sábado, 2 de maio de 2015

A bailarina que perdeu um sapatinho



Degas
A bailarina perdeu um sapato
Na rua e estava a chover
Quando a bailarina reparou
Voltou para trás a correr

Com uma grande angústia
Só lhe apetecia chorar
Porque sem o sapatinho
Não poderia dançar

E  para o concurso de dança
Muito público tinha chegado
Mas o que faria no palco
Com um pé descalço e outro calçado?

Largou o grupo e desceu
Por onde há pouco tinha subido
Sentindo o maior desgosto
que até então tinha sofrido

E sempre sempre a correr
Com pernita musculada
Olhava para toda a parte
Mas não encontrava nada

Até que ao fundo viu rosa
Mas não era nenhuma flor
Era o seu sapatinho
De que tão bem conhecia a cor

Ficou feliz e abraçou-o
Como se abraça um ente amado
Agora podia dançar
No palco tão desejado
E nem se ia lembrar
De que podia escorregar
Porque o sapato... estava molhado!

Hoje, logo de manhã, houve um espetáculo de dança
no Teatro do Campo Alegre, no Porto - Parabéns, Maria!
Ao subir a rua, vi uma bailarina a apanhar um sapatinho, 
cor-de-rosa, do chão molhado.
Daí estas quadras. Bem simples.
Gostei das danças. Bem complexas.




sexta-feira, 1 de maio de 2015

Aqui

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não por aquilo que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos actos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dia do Mar'

Maias em maio



terça-feira, 28 de abril de 2015

Calmos perfumes coloridos


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Sim, gosto de fado!

Aldina Duarte - Apenas o vento

sábado, 25 de abril de 2015

Obrigada, 25 de Abril!

 Partilho, aqui, um breve testemunho de duas jovens que, felizmente, nasceram em Liberdade.
Este pequeno texto e outros que recebi
 são simples mas belas celebrações do 25 de Abril. Obrigada.

Ontem não fomos ao Facebook… Fomos procurar uma realidade passada, relativamente recente até. Percebemos como era viver antes do 25 de Abril ou, deveremos dizer, sobreviver. Fomos confrontadas com expressões como PIDE, opressão, tortura, falta de liberdade de expressão, lápis azul, colónias portuguesas, desigualdade de géneros e pobreza. Percebemos, mas não sentimos… Porque, graças à luta de outros, hoje podemos dizer que somos livres! Alegramo-nos em dizer que podemos reunir-nos com os nossos amigos, sem medo e sem restrições de horário pelos nossos pais… É tão bom partilhar com o mundo a nossa opinião, independentemente se vai ou não ao encontro de entidades “superiores”. É tão bom ser mulher não sendo dependente de um homem nem servindo sobretudo para a realização das tarefas domésticas. Agora pensamos e agradecemos todos os dias a variedade de comida, de tecnologia, de oportunidades de educação ao nosso dispor. No final da página, na Internet, lia-se : ” Somos livres, somos felizes, somos sonho, somos expressão, somos NÓS. Obrigada, 25 de Abril!! “
Rita Carvalho e Liliana Lopes, 11º 3 (ESG)



Nota: Outros textos poderão ser lidos em Letras não são tretas,
 mencionado em "A minha lista de blogues".

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Liberdade

Clarice Lispector - O pássaro da Liberdade
— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.   

Miguel Torga, in 'Diário XII'

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Felizmente houve o 25 de Abril

O 25 de Abril na ESG


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Uma exposição, um livro, um anúncio e duas fatias de quiche. Simplesmente.

Ir a um Centro Comercial ao fim da tarde de segunda-feira pode não ser mau; ter tempo, enquanto o carro é lavado e não haver compras obrigatórias a fazer é muito melhor.
Foi o que aconteceu hoje. Para além da exposição de pintura - presente em Arte no Parque - entrei na Bertrand e comprei um livro de Luís Sepúlveda. Só estava eu como cliente e falámos sobre alguns livros - porque, muitas vezes, quem vende livros também lê e gosta do que lê. 
Vi também, num pequeno expositor, em cima do balcão, o anúncio de um "Porto de Encontro" com João Tordo, no dia 26 de abril (Casa das Artes).
Ah, e comprei duas fatias de quiche numa loja de produtos (ditos) naturais.
Se pudesse, saboreava mais vezes um final de tarde assim. Simples(mente).

Arte no Parque - Com Memórias

Fernando Neves é um artista de Rio Tinto que expõe, atualmente, no Parque Nascente de Gondomar, quadros a lápis e aguarela aos quais deu o título "Memórias de Rio Tinto".
Vi a exposição e gostei muito. Das fotografias que tirei, selecionei esta (peço desculpa pela luz do flash), porque me lembra os campos e as casas da minha infância (passada não muito longe de Rio Tinto).
Quando vi a exposição, hoje, pelas sete da tarde, havia sossego no Centro Comercial. As pinturas ajudavam  a saborear a tardinha (gosto desta palavra de final da luz do dia) sem correrias e com as cores que os pintores sabem reunir, preservando tantas memórias.
Nas longas horas de bulício, aquele espaço (em frente ao Jumbo) poderá ser um pequeno oásis em que cada um, só ou acompanhado, revisitará muitas situações observadas ou vividas.
Não tivesse a arte a arte de construir memórias.


Orquídeas em profusão


domingo, 19 de abril de 2015

Agora, que as azáleas estão floridas




Ela chegou a casa e olhou as flores. Estavam mais floridas do que da última vez que as tinha observado. Mais cores e mais flores. A primavera a fazer-se notar pela silenciosa beleza perfumada.
Foi ao quintal e sentiu diferentes aromas de cor verde.
Pensou que era tempo de arranjar mais tempo para olhar tantos belos sinais da natureza. Sem esquecer a humana, é claro.
E pensou que era a altura certa - agora que as azáleas estão floridas.


sábado, 18 de abril de 2015

(Também gosto muito de magnólias)

Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página
E aproveito o facto de teres chegado agora
Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia.
A magnólia cresce na terra que pisas – podes pensar
Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito, acredita,
Que a magnólia te cresce como um livro entre as mãos. Ou melhor,
Que a magnólia – e essa é a verdade – cresce sempre
Apesar de nós.
Esta raiz para a palavra que ela lançou no poema
Pode bem significar que no ramo que ficar desse lado
A flor que se abrir é já um pouco de ti. E a flor que te estendo,
Mesmo que a recuses
Nunca a poderei conhecer, nem jamais, por muito que a ame,
A colherei.
A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra
E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão
Daniel Faria, 2012: Poesia (in dos líquidos); Lisboa, Assírio & Alvim


Obrigada, IAzinha, 
pelo teu postal de fim de semana e pelo envio deste poema de Daniel Faria
que partiu tão novo (1971/1999).
O poema de Luíza Neto Jorge - "A magnólia - ,
que também partilhaste,
 merece, igualmente, uma calma leitura.