sexta-feira, 17 de abril de 2015




Deténte, sombra de mi bien esquivo,
imagen del hechizo que más quiero,
bella ilusión por quien alegre muero,
dulce ficción por quien penosa vivo.

Si al imán de tus gracias atractivo
sirve mi pecho de obediente acero,
¿para qué me enamoras lisonjero,
si has de burlarme luego fugitivo?

Mas blasonar no puedes satisfecho
de que triunfa de mí tu tiranía;
que aunque dejas burlado el lazo estrecho

que tu forma fantástica ceñía,
poco importa burlar brazos y pecho
si te labra prisión mi fantasía.



Juana Ines de la Cruz,  poeta mexicana, nasceu a 12/11/1651 e morreu a 17/4/1695
  (informação da livraria Poetria)

terça-feira, 14 de abril de 2015

A long time ago




Percy Sledge 1941/2015

Domingos à tarde. Bailes de garagem. Gira-discos. Vinil. Ídolos. Calças à boca de sino.
Sonhos. Sorrisos interrompidos. Tens de chegar a casa cedo. Música ao ouvido.
Slows. When a man loves a woman. We danced. A long time. A long time ago.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

"Expresso curto" com erros e beijinhos

Ultimamente, tem-me sido enviado por mail (obrigada, Álvaro!) o "Expresso curto" que são notícias curtas muito bem servidas todas as manhãs pelo Expresso.

Estou certa de que mo enviam tal qual é publicado on-line.
Hoje, dia 13 de abril, logo no início, pode ler-se:

Bom dia,
O noticiário global está hoje dominado pelo que o vento nos trás dos Estados Unidos....

Voltei a ler. O jornalista, Martim Silva, confunde a 3ª pessoa do singular do verbo Trazer (traz), no presente do indicativo,  com a preposição (trás). 
Vá lá, sr jornalista, olhe para trás, porque o seu texto traz erros.

Na rubrica intitulada Números, pode ler-se também:

7300
Pedidos de ajuda de famílias sobrendividadas que chegaram à DECO...

Ora, consultando o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, fica a saber-se que, segundo o Novo Acordo Ortográfico, se diz sobre-endividadas.

Outro número que faz pensar pelos erros cometidos por muitos jovens, mas não por razões linguísticas é este:

50%
O aumento de queixas por violência no namoro em meio escolar, num único ano, noticia o jornal Público.

Todos nós vamos conhecendo alguns casos de violência também no namoro. Muitas vezes, vindos de onde menos se espera!

O artigo  termina  deste modo:Tenha um grande início de semana. Cheio de beijos bons.
 Este final tem a ver com o "Dia do Beijo" que se celebra hoje,

Daí lembrar-me do filme Casablanca de Michael Curtiz.


Resultado de imagem para Dia do beijo - Casablanca



 Beijinhos!
Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990: sobre-endividamento.

"sobreendividamento", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sobreendividamento [consultado em 13-04-2015].
Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990: sobre-endividamento.

"sobreendividamento", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sobreendividamento [consultado em 13-04-2015].
Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990: sobre-endividamento.

"sobreendividamento", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sobreendividamento [consultado em 13-04-2015].
Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990: sobre-endividamento.

"sobreendividamento", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sobreendividamento [consultado em 13-04-2015].

sábado, 11 de abril de 2015

À espera dos Bárbaros



Resultado de imagem para kavafis


Mas que esperamos nós aqui n'Ágora reunidos?

É que os bárbaros hoje vão chegar!

Mas porque reina no Senado tanta apatia?
Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?

É que os bárbaros hoje vão chegar.
Que leis hão­‑de fazer os senadores?
Os bárbaros que vêm, que as façam eles.

Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,
E se sentou na magna porta da cidade à espera,
Oficial, no trono, co'a coroa na cabeça?

É que os bárbaros hoje vão chegar.
O nosso imperador espera receber
O chefe. E certamente preparou
Um pergaminho para lhe dar, onde
Inscreveu vários títulos e nomes.

Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores
trouxeram hoje à rua as togas vermelhas bordadas?
E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,
e porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,
por que razão empunham hoje bastões preciosos
com tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?

É que os bárbaros hoje vão chegar.
E tais coisas os deixam deslumbrados.

Porque é que os grandes oradores como é seu costume
Não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?

É que os bárbaros hoje vão chegar
E aborrecem arengas, belas frases.

Porque de súbito se instala tal inquietude
Tal comoção (Mas como os rostos ficaram tão graves)
E num repente se esvaziam as ruas, as praças,
E toda a gente volta a casa pensativa?

Caiu a noite, os bárbaros não vêm.
E chegaram pessoas da fronteira
E disseram que bárbaros não há.

Agora que será de nós sem esses bárbaros?
Essa gente talvez fosse uma solução.


  Konstantinos Kafavis, considerado o maior poeta grego do tempo moderno (1863/1933).

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Cores - hoje


quarta-feira, 8 de abril de 2015

A Razão de Pessoa


Obrigada, IAzinha, pela sugestão deste vídeo e pelos ensinamentos 
  no Bem-vindo ao Paraíso.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Momentos de Londres

 O leitor de Oxford Street
Sentado, aconchegou o casaco até ao nariz. Estava a ler e a noite chegara iluminada e fria. Como o segurava na mão,via-se a espessura do livro. Ia quase a meio de várias centenas de páginas. As pessoas passavam num frenesim ruidoso de véspera de feriado. A leitura continuava concentrada. Quando a noite entrasse pela madrugada, fecharia o livro, puxaria a si o cobertor e tentaria dormir. Se não conseguisse, tinha o livro para ler.

A boneca japonesa
Circulava entre os retratos da National Portrait Galery. Quase nem tocava o chão, de tão franzina leveza. Os olhinhos pequeninos passeavam, mas em poucos retratos se fixavam. As pontinhas da escura saia rendada quase lhe chegavam aos pezinhos com sapatinhos de veludo decorados com um pomposo pom-pom preto. 
Não sei se tinha capeuzinho como usam, muitas vezes, as bonecas. mas estas também não costumam ir às exposições e muito menos de retratos do tempo da rainha Vitória.
Mas quem o pode negar?

O ruído na Casa de Chá
Uma casa de chá. Cheia. Pessoas à espera na entrada do piso que dava para a rua, ladeado por dois espaços ao fundo e ao cimo de uma meia dúzia de degraus. Em mármore. Se a Casa de Chá não fosse tão grande, lembraria o Café Majestic, no Porto.
Ouviam-se vozes - muitas vozes -; gargalhadas - muitas gargalhadas -, num alegre ambiente  sem pressas. A pressa seria de afastar qualquer stress.
Um som mais forte elevou-se daquela pequena multidão. Repetido.Viria de alguém mais entusiasmado de um dos espaços mais altos. Uma pessoa olhou para trás. E outra. E talvez ainda outra.
À volta da mesa de um casal, inclinavam-se vários funcionários do estabelecimento.
Um homem tinha-se engasgado, A mulher gritara por ajuda - gritos diluídos e confundidos na vasta vozeria.
O problema surgiu e foi resolvido, sem que quase ninguém se tivesse apercebido. 
O chá com bolinhos nunca deixou de ser saboreado, num espaço que se circunscrevia a cada mesa.

Só mais uma vez.
Todos os dias a passadeira de Abbey Road, que foi capa de disco de Os Beatles em 1969, é visitada e atravessada por turistas. Em busca de diversão, de um minuto de imaginada glória, de revivalismo, de seguir pisadas de ícones e muito mais razões que cada um encontrará.
Um homem de casaco castanho de bombazina atravessou a rua, imitando (talvez) os seus ídolos. 
A família fotografava. Ele parecia divertido, passando para lá e para cá de uma nova realidade. Um rapaz passou a correr, quase indiferente. Três carros estavam parados à espera de poder avançar. O homem de casaco de bombazina continuava a atravessar a passadeira de Abbey Road. A mulher chamou-o. Lembrou-lhe que estava a interromper o trânsito. 
- Nem tinha reparado - disse ele, satisfeito. Acrescentou: só mais uma vez!

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Abril em Londres


Desnecessária explicação


Que importa a melodia
se acaso aos outros dou,
com pávida alegria,
o pouco que me sou?

Que importa ao que me sabe
estar só no meu caminho,
se dentro de mim cabe
a glória de ir sozinho?

Que importa a vã ternura
das horas magoadas,
se ao meu redor perdura
o eco das passadas?

Que importa a solidão
e o não saber onde ir,
se tudo, ao coração,
nos fala de partir?

 
Daniel Filipe, poeta cabo-verdiano, nasceu a 1/2/1925 e morreu a  6/4/1964, há 49 anos.

(Informação da livraria Poetria)

quinta-feira, 26 de março de 2015

Pastoral


Paul Cézanne

Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.

Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.

Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos atos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.

Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou.

António Gedeão, Poesias Completas 
 
Uma professora de Matemática
falou deste poema a uma professora de Português que falou a outra professora
de Português que, por sua vez, falou dele a outra professora, também de Português. 
Todas elogiaram a professora de Matemática que,
 apesar de não parecer, gosta de Poesia.
E a última professora, que falou do poema, plantou-o num e-mail, 
passando a morar neste blogue  (obrigada, IAzinha)
Só falta lembrar que o autor do poema era professor de Físico-Química e plantador de árvores, cujas "folhas" todos podem colher, apesar das diferenças. Felizmente.