadora. Porém, o mundo real - embora muito do que se passa nos livros seja baseado na realidade - é bem diferente.

E os maiores e maus exemplos vêm de quem devia dar o exemplo, isto é, por quem quer governar o mundo ou o país. Mentem, cortam o que não interessa da verdade, referem apenas o que lhes é favorável, criando meias verdades ou completas mentiras. Como o Sr Ventura, que se quer fazer de pobre para cativar quem de facto o é, e diz que a sua casa é pequenina e, afinal, é em condomínio de luxo e tem mais do dobro do tamanho que tanto repetiu.  Porém, o closet é pequenino, disse ele em programa da tarde!!! Quantas são as casas que têm closet? Muito poucas, acho eu.

Isto faz-me lembrar a história da princesa que se dizia muito muito pobre: o palácio era pobre, o jardineiro era pobre, o motorista era pobre, as empregadas eram pobres!!!! 

E o pior é que a mentira vai sendo normalizada. Talvez porque os problemas de cada um são grandes, talvez porque as pessoas andam cansadas e não queiram mais chatices, talvez as pessoas fujam de mais problemas porque já bastam os seus, como o pouco dinheiro ao fim do mês, etc.

Hoje à noite, haverá o último debate entre os dois candidatos a futuro primeiro-ministro. Oxalá não haja muitas mentiras, embora não faltem de certeza muitas meias verdades, de modo a pincelar melhor a realidade. Felizmente há sempre a possibilidade de fazer zapping. Seja como for, oiça o que ouvir, quero ir votar no dia 18 de maio e já sei em quem vou votar. O voto de cada um raramente é desperdiçado. Oxalá continue a ser verdade.


domingo, 27 de abril de 2025

Apetece-me escrever, mas pouco tenho para dizer!

 

Há dias assim. Domingos assim. Levantei-me cedo. Queria fazer o almoço para a família, mas sem pressas. Ainda ontem não sabia bem o que fazer. Decidi fazer bacalhau espiritual. Nome curioso!  Foi a primeira vez que fiz. O aspeto é bom, mas ainda está no forno e ninguém se sentou sequer à mesa. 

Tinha bolinhos de bacalhau congelados e resolvi fritá-los. Se por acaso o bacalhau espiritual não estivesse bom, salvava-se o espírito da coisa e havia mais alguma coisa, para além da sopa que o meu neto, felizmente, não dispensa.

Pois é, enquanto fritavam, lembrei-me de mandar os parabéns a um amigo que fazia anos. Tenho o costume - ou mania, sei lá - de fazer uma quadra e enviar. Só que, desta vez, ou demorei a captar a inspiração, ou a fritura andou mais depressa, e… deixei queimar alguns bolinhos!!!!

Veremos o espírito dos meus comensais!

Para a sobremesa, fiz uma torta de chocolate: um rolo, como sempre dizíamos em casa.

Parece bom, visto por fora! Mas acho que tenho de aprimorar. Já sei que vão dizer que está bom, mas que nunca estou satisfeita com o que faço! Oxalá tenham razão!

Bom domingo! Só com algum açúcar e bem mais afeto!


sexta-feira, 25 de abril de 2025

A triste capa do medo


Vivi a minha infância e parte da juventude antes do 25 de Abril de 74 e o sentido da palavra medo estava presente por quase toda a parte.

Havia medo dos castigos de Deus, havia medo dos poderosos, havia medo de dizer não, havia medo de falar, havia medo de reagir, havia medo de fazer diferente, havia medo de discordar, havia medo de parar na rua em grupo, havia medo de ler livros que o poder condenava, havia medo de não aceitar a guerra colonial, havia medo de reivindicar, havia medo de mudar o ‘entre marido e mulher não metas a colher’ e muitos mais.

Agora, 51 anos passados do 25 de Abril de 1974, o medo continua a existir, sob formas antigas e outras mais sofisticadas. Como as guerras de toda a espécie.

Mas há uma diferença enorme: pode-se falar. Pode-se dizer a palavra Liberdade. 

Porém, muitos se interrogam até quando, porque o andar da carruagem não é muito promissor. Mas a esperança num mundo melhor ainda é possível. Não a percamos. De outro modo, a palavra Liberdade fica mais arruinada. 

E é triste ouvir dizer que, no nosso país, antigamente é que era bom. Não, não era. Havia mais respeito? Não, não havia; vestia era a triste capa do medo.

                  BOM 25 DE ABRIL!

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Páscoa Feliz para Todos!


Uma filha perguntou-me há dias: Mãe, o que vais fazer de manhã? Respondi-lhe: Nada de especial, filha, algumas pequenas coisas. Julgo que não disse, mas pensei: e que me são necessárias.

Embora não me possa queixar, tenho cada vez mais necessidade de dispor de algum tempo, sem obrigações, sem ter de fazer isto ou aquilo com horas marcadas. Ter tempo e programa por minha conta. Hoje, conto ter um dia assim e fico contente, embora goste de muitos afazeres do dia a dia e de sentir que posso ser útil sobretudo à família mais próxima.

Ao fim da tarde, vou ter a visita de uma ex-empregada, agora amiga. Trabalhou cá em casa uns quarenta anos. Ajudou-me e ajudou as minhas filhas a crescer. Como de costume, irá trazer-me hortaliças e ovos caseiros. E coisas para contar. E desabafos a fazer. E da vida que, com a sua força e vontade, vai fazendo renascer todos os dias. E da casa que alindou para receber o compasso e a Páscoa.


Há muitos muitos anos, passei alguns dias do final da Semana Santa numa paróquia de Vale de Cambra, onde um tio meu era padre - Senhor Prior, como os paroquianos diziam. Eu era adolescente e gostava de ouvir rádio. As estações que se ouviam eram a Emissora Nacional, a Rádio Renascença e o Rádio Clube Português. Lá em casa, o ambiente era austero e ainda mais em tempo de Quaresma. Porém, sempre que eu podia, ligava o meu rádio de pilhas para ouvir músicas de que gostava, com o transistor quase encostado ao ouvido, de tão baixinho que punha o som. Foi quando, na 6ª Feira Santa, ouvi a voz do locutor a anunciar, julgo que no Rádio Clube Português: A emissão será interrompida às três da tarde, hora da celebração da morte de Jesus Cristo. Será retomada amanhã, Sábado de Aleluia. 

O mesmo aconteceu nas outras rádios. Lembro-me que fiquei triste, mas nem disse nada à minha tia, que andava sempre ocupada com as tarefas da casa, e muito menos ao meu tio, recolhido que estava no escritório, talvez a reler textos bíblicos sobre a morte e ressurreição de Cristo. Falar-lhe da falta que fazia um rádio seria demasiado pagão.

PÁSCOA FELIZ PARA TODOS!

segunda-feira, 14 de abril de 2025

‘O ruído que há em nós’

 

‘Bom Dia!’

‘Começo por propor um pequeno desafio: no momento de começar a ler este Curto, feche os olhos, respire fundo e pare sete segundos só para ouvir o que se passa à sua volta. Se por acaso conseguir escutar o silêncio sinta-se feliz, mas o mais provável é ter ouvido carros a passar na rua, uma buzina, um avião, o toque de um telemóvel, a televisão na sala ao lado, gaivotas, uma máquina qualquer a trabalhar, vozes ou até um zumbido dentro de si. (…)’

Começa assim o Expresso Curto de hoje, ao qual Margarida Cardoso deu o título que utilizei. A jornalista refere experiências de profissionais e estudos feitos que comprovam os prejuízos do ruído na nossa saúde e que podem levar a que a vida seja bem mais curta.

Fiz o exercício proposto no início e ouvi o exaustor na cozinha, carros a circular na rua, chilreios de pássaros na japoneira do jardim, vozes de pessoas a passar. Nada mau, mas estou em casa e vivo entre aldeia e vila.

Porém, há lojas, sobretudo em Centros Comerciais citadinos, onde os decibéis da música são altíssimos. Trabalhar assim muitas horas não deve ser fácil; talvez por isso só são contratados os  muito jovens. E inúmeras situações existem em que as pessoas estão expostas continuamente ao ruído.

O mesmo acontece no lazer. Algumas esplanadas à beira-mar têm a música tão alta que as pessoas tendem a falar igualmente alto. O som do mar é completamente anulado e até a vista é desviada.

Se o silêncio é pesado, custa muito, mas criar para si próprio momentos de silêncio e proporcionar aos outros esse prazer, muitas vezes não custa nada. E a Vida de cada um agradece.


domingo, 13 de abril de 2025

Domingo com ramos


No Domingo de Ramos, há muitos muitos anos, a minha irmã e eu íamos à missa das nove e meia e levávamos um raminho para benzer. Era a minha mãe que o fazia. No ramo, havia sempre alecrim, oliveira e flores do nosso jardim. Lembro-me sobretudo dos goivos. Muito perfumados.

Benzido o ramo, a minha mãe conservava-o para ajudar a proteger-nos das trovoadas.

Hoje, logo de manhã, levei-lhe um raminho de flores variadas que colhi no meu jardim e pu-las na jarra, bem perto da foto em que está sorridente ao lado do meu pai.

Porém, no ramo que deixei, não havia oliveira, porque não tenho; nem alecrim porque me esqueci; nem goivos porque falta-nos sempre alguma coisa. Ou é alguém?


terça-feira, 8 de abril de 2025

A funcionária faladora


Chequei ao hospital para fazer análises. Não havia fila. Fiquei admirada e contente. Vi que a funcionária, que estava junto à máquina das senhas, era simpática e faladora.

A seguir a mim, chegou uma senhora com um belo ramo de flores. A funcionária faladora, enquanto retirava a minha senha, disse, olhando para ela:

- Hoje não faço anos!

Eu, já que o clima bem disposto estava criado, disse também uma graça, sorrindo:

- São para mim!

Foi então que ouvi da funcionária faladora:

- Sou  sincera, não gosto de flores!

- Não gosta? 

Perguntámos as duas quase ao mesmo tempo.

- Não gosto mesmo; prefiro uma carteira, uns brincos…

E outra pessoa chegou. A linha a seguir era a rosa. 

Que estranho e que estranha coincidência, pensava eu, enquanto esperava a chamada que em breve chegou: Senha 243, posto 1!


sábado, 5 de abril de 2025

Sentidos


Plantei rosas e floriram. E como gosto de só as ver no jardim!

Plantei alhos franceses. E com eles faço sopa e refogados que me deliciam.

Plantei tulipas há uns anos. No inverno, fecham-se na terra e abrem-se, belas, na primavera.

Cortei as ervas daninhas do quintal e, mesmo assim, florzinhas amarelas, também daninhas, aparecem e pintam o terreno. Com beleza e sem  dano.

Podei as trepadeiras do muro e voltaram a crescer. Não querem ver apenas um dos lados.

Tudo isto me dá alegria.


Liguei a televisão para ver notícias. 

Tudo isso me deu tristeza.


sexta-feira, 4 de abril de 2025

Adiamento

 


Afinal, a apresentação do livro, prevista para a tarde de amanhã, sábado, na Biblioteca Municipal de Gondomar, vai ser adiada por motivos de doença muito grave de familiares muito próximos da minha companheira de escrita - Maria Clara Miguel (pseudónimo de Isaura Afonseca) - pelo que  tomámos essa decisão.

Quando for marcada nova data e novo local, comunico. Oxalá possa ser na Biblioteca Municipal que é um lugar com muita luz e de que gosto muito. Vamos ver.


quarta-feira, 2 de abril de 2025

Ontem foi o Dia das mentiras?

 


Ontem foi o 'Dia das mentiras'. Ou será hoje? Ou seria anteontem? Ou seria nos dias anteriores e nos próximos? É difícil saber, porque os exemplos de quem devia dar  exemplos de verdade são maus.

'A mentira tem perna curta' é provérbio em queda porque mentir parece ter perna cada vez mais longa e o tamanho do nariz de Pinóquio mantém-se quando mente, e não cresce como acontece na história. 

Muitas crianças e jovens vão crescendo pensando que é legítimo mentir,  omitir o que os pode prejudicar, distorcer a verdade, culpar os outros do que acontece de mal, fugir do que lhes traz incómodo...


Ontem tirei algumas fotos a flores do meu jardim e partilho algumas. E pensei que ainda bem que a primavera, tal como as outras estações, cumpre rotinas de beleza, apesar de todas as formas de mentira e de violência que existem no mundo. Perante toda a dureza, ambição desenfreada, pontapés na verdade, até parece ingenuidade dizê-lo, mas se quem o faz olhasse para a natureza, incluindo a natureza humana, e não apenas para si próprio, tudo seria bem melhor. E o futuro seria menos perigoso.


Ontem respondi a mensagens que recebi com mentiras engraçadas e que não trazem mal ao mundo. Ri-me com algumas. Espero que tenham rido também com as que enviei. Será que rir com mentiras simples inventadas no dia 1 de abril pode evitar que tanta gente chore todos os dias por causa de tanta mentira e de tanto atropelo na verdade? Era bom que assim fosse.


domingo, 23 de março de 2025

Convite

 

Se puderem passar por lá, serão muito bem-vindos!




sábado, 15 de março de 2025

Continuo a amar-te, cidade com mar ao fundo!


Nunca se falou tanto de Espinho, pequena e bonita cidade com o mar por perto e saudáveis passadiços e gostosos restaurantes e atividades culturais e lojas ou mercados onde se encontra tudo o que é preciso e muitos olás porque quase toda a gente se conhece e muitas tradicionais devoções e os pregões na voz sonora das peixeiras e as belas ainda que mais curtas praias… 

… por onde circula o necessário e explicado dinheiro.

Porém, Espinho  entrou no mapa dos media sobretudo pela famigerada Spinumviva (até custa a dizer o nome!), a casa da família Montenegro donde se avista o mar e um mar de problemas, as influências da câmara municipal em cores diferentes…

… por aqui, a acreditar em notícias, circulam dinheiros que um cidadão normal acha mal explicados.

Contudo, não deixarei de ir à ‘minha cidade com o mar ao fundo’. Continuarei a amar a sua maresia, mas as coisas confusas que até espantam e roubam a alegria, não!


sexta-feira, 14 de março de 2025

Enquanto isto, sou isto; enquanto aquilo, sou aquilo!


Diz-se, e com razão, que todos temos várias camadas, como uma cebola, mas custa-me entender que figuras públicas que ocupam cargos de grande responsabilidade e de necessária isenção façam afirmações que negam qualquer  imparcialidade que, legitimamente, lhes é exigida.

Depois, perante questões sobre o que disseram, a justificação que habitualmente surge é que as palavras foram ditas enquanto exerciam a função A e não a função B. Neste caso está o presidente da Assembleia da República que afirmou, recentemente, que o líder do PS fez pior à democracia em meia dúzia de dias do que o líder do Chega  em meia dúzia de anos. Disse-o com a sua bem penteada candura, mas que não esconde a raiz da crítica feroz.

Instado sobre esta afirmação, lá veio a justificação do costume: as palavras foram ditas enquanto membro do seu partido e não como presidente da assembleia da república. Como se a política fosse um palco em que se veste e logo se despe uma camisola.

Todos agimos de forma diferente consoante os momentos e os contextos em que estamos ou que vivemos. Porém, quem se expõe publicamente por livre vontade, como é o caso dos políticos que exercem cargos que requerem  isenção terão, na minha modesta opinião, de saber gerir o que dizem e que terá eco em todo o país, não ficando apenas num grupo restrito  de amigos em conversa descontraída à mesa do café.

Isto de se dizer tudo até ao insulto e tudo se justificar depois para ficar bem na fotografia não é nada bom exemplo, sobretudo para os jovens. Por isso, estes desligam da política e procuram outras redes.

Enquanto anónima cidadã e sabendo que alguma imparcialidade também vive em mim, como em toda a gente, é isto que penso enquanto observadora de coisas esquisitas que se passam e que ‘vemos, ouvimos e lemos’. 

Venham alegrias! Venham também confrontos, mas menos agressivos; precisamos deles enquanto… Pessoas.


P.S. Ontem, vários deputados choraram pela morte de Miguel Macedo, figura muito apreciada no PSD. Apesar da tristeza do momento, apreciei ver aqueles homens grandes (mas nem sempre grandes homens) com a voz embargada e a chorar, dando um sinal de humanidade. Será que é também um sinal de que em vez da fúria de tantos debates haverá mais educação? Enquanto eleitora e sobretudo enquanto pessoa gostava que sim.


segunda-feira, 10 de março de 2025

'Tenho a perceção … tenho mesmo!’

 

Quem já não ouviu o que digo em título? Basta estar atento às notícias. O sr primeiro ministro e o líder parlamentar do seu partido repetem e repetem estas afirmações sobre os mais variados assuntos.

Quanto a mim, anónima cidadã, ‘tenho a perceção… tenho mesmo’ de que a vida está a  piorar para os homens, para as mulheres, para os jovens, para as crianças…

Felizmente há celebrações, como o recente  Dia da Mulher, mas não escondem um problema que se está a generalizar, como a erva daninha do meu quintal: O que acontece de mal é sempre culpa dos outros e o melhor é destacar o que corre bem, porque para o resto não há tempo nem paciência!

O sr primeiro ministro é acusado de recebimentos mal explicados, mas nem fala disso sequer nos seus discursos em que promete novos projetos e aproveita para culpar os outros. Para ele, a oposição e os jornalistas são os maus da fita que não o deixam governar. 

A omissão e o passa-culpas estão num crescendo, não só em Portugal, o que faz muito mal, sobretudo aos jovens que precisavam de exemplos que os ajudassem a formar-se e não apenas a olhar para o poder e para o dinheiro num salve-se quem puder.

‘Tenho a perceção’, como muita gente, de que a tempestade atual não é só meteorológica. ‘Tenho mesmo’. 

                 Boa semana, com boas perceções!


quinta-feira, 6 de março de 2025

'Sei um ninho'

 


'Sei um ninho.

E o ninho tem um ovo.

E o ovo, redondinho,

Tem lá dentro um passarinho

Novo.

 

Mas escusam de me atentar:

Nem o tiro, nem o ensino.

Quero ser um bom menino

E guardar

Este segredo comigo.

E ter depois um amigo

Que faça o pino

A voar…'

 

Miguel Torga


terça-feira, 4 de março de 2025

Carnaval


Por todo o país, há hoje divertidos festejos e desfiles carnavalescos. Durante umas horas, mostra-se o trabalho minucioso de longos meses. Apesar de reconhecer todo esse alegre entusiasmo, eu não teria vontade de enfrentar filas de trânsito e multidões para ver o corso passar. No entanto, o Carnaval de diferentes regiões do interior do país  seduz-me e está a atrair muita gente.  Poderá ter a vantagem de maior conhecimento e valorização de terras que tantas vezes são esquecidas. Pode ser que para o ano lá vá!

Caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros).

Carnaval em Lazarim (Lamego)


Para além deste carnaval que nesta terça-feira tem o seu apogeu, o país e o mundo estão  a viver um carnaval cujo fim se desconhece. Por vezes com máscaras, outras sem máscara nenhuma.

Por cá, e à dimensão do nosso país, é o desfile mediático encabeçado pelo primeiro ministro com a sua famigerada empresa e muitos adereços a reboque, uns mascarados, outros não.

Do outro lado do Atlântico, no país mais poderoso do mundo, desfila um corso gigante com  cinco letras à frente, ainda mais gigantes, para que se possam avistar em todo o universo (tenho um familiar muito próximo americano que stressa de vergonha pelos desatinos do presidente do seu país).

Bom Carnaval para todos, com saúde e alegria. É que tristezas não pagam as dívidas que a humanidade já está a pagar.


domingo, 2 de março de 2025

Poder, dinheiro…

 

… culpa sempre dos outros… 

Isto vai mal também no reino de Portugal. Não é saudável ver políticos andar na passerele da vaidade, como se dissessem: ponham os olhos em mim: sou rico e poderoso. A mim, não me atinge qualquer mácula. Eu quero-posso-e-mando e o resto é conversa de quem é uma nódoa.

No imbróglio em que  se deixou enredar, o primeiro ministro, nas poucas vezes que fala, omite factos comprometedores como a avultada avença que recebe da instituição, que também depende do estado, preferindo a cabala que jornalistas e adversários políticos tecem, no seu entender. É triste o exemplo do passa-culpas, da vitimizacão, da omissão ou meias-verdades de quem ocupa cargos públicos de tanta importância.

Numa dimensão estratosférica, foi horrível  ver Zelensky a ser humilhado na sua visita a Trump - homem tresloucado que vê o mundo como um feudo que julga ter o direito de manipular pelo seu imenso poder e imenso dinheiro. Por isso, calca e humilha quem não  lhe interessa ou de quem não gosta. 

O vídeo sobre a impensável Riviera  de Gaza é um tremendo insulto à humanidade, é dar chutos nos mais fracos e querer brindar junto da estátua de quem domina o jogo do mais forte.

A ânsia do poder e do dinheiro corrompem cada vez mais o mundo, mas tentar demonstrar que a culpa é sempre dos outros - sobretudo dos seus adversários - arruina e mina igualmente a humanidade.

As novas gerações seguirão facilmente estes exemplos que se vão normalizando, em pequena ou grande dimensão, e aos quais  vamos assistindo perplexos e impotentes.

Assim, nem apetece brincar.

Bom domingo para todos, com coisas que nos façam felizes e aos outros também!


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Todos os seres gostam de um amparo

 




Alvos da natureza

 



Com sol, as flores brilham mais!

 




segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Carta a um presidente


Esta canção, em forma de carta de um desertor, refere consequências nefastas da guerra,  Foi escrita em 1954 por Boris Vian - engenheiro, escritor, poeta, cantautor… (França, 1920 - 1959).



Cair como um Putin(ho)!


A minha longa experiência de vida tem-me mostrado que pessoas narcísicas e com uma sede imensa de poder e de serem adoradas  caem facilmente em jogos de sedução. E nem reparam nisso, enleadas que estão no seu amor próprio.

Atualmente, o mundo sabe cada vez menos como será o dia de amanhã por causa da ambição desmedida de meia dúzia de governantes que se sentem donos do mundo e agem como tal.

Há três anos que a guerra na Europa - sangrenta, como todas as guerras - começou. O sr Putin quis aumentar o império que considera seu e invadiu a Ucrânia, um país soberano.

Agora, o seu errante e igualmente ambicioso amigo, sr Trump, afirma que quem começou as hostilidades foi Zelensky. E acrescenta sempre outras mentiras que considera verdades que todos devem aceitar e que o sr Putin também agradece.

Assim sendo, o sr russo deve esfregar as mãos de contente; o sr americano deve fazer esgares de orgulho por ser aceite por outro aluno poderoso da turma. Juntos, podem invadir toda a escola.

Enquanto isto, o sr americano vai delapidando a educação e o mundo. No frenesim de ser o mais esperto e poderoso da turma, nem repara que está a cair que nem um Putinho em braços ardilosos e bem mais adultos.

Por um lado, é bem feita, por outro lado - o maior e muito pior - é que ambos e outras imitações estão a dar cabo disto tudo.


P.S. Vi agora um excerto de um vídeo, que corre nas redes sociais, sobre a guerra na Ucrânia. Comovente. Preocupante.


sábado, 22 de fevereiro de 2025

Moção de censura a mim própria


Hoje, sábado, tem sido, para mim, e por bons motivos familiares, um dia sem saber notícias. Porém, nas televisões, nas rádios e nos jornais, não faltará o rescaldo do debate de ontem na Assembleia da República, que teve como pano de fundo a moção de censura ao Governo, apresentada pelo partido de A.V.

O principal alvo era o primeiro-ministro, por  alegadas e não explicadas irregularidades na manutenção da empresa familiar que possui e chefia.

Ora, o que me faz sobretudo impressão é como é possível ter tempo para gerir  uma empresa tão rentável e, simultaneamente, gerir um país. Não me entra na cabeça.

O nosso país é pequeno, mas, mesmo assim, deve dar muito trabalho porque existem áreas que estão em agonia, e que toda a gente conhece.

Por outro lado, a empresa do sr primeiro-ministro também lhe deve dar muito trabalho, a avaliar pelos ganhos com os clientes, mas estes a gente não conhece.

Por estas e por outras, sinto-me frágil porque verifico que fiz muito pouco até agora. E o tempo que me falta para viver será muito mais curto do que o do sr primeiro ministro, que é muito mais novo do que eu. Ele gere um país, gere uma empresa em casa e não lhe falta tempo. Eu apenas  giro a minha casa e acho que não tenho tempo, o que é, de facto, censurável.

Pelo que sei, as moções de censura servem para analisar condutas e comportamentos. Por isso, saia para esta mesa uma moção de censura. Sim, é para mim, anónima  cidadã que não soube  lucrar  nem dar lucro pelas fatias de tempo e de solo que lhe couberam.

Atendendo a tanta fragilidade, não está aberta a discussão!




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Também troco os vês pelos bês!

 



domingo, 16 de fevereiro de 2025

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Quando o silêncio é bom!

 



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Namoremos a vida, enquanto podemos!

 



sábado, 8 de fevereiro de 2025

Uma faixa à beira-mar castigada

 

Neste momento, estão a ser libertados reféns-prisioneiros de Israel e da Palestina. Ao longo do dia, as imagens vão passar inúmeras vezes, podendo ver-se a alegria do reencontro e a tristeza de quem já não vê as pessoas que queria abraçar.

 Em pano de fundo, estão dois países vizinhos em guerra, isto é, dois em um, no entender de alguns poderosos governantes.

E o sr Trump, na sua desmedida e desatinada ambição imobiliária, cobiça agora a faixa de Gaza, que a guerra tem destruído e matado inúmeras pessoas inocentes, incluindo crianças.

O sr Trump quer fazer dessa faixa, agora em ruínas mas com gente dentro, uma festiva Riviera, alargando as suas ideias estapafúrdias e loucas. Onde ele vê terra vê imóveis ricos para os seus seguidores, ignorando as pessoas que  têm o direito de lá viver. 

Neste momento, estão a ser libertados prisioneiros e ainda bem. Porém, se o mundo for governado pela lei apenas de alguns,  vai ficando cada vez mais prisioneiro e ainda mal.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Há mar e mar… e arte para nos alegrar!

 



terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Zezinho, anda dar um beijinho!

 

Domingo, estava eu na ‘minha’ cidade com mar ao fundo, fui a um café com larga esplanada iluminada de sol. Alguns vasos altos,  com abundantes suculentas, delimitavam zonas de passagem.  Entretanto, duas famílias encontram-se. E logo se ouve a mãe de um menino:

- Zezinho, anda dar um beijinho.

E o pai repete  alto e bom som:

- Zezinho, anda dar um beijinho.

E as chamadas do pai e da mãe do Zezinho foram-se ouvindo. Perante a insistência, o menino foi-se escondendo atrás de um vaso. Vendo os pais distraídos a conversar com os amigos, foi-se adelgaçando entre o vaso e o vidro separador e, daí a nada, estava a correr no jardim junto à esplanada.

Assistindo à cena, veio-me à memória o poema ‘Liberdade’ de Fernando Pessoa, a quem roubei o primeiro verso (assinalando-o, como é devido, porque o seu a seu dono). O resto foi para desenhar mais um pouco a engraçada situação:

‘Ai que prazer não cumprir um dever’

De dar beijinhos

Quando se é mandado

Porque a dar beijinhos

Ninguém deve ser obrigado.


domingo, 2 de fevereiro de 2025

Porque hoje é domingo!






sábado, 1 de fevereiro de 2025

Bom sábado!


 


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Consciência (in)tranquila

 

Não me lembro de nenhuma figura política, ao demitir-se de um cargo ou sendo demitida, que não diga que está de consciência tranquila. Um secretário de estado do atual governo, cuja demissão foi conhecida ontem, repetiu, igualmente, que estava de consciência tranquila. 

Esta expressão, com tanto uso e abuso, vai-se tornando vazia do significado que, nestes casos, querem dar, com ar sério e circunspecto. Como se quem a ouve a aceitasse sem pensar ou não tivesse consciência.

E, depois das demissões, chovem até elogios, mas nenhuma referência aos motivos que levaram à cadeira ter ficado vazia. Sobre isso, os governantes nada dizem porque, perante factos, esgotam-se os argumentos que seriam desejáveis.

Esses governantes, tão palavrosos tantas vezes, remetem-se ao silêncio quando as coisas correm mal e ficam-se por uma nota escrita, curta e breve, para a comunicação social sobre o caso e a vida continua. 

Esquecem-se, porém, de que a consciência do comum dos mortais vai ficando intranquila. E triste. Como fria tempestade.


domingo, 26 de janeiro de 2025

Uma imagem/frase para um domingo de chuva!


Bom domingo!



sábado, 25 de janeiro de 2025

É sábado, há sol e músicas assim!


 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Um ingrediente que entrou por engano

 

Sou fã do caderno Ideias do jornal Expresso. Nele, vem uma crónica, que não costumo perder, de Ricardo Dias Felner, com o título sugestivo de ‘O Homem que Comia Tudo’, sobre gastronomia e restaurantes. O cronista parece ser honesto, conhecedor e exigente nas apreciações e nas sugestões que apresenta, falando de todo o tipo de restaurantes e de comidas onde moram bons e consoladores sabores, não necessariamente caros.

Ora, na crónica de 15 de novembro último, com o título “Isaltino e os restaurantes”, a dado momento, o cronista diz:

“Na sequência disso, Isaltino foi para as redes sociais promover alguns dos restaurantes locais que tinham beneficiado dos dinheiros públicos

- sugerindo que os gastos haviam sido em prole da extraordinária gastronomia oeirense, mais do que em prole do seu extraordinário estômago.“

Como se vê neste excerto, o cronista repete a palavra ‘prole’ que é mal utilizada, neste contexto. O que ele quereria escrever era ‘prol’, que significa a favor de, em defesa de, em proveito de...

Por exemplo: Todas as semanas, ele escreve em prol da boa gastronomia.

A palavra 'prole', por sua vez, significa descendência...

Por exemplo: Ao domingo, o casal costuma ir ao restaurante com a sua prole (com os filhos).

Assim, vemos que até uma simples letra pode fazer a diferença. E de que maneira. É como uma bela sobremesa com um ingrediente que entrou por engano!


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Na caixa 29


Ontem à tarde, estava sol e ela resolveu sair. Assim, sempre mexia um pouco mais as pernas e não ficava tanto tempo no sofá a dormitar e a ver a Tânia ou a Júlia ou o Goucha. Iria ao Centro Comercial, que ficava perto de casa. Podia até encontrar alguém conhecido e conversar. Ou mulher ou homem também com sinais de solidão que olhassem para ela e lhe dirigissem, amigavelmente, a palavra e até a convidassem a sentar um pouco ou até a tomar um café. Que mal tinha? Mal era ficar sempre em casa a ver e ouvir histórias tristes que lhe aumentavam a solidão e a tristeza.

Pois bem, limpou a pele, pôs creme, pó de arroz e desenhou o traço negro nos olhos o mais direitinho possível. Tinha de realçar o melhor de si. Daí a pouco tempo, estava no Centro Comercial. Olhou à sua volta. Bastantes pessoas sozinhas. Mulheres sobretudo. Teriam saído com os mesmos propósitos que ela: ter um pouco de companhia que as alegrasse. Apetecia-lhe esboçar um sorriso a ver se alguém lhe sorria também, mas algumas pessoas estavam era fixadas no telemóvel ou nos seus pensamentos.

Através dos vidros largos, via-se o estádio do Dragão, e entrava uma luz imensa e boa. Foi percorrendo o átrio. Apeteceu-lhe um café pingado. Aproximou-se do bar. Duas jovens funcionárias falavam de uma colega, reproduzindo o que ela tinha dito e o que lhe tinham respondido. 

Ficou algum tempo a ouvir com agrado, para mais uma das raparigas era brasileira e sempre gostara da doçura daquele sotaque. Finalmente, deram conta que tinham uma cliente à espera. Pediu o pingo bem quentinho. Coisas de velhos, pensou ela sobre o que elas teriam pensado. Apetecia-lhe meter conversa, mas as jovens tinham recomeçado a história de há pouco. Sentou- se a uma mesa, aquecendo as mãos na chávena, e olhava quem passava, quase sempre com ar sério, embora em passo vagaroso. Deixou-se ficar algum tempo. 

Mesmo com o risco bem acentuado dos olhos, parecia invisível a quem passava e com quem se cruzava no largo e luminoso átrio do centro comercial. O melhor era ir comprar pão e regressar a casa. Daí a pouco, começaria a escurecer e a ficar frio. Assim fez.

No Continente, a fila para pagamento era grande. Atrás de si, estava outra mulher. Teria a sua idade. Ambas tinham poucas compras. Cabiam-lhes nas mãos. Entretanto, foi chamada para a caixa 29 e logo a vizinha de fila também, o que foi motivo de conversa:

- Continuo atrás da senhora.

- É verdade. Hoje a fila está demorada.

- Há poucas caixas a funcionar. Nem é costume.

- Devia haver uma caixa para quem compra poucas coisas.

- E está-me a custar estar aqui. Dói-me tanto uma perna.

- Oh, isso é que é pior!

E já fora da caixa de pagamento:

- Então adeus e as melhoras.

E saiu a pensar que, da próxima vez que viesse ao Centro Comercial, poderia encontrar a vizinha de fila, ir ter com ela e perguntar-lhe se estava melhor. E haveria motivo de conversa.


sábado, 18 de janeiro de 2025

Tenho uma filha emigrante


Quando a minha filha mais nova rumou, sozinha, a Londres para prosseguir estudos, ainda não sabia que ficaria a viver lá e que encontraria, por si, condições profissionais que aqui não tinha. Apesar de ela não ser muito dada a queixas e lamentos, pelo menos o inicio da sua vida naquela grande cidade não deve ter sido fácil. Teve de ser muito organizada, trabalhadora e muito corajosa. Acho que, se eu estivesse no lugar dela, não teria nem metade dessas capacidades.

Por isso, toca-me diretamente o tema, e, sendo Portugal um país de forte emigração, considero desumana a forma como muitos imigrantes e muitos dos seus filhos, mesmo já  nascidos no nosso país, são tratados. Chocam-me expressões como: ‘vão para a terra deles’, ‘encostem-nos à parede’..., expressões gritadas e repetidas até na Assembleia da República. Haverá exceções, mas, quando as pessoas decidem migrar, fazem sacrifícios na busca de uma vida melhor a que têm direito.

Há crimes? Há excessos? Há vícios? Existem, com certeza, como há em todas as comunidades. Porém, recorrentemente, ter-se a pele mais escura, ser-se pobre e ser-se estrangeiro acentuam desconfianças e medos, mesmo que não haja evidências de comportamentos desviantes.

Um dos argumentos por cá apresentados é que os imigrantes roubam o trabalho a muitos cidadãos, o que retira riqueza ao país.

Londres ou outra grande cidade, incluindo as portuguesas, não empobrecem com os imigrantes que acolhem. Pelo contrário, eles contribuem até para a riqueza do país pelo seu trabalho nas obras, na restauração,  em serviços públicos, etc.

Porque são então tantos imigrantes vilipendiados e associados, aleatoriamente, à criminalidade? A este propósito, o diretor da polícia judiciária Portuguesa afirma que são perceções e desinformação que levam à ligação  imigração-criminalidade e não o que acontece de facto.

Por isso, quem não quer esclarecer mas apenas espalhar a confusão usa e abusa de microfones que lhes estendem, alterando o poder da realidade e buscando a realidade do seu próprio poder.

Em Londres, passar-se-á o mesmo, porque o fenómeno é geral. Lá, a minha filha e tantas outras pessoas, vindas de diferentes países, trabalham e interagem, pacificamente, procurando fazer o melhor possível. Na escola da minha neta, há meninos e meninas de diferentes proveniências e cores de pele,  o que para eles é normal. Muitos adultos poderiam aprender com estes exemplos, contudo, a ambição desmedida provoca grande surdez e cegueira.

Oxalá que muito trabalho feito por tanta gente, nos mais diferentes setores, no seu país ou noutros de acolhimento, se vá dando a conhecer mais e melhor, para bem da humanidade. Ainda que os microfones estejam deles demasiado  afastados.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

‘Se senta, se tenta’


Havia um restaurante no Porto  (não sei se existe ainda), com o nome que pus em título. Lembrei-me dele a propósito de um aniversariante muito próximo que, ao fazer setenta anos, sentiu um peso a cair-lhe em cima como pedras de muro que desaba. Dado ao humor e a tornar mais leves coisas mais pesadas da vida, os setenta anos fizeram-no pensar mais profundamente nos outros e na vida.

Parece que ficou diferente - comentava quem o observava. E não era difícil ler-lhe o pensamento. Quando acenderam as velas para lhe cantarem os parabéns, lembrou-se dos aniversários da sua infância que passavam sem doces nem parabéns. Quando os convidados foram embora, ajudou a arrumar a loiça e foi-se deitar.

No dia seguinte, escreveu num grupo do whatsapp : A vida continua. Viva a Vida!

E saiu para trabalhar, como fazia há muitas dezenas de anos. Sentando-se, como habitualmente, disse para si que, se se senta, se tenta a pôr em prática as palavras que partilhou logo pela manhã do dia seguinte a fazer setenta anos.


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Bom Dia!

 



domingo, 12 de janeiro de 2025

O (meu) olhar e (ainda) um almoço de Natal!


Há muitos anos, um colega de trabalho disse-me, amigavelmente, que o meu olhar era muito avaliativo. Nunca mais me esqueci e, na altura, desagradou-me, confesso. Não pelas palavras que acabava de ouvir, mas sobretudo porque verifiquei que era verdade. A confirmá-lo bastava ver algumas fotografias. E o pior é que ainda não aprendi a corrigir. Raios! A gente aprende (que remédio!) tanta coisa e outra tanta não consegue corrigir!

Ora, tenho um grupo de amigos de longa data que se reúne sempre antes ou depois do Natal. Pois bem, ontem foi o dia do almoço natalício,  não fosse o Natal ‘quando o homem ou a mulher) quiser’. Sempre animado e divertido o nosso encontro, trocamos presentes, partilhamos petiscos e, à boa maneira de quem gosta uns dos outros e se conhece bem, há conversas que se cruzam, que se sobrepõem e que acabam em risota. E as fotos tiradas lá vão fixando alguns momentos.

Vendo algumas agora, lá me salta à vista o tal meu olhar bastante avaliativo que, mais uma vez, confirmo. E digo para mim: raios! Não gosto nada!

Mas foi uma tarde bem passada entre amigos - é a avaliação que faço. Tenho pena é do tal olhar avaliativo. Nem sempre, é claro. E é o que vale para as boas amizades continuarem a valer.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Quantos deles leram um livro do princípio ao fim?

Hoje, debaixo de intensa chuva, os restos mortais de Eça de Queirós, que faleceu em Paris no ano de 1900, foram trasladados de um cemitério de Baião, perto da Casa de Tormes, para o Panteão Nacional, em Lisboa.

A urna, sobre uma charrete puxada a cavalos, percorria a estrada sem ninguém a ver nem a aplaudir, tanta era a água que do céu caía. O cenário era digno de  filme triste mas belo, que dispensaria legendas, mas não o silêncio.

À hora prevista, na igreja de Santa Engrácia, reuniam-se governantes, familiares do grande escritor e muitas figuras públicas convidadas para prestarem homenagem ao homem que foi cônsul, escritor, jornalista…

Segui a cerimónia pela televisão, ouvindo os discursos, a música, a leitura de textos de diversas obras do autor, nomeadamente Os Maias, O Primo Basílio,  O crime do Padre Amaro, A Cidade e as Serras. E também As Farpas, obra escrita com Ramalho Ortigão.

Achei uma ótima ideia lerem excertos de livros do autor e os palestrantes lembrarem que a leitura das obras é a melhor homenagem que se pode fazer a quem as produziu, neste caso, de forma prodigiosa.

Ora, nestas diferentes obras literárias, há uma forte - sem ultrapassar linhas vermelhas, como agora se diz - crítica (construtiva) ao Portugal da época, havendo a caracterização de personagens, com traços, curiosamente, muito semelhantes a figuras públicas atuais, fazendo rir o leitor pelo humor e ironia. Nisto também o escritor foi genial. 

E, enquanto, decorria a homenagem, ia-me perguntando: quantos políticos atuais leram um livro de Eça de Queirós, do princípio ao fim? 

É que, com as obras do autor homenageado, também se aprende muito sobre o mundo em que vivemos. E sobre o mundo em que seria melhor viver.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

A travessa cavalinho e a festa dos Reis



Tenho esta travessa há muitos anos. Trouxe-a de casa dos meus pais. Vive agora pendurada numa parede. Sempre que a olho, vejo-a na mesa da minha infância, com batatas, bacalhau e hortaliças a fumegar, no tempo em que se festejava o Dia de Reis. A comemoração não era bem como a do Natal, mas não faltava a aletria nem o leite-creme nem as rabanadas, tudo feito ao fim da tarde para ser saboreado  ainda quentinho.
Agora, que eu saiba, poucas pessoas, no nosso país, festejam os Reis Magos - Belchior, Gaspar e Baltasar - vindos do Oriente e que, seguindo a sua estrela, se deslocaram até Belém para visitarem e oferecerem ouro, incenso e mirra a Jesus, recém-nascido.
Atualmente muito se fala do Oriente por guerras e conflitos que alastram, destroem e matam. Que bom seria que terminassem como termina agora a época de Natal.
A partir de hoje, arrumam-se presépios, árvores e enfeites de uns dias natalícios, dos quais ficaram boas ou más memórias. Às vezes, são objetos que trazem ao de cima muitas recordações. Como acontece com esta velhinha travessa que já cavalgou décadas. Não fosse ela uma travessa cavalinho.

Quero ir ao encontro de alguém, mas não de encontro a qualquer coisa!


Por todo o lado, incluindo na comunicação social, ouvimos as expressões 

Ao encontro de 

De encontro a

Ambas existem, mas o seu significado é bem diferente, apesar de serem usadas, por distração ou desconhecimento, como se o significado fosse o mesmo.

Se vamos ter com alguém ou concordamos com certas ideias, vamos ao encontro dessa pessoa ou dessas formas de pensar ou agir, como, por exemplo:

'Fui ao encontro dos  meus amigos, como tínhamos combinado.

'Ele é generoso e vai sempre ao encontro das necessidades dos outros


Porém, ir de encontro a significa esbarrar, ir contra qualquer coisa, como, por exemplo:

'A criança ia a correr tanto que foi de encontro ao muro.


Num mundo de tantos choques e tantos desencontros, saibamos então distinguir:

. ir ao encontro de - satisfazer, dar resposta, aproximar-se de alguém ou de ideias, sem choque físico.

. ir de encontro a - colidir, chocar


Acrescento, então:

Hoje vou ao encontro de uma pessoa amiga. Espero não escorregar na rampa do café e ir de encontro à  porta de entrada.


Que este Dia de Reis de 2025 vá ao encontro dos desejos de cada um e que os políticos não vão, mais uma vez, de encontro às ideias de todos os adversários, mesmo que sejam boas para o país.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Olhemo-nos uns aos outros!

 Primeiro (não) olhar

A menina era uma boa aluna. Raramente se queixava dos professores. Havia, porém, uma professora que dirigia quase sempre o seu olhar para o melhor aluno à sua disciplina, o que não era confortável. A professora parecia querer ter o seu aval do que dizia e do modo como agia. Os outros alunos sentiam-no e, claro, a adolescente que era boa aluna à disciplina, mas talvez nem tanto como o colega de turma, também. Passados alguns anos, a professora e a ex-aluna encontraram-se por acaso. Reconheceram-se, falaram do tempo de escola, a professora elogiou-a, desejou-lhe muitas e bem merecidas felicidades. E, curioso, passado tanto tempo, a imagem do não olhar na sala de aula não deixou de dizer presente. 


Segundo (não) olhar

A mãe foi ao médico com a filha. Era a mãe que precisava da consulta. A filha, já adulta, levaria o carro e faria companhia à mãe. A consulta era num hospital particular para a marcação ser mais rápida, apesar de ambas não dispensarem e reconhecerem toda a importância do SNS. Após a consulta, o médico, que parecia apressado e com pouca paciência, comunicou o diagnóstico. Fê-lo, olhando apenas a filha, como se a pessoa mais velha, a principal interessada e, felizmente, na posse de todas as suas faculdades, não estivesse ali. E ia pensando que o ato médico é também um ato de comunicação. Cada vez mais. O olhar com empatia pode melhorar muita coisa. A falta dele pode estragar muita coisa também. 


Terceiro (não) olhar

A visitante chegou ao pequeno museu no país estrangeiro. Estava feliz, porque já há muito tempo queria conhecer aquele espaço, onde tinha vivido um grande poeta. À hora marcada, havia quatro pessoas para a visita guiada. Três delas eram falantes da língua do país e uma vinha de fora. O guia, um jovem estudante, bem informado sobre todo o espólio do museu, ia dialogando com os visitantes. Ou melhor, com todos menos com a visitante que não dominava a língua daquele país. O seu olhar ia, portanto, ao encontro daqueles que o entendiam por completo. A visitante olhava-o para compreender melhor a sua mensagem e ficar mais informada, mas o olhar não lhe era retribuído, com alguma tristeza sua. Terminada a visita, a visitante saiu. O guia estava distraído, mas a senhora, que estava junto dos objetos à venda, sorriu-lhe e desejou-lhe bom dia. Até ali, a visitante tinha prometido a si própria que não voltaria, mas, depois daquela saudação empática, talvez voltasse um dia. 


FELIZ ANO NOVO!