Começo de agosto. Domingo. Praia de Mindelo. Deserta. Um vento constante. E cortante. As barracas despidas de toldos. Se não fosse o sol, poderia ser uma imagem de final de outono. Areal claro e vazio. Varrido pelo vento.
Sento-me na esplanada. Procuro um recanto abrigado do vento. Olho o mar. Revolto, empertigado, com cristas agitadas de espuma. A luz é intensa, o que me impede de ler a revista que trago comigo. Não me importo. Fico quieta, dando liberdade ao pensamento. Numa outra mesa, fala-se de avaliação de alunos. E os fracos resultados da primeira fase agigantam-se na minha memória.
Vejo uma colega que se reformou recentemente. Sempre se dedicou à escola e aos alunos, mas diz não ter saudades. E muito menos do toque das campainhas. E do stresse. E da imensidade de relatórios. E do barulho. E das aulas de substituição… Fala e sorri, contando momentos da sua vida atual. Parece feliz.
Olho de novo a praia quase deserta. Barracas esqueléticas. Vento a empurrar a areia e a engrossar a multidão do Outlet das proximidades. Onde a curiosidade supera a necessidade.
Apesar do quase escaldão na esplanada, sinto frio junto à praia. Frio em pleno verão.
Como te compreendo, Álvaro de Campos:
“Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio…”
Nota – Este texto foi escrito há dias.
Hoje, dia 9 de Agosto, souberam-se os resultados da 2ª fase dos exames nacionais do 12º ano. A média de Português continua negativa: não sei se 9,1 ou 9,2. Já se previa que o resultado melhoraria umas décimas apenas. Prevejo também que, enquanto não houver mais aulas semanais à disciplina, os resultados manter-se-ão. A menos que o próximo exame seja milagrosamente fácil. Porém, é difícil acreditar em certos milagres.