domingo, 27 de setembro de 2020

Ruídos

 

Ponho papeladas em ordem

porque há silêncio

abro a janela

entra luz e frescura

mas interrompo a arrumação

e pego num livro

e leio em silêncio

mais tarde

arrumo as papeladas

agora não

trazem-me muitos ruídos

basta-me ter de arrumar as papeladas

 

sábado, 26 de setembro de 2020

Colheita em manhã de outono


 

A lembrar uma sopinha quente



 

Uma sugestão de escrita sobre o Natal

 

LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME IX
Coletânea de poemas e contos 2020

A Lugar da Palavra Editora quer editar (mais) um livro memorável para este Natal. E gostaria de contar consigo! Participe!

REGULAMENTO

1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 27 de outubro de 2020.

2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para editora@lugardapalavra.pt

3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).

4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).

5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.

6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.

7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.

8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.

9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, em www.lugardapalavra.pt e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.

10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas, sendo certo que os autores beneficiarão de vantagens na sua aquisição diretamente à Lugar da Palavra Editora. Os autores selecionados obrigam-se a adquirir pelo menos um exemplar da obra.

11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.

12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo- lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.

  1. Será constituído um Conselho Editorial formado por três elementos: ANA MARIA BESSA, MARIA EUGÉNIA PONTE e MARIA ISABEL GONÇALVES.
  1. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.

    15. Os casos omissos serão resolvidos pela organização

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Diálogos improváveis que deixaram de o ser

1.

 - Filho, que tal a Faculdade?

- Muito fixe, mãe.

- Foram boas, então, as tuas primeiras impressões.

- Mesmo. Já nem me lembrava de estar numa sala de aula.

- E dos teus colegas, gostaste?

- Claro. Poder falar sem ser pelo zoom, a gente conhecer-se pessoalmente, conversar... nem   parecia verdade; foi mesmo fixe.


2.

- Bom dia, setora, desculpe o atraso.

- Bom dia, sente-se então no seu lugar.

- Até me admira não me dizer nada por ter perdido a camioneta.

- O que podia dizer? Só estou a conhecê-lo agora.

- Como assim?

- Vim hoje fazer esta substituição.

- Desculpe, setora, com a máscara, nem reparei que não era a nossa setora.


3.

- Mamã, quando não houver vírus, podemos ir a Portugal?

- Sim, filha, claro. E estamos com a família, brincas com os primos, vamos à praia...

- Gostava tanto de ir. Já não vamos lá há tanto tempo.

- Também tenho saudades de Portugal, filha.

- O vírus ainda vai ficar muito tempo, mamã?

- Não se sabe, filha, mas ele é muito chato e não quer ir embora.

- Mamã, posso começar a fazer a minha mala?

- Já, filha? Ainda nem marcamos a viagem!

- Assim, o vírus não entra porque vê que vamos sair!

 

No final do verão, já passado!

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Um (quase) poema que me chegou

 

O silêncio da casa

 

Deixo coisas por fazer

para que a casa continue assim

em silêncio

não sei se exala passado

ou sobretudo o agora

mas o momento é sereno

e não quero desperdiçar nada

do silêncio da casa de hoje

a cama está por fazer

a cozinha por arrumar

a roupa por passar a ferro

mas nada disso importa

não posso perturbar

o silêncio da casa

olho a tua fotografia

e não te digo nada

volto a olhar

volto a nada dizer

não é preciso

conheces o meu amor

pelo silêncio

- com arrumação,

pressinto que vás acrescentar.

 

15.09.2020

sábado, 19 de setembro de 2020

Master KG - Jerusalema

 

"... é sempre um bálsamo constatar que uma música conquistou o mundo pela diversidade de coreografias que inspira. Não sei se já ouviu falar da sul-africana “Jerusalema”, mas vale a pena ouvir",  in Expresso Curto de ontem, escrito por Jorge Araújo.

 Concordo que vale a pena ouvir. E ver, é claro.

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Despedidas de verão

 

 

A minha mãe chama a estas florinhas 'despedidas de verão'.  

Ela costuma conhecer bem a vida das flores.

Vou trazer para casa umas estaquinhas ou ganinhos, como sempre ouvi dizer, e plantar num canteiro.

Assim, terei um anúncio de outono natural e com a vantagem de ser bonito.

Como as flores já estão há uns dias na jarra, algumas estão murchas. 

Também acontece nas despedidas de verão.

 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Conversa com caracóis desconhecidos

 

 - Olá! 

- Já não vinha aqui à loja há uns tempos. O seu visual está diferente.

- Sim, há meses que não vou cabeleireiro e o cabelo cresceu bastante.

- Os caracóis são naturais?

- Sim, são. A minha mãe dizia-me que em pequena eu tinha caracóis, mas nem sabia que ainda os tinha.

- A sério?

- Desde os meus dez anos que usava o cabelo muito curto e nem dava pra ver.

- Tem piada.

- Quarenta anos sem saber que o meu cabelo tinha caracóis!

- É engraçado. Como na publicidade: há sempre uns caracóis desconhecidos que esperam por si!!!

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Os números a mais no telemóvel

 

Uma vez, ia eu no comboio e, muito perto de mim, alguém começou a apagar números de telemóvel, mas sem tirar o som. Não será necessário dizer como foi irritante a operação do procura-apaga.

Lembrei-me disto ontem, porque, enquanto esperava por uma chamada, comecei a apagar números que usei muitas vezes por necessidades da profissão, mas que há anos não preciso de utilizar.

Embora estivesse em casa, tinha o telemóvel sem som (sou muitas vezes criticada por não atender o telefone, embora depois ligue de volta. Acho péssimo, sobretudo em sítios públicos, ouvir-se o cantar poluente e estridente de telemóveis).

Ora, e retomando o que dizia há pouco, embora se apaguem alguns números, não se apagam momentos que ficaram registados na memória.

Nem os sons a eles associados.

 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Às vezes caem estas coisas nas notícias

 

Abro o Expresso curto de hoje, dia 15 de setembro, escrito por Paula Santos, diretora adjunta do jornal, e leio logo as primeiras palavras em destaque que são estas:

 

As aulas recomeçam. O futebol regressa e há 

polémicas que não saiem do debate. Chegou a fase  de

Contingência

 

Dra Paula Santos, onde diz saiem, deve dizer saem, que é a forma correta.

É que, num jornal de referência, sobressaem ainda mais estas coisas.



Por falar em aldeia...

 

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

 

O Tejo tem grandes navios

E navega nele ainda,

Para aqueles que veem em tudo o que lá não está

A memória das naus.

 

O Tejo desce de Espanha

E o Tejo entra no mar em Portugal.

Toda a gente sabe isso.

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia

E para onde ele vai

E donde ele vem.

E por isso, porque pertence a menos gente,

É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

 

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.

Para além do Tejo há a América

E a fortuna daqueles que a encontram.

Ninguém nunca pensou no que há para além

Do rio da minha aldeia.

 

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada

Quem está ao pé dele está só ao pé dele".

 

Alberto Caeiro - Heterónimo de Fernando Pessoa 



Por acaso, na minha aldeia não há um rio, mas havia um riacho.

Nós, as crianças, brincávamos junto dele e, à noite, já em casa, gostávamos de ouvir as rãs.

Há bastante tempo, fui até lá e já não encontrei o riacho, mas ervas secas em seu lugar.

Quando puder, vou até lá outra vez. 

Ainda tenho uma leve esperança de ver que a natureza lhe devolveu a água.

Ou então dou voltas ao provérbio:

Água mole em ação dura a tudo leva secura.

 



segunda-feira, 14 de setembro de 2020

"Ó sino da minha aldeia"

 

Sábado passado, fui à Igreja que fica perto do lugar onde moro. 

Vi e ouvi tocar o sino.

                                      E logo me veio à memória o poema de Fernando Pessoa: "Ó sino da minha aldeia".

                         Vale a pena lê-lo ou relê-lo, porque há sempre diferentes imagens e sons que nos 

 trazem memórias  - às vezes boas, outras nem tanto, mas que fazem parte da vida.

 

Ó sino da minha aldeia,

Ó sino da minha aldeia,

Dolente na tarde calma,

Cada tua badalada

Soa dentro da minha alma.

 

E é tão lento o teu soar,

Tão como triste da vida,

Que já a primeira pancada

Tem o som de repetida.

 

Por mais que me tanjas perto

Quando passo, sempre errante,

És para mim como um sonho.

Soas-me na alma distante.

 

A cada pancada tua

Vibrante no céu aberto,

Sinto mais longe o passado,

Sinto a saudade mais perto.

 

Fernando Pessoa



domingo, 13 de setembro de 2020

L' école et l'avenir

      Postal enviado pelo Clube das Histórias

s

A escola e o futuro

 

A minha tradução do postal:


Ainda que adorássemos a escola, não tínhamos compreendido

como a instrução era importante, até ao momento em que tentaram impedi-la.

 

Ir às aulas, ler, fazer os deveres não era só um modo de passar o tempo, era 

o nosso futuro.

 

Malala Yousafzai

sábado, 12 de setembro de 2020

Bom almoço!


 Feijão com costelinhas - é fácil de fazer e a família gosta!

 

Partilhando o sol da manhã

 





quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Clã - "A Paz Não Te Cai Bem"

 Hoje ouvi que Trump foi ou vai ser proposto para Prémio Nobel da Paz. 

Pensei até que tinha ouvido mal ou que havia um outro qualquer dia de enganos 

e não só o 1 de Abril.

 Paz???? Não lhe cai mesmo nada bem!!!!

Conversa ao fim do dia

 

 - Então, filha, como correu o primeiro dia da primeira classe?

- Adorei, mãe, brinquei muito no recreio. Foi mesmo fixe.

- E da professora, gostaste?

- Muito, mãe, é muito simpática.

- E da sala de aula?

- Também gostei, mas menos.

- Como assim?

- Não tem brinquedos, como as dos anos anteriores!

 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

No Auchan, mas podia ser Pingo Doce, Continente...

 

Levantou-se pela hora do costume. Sempre antes das nove. Mesmo vivendo sozinho, parecia ouvir a voz antiga da mãe: daqui a bocado é noite.

Como quase todos os dias, o que tinha para fazer não era muito demorado. Hoje, tinha de ir ao supermercado. A fruta tinha acabado, o pão e o queijo também.

Podia almoçar lá. Uma vez, tinha travado conhecimento com uma mulher bem bonita e sorridente que também estava sozinha a almoçar. Pediu-lhe o número de telefone, ela esquivou-se, mas o prazer do momento já ninguém lho tira.

Podia ser que hoje acontecesse uma situação semelhante e até tomar café juntos. Juntos, isto é, na mesma mesa, porque manteriam as distâncias e também as sociais.

Vestiu uma camisa preta e umas calças da mesma cor. Viu-se ao espelho. Como estava moreno, gostou da imagem que viu. Molhou o pente e penteou o cabelo para trás. Estava um pouco comprido, mas devia ficar-lhe bem, porque já lho haviam dito por duas vezes. Devia ser verdade porque acabaram sempre a frase por: 'A sério!'

Chegou ao supermercado e aproximou-se do balcão. Sentou-se no banco de pernas altas. Olhou à sua volta. As mulheres que via sozinhas pareciam apressadas ou estavam muito interessadas em escolher ou ver os preços dos produtos.

Acabou por almoçar no balcão solitário e triste. Talvez no exterior encontrasse alguém a tomar café e gostasse de conversar um bocado. 

Saiu e dirigiu-se para um dos pontos onde serviam café.

As quatro mesas estavam cheias de gente animada.

Acabou por tomar o café ao balcão solitário. Agora menos triste, mas a alegria estava distante, apesar de a sentir bem perto.

Entrou de novo no supermercado, comprou a fruta, o pão e o queijo e voltou para casa para ver um filme.

No dia seguinte, iria a outro supermercado. Talvez uma roupa mais clara desse mais sorte.


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Flores de Londres

 



domingo, 6 de setembro de 2020

Tal como a formiguinha...


 

sábado, 5 de setembro de 2020

Fui hoje à Feira do Livro do Porto

 

 
Miguel Guedes e Fátima Vieira dialogavam sobre Utopias.
O moderador era o extraordinário jornalista da TSF - Fernando Alves

 
O jardim do Palácio de Cristal tem bocadinhos de paraíso.



Dois livros para a Clarinha. Vou lê-los antes de os enviar.

 

 

Com a mosca!

 

Que raio de título - pensarão.

E eu digo:  que raio de moscas! 

Chego à cozinha, vejo moscas. Vou à sala, moscas vejo. Abro o computador, pousa-me uma mosca nos dedos nos nos braços. Irritante.

Nos últimos dias, andei com umas pequenas obras em casa. As janelas tinham de estar abertas por causa do pó. E assim ficaram abertas às moscas, porque há campos e árvores muito próximos. 

Não gosto muito de usar inseticidas, mas lá terá de ser.

Para não ficar como o meu pai dizia muitas vezes: com a mosca!

 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Com postais também se matam saudades!

 


Flores da época



 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

No Lugar do Desenho

 


As fotos

Talvez não me aconteça só a mim. Quando arrumo ou organizo fotografias, sinto sempre alguma nostalgia.

Impossível conter palavras ou pensamentos quando se olham fotos já com uma série de anos, do tempo em que eram em papel e o fotógrafo colocava os negativos numa separação do envelope, para serem reproduzidos quando se quisesse.

Olha, como eras tão pequenina. O sorriso já era como agora. 

Como os meus pais eram novos e bonitos.

Tanta gente no casamento e todos tão juntos na foto de grupo.Sem os medos de agora.

Como tocavam bem viola. Gostava tanto de ouvir.

Que saudades das paisagens de inverno em Trás-os-Montes.

Tantos que já partiram.

Aqui gosto mais de me ver. 

Pareciam tão apaixonados e agora nem se podem ver nem pintados.

Quem diria que a farta cabeleira daria lugar a careca tão completa. 

Parece que ainda estou a ouvir o que dissemos naquele dia.

Que caracóis tão vincados.

Perdi-os completamente de vista. O que lhes terá acontecido?

Os passeios que dávamos eram tão divertidos.

Tudo parecia eterno.

E as blusas aos folhos! Um tempão para passar a ferro.

Não quero morrer sem voltar aos Açores.

Como era magrinha.

...

O tempo é mesmo um grande escultor, como escreveu Marguerite Yourcenar.

Espalhadas, muitas fotos estão à espera de novas caixas para serem guardadas, porque as antigas estavam cheias de bolor. 

No fundo, procura-se guardar pedaços de tempo. Tarefa inglória a que não escapa a nostalgia.

Mas também se foram bons os momentos vividos, o tempo já não os tira. Como os menos bons, é claro.