Quando a minha filha mais nova rumou, sozinha, a Londres para prosseguir estudos, ainda não sabia que ficaria a viver lá e que encontraria, por si, condições profissionais que aqui não tinha. Apesar de ela não ser muito dada a queixas e lamentos, pelo menos o inicio da sua vida naquela grande cidade não deve ter sido fácil. Teve de ser muito organizada, trabalhadora e muito corajosa. Acho que, se eu estivesse no lugar dela, não teria nem metade dessas capacidades.
Por isso, toca-me diretamente o tema, e, sendo Portugal um país de forte emigração, considero desumana a forma como muitos imigrantes e muitos dos seus filhos, mesmo já nascidos no nosso país, são tratados. Chocam-me expressões como: ‘vão para a terra deles’, ‘encostem-nos à parede’..., expressões gritadas e repetidas até na Assembleia da República. Haverá exceções, mas, quando as pessoas decidem migrar, fazem sacrifícios na busca de uma vida melhor a que têm direito.
Há crimes? Há excessos? Há vícios? Existem, com certeza, como há em todas as comunidades. Porém, recorrentemente, ter-se a pele mais escura, ser-se pobre e ser-se estrangeiro acentuam desconfianças e medos, mesmo que não haja evidências de comportamentos desviantes.
Um dos argumentos por cá apresentados é que os imigrantes roubam o trabalho a muitos cidadãos, o que retira riqueza ao país.
Londres ou outra grande cidade, incluindo as portuguesas, não empobrecem com os imigrantes que acolhem. Pelo contrário, eles contribuem até para a riqueza do país pelo seu trabalho nas obras, na restauração, em serviços públicos, etc.
Porque são então tantos imigrantes vilipendiados e associados, aleatoriamente, à criminalidade? A este propósito, o diretor da polícia judiciária Portuguesa afirma que são perceções e desinformação que levam à ligação imigração-criminalidade e não o que acontece de facto.
Por isso, quem não quer esclarecer mas apenas espalhar a confusão usa e abusa de microfones que lhes estendem, alterando o poder da realidade e buscando a realidade do seu próprio poder.
Em Londres, passar-se-á o mesmo, porque o fenómeno é geral. Lá, a minha filha e tantas outras pessoas, vindas de diferentes países, trabalham e interagem, pacificamente, procurando fazer o melhor possível. Na escola da minha neta, há meninos e meninas de diferentes proveniências e cores de pele, o que para eles é normal. Muitos adultos poderiam aprender com estes exemplos, contudo, a ambição desmedida provoca grande surdez e cegueira.
Oxalá que muito trabalho feito por tanta gente, nos mais diferentes setores, no seu país ou noutros de acolhimento, se vá dando a conhecer mais e melhor, para bem da humanidade. Ainda que os microfones estejam deles demasiado afastados.
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