sábado, 11 de janeiro de 2014



 


Da minha janela, veem-se camélias cor-de-rosa, raiadas de branco.
Como seria bom se de todas as janelas se vissem camélias!
Ou outras flores. Ou árvores.




 
A propósito, lembrei-me de um pequeníssimo conto que partilho de novo:


Dois velhinhos

Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.

Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.

Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede húmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz.

Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro: 

— Um cachorro ergue a perninha no poste.

Mais tarde: 

— Uma menina de vestido branco pulando corda.

Ou ainda: 

— Agora é um enterro de luxo.

Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.

Não dormiu, antegozando a manhã.

Bem desconfiava que o outro não revelava tudo.

Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço:

entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.


 Extraído do livro de Dalton Trevisan - Mistérios de Curitiba, Ed. Record - 
Rio de Janeiro,1979.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

GENGIS KHAN


Aí está ele, passando revista às tropas
Com a sua armadura reluzente.
Os seus pés levantam ondas de poeira
E ninguém ousa fitá-lo de frente.


Na sua couraça quebram-se as lanças inimigas
E um gesto seu põe em fuga um exército inteiro
… Mas não pode dobrar-se para apanhar uma flor
Nem coçar as costas, o poderoso cavaleiro.


                                                                                                   Álvaro Magalhães
                                                                                                    O reino perdido, 2000

domingo, 5 de janeiro de 2014

Porto - hoje


sábado, 4 de janeiro de 2014

Pelos vistos, são quatro milhões!

Acabo de ouvir nas notícias que há quatro milhões de pessoas, em Portugal, que têm facebook.
Eu não tenho e, como também nunca tive, não me tem feito falta.
Como não gosto de ser fundamentalista, se calhar, qualquer dia adiro a esta rede social.
Mesmo que tal aconteça em breve – o que não julgo possível – já outra coisa haverá para o substituir, uma vez que já se diz que, apesar da adesão, o facebook vai cair em desuso.
De um dia para o outro, poderá aparecer uma outra rede social de que, tal como o facebook, se dirá: como foi possível viver sem isto durante tanto tempo?!
E assim o tempo vai voando e nós também, nas asas da imaginação, sem a qual a vida teria, por certo, ainda  mais complicação.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Corre, dor



No corredor, passam apressadas batas brancas e azuis.
Deslocam-se ao ritmo do cumprimento do horário das tomas dos medicamentos, dos cuidados dos doentes, das luzes vermelhas acesas por  dedos cansados que pedem ajuda.
No corredor, limpo e largo, há frascos de desinfetante ao lado de sabonete para que os lavatórios escoem novas infeções.
As pessoas que passam no corredor, às vezes, riem para que a alegria não se afaste pelo medo.
No corredor, corre a dor, instalada no corpo de quem a sente.
Se pudesse, diria: corre, dor!
E desejaria a todos um Bom Ano Novo.