Como não tive oportunidade de ir a Penafiel sentir "o espírito do lugar" da Escritaria 2017, nem vi nem ouvi programas sobre o assunto, procurei na net e encontrei uma pequena entrevista da antena 1 com Miguel Sousa Tavares.
Apesar de decorrer num tempo curto, são abordados alguns temas atuais (se é que não foram de sempre): os livros, o jornalismo, a influência da mãe e muitos outros.
Deixo aqui o endereço.
https://pt-br.facebook.com/rtp
sábado, 21 de outubro de 2017
"E faz toda a diferença"
A expressão do título é usadíssima atualmente.
Em qualquer loja de roupa lá se ouve:
- E faz toda a diferença!
Em programas de culinária, aparece, perante a junção de mais um ingrediente:
- E faz toda a diferença.
A propósito de relações humanas, lá vem, para bem ou para mal:
- E faz toda a diferença!
Vezes sem conta a expressão é usada. Por facilidade, porque é a que vem logo à cabeça, porque é muito comum, etc.
Mas quando demasiado repetida, é caso para dizer:
- Com tanta diferença que faz nem faz qualquer diferença.
Em qualquer loja de roupa lá se ouve:
- E faz toda a diferença!
Em programas de culinária, aparece, perante a junção de mais um ingrediente:
- E faz toda a diferença.
A propósito de relações humanas, lá vem, para bem ou para mal:
- E faz toda a diferença!
Vezes sem conta a expressão é usada. Por facilidade, porque é a que vem logo à cabeça, porque é muito comum, etc.
Mas quando demasiado repetida, é caso para dizer:
- Com tanta diferença que faz nem faz qualquer diferença.
sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Tina, onde estás?
Tenho familiares idosos que passam um tempo infinito à procura de coisas em gavetas ou armários.
Ontem, também passei larguíssimo tempo à procura de um texto que escrevi há uns três anos. Nunca o publiquei porque considerei-o, então, um pouco macabro.
Partiu da lembrança de um filme de Almodôvar, julgo que "Volver", que começa com muitas mulheres, entre elas, Penélope Cruz, em grande azáfama de limpeza de campas no cemitério.
Pois, apesar da procura, não encontrei o texto que queria, e sei que o gravei, na altura, numa pasta de computador.
Como o escrevi há algum tempo, procurei-o em computador antigo, mas a busca continuou em vão.
Porém, o que encontrei, meu Deus!
Contos e contos de alunos para um concurso que realizávamos na escola: "Uma história com... dentro". E ele foi música, receitas, amor, Natal...
Também fichas de avaliação, guiões de visitas de estudo, power-points, textos para diferentes "Festas da Língua", exercícios de gramática para uma atividade a que chamávamos "Mostra que sabes"...
Mas o tal texto é que lá não estava.
Embora o procurasse com afinco, quase me esqueci dele por um bom bocado. Recordo-me agora que a personagem se chamava Tina.
Um dia destes, vou tentar recuperá-lo, nem que seja de memória.
Se calhar, era melhor tê-lo guardado numa gaveta ou armário!!!
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
Yes, I am
Uma vez por semana, frequento aulas de Inglês. Gosto muito. Pratica-se a língua, aprende-se mais, exercita-se a mente, etc. Para além disso, o ambiente é bom e amigável. E sempre dá jeito saber um bocadinho mais de língua inglesa quando se tem uma filha em Londres.
Ora, na última aula, fizemos um exercício para aplicar preposições. Tarefa difícil porque in, on, at, for e outras são usadas muitas vezes no sítio errado. Por isso, em cinco alíneas, apenas acertei uma, mas não é grave e é até motivo de graça e aprendizagem.
Fizemos outro exercício de oralidade. Dispúnhamos de vários pontos, teríamos de escolher três e falar um bocadinho sobre eles. Um deles era encontrar palavras com que cada um se definisse.
A maioria optou por passar este ponto à frente e escolher outros. Não é cómodo, de facto, falarmos de nós próprios. No entanto, no diálogo que se seguiu, este ponto veio à baila, e cada um fez a sua caracterização: honestidade, respeito pelos valores humanos, etc.
Foi quando alguém, atento e sagaz, referiu que o que estávamos todos a elencar eram apenas aspetos positivos. E era mesmo. E foi quando se ouviu:
- I am lazy.
- No, I don't believe.
- Yes, I am lazy indeed.
That´s true.
terça-feira, 17 de outubro de 2017
Felizmente veio a chuva!
Depois de semanas a fio sem pingo de chuva, de tempo quente que mais secou a terra já tão ressequida, depois dos gravíssimos e destruidores incêndios de domingo, eis que a chuva cai, ajudando os bombeiros na árdua função de apagar incontáveis fogos.
Só que banidas as cortinas tenebrosas do fogo e do fumo, ficam mais a descoberto as negras ruínas das casas, fábricas, florestas...
Os relatos e testemunhos mostram que foi tudo muito mau.
Muitos jornalistas, comentadores e políticos insistem na demissão da ministra da administração interna. Ao mesmo tempo, os media dão voz a especialistas e investigadores no sentido de melhorar a reorganização da floresta para que as catástrofes deste ano não voltem a acontecer.
Porém, não são esquecidos os lobbies que impedirão que muitas mudanças saltem do papel.
O homem está presente, de facto, para o bem e para o mal.
Enquanto isso, homens e mulheres perdem a vida em zonas do país cada vez mais desprotegidas e despovoadas.
Felizmente choveu, mas não se pode esperar que o remédio venha sempre do céu.
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Escritaria 2017 - Programa de sábado e domingo
21 outubro
11h00 - Inauguração da Exposição “Viajar pelo olhar de Miguel Sousa Tavares”, Biblioteca Municipal de Penafiel
11h30- Leitura de textos pela Troupe Palavras Vivas e Fernando Soares com momento musical de jazz pela Escola de Artes, Movimentos e Variações, auditório Biblioteca Municipal
12h30 – Espetáculo integrado pela Escola de Artes, Movimentos e Variações na biblioteca Municipal de Penafiel
13h00 - Abertura da Feira do Livro, Largo Padre Américo
16h00 – Espetáculo integrado pela Universidade Sénior de Penafiel ADISCREP, Feira do Livro Escritaria, Largo Padre Américo
16h30 - Sessão pública de autógrafos por Miguel Sousa Tavares, Feira do Livro Escritaria, Largo Padre Américo
18h - Intervenção musical Agrupamento de Escolas Penafiel Sudeste, Feira do Livro, Largo Padre Américo
21h30 - Intervenção musical de jazz pela Escola de Artes, Movimentos e Variações, Museu Municipal
21h45 - Entrevista ao homenageado pelo Jornalista Júlio Magalhães, Museu Municipal
23h00 - Fecho da Feira do Livro, Largo Padre Américo
22 outubro
13h00 - Abertura da Feira do Livro, Largo Padre Américo
15h00 – Pintura, performance de aguarela por José Melo, Universidade Sénior de Penafiel ADISCREP, Museu Municipal
15h30 – Atribuição do prémio de Jornalismo-Categoria Carreira Escritaria 2017, Museu Municipal de Penafiel
15h45 - Apresentação do prémio literário Germano Silva do Rotary Club de Penafiel, Museu Municipal de Penafiel
16h00 – Conferência “Miguel Sousa Tavares, Vida e obra” moderada pelo Jornalista João Céu e Silva, Museu Municipal de Penafiel
20h00 - Fecho da Feira do Livro Escritaria, Largo Padre Américo
Que mão é esta?
Ontem, dia 15 de outubro, foi considerado o dia com mais incêndios em Portugal. Foram contabilizados mais de trezentos, todos neste dia quentíssimo e com vento.
Os fogos acenderam-se em cenários infernais.
E houve, até agora, uma dezena de vítimas mortais. E casas destruídos. E populações apavoradas. E regiões ameaçadas.
Os técnicos dizem que estes incêndios não poderão ter causas apenas naturais. Nuns casos, é mão criminosa; noutros, mão desleixada que faz fogueiras onde não deve, utiliza ferramentas que causam faúlhas, não limpa as matas, etc.
Quem estará por trás da mão criminosa, para além da loucura ou de excessos como o do álcool?
É estranho tanto incêndio na véspera de um dia em que se espera chuva.
Ontem, passei na A1, entre as dezassete e as dezoito horas, no sentido Lisboa-Porto.
Era raro o espaço, de um lado e do outro da autoestrada, sem fumos altos e negros. Em alguns momentos, as nuvens de fumo quase tapavam o sol e parecia noite. Também chamas eram visíveis. De tal modo que a circulação no sentido Porto-Lisboa foi interrompida e, em breve, o mesmo aconteceria na direção oposta.
Sim, era um cenário de horror e incomparavelmente mais leve do que o vivido pelas pessoas atingidas.
Que mão desumana é esta?
E a chuva, essa, ainda não veio.
sábado, 14 de outubro de 2017
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Como é possível?
Nas últimas horas, a "Operação Marquês" integra a agenda de toda a comunicação social. Pela teia de corrupção, pelas somas envolvidas, pelos esquemas perpetrados...
E tão horrível como estes comportamentos de desprezo pelo bem comum e ganância desmedida é a máscara de alguns muito prováveis protagonistas destes crimes que aparecem com voz afável, rosto tranquilo, pose ético-legal a afirmar, perante os portugueses, que estão de consciência tranquila. Disto é exemplo Ricardo Salgado e não só.
Consciência? Que significado terá esta palavra para as pessoas envolvidas diretamente neste caso e que encheram vergonhosamente os bolsos roubando e enganando?Como é possível? Será um caso psiquiátrico no mínimo. E o que é pena é a corrupção ter atingido o máximo com pessoas que tudo deveriam fazer para dignificar as instituições das quais se aproveitaram. E de que maneira.
terça-feira, 10 de outubro de 2017
Talvez espere alguém
A partir do início da tarde, o homem chega numa lambreta muito velha, tira o capacete, também muito velho, e senta-se na ponta do banco da rua para aproveitar melhor a sombra da árvore, porque o outono vai quente e o sol persiste como visita longa e diária.
Tira do bolso um jornal, cruza as pernas e recomeça as palavras cruzadas que não terminou no dia anterior.
Muitas pessoas passam por ele porque em frente fica a estação do comboio e há sempre gente que entra ou que sai.
Raramente levanta a cabeça, embrenhado que está em descobrir a palavra que falta para completar a linha e o quadradinho.
Não sei por que está sempre ali. Talvez espere alguém com quem se cruzou na vida.
E, enquanto espera, para não desesperar, vai cruzando palavras.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
A rapariga do comboio
A meio da tarde, o comboio chegou à linha 1 à hora prevista. Esperava-o um numeroso grupo de turistas de meia idade. Iam começar a entrar, apressados, numa carruagem já com muitos passageiros de pé. Uma voz, de fora, fez-se ouvir:
- Este comboio não é o nosso; o nosso parte mais tarde e é só para os passageiros dos barcos.
Foi melhor assim, porque havia muita gente, o calor apertava, apesar de ser outono, e o comboio tinha poucas carruagens.
Um casal de namorados, de pé, espreitava a paisagem pela janela e estreitava os rostos; num dos bancos, uma mulher tossia sempre que falava com o marido, abrindo a boca para recolher o ar que lhe faltava. Ao seu lado, um menino dormia tranquilo com a cabeça apoiada numa mochila. As estações iam-se sucedendo.
No espaço entre duas carruagens, um grupo de homens falava de camiões, de estradas europeias, de aventuras e desventuras que vinham à baila como quem puxa raminhos de cerejas... Iam mudando ruidosamente de lugar sem saírem do mesmo espaço limitado. Dois deles seguravam um cigarro nervoso e apagado na mão, pondo-o na boca como se estivessem a fumar.
E a vozearia era mais que muita estrecortada de alguns palavrões fortes e duros como eles.
Faltando uma meia dúzia de estações para chegar ao Porto, entrou uma jovem de óculos e penteado colegiais, de calças largas pelo meio da perna, muito franzina, com ar lavado no banho dos anjos e puxando uma pequena mala de viagem.
Um dos homens disse-lhe que podia ficar ali porque o comboio ia cheio. Ela olhou-o com naturalidade, sorriu e acocorou-se no chão, junto à porta interior, levando os joelhos até à boca. E daí a nada, participava da conversa, não tão barulhenta, como se fossem todos colegas de viagem.
Os homens saíram quase todos antes de chegar ao Porto. Ficaram dois: um dos mais velhos e outro dos mais novos. O mais novo continuava com o cigarro na mão e manteve uma conversa com a rapariga sobre o preço dos cigarros em Espanha. E também da cerveja. E também dos isqueiros. Ela respondia sempre com conhecimento de causa. O mais velho acenava concordante com a cabeça. O mesmo aconteceu quando o mais novo explicou o percurso que ela devia seguir até às Antas.
Quando o comboio chegou ao Porto, a temperatura estava mais baixa. O homem mais novo acendeu o cigarro. O mais velho seguia em silêncio.
Quase me atrevo a dizer que iam a pensar que a rapariga do comboio tinha sido uma visão.
terça-feira, 3 de outubro de 2017
Quem é o pai? Ou a falta das aspas.
Nos últimos dias, tenho visto e ouvido vários debates acerca das eleições autárquicas: dos partidos que saíram vencedores, perdedores ou de "resultados modestos" e verifiquei com mais nitidez que há argumentos que são apresentados por um determinado comentador ou político e são repetidos vezes sem conta por outros intervenientes, como se fossem eles os autores.
Por exemplo, ouvi o comentador e ex-político José Miguel Júdice a argumentar sobre o descalabro do PSD nestas eleições, cujas razões o tinham também afastado do partido, e, posteriormente, vi algumas dessas ideias apresentadas a papel químico por outros colunistas.
Com certeza que seria difícil inovar e como os argumentos eram bons, havia que aproveitá-los.
Como sempre disse aos meus alunos que se devem citar as fontes, isso faz-me alguma confusão.
Mas como se trata de discurso oral, as aspas também não dariam jeito nenhum e muito menos aquele sinal que muitas vezes se faz com os dedos indicadores. E ainda menos citar comentadores da concorrência.
Mas como se trata de discurso oral, as aspas também não dariam jeito nenhum e muito menos aquele sinal que muitas vezes se faz com os dedos indicadores. E ainda menos citar comentadores da concorrência.
Se assim fosse, o gesto das aspas sairia mais vencedor do que o sinal de vitória de alguns candidatos.
domingo, 1 de outubro de 2017
Festa, eleições e como agarrar melhor os boletins
Ainda não eram nove horas da manhã quando saí de casa para ir votar.
Como são também as festas do concelho, haveria muito mais gente e o estacionamento muito mais reduzido. Era um bom motivo para ir a pé. Menos de trinta minutos para ir e outros tantos para regressar.
Pelo caminho, olhei para os campos com os diferentes tons de verde das hortaliças e da erva, reparei nas banquinhas já prontas com as tigelas e garrafas de vinho doce. Faltava o essencial: os clientes e a sopa de nabos.
Mais à frente, as barracas cheias de doces (de amor, da Teixeira, etc), de nozes, de castanhas, de nabos, de vinho doce, de farturas... E também de brinquedos a darem corda até à infância em que tudo era diferente, mas nem sempre melhor.
E os carrosséis e diversões para todas as idades e ousadias também já se faziam ouvir.
Cheguei à assembleia de voto, depois de consultar o quadro com os números e respetivas mesas. Fui para a mesa 2 e a fila estava bastante comprida.
Enquanto esperava, ia olhando à minha volta. Na mesa ao lado, o presidente pedia um pouco mais de silêncio e dizia que não era o sítio para se conversar tão alto. Um munícipe pedia um novo boletim porque, sem querer, o tinha rasgado. Dizia-o perante o ar incrédulo do responsável pela urna. Outro munícipe à minha frente comentava que tal não aconteceria se fosse uma nota de cinco euros.
Chegou a minha vez. O presidente da mesa recomendou-me para, depois de votar, dobrar os três boletins separadamente, enquanto lambia a ponta do dedo para os agarrar melhor antes de mos entregar.
Dirigi-me ao espaço para o efeito e pus a cruzinha, com a caneta presa por um fio do norte, na quadrícula desejada no desejo de ver a autarquia a evoluir cada vez mais.
Ao dirigir-me à porta de saída, vi que as filas tinham aumentado, o que é um bom sinal de democracia, vontade de participar e crença na importância do gesto de cada um.
Talvez por ser cedo, a grande maioria dos votantes eram pessoas de uma certa idade. Os mais novos ainda estariam a dormir.
Ou a correr, ou a praticar desporto, ou com amigos, etc.
Oxalá não deixem de ir.
E oxalá alguém tenha, por exemplo, um dedal de plástico para os presidentes das mesas não terem de lamber o dedo para agarrar melhor os boletins e entregá-los aos munícipes.
Estes pequenos gestos também podem melhorar a festa dos concelhos.
A cada um o seu quintal ou "quero lá saber disso"
Numa das últimas manhãs, em momentos e espaços diferentes, reencontrei uns amigos de longa data. Como é natural nessas ocasiões, a família veio à baila e algumas ocupações do tempo livre também. Um deles ia para o ginásio vários dias por semana. Tinha necessidade de exercício físico. A filha insistia diariamente para que a ajudasse a tratar do quintal. Para além do exercício físico, teriam mais produtos frescos.
Olhou para mim como se o pedido da filha fosse uma coisa do outro mundo e rematou:
- É que eu nunca gostei de hortas nem de flores. Quero lá saber disso.
Para mim, o que era uma coisa do outro mundo era o que acabava de ouvir.
Um pouco mais tarde, cruzei-me com outra pessoa amiga. De novo, a família e alguns afazeres de tempos livres.
E exprimia-se com todo o fascínio amoroso pelo tratamento do quintal, sempre que podia. Também se dedicava ao cultivo de roseiras. Estudava-as com a minúcia de cientista para que as flores fossem perfeitas.
Sorria com o prazer simples do encantamento.
E acrescentou:
- Passo lá muito do meu tempo, mesmo fins de semana. A vizinhança deve pensar que endoideci. Mas quero lá saber disso.
Chego a casa. Vejo que tenho de regar o meu quintal porque não posso perder as hortaliças que utilizo diariamente. Nem os frutos, ainda que poucos. Nem as flores, ainda que menos que no verão. Vou ficar com os pés sujos.
Mas digo para mim:
- Quero lá saber disso.
- Quero lá saber disso.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
"Com licença poética"
Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
Conduzir, ou não, no século XXI
Dizem os jornais que, na Arábia Saudita, a lei permitirá que as mulheres conduzam. Mas só no próximo ano, porque é necessário tempo de preparação para que tal aconteça, porque, até agora, só aos homens a lei concedia esse direito.
E estamos em pleno século XXI.
E eles vão ter de olhar para elas e elas para eles. E ainda bem, porque os olhos, tal como o algodão, não costumam enganar. A menos que se faça como cá que, quando não dá jeito, nem se olha só para não dar passagem ou para passar à frente!
E o número de pessoas que vão dizer "Vê-se logo que é uma mulher a conduzir" vai ser incomparavelmente maior. As primeiras vão ter a vida mais dificultada, mas não se devem importar muito, porque serão das mais corajosas.
Não sei é se lá também chamarão nomes, escolhendo o tratamento por tu: "Anda mais devagar, ó palerma". "Vai mas é pra casa". "Tiraste a carta por correspondência" e outros mimos, enquanto se abre a janela para chatear já que se está chateado.
Mas, felizmente, as mulheres, por cá, conduzem carros, motas, autocarros, elétricos... Não sei se o metro, mas em Paris ou Londres já vai sendo comum.
Porém, cá em Portugal e já no século XXI, um casal estava com amigos e ela disse que gostava de conduzir, que trazia a carta de condução sempre consigo, mas que não o fazia porque o marido não deixava. Ele, pondo-lhe o braço sobre os ombros, disse que a condução não era para mulheres. Ela encerrou o assunto com um sorriso seráfico e um encostar de cabeça no ombro dele.
E eram pessoas que viajavam, embora, creio, nunca tivessem ido à Arábia Saudita.Mas lá como cá, muitas coisas mudam e, muitas vezes, para melhor.
Não sei se, no caso do tal casal, ele já precisou que fosse ela a conduzir. Nesse dia, ele não hesitaria em dizer-lhe: Despacha-te, parece que não tens carta de condução!
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