23 de setembro
Uma página diferente
Querido diário,
Eu hoje nem sei que diga. Às vezes, a minha mãe até me diz: Mariana, podes ser um bocadinho mais vaidosa. Eu nesses momentos apetecia-me dizer: tal mãe tal filha, mas olho para a minha mãe e tudo passa. Estou contente porque uma amiga da minha mãe escreveu-me por causa do meu diário. Fogo. Eu nem contava, porque acho fixe escrever o diário, mas pensei que ninguém lia. Para mais nem recebo comentários. Por isso até escrevo à vontade o que me vem à cabeça.
Eu não pedi autorização à amiga da minha mãe, mas vou pôr tudo o que ela escreveu. também não sou grande coisa a resumir. Esqueço o que não devo ou desenvolvo o que é acessório. Eu até me esforço por ser objetiva, mas, mesmo sem querer, puxo a brasa à minha sardinha. Mas se fosse pescada era pior porque é mais cara e se calhar demora mais a cozinhar. Mas não sei bem porque a minha especialidade é a massa que a minha prima me ensinou a fazer no verão.
A mensagem que recebi foi assim tim-tim por tim-tim:
Olá, Mariana!
Estou a escrever-te porque tenho lido com atenção as páginas do teu diário. Gostei muito de várias passagens, mas aquela que mais me impressionou tem a ver com a tua preocupação com os saltos fininhos das profs que vão ter que saltitar, sobretudo as mais velhas, por entre aqueles tais buraquinhos existentes nas escadas dos tais monoblocos, que como tu dizes, é a palavra mais in para definir os já apelidados pombais.
E depois, a referência que fazes à palmeira, local célebre, que fiquei a saber vai continuar para a posteridade e a embelezar o recreio.
Sabes, Mariana, é que quando eu era professora na tua escola nova, ou melhor, em reconstrução costumavam pousar naquele lugar à sua sombra uns tantos alunos e alunas que eram um pouco diferentes da maioria dos outros grupos juvenis que por lá passaram ao longo dos anos. Havia até quem dissesse que os alunos(as) que por lá ficavam perdidos no intervalo eram os da palmeira (sim, porque nessa altura havia muitos intervalos, sabes que até acho que deveria continuar a haver, eu explico. Os jovens têm necessidade de falar das suas coisas, daquelas que não contam nem à mãe nem a ninguém, mas que partilham com a amiga ou o amigo que também é colega de turma, por isso era melhor que existissem muitos intervalos, nem que fossem só de 5 minutos, para relaxar e construir mais afectos dentro da escola, aquilo a que os adultos chamam socialização (que palavrão!). Deixa lá! Este ano, se calhar, ainda vais aprender a decifrar outros palavrões como este.
Não penses que por lá estar a escrever este textito quero tirar a luz e a graça que irradiam das palavras do teu diário. Pelo menos ficas a saber que não és só tu que conheces essa tua nova escola, eu, por exemplo, passei lá a maioria dos meus dias felizes enquanto aluna e enquanto professora. Não resisti a escrever-te!
Continua a escrever Mariana. Já sou tua fã!”
Fogo! É fixe ter pelo menos uma fã. Ainda não estou em mim. E também foi fixe ver que há profs que compreendem os alunos e que dizem que a escola lhes dá felicidade. Quero mesmo dizer-lhe obrigada. E que também sou sua fã.
Beijinhos
Mariana